Relatos de um garoto machucado escrita por Otomizinha


Capítulo 3
As cores que escolhi para mim




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3 capítulo

30 de Junho

As cores que escolhi para mim


 

16 dias depois 

 

Estava em casa por bastante tempo, depois do dia que comprei a xícara nem tinha resolvido sair, mas tinha que volta com uma rotina, antes de voltar para minha faculdade, mas esses são detalhes para outro capítulo. Tinha um novo café, abriu a pouco tempo no meu bairro, pelas fotos na internet, parecia ser bem confortável e bonito, se gostasse, ia acaba indo estudar lá.

 

Fui até meu guarda roupa, não só pensei que ia acabar surtando pelas minhas roupas, só tinham peças da cor preta, o que me deixou extremamente estressado, isso só me lembrava o Bagukou, que me fazia usar seus gostos, me perguntava se isso realmente refletia minha personalidade, essas cores tão obscura, me sentia mal só de pensar, quando percebi já estava todas as roupas jogadas no chão, me senti até desanimado para sair de casa, por não ter nenhuma roupa que eu possa me sentir à vontade, no começo eu conseguia usar, mas nessa ocasião era diferente, pois estou tentando mudar, vestir as mesma roupas não iam fazer esse feito, parecia meio bobo, todavia esses detalhes fazem diferença na superação. Então comecei a pegar as roupas no chão e coloquei numa caixa de papelão, podia doar para quem realmente precisa, algumas delas ainda tinham até o mesmo o cheiro dele, toda vez que me abraçava ficava impregnado, me sentei no chão segurando uma peça, minha memória entrou em transe, meu corpo começou a tremer, só de lembrar do seu cheiro, acabo por sentir muito falta de Katsuki.

 

— Eu sinto tanta sua falta!

 

Lágrimas começaram a cair dos meus olhos, por fim o que sobrou foi meu rosto toda acabado e inchado, uma blusa toda encharcada com as lágrimas e meu coração despedaçado. Devem está se perguntando o porque de chorar tanto por um cara que me machucou, pelo simples fato que não fui eu que terminou o namoro, foi ele, fui tão machucado, mas não me salvei dessa situação, me sinto tão culpado por Bakugou ter me colocado nessa e ao mesmo tempo me tirado, me sinto um tolo, um simples idiota que sente falta de um cara que só me feriu, quem saiu de uma situação dessa, eu dou muito parabéns, vocês são incríveis, fortes e corajosos, mas eu fui forçado, tirado como um band aid, na hora.

 

5 meses antes 

 

Eu estava ajoelhado no chão, pedindo desesperadamente para não me deixar, não ia conseguir viver sem ele, meu coração não ia aguentar, apesar que nesse momento estava todo despedaçado.

 

— Kacchan não me deixe. Por favor!

 

Minha voz estava em desespero, eu chorava desesperadamente, como ele pode me abandonar, se estou miseravelmente falando para não ir, ele sacudiu o pé quando o agarrei, me olhou com desgosto, tudo que eu senti foi que não me amava mais e só sobrou ódio pela minha existência. 

 

— Deku! Eu vou embora, não adianta chorar, isso não vai melhorar, nunca vai, você se tornou alguém que eu não amo mais, nem ao menos te reconheço.

 

A minha ficha caiu totalmente, tinha me mudado, destruído quem eu era, mesmo depois disso tudo, nem ao menos ele gosta de mim, eu soltei sua perna, fazendo me olhar com pena, como assim Bakugou sentia isso, foi quem fez isso comigo, era para eu o odiar, mas o amava tanto que doía meu coração.

 

— Não vai embora, eu posso mudar.

 

— Não Deku, você não pode.

 

Essa foi as últimas palavras que ele falou, antes de fechar a porta na minha cara, me deixando ali sozinho, minha única companhia era eu, mas nem isso reconhecia mais, nem o que o queria e se realmente amava aquele cara, como posso amar alguém se nem ao menos me amou? Katsuki se foi para sempre e só sobrou minha insignificante existência.

 

— Eu me odeio, eu definitivamente me odeio, como alguém pode me amar?

 

Gritei tão alto, pude me escutar claramente naquela noite, me senti tão fora de existência, queria sumir do mundo, mas só consegui ficar no chão gelado chorando a noite inteira, pois não sentia a mínima vontade de fazer mais nada.

 


             16 dias depois

 

Me levantei do chão, sequei minhas lágrimas, estava tudo bem, tinha passado, tudo já havia acabado, não devia ficar chorando pelo leite derramado, porque tinha tudo um fim, mas esse é o meu começo. Então me voltei novamente para o guarda roupa e finalmente vi uma roupa que não era preta, uma blusa toda colorida, com uma gola branca, meus olhos brilharam, pensei que tinha jogado fora, mas eu guardei a blusa, me lembro do porquê  de nunca ter usado ela, tinha na minha visão exatamente o motivo. 

 

5 meses antes

 

Eu estava andando pela casa com um sorriso bem alegre no rosto, com uma blusa que eu teria visto em uma loja da nossa rua, não teria como resistir, tinha me olhado no espelho e adorado. Bagukou me olhou bem na hora, não era todo dia que entrava tão feliz dentro de casa, ele por consequência deve ter estranhado.

 

Tirei a blusa da sacola, ele viu toda aquela mistura chamativa em uma única peça de roupa e fez uma expressão que eu nunca iria esquecer, foi um olhar totalmente de nojo, mas relevei e me vestir com ela e comecei a desfilar pela sala.

 

— Por que gostou dessa blusa? Ele é muito chamativo Deku — Foi as primeiras palavras que saíram da boca dele para dar a opinião sobre a blusa.

 

— Eu gostei dela por esse motivo, é tão colorido, as garotas da loja falaram que ficou ótimo em mim — Falei de um jeito bem animado, mas ele só me olhou com desdém.

 

— Não gostei tanto, é muito feminino, suas roupas pretas são bem melhores — Aquilo doeu — É melhor você ouvir seu namorado, do que garotas qualquer que só querem te vender algo.

 

O olhei chateado, mas ele não pareceu ligar, pois sempre dava a opinião sem ao menos pensar em como eu me sentiria, pois queria tudo do seu jeito, mas tinha que o ouvir, o que adianta vestir uma blusa que não o agradasse. Me voltei ao meu quarto, colocando a blusa no fundo do meu guarda roupa, pensando se algum dia eu teria confiança para sair com ela e me perguntando como eu podia comprar algo que nem ao menos meu namorado teria gostado.

 

16 dias depois 

 

Dessa vez eu não tinha ninguém me julgando e falando que a blusa não ficava boa em mim, o primeiro passo para superar aquilo, era vestir o que me fazia sentir bem, aquele casaco me fazia feliz, por mais simples que seja.

 

Coloquei a blusa, junto com um short preto, afinal ainda tinha roupas pretas, depois ia comprar peças diferentes, mas só de achar algo tão especial, senti que algo estava me completando, cada peça vai se encaixando na minha vida, e aos poucos vou descobrindo quem sou.

 

Andei até a cafeteria em passos lentos, por um momento quis apreciar a vista que tinha entre os dois lugares, minha rotina era tão agitada que nem ao menos percebi o quanto à rua tinha pouco movimento, como é cheio de árvores, como o ar é tão gostoso de respirar e ter uma rotina fora do sufocante é a melhor sensação do mundo.

 

Finalmente tinha chegado nela, pude olhar ali de fora, como era igualzinho nas fotos, lindo e aconchegante, entrei por fim no estabelecimento, indo até o caixa, um atende com cabelos de duas cores me atendeu, fiquei impressionado, muito raro ver algo assim em alguém, mas a aparência dele não parava de me surpreender, seus olhos também tinha cores diferentes, deu um riso sem graça, provavelmente percebeu meu olhar profundamente surpreso, o que me fez rever minhas atitudes na hora, dei um sorriso sem graça.

 

— Bom tarde! O que vai pedir?

 

Olhei para o cardápio afundando minha cara, percebeu que ainda não tinha escolhido, voltei meu rosto para ele.

 

— Vou querer um chá gelado de hortelã e donut de chocolate, por favor!

 

Ele começou a anotar no monitor, suas mãos eram tão brancas, não pude evitar meu olhar, quando percebi, o garoto estava me encarando.

 

— Qual a forma de pagamento senhor? Deu 16,90.

 

— Vou pagar no dinheiro!

 

Peguei o dinheiro em minha carteira o entregando, fazia tempo que não tinha contato físico, por um momento toquei em sua mão, um gesto tão genuíno, mas que me fez perceber o quanto precisava de algo assim, não precisava ser do atendente, só uma amizade cairia muito bem.

 

— Obrigado pela preferência, pode se sentar, levarei seu pedido até sua mesa.

 

— Obrigado...

 

Olho por um momento para seu crachá, ele sorriu ao ver meu gesto.

 

— Todoroki San!

 

Me sentei em uma mesa no meio do estabelecimento, onde observei os quadros que tinham ali, tão lindos, fiquei tão distraído que só percebi a presença do Todoroki, assim que pôs o chá e o donut em minha mesa, olhei para ele, sei que estava sorrindo por educação, mas por um momento me peguei querendo ver novamente, a falta de interação me fazia ser tão intenso às vezes.

 

— Obrigada Todoroki San!

 

— De nada, você é uma das poucas pessoas que me chamou pelo nome.

 

Fiquei constrangido por isso, pensei que era normal fazer isso em estabelecimento, quando trabalhei nessa área, várias pessoas me chamavam também.

 

— É um hábito, pensei que fosse normal, eu ter constrangi de alguma maneira?

 

Ele me olhou e coçou a cabeça e deu uma olhada para o lado de forma uma forma constrangida.

 

— De forma alguma, só fiquei interessado de saber o seu também.

 

Isso parecia algum tipo de flerte, não era idiota, mas qual era o mal de falar meu nome, pelo que vi só tinha ele na loja, ninguém para o impedir de fazer isso em trabalho.

 

— Midoriya Izuku! Esse é meu nome, um prazer te conhecer Todoroki...

 

— Shouto! Um prazer também, desculpe pelo incômodo.

 

— De forma alguma!

 

Logo se retirou, fiquei com um sorriso bobo no meu rosto, que garoto mais interessante, acho que eu deveria vir nessa cafeteira mais vezes, de certa forma ter alguém interessado em mim, me deu um certo ânimo, de certa forma não me sentia o suficiente para ninguém, porém era só o garoto do café, não é como se fosse passar disso. Continuei tomando meu chá e comendo meu donut, com meu coração quietinho, pois me  peguei pensando que eu amava frequenta esses lugares calmos, não aquela boates que Bakugou me arrastava, como um peso saiu das minhas costas, algo mais novo que descobri em minha personalidade, aos poucos estou encontrando minha própria identidade.


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