Correio Elegante escrita por Sirena


Capítulo 13
Entrega


Notas iniciais do capítulo

Obrigada ao heywtl e Isah Doll pelos comentários ♥
E aqui estamos com o penúltimo capítulo :)



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Esperei o melhor momento.

Todos subiram para a sala de jogos, mas eu chamei o Paulo, dizendo que precisava falar algo importante com ele, então fomos escondidos para a sala.

Eu tive o final de semana para processar minha descoberta, pensar a respeito e planejar como usaria aquela informação agora que a tinha.

Bom, vamos lá:

Paulo foi meu primeiro amigo nessa escola. Dependendo do ponto de vista e do gosto pessoal, ele poderia ser considerado bonito (razoavelmente, pelo menos) e era bastante esforçado, também era engraçado, o que era importante. Ele gostava de me ouvir e de imitar meu sotaque quando eu falava algo em espanhol. Se atrapalhava um pouco pra conversar então normalmente ficava calado pra não dizer nada de errado, mas, dava para bater altos papos interessantes com ele quando relaxava. Ele também era fofo, adorável e escrevia bem.

Pelas cartas que ele vinha me escrevendo há tanto tempo, eu podia dizer que ele me escrevia mais do que bem. Ele escrevia maravilhosa, divina e perfeitamente.

— O que foi? – ele perguntou, parecendo hesitante enquanto se sentava na mesa do professor.

— Tenho um presente pra você. – expliquei abrindo minha mochila. — Antes de viajar para Madri, queria te dar isso.

— Dar o que? – questionou, curioso.

Respirei fundo, tirando um envelope feito com folha de caderno da minha mochila. O adesivo era uma lua sorridente e a folha era azul, eu tinha escrito com caneta vermelha. Me virei para o Paulo, com o coração acelerado e peito apertado enquanto me aproximava dele e me sentava ao seu lado.

— O que é isso? – perguntou.

— É pra você. – estendi a carta, permitindo que ele visse como eu havia endereçado.

Para: 15-12-21-1-16.

Paulo engoliu em seco.

— Correio elegante pra você, Quinze. – insisti para que ele pegasse a carta.

— Como você soube?

— Lê. – falei o mais mandão que pude.

Paulo me olhou hesitante, cerrando os lábios antes de pegar a carta e abrir o envelope. Pude notar que suas mãos tremiam.

No meio da folha eu tinha escrito simplesmente:

“Gosto que seja você.”

Ele fechou os olhos, vermelho e virou o rosto, passando a balançar a perna.

Esperei.

— Como você soube? – repetiu, a voz soando baixa, envergonhada.

Dei de ombros. — Você explicou pro Pedro como funcionava esse enigma de números e deixou pistas pra mim nas cartas, ele achou as pistas e desvendou.

— Não foram pistas intencionais. – garantiu, voltando a me olhar.

— Você não foi me encontrar! – bufei, cruzando os braços. — E eu fiquei te esperando! Eu esperei horas por você! Meu bilhete até saiu da integração! Você sabe o que é ter que pagar duas vezes sendo que eu literalmente, só fui até a praça? A praça que fica a tipo, sei lá, meia hora da minha casa?

Ele deu risada, ainda balançando a cabeça e tremendo. — Eu fui sim. – murmurou. — Mas... Andei pra trás. Você tava sentado lendo com o Pedro quando eu cheguei e achei... Bem, você sempre gostou dele então eu...

— Ei. – bufei, beliscando sua mão com o máximo de força que pude. — O negócio com ele é diferente! É tipo ter um crush no Ferran Gonzalez! Você não fica com ele, você só sonha com ele! Eu gosto é do garoto que me escreveu cartas por todo esse tempo!

Ele engoliu em seco, me olhando brevemente antes de abaixar o olhar e fitar os próprios sapatos. — Mas, você só começou a gostar agora. Se eu tivesse dito antes...

— É. – suspirei em concordância. — Não vou mentir e dizer que já tinha pensado em você dessa maneira antes, mas... Porra, Paulo! Você também nunca me deu brecha pra pensar em você dessa maneira antes!

— E eu devia ter feito o que? Flertado com você no primeiro dia de aula?

— Exatamente! – bufei, quase gritando. — É o que pessoas normais fazem, ao invés de se jogarem de cabeça na friendzone, primeiro elas tentam! – revirei os olhos enquanto falava.

— Eu gosto de ser seu amigo. – ele murmurou. — Fiquei com medo de perder isso.

Suspirei.

Isso eu conseguia compreender. Era exatamente a mesma razão para eu nunca ter flertado de verdade com o Pedro, a amizade com ele era boa demais como era pra eu arriscar mudar. Era também o motivo para eu ter passado tanto tempo sem responder as cartas, o medo de descobrir o autor, não sentir nada e abrir mão delas para sempre.

Era egoísta quando eu olhava agora, verdade, mas, eu nunca fui à melhor pessoa do mundo, então era justo.

 — Imagino. Mas, por que achou que eu descobrir ia mudar tudo? Não que eu nunca tenha pensado que poderia mudar, mas, por que você pensou?

—... Se você soubesse que eu gosto de você desde sempre... Que sou eu quem te escrevia e... – ele engoliu em seco, desviando o olhar e voltando a balançar a perna. — E não retribuísse ia tudo ficar estranho. Ia mudar demais as coisas. Você podia achar que eu só tava interessado em ser seu amigo por gostar de você,. Mas eu gosto de ser seu amigo e gosto de você!

— Também gosto. – murmurei. — Mas, Dios mio! Você é um idiota! – dei risada colocando uma mão em seu joelho. — Teria sido tão mais simples falar de uma vez!

Paulo não respondeu, apenas encolheu os ombros, vermelho, sem olhar pra mim. Suspirei alto puxando seu rosto, não conseguia suportar falar com alguém que não olhava para mim. Parecia que eu estava falando sozinho.

Estávamos sozinhos na sala e aquela era uma conversa necessária e queria que ele olhasse pra mim enquanto falava e que olhasse pra mim enquanto eu falava. Precisava saber que ele estava prestando atenção, ouvindo, não preso em seus pensamentos de insegurança nervosa que o fizeram ficar tantos anos escondendo aquilo de mim.

— Eu to aqui. – dei um sorriso. — Para de se fazer de coitado inseguro. Você não precisa ficar inseguro ou com medo do que vai vir. Não to bravo que seja você e nem nada. É fácil interagir com você, cara a cara ou escrevendo, você é divertido e fácil de se gostar. E eu gosto que seja você, Paulo.

Ele uniu as sobrancelhas e notei suas pupilas se retraindo, enquanto a confusão tomava conta de seu rosto, como se só agora que eu realmente tinha dito, ele tivesse entendido a mensagem e tudo que envolvia. — Você... Gosta?

Revirei os olhos antes de beijá-lo.

Os lábios do Paulo eram firmes.

Beijá-lo não tinha um gosto suave, tinha gosto forte, gosto de mel e de chocolate apimentado. Era como se eu nunca fosse ter o bastante. Era como saltar no meio da noite numa piscina gelada, como tentar comer apenas um bis da caixa, como uma surpresa agradável no final de um dia triste. Era alegre, doce, viciante, forte e entorpecente.

Exatamente como as palavras que ele me escrevia.

Paulo se afastou um pouco, vermelho e com testa franzida, parecendo legitimamente confuso. — E de novo, você está tentando me matar! Eu sou cardíaco cara, 'cê não pode me causar emoções fortes assim de repente, não!

Dei risada. — Cala a boca e me beija de volta, sua besta!

— Calma, calma, calma... Deixa meu coração voltar pro lugar! – ele hesitou. — Então... Você gosta de mim?

— Não é isso que eu to dizendo desde o começo dessa conversa, besta? – bufei, beliscando-o novamente. — Qual é? Você é mais inteligente do que isso!

— Eu quero ouvir. – Paulo murmurando, fechando os olhos e encostando a testa na minha. — Fala, por favor... - sua voz era tão manhosa que era simplesmente impossível debochar da infantilidade de seu pedido ou negar.

Fechei meus olhos, sentindo suas mãos começarem a mexer no meu cabelo e se alojarem na minha nuca, fazendo carinho e me causando arrepios.

— Eu gosto de você. – murmurei. — Agora deixa de ser besta e me beija.

Ele riu nasalado, mas, fez o que falei, tornando a me beijar, agora com ainda mais firmeza e sabor.

— Mas, é serio... – bufei me afastando um instante. — Você precisa dar um jeito nesse cabelo.

Ele deu um suspiro exasperado. — Larga do meu pé, Marcos!


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Notas finais do capítulo

Eu gosto das reações do Paulo, ele é medroso e exagerado, me identifico.
Próximo capítulo é o último e eu o adoro verdadeiramente. Até semana que vem ♥



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