Heartbeats escrita por Arcchan


Capítulo 1
your heartbeats are like morphine in my veins


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem! ❤



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Heartbeats

By: Archie-sama

Single Chapter — ‘Cause your heartbeats are like morphine in my veins

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Capítulo Único — Porque as batidas do seu coração são como morfina em minhas veias

 

Eu perdi tudo

Eu me atirei e você me pegou quando ninguém estava lá

Bem, você pode pegar o que quiser, pegue o ar que eu respiro

E eu vou dar tudo que eu tenho

O que quer que eu perca, é colocado de volta por você de uma maneira que você nunca vai saber 

Não há ar em torno de mim quando chegamos tão perto

Mas não há nenhum lugar que eu quero ir (…)

Porque eu não posso ficar sem você 

Be There — Seafret

 

 

Desde o dia em que Eren “morreu”, Mikasa se sentia ansiosa com frequência. Embora não demonstrasse — e sabia que somente Armin podia enxergar através de sua postura inabalável —, sentia suas mãos suando e tremendo levemente algumas vezes. Para não se denunciar, era preciso que agarrasse a borda de suas lâminas com ainda mais força. Sempre que se imaginava perdendo-o outra vez, uma sensação estranha se alastrava por seu peito; gelava sua coluna e fazia com a que a bile em sua garganta quase a sufocasse.

Isso geralmente ocorria durante as expedições e demais serviços da Tropa de Exploração, nos quais Eren estava quase sempre longe dela. Por causa de suas incríveis habilidades, Mikasa fazia parte do esquadrão de elite da Tropa, e suas tarefas divergiam das outras em alguns aspectos. Mas, apesar de ficarem distantes um do outro, ela não podia evitar temer pela vida dele. Em verdade, não poder vê-lo tornava a situação ainda mais preocupante; dessa forma não podia saber o que ele estava fazendo, se estava bem ou se havia se machucado... Na pior das hipóteses, ele estaria morto. Era essa possibilidade completamente plausível e aterrorizante que instaurava o caos em sua mente.

Eu não posso perdê-lo de novo, era o que repetia para si mesma incansavelmente, sempre que estava prestes a abandonar suas próprias defesas. Nesses momentos de estresse em que suas pupilas dilatavam, suas mãos suavam e seu coração parecia querer sair do peito, era o Capitão Levi quem a fazia recuar e pôr a cabeça no lugar, alegando que ela não podia perder o controle de suas emoções e arriscar o que quer que estivesse em jogo. Suas vidas, na maioria das vezes.

Então, recompondo-se, ela finalmente se lembrava de algo que a acalentava, que amenizava sua dor quase como morfina injetada diretamente na veia:

Eren, saindo de dentro da nuca de um titã, deixando todos surpresos. Ela, se alarmando ao avistá-lo de longe. Não, não pode ser. Suas pernas se movendo automaticamente, correndo pelo telhado. O DMT sendo usado para pular e alcançar o chão, deixando-a a poucos metros do corpo caído do titã, e o rosto transfigurado em incredulidade e preocupação delatando a agonia que varria seu coração.

Lá estava Eren, desacordado. Intacto.

Naquela ocasião Mikasa se lançou sobre ele, envolvendo-o num abraço apertado, de olhos escancarados. Não conseguia acreditar que de fato era ele que seus braços rodeavam. Então, para confirmar que não era um sonho, desceu o rosto até o peito dele, pousando a orelha sobre a região. E ouviu. Tu-tum. Tu-tum. Os olhos negros arregalaram-se ainda mais, só para irem se fechando em seguida, repletos de lágrimas. Tu-tum. Ele estava vivo.

Ela pendeu a cabeça para trás, deixando que as lágrimas fluíssem como cascata pelo rosto contorcido. Em seguida, o choro rompeu de sua garganta em gemidos inexprimíveis. E chorou, e chorou, e chorou... Até que sua alma estivesse lavada, aliviada. Como se as toneladas que pesavam sobre seus ombros não passassem de um fardo leve. Eren nunca a havia deixado.

A partir de então, as batidas do coração do Jaeger eram o agente tranquilizante para seus temores.

* * *

Armin, Eren e Mikasa estavam exaustos, sujos e com alguns cortes sangrando pelo corpo, cavalgando lado a lado através do portão Sul da Muralha Rose. A Tropa estava retornando de uma missão especial liderada pela mais nova Comandante do Reconhecimento, Hanji Zoe, e tudo o que as pessoas desejavam era um bom banho e um pouco de descanso — que era mais do que merecido.

Os três amigos despediram-se silenciosamente, sem forças para falar qualquer coisa. Como em todas as vezes, o luto recaía sobre os ombros deles. Porém, numa amizade tão duradoura, olhares significavam muito mais do que palavras, e eram o suficiente para que se comunicassem. Em todos estes estavam implícitos o carinho e o zelo que tinham entre si. "Se cuidem", "eu me preocupo com vocês", "sinto muito por terem que passar por isso", "sejam fortes..."

Estavam certos de que, enquanto compartilhassem os mesmos sentimentos, haveria um lugar de apoio para eles… Porque tinham uns aos outros.

A soldada Ackerman se dirigiu à ala feminina do alojamento e foi direto tomar um banho. Lá ela demorou mais do que o normal, apenas perdida em pensamentos enquanto se afundava na água. Novamente havia exterminado mais titãs do que podia contar, e isso a ajudava a liberar a raiva acumulada, entretanto nada pagava o preço incalculável de todas as vidas que se perderam em campo. As tragédias diárias que presenciava já estavam ultrapassando o limite que ela havia imposto ao próprio coração, e, mesmo que fosse forte para suportar, ainda se perguntava o tempo inteiro o porquê de ter que ver seus companheiros sendo devorados um após o outro.

Quando aquele inferno iria acabar?

Cada cena de morte e sangue que via desencadeava em sua mente flashes do dia em que seus pais foram assassinados. Aquelas lembranças eram dolorosas ao ponto de fazer com que seus piores medos viessem à tona. Medo de perder aqueles que amava outra vez, medo de ficar sozinha, medo de sucumbir à angústia…

Depois da calamidade que marcou sua infância, Mikasa passou a ser vítima de pesadelos constantes, os quais tiveram início na primeira vez em que dormiu na casa dos Jaeger. Naquela fatídica noite, ela perdeu as contas de quantas vezes acordou depois de ter o mesmo pesadelo; no caso, as memórias do momento em que sua casa foi invadida por estranhos e seus pais tirados de si. Após aquilo, todas as suas noites tornaram-se longas e extenuantes.

Quando estava angustiada, a garota se agarrava ao pensamento de que possuía pessoas importantes as quais queria proteger. Isso atenuava seus sentimentos conflitantes e fazia suas fraquezas caírem por terra; no entanto, ninguém podia salvá-la de si mesma. Quando estava dormindo, a mente de Mikasa era sua maior inimiga.

— Mikasa? — alguém a chamou, fazendo-a se dar conta de que estava quase dormindo durante o banho. Levantou os olhos, encarando a garota a sua frente. Era Historia, enrolada numa toalha e olhando-a um pouco preocupada. — Não vai sair?

— ...Eu vou — anuiu, num tom baixo. — Mas você e a Sasha podem ir primeiro.

— Tudo bem, então — a loira concordou, resolvendo ir embora ao se certificar de que Mikasa estava bem. Percebeu que ela apenas queria ficar um pouco sozinha com os próprios pensamentos. — Nos vemos no refeitório.

Ao ver as outras partirem, a moça suspirou e passou os dedos nos cabelos que grudavam em sua testa, abraçando os próprios joelhos e apoiando a cabeça neles. Depois de uma missão tão cansativa e desgastante, tudo o que sentia era uma melancolia profunda, e a vontade de encarar o mundo era quase inexistente. Mas, como não poderia ficar ali para sempre, deu-se por vencida e se ergueu, enrolando uma toalha branca em volta do corpo esguio e se dirigindo ao quarto. Historia que a perdoasse, mas estava tão cansada que resolveu apenas se trocar e ir dormir, sem comparecer ao refeitório antes.

Tudo o que queria era poder se desligar do mundo por algum tempo, contudo, também naquela noite, a jovem não esteve livre das circunstâncias em que vivia. Enquanto dormia, seu inconsciente reviveu cada cenário de horror que testemunhara ao longo da expedição, sem nunca esconder-lhe os detalhes de sangue e gritos. O pior de tudo era que, além de seu coração já sofrer bastante com a perda irreparável de amigos e companheiros, sofria também com as lembranças de seus pais sendo atacados e com elucubrações de que, não importava o quanto tentasse protegê-lo, Eren sempre seria levado embora.

Ela acordou no meio da noite, assustada e ofegante. Seu corpo estava dolorido e pesado como se tivesse levado uma surra, e sua cabeça doía muito. Os pesadelos eram reais demais, vívidos demais para que conseguisse se acalmar. Ela suava e seu coração batia num descompasso tão desagradável que foi preciso apertar o travesseiro entre os dedos, tudo para ter a sensação de uma realidade palpável. A ansiedade estava atacando novamente.

Ao seu lado direito, Sasha dormia esparramada sobre a cama dela, roncando e com os cabelos emaranhados. Ao esquerdo, deparou-se com uma bandeja de comida sobre sua mesa de cabeceira. Sasha provavelmente havia lembrado dela e trazido a refeição, mas ainda não sentia nenhuma fome.

Preciso dele, pensou Mikasa, de pálpebras fortemente cerradas. Ignorando a falta de força nas pernas, saiu da cama e, mesmo cambaleante, seguiu para fora do quarto. Minutos depois ela se encontrava em frente à porta do quarto de Eren, no alojamento masculino. Embora soubesse que de novo estaria invadindo a privacidade do garoto, ela não hesitou em abrir a porta devagar e adentrar o cômodo pequeno e sóbrio a passos silenciosos.

Eren e Armin estavam dormindo, como era de se esperar naquele horário. O Jaeger estava deitado de barriga para cima e um de seus braços cobria os olhos, enquanto o Arlert dormia de bruços, do outro lado do quarto, imerso em um sono profundo. As camas eram minúsculas, mas isso não impediu a moça de se esgueirar pela cama de Eren, deitando ao lado dele e colocando o ouvido em seu peito, escutando as batidas serenas e ritmadas de seu coração.

Fechou os olhos outra vez, apreciando a calmaria que se instalou no seu âmago. Ao ouvir o coração de Eren batendo tão tranquilo, as suas próprias batidas foram se estabilizando junto às dele. Sua respiração dificultosa foi voltando ao normal, e logo o ar penetrava seus pulmões livremente.

Mesmo que por poucos minutos, ela finalmente estava em paz.

O rapaz, que sentiu um peso incômodo sobre si, afastou o braço e lentamente começou a abrir os olhos. Com a vista um tanto embaçada, deparou-se com uma cabeleira negra bem de perto. Cheirava a... pêssego.

— Mikasa...? — chamou-a, sonolento, mas ela permaneceu quieta.

Por mais que estivesse acostumado com as entradas sorrateiras de Mikasa em sua cama, Eren tinha certeza de que nunca se habituaria ao corpo quente dela em contato com o seu. Apesar de ser algo realmente agradável, deixava-o nervoso e desconcertado. Ele apenas procurava não demonstrar.

— Teve pesadelos outra vez? — ele questionou suavemente, já imaginando o motivo de ela estar ali. Tinha ciência da falta que a família de Mikasa fazia para ela; sabia o quanto aquele assunto era delicado. E, em se tratando de solidão, ele entendia muito bem. Nesse aspecto eram iguais.

— Desculpa incomodar você de novo, Eren — ela enfim se pronunciou, baixinho. Já havia feito aquilo tantas vezes que Eren, mesmo tendo seu espaço invadido, nem ficava bravo ou se assustava mais. — Não queria te acordar, mas você tem o sono meio leve... — Apoiou os braços e o queixo sobre o peito dele, fitando-o. Os cílios negros batendo vagarosamente prenderam a atenção do rapaz, e seus olhos verdes, agora mais abertos, encararam a jovem complacentes.

— Está tudo bem, já que é você — ele retrucou, despreocupado. A presença dela não o incomodava, apenas... perturbava seus sentidos um pouco.

— Eren... — sussurrou a moça, com os olhos opacos e a tristeza sendo facilmente identificada em seu tom de voz — ...Por quanto tempo alguém pode lutar contra um destino inevitável? — indagou, sentindo-se cansada e perdida. Todas as decisões que tomava em sua vida eventualmente se tornavam um fardo. Todos os caminhos levavam a apenas um final: a perda de pessoas preciosas. Estava realmente farta disso.

Eren a analisou por longos segundos.

— Se alguém diz que é fraco e não tem motivação para continuar, provavelmente vai ceder à derrota bem rápido — ele respondeu sem hesitação. — Mas, mesmo que sejamos fracos, quando nos agarramos fortemente a alguma coisa, é como um impulso que nos faz seguir em frente. — Correu os olhos pelo teto, recordando de tudo aquilo que o fazia permanecer lutando, e pousou a mão esquerda nas costas dela inconscientemente, num afago sutil. — Você não carrega algo assim com você? — perguntou, sorrindo de leve para a garota.

A princípio ela ficou surpresa com aquelas palavras, mas logo aquiesceu, sentindo que seus medos se apaziguavam. Afinal, o Jaeger era um soldado reconhecido não por ser exímio, mas por sua determinação inigualável. Eu tenho você, Eren, ela pensou, com um suave repuxar de lábios.

— Obrigada... — ela agradeceu, e os instantes seguintes, em que os olhares colidiram, foram como uma eternidade de palavras não ditas. O brilho retornou devagar aos olhos de Mikasa, e ela sentiu o interior se aquecer por inteiro. Eren estava vivo, e isso era tudo que importava para ela.

— Não tem que me agradecer. Eu não acredito em destino, Mikasa — ele afirmou, deixando-a curiosa. — Os resultados dependem do nosso desempenho.

Mikasa sabia que Eren não era do tipo que acreditava em coisas como predeterminação. Ele acreditava em força de vontade, e que com isso era possível alcançar seus objetivos, mesmo que o processo fosse árduo. Mas ela ainda tinha algumas dúvidas sobre a maneira dele de enxergar as coisas.

— No que acredita, então? — ela questionou num sussurro.

— Em escolhas — ele declarou. — E existem consequências para cada uma delas.

— E qual a sua escolha agora, Eren? — Mikasa não resistiu; levou a mão até o cabelo dele, que agora estava um tanto longo, e passou os dedos com suavidade.

Eren a olhou fixamente. Seu corpo ainda estava relaxado, mas a mente parecia querer colapsar com o contato. Ela está me tocando? Por quê? Ela já fez isso antes? Não entendo. Não era nada de mais, ele sabia, mas ainda era algo novo entre eles. Fazia com que quisesse retribuir o toque.

— Lutar pelo tempo que for necessário — ele respondeu, tentando não se distrair da conversa.

— É uma escolha nobre. — Ela o lançou um olhar indecifrável.

— Você acha? — O rapaz arqueou uma sobrancelha. — Sempre pensei que fosse egoísta.

— Por quê?

— Porque não estou fazendo isso por ninguém além de mim — foi sincero, ainda que não esperasse verbalizar o que sentia dessa maneira. Mal sabia ele que a existência de seus amigos influenciava suas decisões mais do que podia imaginar.

— Isso é um mero detalhe. — Mikasa deu de ombros, o olhar se tornando mais afetuoso enquanto as lembranças a assaltavam. Lembranças em que Eren mostrou que se importava, mesmo que ele não percebesse.

Eren a mirou surpreso e um tanto em dúvida.

— É mesmo?

— Sim... Porque, mesmo que você não veja, eu estou aqui por sua causa. — Ela sorriu outra vez, e ele não pôde evitar olhá-la mais intensamente. Mikasa não sorria com muita frequência, então vê-la tão à vontade fazia algo no peito de Eren vibrar. Ele só não sabia o quê.

A vontade de tocá-la se multiplicou, e sua mão que estava parada começou a subir lentamente pela coluna dela, arrastando a blusa de tecido fino junto. Mikasa se arrepiou, sentindo o coração dar um salto, mas não cogitou se afastar.

— Você sempre soube se cuidar sozinha — ele murmurou, fingindo que sentir a pele dela sob seus dedos não o afetava. — E me salvou várias vezes.

— Eren... — Ela lentamente desceu a mão dos cabelos castanhos até o rosto dele, tocando-o de um jeito que nunca imaginou que teria coragem. — Você me salvou primeiro — sussurrou de volta. As faces estavam a centímetros de distância. — E eu sempre serei grata por isso.

As lembranças do dia em que ele envolveu o cachecol vermelho ao redor dela voltaram tão nítidas quanto sempre foram. Um momento intimista dotado de simplicidade... Mas que para ela representava o mundo. Para ele, era apenas o primeiro de muitos gestos de proteção que viria a ter acerca dela. Encararam-se, como se soubessem exatamente o que o outro estava pensando. Aquele era o mesmo cachecol que, a despeito de estar desgastado pelo uso, envolvia o pescoço de Mikasa como era costumeiro. Um objeto cheio de significados.

Eren engoliu em seco, respirando pesado. O coração parecia martelar seu peito. Ela era ainda mais bonita de perto... Seus olhos inevitavelmente fitaram os lábios dela, e a outra mão apertou-a na cintura. Uma coloração avermelhada surgiu nas feições delicadas, e ele só pôde vê-la com clareza por conta da luz que adentrava as janelas do quarto. Sem dúvidas havia muitas coisas contra as quais ele queria permanecer lutando. Mas, naquele momento, decidiu desistir de lutar contra os sentimentos que tinha por Mikasa. Eram simplesmente profundos demais para ignorar.

— E eu faria tudo de novo — admitiu. E, num impulso, suas duas mãos foram parar nas laterais do rosto feminino, segurando-o com firmeza antes de erguer-se de encontro a ele.

E finalmente a beijou.

Os lábios se encontraram com sutileza, e aquele momento parecia extremamente surreal para eles. Porque, até então, eles não passavam de família. Uma família que, embora não estivesse interligada pelo sangue, permanecia unida por um laço que ia além de qualquer entendimento. Eles só tinham um ao outro, afinal. Aquele amor era puro — eles se entendiam como ninguém e se importavam muito um com o outro —, mas também indômito. Não importava o que estivesse contra eles, o ímpeto de se protegerem era sempre como uma tempestade violenta. Podia sair levando tudo pela frente.

Os olhos de Mikasa se fecharam no mesmo segundo e ela suspirou, sentindo seu corpo relaxar mais uma vez ao lado dele. Os lábios de Eren eram suaves e quentes contra os seus, como se ele não quisesse parecer desesperado, e o amou ainda mais por isso — se é que era possível. Ele a apreciava o suficiente para achar que precisava se controlar.

Eren se afastou pouco depois, voltando a mirá-la com intensidade. Seu polegar direito, que antes fazia um leve afago na bochecha corada da moça, vagou pela pele dela lentamente até alcançar os lábios avermelhados. Acariciou o inferior devagar, sentindo o hálito quente na ponta de seu dedo. Nunca pensou que pudesse querê-la tanto.

Mikasa o encarou de volta, perdida nos olhos verdes nublados. Eles transmitiam um sentimento que ela ainda não sabia identificar, mas que a agradava. Sentia que olhar para Eren era sempre assim, uma batalha perdida. Havia ido até ali apenas em busca de alento — o que somente as batidas do coração dele podiam lhe proporcionar —, mas conquistara algo muito melhor que isso: calor. O calor da única pessoa que poderia fazê-la sentir todas aquelas sensações boas que a inundavam. O calor de Eren.

Quando o rapaz tirou as mãos do rosto dela, incerto sobre o que aconteceria em seguida, Mikasa pousou as suas sobre o peito forte dele, a fim de se apoiar melhor. E, lançando-o um olhar significativo, ela se inclinou ainda mais para frente, acabando com o espaço que os distanciava uma outra vez. Os lábios dele eram mesmo quentes, de um jeito que a fazia desejar nunca se afastar. Ela os pressionou com calma e de olhos fechados, o que a impediu de ver a face de Eren enrubescida; no entanto, o ganho maior estava na sensação do toque. Era um quê de maciez com umidade e uma calidez quase febril. Novo e extremamente agradável. Amoroso e gentil. Totalmente discrepante do redemoinho de sentimentos que havia dentro deles.

Apreciando o contato e procurando transmitir o que sentia no momento, Mikasa prendeu a blusa de Eren entre os dedos. Simplesmente não havia mais medo ou relutância em relação ao futuro, nada que pudesse perturbar seus pensamentos. Havia apenas convicção. E carinho, confiança, paixão... Era o que ele causava em si. Sua iniciativa foi o suficiente para que o garoto abrisse a boca e a encaixasse na sua, deixando que o beijo tomasse outra proporção.

Enquanto ela movia a cabeça de um lado a outro, capturando os lábios dele sem muito jeito e deixando que suas salivas se misturassem vagarosamente, Eren retribuía os movimentos sem pressa. Ele não tardou a envolver o lábio superior de Mikasa entre os seus e sugá-lo de leve; vagueando, em seguida, sua língua para dentro da boca dela. Suas mãos apertaram com força a cintura fina, e sabia que na manhã seguinte ela estaria com aquela região marcada por seus dedos. Seria algo interessante de se ver, se não estivesse com os lábios tão bem ocupados.

Estava em busca de um contato mais íntimo e profundo, pois queria tê-la junto a si tanto quanto pudesse. Torcia, entretanto, para que ela não conseguisse ouvir as batidas de seu coração agora. Estavam descontroladas. Mikasa não sabia, mas o deixava vulnerável assim. E vulnerabilidade era algo que ele detestava deixar transparecer. Mesmo assim, decidiu ignorar apenas por ser ela.

A garota, por sua vez, deixou um ofego pesado escapar entre o beijo. E não se envergonhou de deixar sua língua enroscar-se à de Eren, tampouco pensou em parar. Seus sentidos estavam preenchidos pela presença dele. O som da respiração entrecortada, o gosto dos lábios, o cheiro masculino, a aspereza das mãos em sua cintura... Mas nunca havia sido diferente. Eren sempre a teve assim: indiscutivelmente consciente sobre ele.

Quando ambos largaram o beijo para respirar, e finalmente puderam abrir os olhos, um silêncio embaraçoso surgiu entre eles. A situação ainda era nova, afinal.

— Você... — Eren pigarreou, tentando se recompor — ...vai dormir com o cachecol? — questionou, a fim de se livrar do constrangimento. Mas suas mãos continuavam sobre a pele dela, e os lábios inchados do beijo denunciavam o que haviam feito há pouco. — Não está com calor?

Mikasa se surpreendeu um pouco, lembrando de que ainda estava com o agasalho. O motivo? Bem, às vezes dormir com ele a acalmava... Simplesmente porque lembrava Eren. Ela, porém, não fez questão de dizer isso em voz alta.

— Vou tirar — falou em vez disso, desenrolando o pano vermelho de seu pescoço e pendurando-o na cabeceira da cama. — Posso dormir aqui? — perguntou sem rodeios, deixando o rapaz corado novamente.

— Como se eu pudesse te negar alguma coisa... — ele resmungou, desviando o olhar.

Mikasa escondeu um sorriso, aconchegando-se entre os braços dele e sentindo uma tranquilidade indescritível. Sentia que, pelo menos naquela noite, não teria mais pesadelos. Ela não fazia ideia de como tinham chegado a esse ponto, mas estava feliz de ter ido até ali escutar as batidas do coração de Eren. Graças a isso, teve muito mais dele do que um dia imaginou poder. Eu te amo, Eren, foram as palavras que vieram em sua mente tão logo seu coração, antes agitado, se aquietou no peito. Mas ela também não disse, porque, afinal de contas, não era necessário. Ele sabia.

— Mikasa... — ele chamou, sussurrante. Foi você que me salvou de uma vida inteira de solidão. Era o que queria dizer, e sabia que ela entenderia todo o significado por trás. Amo você. Nunca me deixe. Mas, quando se virou um pouco para olhá-la, percebeu que ela já dormia. O peito dela subia e descia lentamente com a respiração. Sorriu. — Boa noite.


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