Wicked Game escrita por Senhorita Mizuki


Capítulo 14
Capítulo 14




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Capítulo 14

 

 

Richard apareceu em sua mansão logo pela manhã, interrompendo o café com sua mãe. Parecia muito agitado e aborrecido, mal disfarçando com a polidez com a qual cumprimentava Narcisa e Sylvie. Assim que Draco cerrou as portas da biblioteca, o rapaz foi curto e grosso.

- Muito bem, Draco. Eu acho que já tive o bastante.

- Não faço à mínima do que esteja falando. – disse calmamente, oferecendo-lhe alguma bebida.

- Eu creio que sabe até demais. – estreitou os olhos – O que vem sendo essa sua relação com Potter? Achei que o desprezasse!

- Oh, por favor. – respondeu com voz arrastada – Só estou fazendo o que lhe disse. Estou apenas trazendo Potter para mais perto, fazendo-o cair em nossas mãos. – olhou-o de esguelha – Enquanto você parece querer afastá-lo.

- Não sem motivos, Draco.

O loiro fez uma careta, andando até sua mesa. As demonstrações de ciúmes do outro o irritavam. Richard o tratava como uma propriedade – achava que o outro lhe devia reputação, que devia oferecer-se e obedecer quando bem quisesse. Ou pelo menos era isso o que Draco procurava fazê-lo acreditar. Um Malfoy nunca receberia ordens de alguém, não antes de conseguir tudo o que quisesse.

- Relaxe. Ele está justamente no ponto. – disse, sentando-se na mesa que pertencera a seu pai.

- O que quer dizer?

- Não quer dá-lo a Lestrange como prova de sua lealdade? Esta é a oportunidade.

- Achei que quisesse sua vingança antes que ele pudesse pôr as mãos em Potter. – sentou-se do outro lado da mesa, prestando atenção.

- Eu posso tê-la no mesmo momento, ando bastante generoso. – deu de ombros.

- Como se eu pudesse acreditar nisso. – resmungou – O que tem em mente?

- Podemos levá-lo direto a eles, nas Ilhas Hébridas da Escócia. – antes que o outro pudesse protestar continuou – Convidá-lo para acampar e perseguir os dragões daquelas montanhas. Espero que ele aceite, apesar do jogo de pôquer de ontem. – murmurou a última parte, erguendo uma sobrancelha clara.

- O maldito estava tão bêbado que nem sabia o que fazia, Draco. – deu uma risada debochada.

Você que pensa, silvou Draco em pensamento, recriminando-se por pensar novamente na noite anterior. Havia passado o resto dela revirando na cama, com insônia, sem poder pensar em mais nada que não fosse os lábios de Potter. O mais irritante foi ter simplesmente esquecido de tomar uma poção para dormir.

- Eu não sei... – começou Richard, interrompendo seu devaneio – Seria levá-lo muito perto de Lestrange e seus homens. Podemos nos arriscar assim? Ele ainda é o Harry Potter.

- Ele derrotou o lorde, mas está mais do que nunca relaxado e descuidado por isso. Nenhum auror se infiltra em um lugar como nossa sociedade, bebe como ele e se expõe ao ridículo.

- Vai ser difícil convencer Lestrange, ele não confia em você... – disse indeciso.

- Quer ou não o plano? – disse seco – Ficou animado quando o propus.

- Foi divertido pensar em brincar com Potter no início, mas não tenho tanta certeza agora.

- Pense em como será prazeroso ver Potter sozinho cercado e acuado por nossa gente. – deu um sorriso malicioso, que pareceu ter agradado o outro.

- Não nego que é tentador. – Richard sorriu, mordiscando o lábio – Então viajarei até as ilhas, para informar a Lestrange.

Draco acenou com a cabeça, vendo o outro erguer-se da cadeira e fez o mesmo. Viu o outro avançar sobre si, apoiando a mão em sua cintura e inclinando-se para um beijo. O loiro desviou-se de pronto, e seus lábios acabaram apenas encontrando uma bochecha pálida, fazendo-o se irritar.

- Esta é minha casa, minha mãe e Sylvie estão a poucos aposentos daqui. – esclareceu Draco.

- Droga, Draco! É essa atitude sua desde que isso começou que anda me deixando louco! – afastou-se, passando a mão pelo cabelo curto, nervoso.

- Não seja dramático, é apenas por um tempo.

- Eu espero que sim. – disse parecendo conter sua raiva – Espero que não tenha esquecido o que fiz por você, Draco.

Com um último olhar a Draco, Richard se dirigiu até a porta sem sua companhia. O loiro deixou-se cair na cadeira quando cerrou a porta, ficando sozinho. Fitou um ponto fixo a sua frente, estando a sós com seus pensamentos pela primeira vez desde que levantara da cama. Ele tinha outras coisas a se preocupar do que com o que Potter lhe fizera – o grifinóriozinho estava alterado e provavelmente queria revidar suas provocações. Não havia outra desculpa, havia? Ia ter sua revanche em breve, não devia se preocupar. Mas seu corpo parecia querer lembrar de cada detalhe da noite anterior, ao invés de lhe dar uma trégua.

Sobressaltou-se quando ouviu a porta se abrir, relaxando ao ver Snape entrando na biblioteca, mancando ligeiramente. Segurava um jornal e erguia uma negra sobrancelha para o rapaz.

- Vi Honeyman sair, parecia bastante perturbado.

- Oh, aposto que sim. – disse com uma carranca.

Contou-lhe sobre a conversa e certos fatos do dia anterior, ocultando algumas coisas envolvendo o ex-grifinório. Viu o professor torcer o nariz, apertar o jornal entre seus dedos.

- Insisto em dizer que pode lhe trazer problemas, Draco. Porque aceitou a missão de Shacklebolt? Tenho certeza que ele possui pessoas mais qualificadas para o trabalho.

- Não podia ignorar o fato de que Lestrange está vivo e por perto, podia? – disse exasperado – Não posso deixar de pensar na minha mãe com esse homem a solta. Se ela o vir... – interrompeu-se, incapaz de falar mais – Não quero imaginar o que pode acontecer.

Mas sua mente não parava de lhe prouver possibilidades assustadoras. O estado de sua mãe já era delicado com o que acontecera na guerra. O simples fato de ver Lestrange poderia desencadear reações que piorariam seu estado.

- Entendo a preocupação com sua mãe. – Snape disse em tom severo – Mas devo lhe lembrar que estou aqui e que a Ordem prometeu manter seu acordo.

- Eu espero que sim, porque estou arriscando meu pescoço. – disse nervoso, remexendo na correspondência empilhada.

- De qualquer forma, creio que isso seja do seu interesse. – e Snape jogou o jornal que segurava na mesa, apontando para um artigo.

Draco parou o que fazia no momento, olhando distraído para a notícia. Quando a foto animada lhe mostrou ele carregando um Potter muito bêbado, afundou na cadeira sentindo-se humilhado. O artigo falava sobre a freqüência com que o salvador do mundo bruxo andava aparecendo em estado de embriaguez nas notícias e a suposta amizade que havia feito com Malfoy.

Suposta amizade? Que absurdo tremendo!, era o que muita gente iria pensar. Sem falar que sua figura na foto lhe parecia decadente, cambaleado junto com Potter e com uma carranca que deformava seu aristocrático rosto.

- Merlin! – bufou – Aquele Creevey está tão obcecado assim para seguir Potter em tudo quanto é canto com sua câmera desde Hogwarts? – não que o flagra no vestiário da Grifinória não tivesse dado boas fotos.

- Creio que sim. Um rapazinho fortuito aquele, não? – e Snape pigarreou, como se disfarçasse que sabia de mais.

Esperava que o Profeta Diário não fosse um dos privilégios que o advogado deles conseguira para seu pai em Azkaban. Ou sua próxima visita de família não seria muito agradável.

oOo

Richard providenciara uma rápida viagem às Ilhas Hébridas assim que pode. Ainda estava extremamente nervoso com Draco, querendo cada vez mais ver Potter ser abatido. Ficaria mais que satisfeito em dar de bandeja o ex-grifinório a Lestrange.

Sozinho dessa vez, ele atravessou a floresta daquelas montanhas, que escondia um grupo de Comensais por meses. Tudo graças, também, a sua relação com pessoas importantes do mundo bruxo. Poderia não ser o sucessor de seu pai, mas usar o nome dele lhe abria muitas portas e evitava que lhe fizessem perguntas. A influência do pai ajudava a livrá-lo das confusões.

Lestrange lhe devia muito e teria sua recompensa ao fim. Far-lhe-ia mais feliz quando trouxesse Potter ao seu covil, mesmo que lhe perturbasse o fato da idéia vir de Draco, não dele.

Percorreu a mata com passadas largas, até que o som de farfalhar o fez parar de súbito e erguer a varinha. Uma figura igualmente encapuzada saiu de trás de um grosso tronco, tirando o capuz para revelar-lhe um sorriso de escaninho. Richard baixou a varinha apenas um pouco, estranhando o fato daquela pessoa não estar guardando a entrada da gruta.

- Nott? O que faz aqui?

- Pensei em lhe encontrar no meio do caminho, para lhe fazer companhia. – respondeu com uma voz calma.

- Que amável de sua parte. – disse sarcástico.

O outro apenas cerrou ligeiramente os olhos em resposta, indicando para que seguissem. Richard que estava com pressa em contar as novidades a Lestrange, se irritou com a vagareza dos passos do outro. Se ele notou, fez questão de ignorar.

- Então, como vai Malfoy? Fiquei surpreso ao saber que também estava envolvido.

- Malfoy é uma companhia constante. Como estivemos envolvidos com a causa anos atrás, não vi porque não deixá-lo a par dos acontecimentos. – olhou-o de esguelha.

- Mesmo? – Nott ergueu uma sobrancelha, falando no mesmo tom que seu passo lento – Ainda que ele esteja solto e haja boatos de que entregou muitas famílias?

- Estou no mesmo patamar que ele nesse caso. – parou, encarando-o – Estou sendo considerado um traidor?

- Não me leve a mal, o senhor está sendo muito útil. – disse, com um sorriso que não convenceria a mais tapada das criaturas – Mas sinto que é meu dever alertá-lo sobre Malfoy. Soube que ele ofereceu a cabeça de Potter como prova de sua lealdade.

- O que devemos fazer em breve. – confidenciou Richard, ficando irritado.

Nunca sentira vontade de confraternizar com Nott, aquela figura fantasmagórica que se esgueirava por aí e apenas servia para tarefas desprezíveis. Seu pai nunca lhe conseguira deixar em uma posição de destaque aos olhos do Lorde das Trevas enquanto este ainda vivia. Lestrange não fazia questão de notá-lo agora igualmente.

- Oh, é mesmo? Presumo que foi idéia de Malfoy. – concluiu, vendo a confirmação no rosto do outro.

- E o que você tem a ver com isso, Nott?

-Como eu disse, não me leve a mal. Mas me sinto na obrigação de alertá-lo sobre Malfoy, já que vejo que confia demais nessa pessoa, que não merece.

- O que quer dizer? – Richard avançou um passo, com o cenho franzido.

- Não posso acreditar que Malfoy, alguém que desprezou ser um Comensal tanto quanto eu esteja querendo voltar a essa mesma facção. – disse com uma expressão sombria – Ele fez tudo para não acabar como seu pai em Azkaban, se aliando a Ordem para salvar sua pele. Não porque achou que serviria melhor vivo, mas porque nunca acreditou na causa do lorde. Ele acreditou, um dia, em seus dias de escola, quando estava confortável em sua mansão com seu pai. – deu de ombros – Esse interesse tardio me deixa desconfiado, conhecendo Malfoy como eu conheço.

Richard observou a feição apática de Nott um tanto deformada por certa raiva contida. Remexeu-se desconfortável com a menção de que conhecia Draco melhor que ele.

- Supondo que eu acredite em você. – estreitou os olhos – O que sugere que eu faça?

- Oh, não vamos poupar Lestrange da cabeça de Potter – voltou a sorrir – Mas qualquer que seja o plano de Malfoy, vamos substituí-lo. Creio que está na hora de executar o plano original.

O ex-corvinal ergueu uma sobrancelha, mas nada disse, parecendo considerar. Aquilo o levaria acelerar certas coisas, poderia lhe dar uma dor de cabeça. Mas poderia ser feito. Voltou a caminhar, decidindo ouvir o resto do plano de Nott, concordando quando este lhe disse que lhe daria o crédito do plano.

 


 

- Segundo o livro "Animais fantásticos e onde habitam" da JK, no universo de Harry Potter há uma raça de dragões negros nessa região.

 


Continua...

 

Fevereiro/2007


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