Mesmo que Mude escrita por Gabinos, Supernova
Notas iniciais do capítulo
Alow, galero
venho trazer essa sofrência inspirada na música Mesmo que Mude, do Bidê ou Balde. A citação na sinopse é uma parte da letra dessa obra de arte maravilhosa *---*
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Aos corações que acompanham, obrigada pelo amorzinho todo que vocês mandam ♥
Fazer mudança era algo complicado. Não se tratava apenas de organizar ou se desfazer de velhos hábitos, mas também de revirar o passado, o que podia ser angustiante. A ajuda de Isaak era bem vinda, obviamente, porém por mais transparente que Kanon tentasse ser sobre si mesmo, não estava preparado para dividir alguns momentos com o atual namorado. Em especial, certos momentos registrados nas fotografias que escondia no fundo do roupeiro.
Uma despedida simples, aquelas típicas de um relacionamento já consolidado, não exatamente rápida, porém singela o suficiente. Alguns beijos e meia dúzia de palavras.
Talvez o suficiente para fazer o dono da caixa de fotografias sentir alguma culpa.
A diferença de idade contribuía para seu receio. Apesar de definitivamente não ter algo a esconder, Isaak, ao fim de seus 22 anos, era naturalmente explosivo. Dois pequenos detalhes que dificultavam a tarefa de não pensar em Milo tão constantemente.
Milo também era explosivo. Às vezes falava antes de sequer pensar e, pelos deuses! Como falava! Era tão cabeça-dura quanto Isaak, com o agravante da boca que dificilmente se fechava. Também se relacionaram com Kanon à mesma idade. Milo era 4 anos mais novo, Isaak, 10.
Estava cansado. Moveu as caixas para fora da cama que, brevemente, não usaria mais. Acendeu um cigarro, hábito que tentava largar, mas que inevitavelmente o remetia à época com Milo. Kanon fumava enquanto namorava com Milo. Raramente o fazia agora, embora Isaak fosse fumante.
Mas mantinha um maço por perto quando sucumbia à vontade.
E a vontade sempre vinha quando pensava em Milo.
À luz do abajur, percorria as lembranças registradas em papel fotográfico. Milo e suas camisetas de banda transformadas em regatas com um passar grosseiro de tesoura. Isaak também o fazia, embora optasse por roupas mais justas, coladas em seu corpo muito mais delgado do que o de Milo. Porém o sorriso largo, segunda característica mais notável de Milo, esse sim contrastava com a expressão sempre fechada de Isaak.
Não apaixonara-se por dois homens tão iguais e tão distintos propositalmente, embora às vezes sentisse-se como um canalha ao notar todas aquelas similaridades.
Respirou fundo.
Saltou da cama quando ouviu o telefone. Não esperava ligação alguma, muito menos àquele horário, o que já delatava a identidade de quem o telefonava.
— Alô.
— Oi. Como você está?
A voz grossa confirmou sua expectativa, fazendo seu coração bater mais rapidamente. Correu até a sala, as luzes apagadas, enchendo um copo sem prestar atenção em qual garrafa abrira.
— Kan! Eu...eu estou bem. E você?
Milo falhava em suas tentativas de segurar o sorriso enquanto apreciava a voz que lhe falava. Os olhos pareciam umedecer-se mais do que o necessário, mas a sensação foi aliviada com o roçar do punho que segurava o copo de uísque sem gelo.
— Vou me mudar, Milo.
Poderia ter ficado puto com aquelas palavras, ter socado a parede, ter dito o quão miserável sentia-se por ter sido abandonado durante aqueles anos todos e a primeira notícia que tinha de alguém tão importante era essa. Todavia, sentiu-se grato.
— Com o …. — “Não, isso não interessa a você, Milo! Controle-se, homem!” — Com o meu casaco que você nunca devolveu?
A risada seguiu do outro lado da linha, igualmente amargurada. Kanon segurava exatamente uma foto em que Milo vestia a jaqueta de couro.
— Ele se tornou meu no dia em que você o deixou comigo. Eu avisei.
Riram, sem conseguir emendar algum assunto. O riso cessou, dando lugar ao silêncio. Talvez por 30 ou 40 minutos.
A luz do quarto de Milo foi acesa, o homem que ocupava sua cama o procurava.
— Fique bem, Kanon. Preciso ir.
Camus nada disse ao ouvir aquele nome. Tirou o copo das mãos do namorado. Secou suas lágrimas. Afagou os cabelos fartos.
Kanon não pôde dormir. Ficou perdido entre fotografias e fumaça, estarrecido com o tanto que Milo havia mudado, elaborando várias teorias em sua mente.
Teria o magoado tanto assim?
Saiu para buscar mais cigarros.
Retornou à casa que logo abandonaria, tinha o histórico de abandonar coisas. E pessoas. Sem conseguir abandonar os sentimentos, por mais que os tentasse esconder em caixas de sapatos.
Guardou as fotografias junto com alguns livros velhos e lacrou a caixa. Abriu a gaveta onde guardava uma Polaroid recente. Há um ano atrás, no máximo, preparava uma jogada enquanto Isaak o observava do outro lado do mesa, segurando um taco de sinuca. Lembrou que ele reclamava da corrente de ar e, ao vestir a jaqueta de couro emprestada, reclamou por ela ser larga demais.
Guardou a Polaroid em uma caixa menor, com algumas outras poucas fotografias tiradas após aquela noite, juntamente com o maço de cigarros quase completo.
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