Cassie Moyes

Estou em uma enrrascada!

Daquelas enormes e com várias armadilhas. Por acaso me viu de longe respirando fundo e tentando respirar? Ah, isso foi um pouco antes das coisas piorarem triplamente. E eu digo "triplamente", porque foi exatamente por isso que percebi, minutos atrás, que estou no meio de uma bola de neve que só cresce e nunca terá fim: quando vi meus três namorados juntos, conversando tranquilamente, na porta da igreja em que aconteceria o casamento da minha irmã dali a alguns minutos.

Não que eu seja uma vadia que têm mesmo três namorados e coloca chifre em ambos, sem que saibam.

Na verdade, Derek é meu ex. O maldito ex controlador e abusivo que eu nunca deveria ter me envolvido, até porque, depois do término, ele ficou ainda mais ciumento e agressivo do que era antes. 

Vitão é meu vizinho. Ele também foi meu primeiro namoradinho na infãncia quando tinhâmos, sei lá, oito anos?! Mas é no nome dele que minha irmã toca sempre que diz que eu deveria "arrumar um cara menos problemático, tipo nosso vizinho, o Vitão... vocês não namoravam quando eram mais jovens?". Vitão também é o namorado de mentirinha que arrumei para que Derek pudesse parar de pegar no meu pé.

E por fim, tem Tyler. Meu coração disparou assim que o viu pela primeira vez na porta de uma boate. Tentei manter ele longe da confusão ambulante que eu sou, mas aparentemente meus sentimentos por ele são recíprocos e eu não posso fazer nada pra mudar isso, palavras dele, é claro.

Mas toda essa bola de neve começou há sete dias atrás, quando eu não tinha namorado nenhum e estava bem feliz assim!

Segunda-feira, vinte e três de novembro.

—Cassie, nós precisamos conversar! –minha irmã mais velha afirma, ela faz isso com tanta convicção que tenho certeza que estou em problemas.

—Eu estou atrasada... -começo a dizer, porém interrompo a frase antes mesmo de concluí-la, o olhar mortal que Sammy lança sobre mim têm esse poder.

Ela não é minha mãe, mas ama agir como se fosse. Mesmo que, na verdade, ela só tenha nascido três anos antes de mim.

—Nossa mãe me deixou responsável por você quando se mudou para Indonésia, então você sabe que sou eu quem...

—Você quer dizer, quando ela nos deixou? –pergunto, atrapalhando seu discurso elaborado.

—Eu quero dizer que quando surgiu uma oportunidade de trabalho melhor, e ela a agarrou. –Sammy continua, ela defende nossa mãe com unhas e dentes, mas acho que no fundo ela sabe muito bem que se Eleanor fosse uma boa mãe ela nunca teria se mudado, por trabalho nenhum.

—Sem pensar no fato de ter filhas? –retruco.

—Não vamos começar isso de novo! Quero conversar com você sobre o e-mail que recebi da escola, dizendo que você deu um tapa no rosto de Lola Davis, por acaso você voltou a ter dez anos? Você e Lola não são melhores amiguinhas do prézinho? –Sammy pergunta, odeio quando ela me trata como criança. Tenho que lembrá-la frequentemente que farei dezoito anos daqui há poucas semanas, mas seu hobby preferido é me tratar como bebê.

Solto um sorriso debochado pra ela antes de responder sarcásticamente:

—Não, nós brigamos porque ela roubou meu lanchinho. –em seguida dou as costas pra ela e bato forte a porta do meu quarto após entrar.

Fico esperando Sammy vir atrás de mim, batendo na porta e dizendo que quer mesmo saber o que aconteceu, mas ela não vêm. Geralmente viria, mas essa semana está preocupada demais com os planos de seu casamento que acontecerá no próximo final de semana.

Retiro meu celular do bolso esperando que houvesse alguma mensagem de Lola se desculpando, mas Lola não faz o tipo que se desculpa, pelo menos não quando foi eu quem deu um tapa gratuito na cara dela.

Lola Monroe é mesmo minha melhor amiga desde o prézinho, e geralmente, ela não é uma pessoa fútil, inclusive, ela é muito inteligente e já têm uma bolsa de estudos garantida em Harvard no curso de direito, mas ela só falava sobre o maldito baile de formatura já tinha quase três meses. E não estou exagerando!

Quando eu dizia sobre o gosto da comida do colégio, ela respondia que esperava que no baile estivesse melhor. Quando eu reclamava do fato da minha irmã só se preocupar com seu casamento, ela dizia que esperava que família não fosse permitida no baile. E até quando eu contei a ela sobre meu ex-namorado, Derek, ter feito um facebook falso para me stalkear depois de eu ter bloqueado ele em todas as redes sociais, Lola respondeu que esperava que, para variar, eu escolhesse algum rapaz menos psicopata pra levar ao baile. Foi daí que surgiu o tapa.

Mas Lola e eu temos um trato rídiculo de não ficarmos com raiva da outra por mais de vinte e quatro horas, então me livro do meu ego e ligo pra ela.

—Espero que tenha decorado um discurso bem elaborado sobre como foi babaca nessa manhã. –ela diz assim que atende, sem mais delongas.

—Preparei... -digo, apesar de não ter ideia do que dizer a seguir, mas digo mesmo assim: -Eu estava nervosa porque Derek não para de me perseguir, eu tenho certeza que ele estava me seguindo no supermercado hoje, e eu estou começando a ficar assustada com isso. E você e as meninas só falam do baile, então eu me irritei. Sei que é empolgante pra vocês, me desculpa por ter sido uma pé no saco. –me desculpo, escuto ela respirar fundo do outro lado da linha.

—Esse tapa doeu, e eu tenho direito de devolvê-lo em algum momento...

—De acordo! –afirmo.

—Mas eu te perdoou. E me desculpa por não ter me interessado no caso do Derek, eu achei que ele estava apenas enchendo o saco, com o jeito Derek de ser. –Lola nunca gostou de Derek, e eu deveria ter levado mais em consideração a sua opinião desde o princípio.

—Ele já passou dos limites, vou ter que conversar com ele.

—Só marque em algum lugar público, com muita gente em volta! –ela responde, coberta de razão. Não que Derek seja mesmo psicopata, mas ele claramente não sabe reagir á um não. –Eu e as meninas vamos ao shopping hoje para dar uma olhada nos vestidos para o baile, por que você não marca com o Derek lá e depois passa um tempo com a gente? –ela pergunta. Geralmente não gosto de sair em grupo com todas as seis meninas das quais Lô é amiga e eu apenas finjo ser também, mas não vejo a hora de ficarmos realmente de bem outra vez.

—Claro! –afirmo. –E você vai na despedida de solteira da minha irmã amanhã, não vai? –pergunto porque sei que Lô tem o péssimo hábito de esquecer as coisas.

—Eu não perderia a oportunidade de entrar na Green Valley de graça, minha amiga! –ela responde empolgada. Green Valley é o tipo de balada que só as garotas mais ricas do colégio tem acesso, mas minha irmã conseguiu uma promoção de noiva para sua despedida de solteira.

Ela desliga alguns minutos depois, mas eu continuo com meu celular na mão, pensando em como posso convidar Derek para o shopping sem parecer que quero voltar com ele.

Pode me encontrar no shopping ás três? Precisamos conversar! Mando por mensagem, e então saio do quarto pra explicar as coisas á minha irmã, até porque não posso ficar com raiva dela na semana do seu casamento.

(...)

Não consigo mais ver Derek como um homem bonito, não após o nosso término traumático e tudo que ele fez depois, mas ele é definitivamente estiloso. Óculos escuros, jaqueta jeans, o cabelo sempre arrumado e os tênis de marca do qual ele ama se gabar, esse é Derek. Ele tira os óculos quando se senta na mesa onde eu estou o esperando e o coloca na gola da camiseta, age como se não tivesse se atrasado vinte minutos.

—Você continua linda, Cassie. –ele me elogia e tenho vontade de vomitar.

—Posso ir direto ao ponto? –pergunto a ele, mas não o espero responder. –Você estava me seguindo ontem?

—Talvez. –ele responde e dá um daqueles sorrisos, como se seguir alguém fosse uma coisa super legal, que todo mundo faz, tão inconveniente. Algumas garotas chamariam o sorriso de Derek de sorriso arranca-calcinha, mas apenas as garotas que não conhecem a personalidade podre dele. 

—Derek, nós já terminamos há mais de um mês, eu preciso seguir a minha vida, não consigo fazer isso com você me seguindo e fazendo contas fakes pra me stalkear no Instagram. –decido por ser direta e honesta, mas Derek nunca leva ninguém a sério.

—Cassie, nós eramos ótimos juntos... -ele começa o longo discurso patético que é felizmente interrompido pela garçonete vindo nos atender.

—Já sabem o que vão pedir? –ela pergunta com um sorriso comercial no rosto, faço que não com a cabeça, mas Derek fala por nós dois:

—Um suco de maracuja pra estressadinha aqui, e um café forte pra mim. –ele diz e também sorri pra ela, que apenas anota o pedido e nos deixa novamente.

Há um punhado de razões para eu ter terminado com Derek: ele é ciumento, do tipo que olha minhas mensagens escondido, me segue quando eu digo que vou me encontrar com minha irmã na padaria e não deixa eu ter amigos homens. Ele sempre acha que é o mais esperto em qualquer lugar que vamos e fica horas falando como se ninguém mais pudesse ter opinião. Ele riu de mim quando eu disse que estava pensando em cursar fotografia, ele riu da minha irmã quando ela disse que estava pensando em ter filhos e ele riu do meu cunhado quando ele contou a ideia do livro que está escrevendo há meses e nunca tinha tido coragem de contar pra ninguém. Ele não costuma deixar eu dizer frases completas sem me interromper e em sua opinião ele nunca, nunca está errado.

—Nós eramos apaixonados um pelo outro... -ele volta a olhar pra mim, penso a respeito da sua frase, e não, nós não eramos. –E acho que ainda somos! –ele afirma, e merda, como eu vou fazer isso?

—Eu gosto de outra pessoa. –a frase simplesmente sai pela minha boca sem minha permissão, sem sequer ter passado pelo meu cerébro, se é que isso é possível.

—O quê? –ele parece chocado, com certeza não esperava por essa, mas sei que não acredita cem por cento em mim. –Quem é ele? –agora seu tom de voz sai mais alto, nervoso.

Ótima pergunta, quem diabos é ele? Penso o mais rápido que consigo, mas minha mente voa para minha irmã, minha irmã dizendo "Você não tinha uma queda pelo nosso vizinho? Ele com certeza é mais gato do que o Derek".

—O Vitão... -respondo tentando não hesitar, mas é difícil já que acabei de inventar que gosto de uma pessoa que não converso há anos.

—Quem?

—Meu vizinho, o Vitão, aquele que dá muitas festas... -continuo, mas Derek não está mais ouvindo, ele se levanta da mesa, tira a carteira do bolso, joga uma nota de vinte na mesa (mesmo que nossos pedidos juntos nem chegassem a dez reais), se vira e vai embora, sem dizer uma palavra.

No mesmo instante sei que fiz besteira, sei que eu destruí a vida do meu vizinho e sei que acabei de começar uma longa história.