Capítulo Único

Ela não é adorável?

Ela não é maravilhosa?

Ela não é preciosa?

Menos de um minuto de idade

Eu nunca pensei que através do amor nós

Faríamos algo tão adorável quanto ela

Mas ela não é adoravelmente feita de amor?

Quando os gritos preencheram cada espaço da caverna, Sasuke quase teve vontade de fechar os olhos, bem apertado, mas não achava que Sakura merecia isso. Ela merecia que ele ficasse ali, tendo sua mão esmagada pelos dedos finos, até que a dor acabasse.

Quando os gritos preencheram cada espaço de seu ouvido, ecoando por sua mente como uma sinfonia, o cheiro salgado de suor e metálico de sangue em suas narinas, Sasuke quase se arrependeu de tê-la trazido, Sakura, durante aqueles meses em sua "penitência" pessoal. Quase se arrependeu de tê-la beijado durante tantas noites, embalado-a em seu peito, mesmo sabendo, reconhecendo, que não merecia um amor tão puro quanto o dela. 

Mesmo sabendo que não merecia aqueles olhos verdes, sagazes, piscando para ele de forma engraçada. O rosto vermelho, o sorriso amoroso que ela lhe dava todas as manhãs, embalada em sua capa. Cristo, ela era linda. Cada traço de seu rosto confiante, da face brilhante e, às vezes, tão focada, era perfeita. 

Tinha sido irresistível. Tinha sido muito mais do que ele poderia imaginar. Amá-la tinha sido perfeito, em cada um dos sentidos, e a forma como ela se entregava serpenteava em sua mente toda noite – e o fazia procurá-la de novo e de novo, nunca saciado do sabor de morangos e cerejas frescas dos lábios carnudos. Nunca inteiramente completo dos gemidos altos, das unhas fincadas em suas costas, em seu abdômen. 

E agora, porém, enquanto ela gritava e forçava seu corpo lindo da gravidez – e ele nunca teria imaginado o quão bonita Sakura ficaria grávida –, deitada numa maca velha demais, Sasuke se arrependia de cada momento. Não deveria ter feito isso com ela. Ou, ao menos, eles deveriam ter voltado para a vila antes. Tudo bem, o bebê estava adiantado – Sakura nem tinha feito 9 meses ainda! – mas isso era um imprevisto com o qual eles deveriam ter contado. Sasuke deveria ter contado. Só por causa de uma semana, e ela tinha que ter o bebê ali, numa situação tão constrangedora, com Karin, que ele confiava de olhos fechados, mas a Uchiha mal conhecia, entre suas pernas. 

Alguém desconhecida segurando o bebê que era dela. 

Queria beijá-la e se desculpar, se é que isso faria alguma diferença…

De repente, os gritos cessaram. A mão dela na sua deixou de apertar e foi o Uchiha quem apertou agora, surpreso com a mudança repentina – então o choro mais maravilhoso que ele já tinha ouvido em toda sua vida tomou conta de cada parte do coração dele. 

Karin, com o rosto também suado, os cabelos ruivos presos para trás num coque desajeitado, agora sorria. Sasuke procurou os olhos verdes e, quando os achou, Sakura sorria também, lágrimas grossas escorrendo de seus olhos brilhantes, um agradecimento mudo que ele só conseguiu retribuir com um suave beijo na testa dela, o coração pulsando no peito.

A antiga Haruno só soltou sua mão, de verdade, quando Karin se aproximou com o pequeno pacote em seus braços. 

— É uma menininha – ela murmurou para o casal, seu tom de voz tão suave quanto uma brisa. Em seu olhar, Sasuke também viu lágrimas por debaixo dos óculos. Ele não tinha ideia de como poderia agradecer a ruiva, mas sabia que nada chegaria aos pés do que ela tinha feito por eles, por Sakura. Estaria sempre em dívida.

Então, finalmente, o Uchiha olhou para o serzinho que Sakura embalava, com muita proteção, próximo ao peito. O pouco cabelo que tinha era escuro, tão preto quanto o dele, e seu rosto continuava inchadinho e enrugado. Tinha ouvido uma vez que recém nascidos pareciam com joelhos – mas esse certamente era o joelho mais lindo que ele já tinha visto.

— Ela parece com você, Sasuke-kun – Sakura sussurrou, como um segredo entre eles, seu tom de voz embalado na emoção e felicidade. Sasuke sabia que, a partir desse momento, a atenção dela nunca mais seria só dele. 

Mas ele sabia, também, que havia agora dois motivos para continuar vivendo e lutando, por mais que achasse que sua vida valia muito pouco. 

Lentamente, Sakura levantou o bebê e, entendendo, Sasuke a pegou com seu único braço, encostando-a ao próprio peito. Como um ser tão pequeno e frágil, que ele tinha conhecido há um minuto, podia significar tanto? Podia acelerar tanto seu coração, como estava acelerando agora? Talvez fosse loucura dele, provavelmente era, mas o Uchiha, já não mais o único, viu um sorriso nos lábios corados na pequena em seus braços. 

Eles tinham feito isso. Juntos. Ela tinha nascido do amor deles, da paixão que sentiam um pelo outro. 

Sasuke balançou a cabeça de um lado para o outro, tendo vontade de nunca mais largá-la.

— Não. Ela parece com você. A coisa mais linda do mundo.

Ela não é linda?

Com certeza a melhor dos anjos

Cara, eu estou tão feliz

Nós fomos celestialmente abençoados

Eu não acredito no que Deus fez

Através de nós, Ele deu vida à alguém

Mas ela não é adorávelmente feita de amor?

Naruto tinha passado por muitas coisas dolorosas e sofríveis através dos anos. Desde a infância maculada, os anos atraz do melhor amigo, a grande guerra… Muitas coisas. Ele não teria medo de passar por tudo de novo, sinceramente. É pegar na mão da Kurama e ir! Hm, o ditado não é bem esse, mas na mente de Naruto era assim que as coisas funcionavam.

Porém, depois de desmaiar durante o primeiro parto de sua esposa, a mulher mais linda do universo, ter que levar dois tapas da ex hokage Tsunade para se recompor, levar uma bronca de Shizune pois estava "gritando mais que a grávida", Naruto sabia que esse sofrimento e dor ele não queria passar mais. 

Rindo com o rosto vermelho, Hinata tinha sentado na maca, segurado o rosto dele com suas duas mãos pequenas, e beijado a ponta do seu nariz. Disse que estaria tudo bem, que logo ela já estaria de volta – e com o filho mais novo deles nos braços. 

Deus, como ele era abençoado com uma esposa dessas. Ela tinha estado sempre na sua frente, praticamente debaixo de seu nariz, e Naruto tinha perdido tanto, tanto tempo precioso até repará-la como ela merecia. Durante o namoro, ele tentou compensar tudo isso, sempre atencioso e o melhor dos namorados – até tinha recebido alguns elogios dos colegas, que disseram que ele finalmente estava "amadurecendo". Tudo graças à Hinata, seu rosto angelical e suas palavras gentis. Tudo graças à Hinata, seu beijos tímidos no meio dos lábios dele, seu jeito doce de chamá-lo e de acariciar seus cabelos quando estavam na cama. Seu perfume de jardim, flores diversas, e de algodão, deixando todas as roupas dele impregnadas com esse aroma maravilhoso. 

Como a amava – chegava a doer! 

Ele poderia continuar sendo um herói para a vila mesmo se ela não estivesse do seu lado, mas um herói e um homem são coisas diferentes. 

Quando aceitou se casar com ele, Hinata lhe entregou seu coração e sua confiança. Eles criaram responsabilidades um com o outro; ele passava os dias estudando para se tornar o novo Hokage, enquanto ela conciliava as demandas do Clã Hyuuga, que eram dela até que Hababi pudesse assumir o cargo, e cuidava da casa. Se quando Naruto chegava ela ainda estivesse fazendo algo, ele a fazia parar e assumia o trabalho. Tinha até aprendido a cozinhar, embora sua esposa fosse certamente a melhor nisso – mas, ei, agora ele já sabia fazer ramén sem ser instantâneo!

Quando Boruto nasceu, a vida deles mudou outra vez. Se era possível, ele amou Hinata ainda mais. Ter um filho, como ele mesmo tinha quase experimentado na sala de parto – depois de desmaiar, ele tentou continuar lá com uma máscara inaladora, para ver se aguentava o tranco, mas desistiu depois de outros 10 minutos – era uma situação extremamente dolorosa e inquietante, do começo ao fim.

O corpo de Hinata mudou – embora ele a achasse perfeita de todas as maneiras, e aquela barriga redonda maravilhosa ser um charme na sua líbido também –, o humor dela se tornou inconstante, mesmo sua disposição diminuiu. Tudo para entregá-lo o bebê mais lindo que ele já tinha visto, com seus cabelos loiros e olhos azuis. Um mini Naruto para chamar de seu – ele teria amado igualmente se fosse um menino parecido com ela, é claro, mas não podia negar que era maravilhoso ver, com seus próprios olhos, que aquele serzinho, que Hinata tinha cultivado dentro do próprio corpo, era a cara dele. 

Era seu filho!

O filho deles.

O filho que Hinata, a esposa mais carinhosa do país do Fogo, e a mais paciente com suas idiotices, também, tinha o entregado com tanto esforço. 

Quando contou para Sasuke, através de um carta, que Boruto tinha nascido – um menino! –, o Uchiha, que já tinha o avisado sobre o nascimento de Sarada, duas semanas mais velha que seu filho, simplesmente enviou um pergaminho dando parabéns e no final anotou, numa letra despretensiosa:

"mas garotas são melhores."

Até agora, Naruto não tinha acreditado.

Mas quando Shizune o chamou à sala, aliviada que ele não tivesse resolvido entrar dessa vez, se não ela mesma teria o expulsado, o Uzumaki teve a sensação de que alguma coisa estava diferente. 

Ao ver Hinata, tranquila, o cabelo preso no alto por um coque, com um pacotinho nos braços, Naruto sentiu o peito explodindo. Suas mãos até soaram. Como a amava. Cristo, como a amava muito. Não podia imaginar sua vida sem ela todos os dias ao seu lado. Não podia imaginar a vida sem Boruto e, agora, sem…

— Himawari – Hinata disse, de uma vez, sem pestanejar, o nome que eles tinham escolhido se fosse uma menina. Naruto prendeu a respiração quando se abaixou para vê-la, após beijar os lábios úmidos da esposa.

Era a coisinha mais linda do mundo. O cabelo era de Hinata, mas as marquinhas em suas bochechas revelavam o pai. Naruto sentiu os olhos marejados – a esposa nem estava chorando, mas ele! Já, já virava uma poça. 

No fundo de sua mente, ele ouviu a Kurama dizer, num tom debochado: "então o imprestável do Uchiha estava certo."

Sim, o Uzumaki pensou. Como sempre, Sasuke estava certo.

Garotas são as melhores.