It Had to be You! Hyunlix escrita por Nanda


Capítulo 2
Hwang Hyunjin


Notas iniciais do capítulo

Aqui está como prometido o primeiro capítulo da estória! Ah, devo deixar avisado que tem vários personagens originais, como os da banda em que o Felix participa, mesmo sendo SKZ (Stray Kids), por ser um universo paralelo se passa em Sydney, como se ele nunca tivesse saído da Austrália. E sim, ele não gosta do nome coreano, por isso não costuma a usar.
Changbin é melhor amigo do Felix, então aqui eles tem a mesma idade entre 21/22 anos.



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— Presta atenção, Felix. Até o final do primeiro trimestre, a gente vai ter um namorado. Dois supergatos do último ano – disse meu melhor amigo, Seo Changbin, seguindo-me pelo corredor para a quarta aula do dia.

               Eu andava com o maior cuidado, rezando para não escorregar, naquele chão recém-encerado, e também por estar usando sapatos novos.

               - Não é má ideia, mas por enquanto me contento apenas com alguém que queria me levar ao baile.

               - Estamos no terceiro semestre, Lee. A gente precisa pensar alto. – de repente, Bin ficou sério, e parou de andar sem me avisar. – Espere um pouco.

               - O que foi? – perguntei ao mesmo tempo em que levava o maior escorregão pela rampa, indo parar na entrada da sala.

               Seo pressionou os lábios com força, como se estivesse diante do maior acontecimento. Aí, como se tivesse caído das nuvens, apareceu o gatíssimo Lee Know – vulgo Minho – primeiro goleiro do time de futebol da fae, atravessando o corredor a toda. Espiamos aquelas formas perfeitas e musculosas passarem voando por nós e tentamos não desmaiar.

               - Como é que você consegue? – perguntei, o olho ainda grudado nos braços malhadíssimos do Minho.

               - É meio que um sexto sentido, ou algo do gênero – falou o outro, abanando a cabeça – Ou quem sabe é um radar. Mas o fato é que ultimamente sempre sei quando tem algum gato por perto. – ele fingiu jogar os longos cabelos escuros para o ombro, convencido. – Isso ajuda todas as pessoas do mundo. Preciso fazer também.

               Eu ri. – Detesto parecer pessimista, mas até mesmo com um talento extraordinário como o seu, duvido que a gente consiga com o Lee. Ou, para falar a verdade, com qualquer outro sarado do último ano.

               Changbin deu de ombros. – Tudo bem, então eu me contento com um cara do segundo ano que tenha um cachorro simpático. – disse ele, enquanto entrávamos no laboratório de informática.

               Havia somente um computador disponível na primeira fileira, bem em frente à mesa do professor Kim.

               Sentamos. – Eu até entendo que você esteja querendo arranjar um namorado – falei, tirando fiapos de linha da minha calça creme estampada com detalhes parecendo flor em branco, cor de jasmim. – Mas a minha preocupação é com o baile.

               - Por que toda essa preocupação com o baile? – Seo me olhava com os olhos franzidos.

               O professor Kim lançou-nos um olhar de censura, através dos óculos de lentes grossas. Escondi-me atrás do computador e cochichei: - Você se lembra do que aconteceu no ano passado?

               - o quê? O Sivan? – A boca dele tremeu, estava tentado não dar risadas.

               Tremi inteiro. – Fiquei tão sem graça, não sabia onde enfiar a cara. Além de aparecer com aquele smoking laranja neon apertadíssimo, na hora que ele começou a chacoalhar no salão... – Meu estômago se contraiu apenas de lembrar. Aquela deve ter sido a pior noite da minha vida.

               - Isso que dá sair com o filho da tia contadora – retrucou Bin brincando com a minha cara.  

               - Mas eu queria tanto ir – falei um pouco alto demais.                                    

               - Pessoal! – O professor pigarreou alto. – Agora silêncio, pessoal. – Quando todos se calaram, ele distribuiu o programa do curso, lista de material um folheto de quatro páginas com o regulamento para utilizarmos o laboratório de informática. Boa parte da classe suspirou fundo. Estávamos todos para lá de desanimados. Começava um ano novo na faculdade.

               Enquanto o professor Kim caminhava para o fundo da classe, perguntei ao Bin com ar malicioso. – Por que você não vem assistir aos ensaios hoje? O Danny vai estar lá.

               - Não, muito obrigado. – o mais velho fez uma cara de nojo.

               Duas noites por semana, eu ensaiava com uma banda, integrada por alunos da faculdade. Eu tocava piano, e Danny, bateria. Ele sempre fora afim do Seo e, no último ano, dera em cima dele o tempo todo. Eu achava Danny um cara super legal, mas no entender do Bin ele era fissurado demais. Talvez um pouco possessivo.

               - Está no último ano – acrescentei.

               Changbin abanou a cabeça. – Isso não tem nada a ver.

               Dei-lhe uma cutucada. – E ele tem um cachorro supersimpático.

               - Porra, o cabelo dele é crespo demais. Prefiro ficar em casa, nem que seja fazendo depilação, muitíssimo obrigado. – encostou-se à cadeira e cruzou os braços zangado, ele não era preconceituoso, só não queria mais falar sobre Danny e sua obsessão. – Quero conhecer alguém novo.

        - Por que você não põe um anúncio nos classificados pessoais? – Claro eu só estava brincando, mas antes que desse por mim, os misteriosos olhos verdes – pela lente de contato – de Bin começaram a piscar feitos faróis de trânsito. Deu para perceber na hora que sua cabeça já tinha engatado uma quinta.

        - Não é uma má ideia – disse ele muito sério, folheando a pilha de papéis sobre a mesa. – Talvez funcione.

        O professor começou a escrever alguns avisos na lousa, com aquela mesma letra rebuscada que conhecíamos desde sempre. – Bem-vindos todos vocês – disse, com entusiasmo excessivo. Em seguida bateu palmas com as mãos sujas de giz, esfregando-as, como um vilão de filme mudo. – É muito bom ver tantos rostos sorridentes de bronzeados.

        Changbin virou os olhos. Abri meu caderno novo de quinhentas folhas e tirei a tampa da caneta. Cinco minutos depois do começo da aula eu já estava com aquela sensação desagradável de que informática não seria a minha matéria preferida.

        Kim passou a mão pelos poucos fios de cabelo e sentou-se na quina da mesa. – Caso vocês ainda não tenham ouvido as boas notícias, durante o verão a diretoria da escola concordou em aumentar o orçamento do departamento de informática. Entre as muitas mudanças, acabamos por instalar um sistema de correio eletrônico. A partir de hoje, todos os alunos da Teen Valle poderão ter o seu.

Changbin e eu nos entreolhamos, sem saber se aquilo era alguma piada. Quando percebemos que o professor Kim não estava brincando, todos na classe começaram a falar ao mesmo tempo. Alguns meninos sentados na última fileira começaram logo a fazer uma lista dos melhores jogos de computador que carregariam direto da Internet.

Mas o professor Kim levantou as mãos e pediu silêncio. — Antes que vocês fiquem animados demais, deixem-me esclarecer uma coisa. O serviço está limitado ao envio de e-mails entre alunos desta escola. Não haverá acesso a redes externas.

Um descontentamento geral percorreu a classe.

— Mas haverá um site para onde vocês poderão enviar mensagens e também participar de discussões — acrescentou o professor, animadíssimo.

— Grande coisa! — resmungou Potter em voz alta.

O professor franziu a testa e olhou feio na direção de Randy. — Pois fique o senhor sabendo que vai achar isso muito interessante — disse com voz severa. — Vocês terão o resto do tempo, hoje, para conhecer o programa. Está tudo indicado na folha de instruções. Eu estarei aqui para sanar qualquer dúvida.

O burburinho aumentava, à medida que as duplas se instalavam diante dos micros. Virei-me para o outro. — Parece meio gozado, não parece? Por que mandar uma mensagem para alguém pelo computador, quando podemos entregar um bilhete ou conversar diretamente?

Mas ele estava ocupado digitando. Em questão de segundos, sem consultar nenhum dos papéis que o professor nos dera, já tinha descoberto como entrar no sistema de correio eletrônico.

— Como é que você sabe isso tudo?

— Minha mãe acaba de se conectar a Internet por conta do trabalho. Ela me ensinou a usar sistemas como esse. Correio eletrônico é o maior barato, Yongbok. Você sabia que dá para batei papo e até mandar mensagens sem se identificar?

É mesmo? — Perguntei lembrando-me de todos aqueles que furavam a fila da cantina, bem na minha frente, e dos risinhos que de vez em quando ouvia ao fazer alguma pergunta na aula. De repente, imaginei usar o e-mail para me vingar de todo mundo que tinha sido cruel comigo. Poderia enviar um monte de mensagens, daquelas que fazem mal ao ego, do tipo Quando foi a ultima vez que você fez hidratação no cabelo? Ou então Agora é a sua avó quem está comprando suas roupas?

Seo digitou sua senha com as unhas um pouco grande demais para alguém como ele. — No computador da minha mãe, dá para conversar com gente do mundo inteiro. Você precisa > qualquer dia < dar um pulo em casa para experimentar.

Meu lado ruim se acalmou e olhei para ele com certo ceticismo. — Ainda assim não me parece muito prático.

Uma lista de palavras e comandos estranhos apareceu na tela — Pense em todas as possibilidades — disse Chang, cada vez mais animado. — A gente pode até usar o computador para conhecer alguns meninos. Tudo que precisamos fazer é colocar um anuncio pessoal. — E piscou para mim.

— Binnie, você pirou — falei suspirando. — O professor disse que o site é para discussões, não para arranjar encontros.

— Deixa de ser careta, Lee. É só de farra. — Ele me olhou com olhos de censura. — Além do mais, ninguém vai saber e somos nós. Meu pseudônimo vai ser Jingjingie.

E começou a digitar seu próprio anúncio. Era tão natural o que ele estava fazendo que me perguntava em segredo se alguma vez ele já tinha feito algo parecido.

Sou deslumbrante, de Leão, tenho 1,67 m de altura, cabelo castanho lisinho e olhos verdes de matar (pela lente de contato, mas isso se ignora), adoro ação, montanha-russa e cantar loucamente nos shows. Tenho espírito aventureiro com muito senso de humor e procuro alguém, igual para diversão, que assista filmes de terror comigo, farra e possível relacionamento em longo prazo. Esquisitões não, por favor.

Seo digitou mais umas poucas letras e num abrir e fechar de olhos o anúncio disparou pelo espaço cibernético, indo parar no mural mantido pelo computador central da escola. — Adoro a tecnologia — sentenciou, com um suspiro fundo. Depois olhou para mim. — Agora é a sua vez.

Assustado, olhei o cursor piscando na tela. Não acredito que ele tenha feito isso, pensei. Bin tinha o dom todo especial de inventar os programas mais estranhos que sempre acabavam me deixando com cara de idiota por não ter concordado. Não que eu não tivesse coragem; é que, na maioria das vezes, não via sentido.

 - Vamos, coragem. — Tentava me convencer. — Vai ser divertido.

Levantei os olhos da tela do computador. Olhava-me na maior expectativa. — Está bem — disse ainda hesitante. Olhei para minha calça e para minha malha branca. — Vou me chamar Lixie.

— Pois Lixie será — sorriu Seo. — O que você quer que eu escreva Lixie?

Isso é loucura – falei, rindo alto. Eu tinha minhas duvidas em fazer um anúncio pessoal pela rede da faculdade, mas não íamos tirar pedaço de ninguém escrevendo uma bobagem qualquer.

               Depois de pensar um pouco sobre o assunto, Changbin e eu escrevemos este texto:

               Sou de virgem, bonito pelas sardas, tenho 1,77 m de altura, cabelo castanho avermelhado, olhos escuros. Adoro ver o pôr-do-sol, dançar, tocar piano, fazer compras e viajar.

               Enquanto eu tentava pensar em mais alguma coisa legal ao meu respeito para dizer, Seo digitou mais duas linhas.

               Procuro alguém maravilhoso – pelo menos com o sorriso, é claro – para ir comigo ao baile de boas-vindas. Mesmo que ainda faltem seis semanas, nunca é cedo demais para encontrar alguém!

               - Não sei se gosto dessa última parte – falei. – Parece que eu estou super desesperado para ter um par.

               - Você não vai conseguir o que quer a menos que procure direito, Lee. – Changbin então digitou a palavra enviar e pressionou o Enter.

               Endireitei-me na cadeira, meio que em pânico e nervoso. A simples ideia de enviar um anúncio pessoal que todo mundo pudesse ver, ainda que fosse em anônimo, me deixava cada vez mais com nervoso. Eu sabia havia milhões de alunos no School Teen Valle, mas e se alguém descobrisse que aquele anúncio era meu?

               - Hm...espe-espere um pouco – gaguejei. – Acho que não quer mais fazer isso...

               Mas o dedo de Seo já tinha apertado à tecla. – Desculpe – disse ele, mordendo os lábios cinicamente – Tarde demais!

Assim que as aulas terminaram, naquela tarde, peguei o que precisa para o piano, a mochila de couro e fui para o JJ, onde minha banda costumava ensaiar. O JJ era um barzinho na Rua do Comércio em que se apresentavam algumas bandas da cidade e, de vez em quando, alguém fazia leitura de poesias. Nossa banda ainda não estava exatamente pronta para fazer seu próprio show, mas o dono, Jonas Mills, era legal o suficiente para nos deixar usar a saleta dos fundos como local de ensaios.

O barzinho ficava quase a um quilômetro da faculdade e não foi fácil ir a pé com a mochila cheia de livros e de lição de casa, por incrível que pareça. Mas não me importei. Não era de todo mau aquele ar geladinho de começo de outono em Sydney, assim como não era de todo má a promessa de um novo ano letivo. A mistura me deu uma sensação de força, de ser invencível, como se eu pudesse fazer qualquer coisa.

— Lee, que bom ver você! —Jonas me cumprimentou com um abraço caloroso e um sorriso. O rosto redondo e liso estava queimado de sol. Joe passara o verão inteiro em Newcastle, onde tinha num chalé. — Como foi de férias?  

Comparei a cor do meu braço levemente dourado com o dele, bronzeadíssimo, e disse rindo: — Não tão bem como você. Deve ter sido muito duro passar todos os dias de bobeira na praia. Nossa incrível como você está moreno!

 Jonas coçou a parte de cima da cabeça onde os cabelos já rareavam. — Isso não é sol! — Disse rindo também. — Isso aqui é de todo o café que eu tomo. — E deu mais outro gole numa caneca gigante, com o logotipo azul e laranja do Java Joe. — O que você ai tomar? Um cappuccino?

— Não, obrigada — disse, fazendo uma careta. Não havia nada pior do que bafo de café enquanto ensaiava, mesmo não odiando café. — Só água.

 - Vai indo — falou Jonas, balançando a cabeça na direção da saleta dos fundos. — Eu levo sua água, já chegou todo mundo.

Empurrei a porta e em vez de ser assaltado pelo barulho da bateria e da guitarra, como esperava, a sala estava em silêncio. O equipamento continuava guardado, o palco às escuras. Ninguém fazia aquecimento, estavam todos sentados em volta de uma das mesas pretas do bar, jogando baralho.

— Ei, pessoal — falei, tirando a mochila das costas.

— Pelo que vejo, a principal atração do SKZ está de volta para mais um ano de maus tratos — disse Danny, de olho nas cartas. Seu cabelo ruivo encaracolado estava todo em pé. — Achamos que não fosse aparecer.

— E não ia mesmo, mas mudei de ideia na última hora — falei, só para provocá-los. Bucky, nosso guitarrista, usava seu uniforme de praxe — camiseta desbotada do Led Zeppelin, calça verde do exército, rasgada no joelho, e sapatos que não reconhecia. Deu uma carta para cada jogador e bateu com o resto do baralho na mesa. — Estamos prontos para começar, Lixie. Quer entrar?

Virei uma cadeira para trás e sentei-me de atravessado. — Na verdade eu queria mesmo é que a gente começasse a ensaiar.

Ninguém me deu bola. Marissa, que era nossa saxofonista, além de namorada de Bucky, debruçou-se sobre o ombro dele e apontou para uma carta. O baixista, André, descartou um dois de copas e pegou outra carta do monte. — Sua vez, Danny.

Encostei o queixo no espaldar da cadeira. — Foi isso que vocês fizeram o verão todo?

Danny comprou o dois de copas e jogou fora um seis de paus. — Fiz mais outras coisinhas. Já viu o bombo?

Próximo ao palco vi as peças da bateria. O bombo estava deitado de lado. Pintado com letras negras no estilo gótico via-se o nome da nossa banda, SKZ. O nome tinha sido ideia da Marissa — Stray Kids, crianças perdidas, vagantes, extraviadas.

— Que demais! Quem pintou?

Marissa sorriu toda tímida apontando para si mesma. Não gostava de falar, a menos que fosse absolutamente necessário.

Jonas entrou com uma grande jarra cheia de água e uma pilha de copos de papel. Um cara alto, de cabelos loiros fartos e um enorme camisão xadrez por cima da camiseta entrou logo atrás. Tinha um corpo atlético, meio musculoso, e um rosto suave. Sabia que o conhecia, mas não conseguia me lembrar de onde, nem de quem ele era.

— Por que está tudo tão calmo aqui? — perguntou Jonas, colocando a jarra em cima de uma das mesas. — Pensei que vocês viessem aqui para ensaiar.

Dei uma olhada para a mesa de controle ao lado do palco e para a fileira de luzes apagadas no alto. Seria difícil começar os ensaios sem nosso técnico.

— Cadê o Nicholas? — perguntou Danny, como se lesse meu pensamento.

 A testa de Jonas franziu-se enquanto servia um copo de água. — Agora que estamos todos reunidos, vou contar a última bomba para vocês — falou ele, com relutância. — O Nick pediu demissão ontem.

— O quê? — Meu coração quase saiu pela boca.

 Jonas sacudiu a cabeça. — Ele me ligou do Colorado. Conheceu uma garota, nas férias, e não vai voltar.

Os olhos de André se iluminaram. — Sorte dele, cara. Era o sonho de ele ir aos Estados Unidos.

— E azar nosso — disse eu. O Nick sabia tudo de técnica de show, além de conhecer de cor algumas das nossas músicas. Era como se ele fosse o sexto integrante da banda. Estávamos quase chegando lá, estávamos todos fazendo a maior fé de que naquele mês conseguiríamos arrumar algum lugar para fazer um show. Claro que eu estava feliz por Nick ter encontrado seu verdadeiro amor nas Rochosas, mas ao mesmo tempo não podia evitar me sentir um pouco traído.

Bucky tirou o cabelo da frente dos olhos. — E aí, o que a gente faz?

— Já está tudo arranjado — falou Jonas, afastando-se um pouco e fazendo um gesto para que o cara de camisa xadrez se adiantasse. — Este é Hwang Hyunjin, que vai substituir o Nick. Vocês já o conhecem, não conhecem?

Bucky e Danny fizeram que sim.

Hwang Hyunjin... o nome era familiar. Dei uma espiada rápida nos olhos castanho-escuros e na boca graciosa. De onde conheço esse cara? Aí, de repente, lembrei. O pai dele era o doutor Albert Hwang, diretor do departamento de música da universidade onde meu pai era professor de economia. Agora me lembrava de tudo. Hyunjin, surpreendentemente, não fazia parte da banda da escola, mas gastava o tempo defendendo um monte de causas diferentes. Era um daqueles ativistas chatos que sentiam prazer em discorrer sobre as horríveis consequências de tudo que todo mundo comia, bebia e respirava. Se jogasse metade das energias que dedicava à luta contra a indústria de peles na nossa banda, SKZ faria um tremendo de um show.

Jonas deu uma tapinha nos ombros de Jordan. — Você já conhece todo mundo, não é mesmo?

Jordan balançou a cabeça alguns instantes, depois olhou pra mim. Nosso olhar se cruzou e eu prendi a respiração um momento, fitando aqueles olhos castanhos profundos. — Exceto ele — disse para Jonas. — Ele eu não conheço. — E apontou direto pai mim.

Soltei a respiração devagar, como ele não sabia quem eu era. Afinal, nossos pais trabalhavam no mesmo lugar e nós estudávamos na mesma faculdade. Um brilho maroto em seus olhos me fez pensar se ele não estaria apenas fingindo.

— Eu sou Lee Felix. — E estendi a mão.

— Como? — perguntou Hwang, como se não tivesse entendido direito. Inclinou-se mais para perto e pude sentir seu cheiro almiscarado.

— Felix — repeti um pouco mais alto.

— Felix — disse Hyunjin de novo, pensativo. Trocamos um cumprimento. Sua mão estava quente. — Prazer em conhecê-lo Lilixie.

Dei um sorriso forçado. Ninguém jamais me chamara de Lilixie e vivera para contar a história. — É Felix.

Hyunjin sorriu. — Certo.

Jonas virou-se e foi em direção à porta. — Bom ensaio para vocês, turma.

Virei-me também e abri a mochila pegando as partituras, ansioso para começar. O calor dos dedos de Hwang ainda continuava em minha mão, mesmo depois de ter tocado nas teclas frias do instrumento.

 - E então, Hyunjin, há quanto tempo você trabalha na mesa de som? — perguntei.

Não houve resposta. Quando me virei de novo, vi que ele estava junto à mesa de jogo.

Bucky examinou suas cartas e pegou mais duas. — Assim que a partida acabar, Jin, você entra.

Os músculos de minha nuca travaram. Eu tinha uma tonelada de coisas para fazer e não estava a fim de perder meu tempo vendo aqueles caras jogarem baralho. — Não vai ter mais nenhuma partida — falei com firmeza.

Eles continuaram jogando como se eu não tivesse dito nada.

Hyunjin olhou para a guitarra branco-perolada de Bucky, encostado no amplificador. — Bela guitarra. Eu sempre quis um Paul Reed Smith.

Bucky acenou, cheio de orgulho. — Não é o máximo?

Meu sangue começou a ferver. — Vamos lá, pessoal, vamos começar logo o ensaio — falei.

Bucky me ignorou. — Eu tenho um pedal de distorção em casa — falou para Jordan. — Vou trazer da próxima vez.

Jin soltou um assobio sonoro. — Pô, cara, legal!

Rapidamente, executei algumas notas no piano, na esperança de que a conversa acabasse antes dos meus exercícios. Mas Bucky e Hyunjin continuavam empolgados, falando de tudo um pouco, desde guitarras acústicas de doze cordas até compassos mais complicados.

Danny baixou seu jogo, o rosto aberto num sorriso de orelha a orelha. — Bati! — exclamou cheio de si.

— Puxa cara... — André jogou suas cartas na pilha. — Eu te pego na próxima. — Recolheu as cartas e começou a embaralhar.

Cerrei os punhos, uma onda de raiva subindo pela garganta. — Guardem já essas cartas — exigi estridentes.

 Hyunjin me olhou franzindo a testa. — Posso lhe fazer uma pergunta, Lilixie? — O quê? — retruquei ríspido.

— Quando vai ser nosso primeiro show?

Olhei para ele. — Nós ainda não sabemos direito...

— Então por que está tão nervoso? — O ar de Hwang era brincalhão. — Devia aprender a relaxar de vez em quando.

— É isso aí, Yongbok. Relaxa.

Fechei com estrondo o tampo do piano com mais raiva ainda, odiava que me chamassem pelo meu nome em coreano. — Me avisem quando estiverem a fim de tocar então, porra. — E fui saindo apressado, explodiria se continuasse ali.

— Todo mundo vai jogar? — ouvi André perguntar, enquanto dava as cartas para uma nova partida.


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Notas finais do capítulo

JJ = Jonas Jonas. Criatividade zero, mas é isso.
Jingjingie = chorão.
Paul Reed Smith. = é um tipo de guitarra
Até o próximo, prometo não demorar!! ♥



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