Correio Elegante escrita por Sirena


Capítulo 11
Encontro


Notas iniciais do capítulo

Obrigada heywtl e Isah Dol pelos comentários ♥



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As férias se aproximavam perigosamente.

O que queria dizer, ver minha mãe e isso era bom.

Mas, também queria dizer um mês sem mandar ou receber nenhuma carta para o Número 15, o que era ruim.

Quase o mês inteiro de junho conversando com ele me deixou mal acostumado, era como um vicio, algo que eu não podia me imaginar sem. Um mês inteiro sem falar com ele de alguma maneira, de qualquer maneira que fosse possível, era verdadeiramente imaginável. Respirei fundo, minhas mãos tremiam enquanto tentava escolher as melhores palavras para aquilo.

Precisava dar um passo além.

No meio da folha, simples, breve e direto, escrevi:

Quero te ver. Vamos nos encontrar?

***

Foram dois dias para a resposta surgir no armário.

Uma única palavra escrita no meio da folha, igualmente simples, breve e direto.

Não.

***

Por que não?

***

Estou contente por estarmos nos falando, Marcos. É meu sonho mais profundo realizado, mas, eu não estou encantado o bastante para me iludir. Sei que se soubesse quem sou, seria diferente. Sei que não gosta de mim desse jeito. Acredite, se nos víssemos, tudo mudaria. Não apenas na troca de cartas mas, no nosso dia-a-dia. E não quero isso.

***

Ei! Não seja tão duro! Me deixa te contar um segredo, ok? Todos esses anos eu não te respondi, porque tinha medo de me envolver e no momento da verdade não sentir nada. Mas, agora que respondi, eu não me incomodo de te ver porque suas palavras me encantaram muito mais do que achava ser possível. Independente de quem e como você for, sei que o que eu gosto em você é seu jeito galanteador de Don Juan. Então sei que vou irremediavelmente me encantar por você independente do que.

***

Não me iluda. Se isso fosse acontecer, já teria acontecido, Marcos. Acredite, se você imaginasse... Ah, seria muito estranho. Pode confiar. Por favor, por favor, não me iluda. Não seja tão cruel. Eu quero acreditar no que você diz, mas, quando descobrir que fui eu esse tempo todo, tenho certeza que vai estranhar mais do que é capaz de admitir.

***

Dia 22, às 15h. Pracinha do Myrna.

Se você não for, ok, mas vou te esperar.

E se não acha que sou realmente capaz de gostar de você independente do quê, então acho que seria melhor pararmos de trocar cartas.

***

Ok.

 ***

— Eu quero estrangulá-lo! – bufei, amassando o bilhete e jogando-o no lixo sem pensar duas vezes. O Paulo e o Pedro me olhavam de testa franzida. — Ok? Ok? Ok o que inferno? O que diabos é ok? Ah, que sem noção!

— Marcos, você não acha que pode tá forçando um pouco, também? – o Pedro suspirou, cruzando os braços, parecendo tentar não rir. — Se ele não quiser ir, você não pode forçar, hermoso.

— Eu sei que não posso. – bufei. — Mas... É estranho gostar de alguém que você não sabe quem é. E eu vou ficar um mês sem essas palavras... Preciso saber quem é, Pedro! O tempo tá acabando.

— Você gosta mesmo dele? – Paulo questionou, cerrando os lábios. — Ou só gosta que ele goste de você? Talvez por isso esteja tão inseguro de ir. Se você só gostar que ele goste, seria... Muito cruel!

— Eu gosto, porra! – bati o pé, irritado com o interrogatório. Os demais alunos estavam na quadra, jogando futebol, mas, eu tinha arrastado o Paulo e o Pedro para a sala de aula, longe do barulho e da confusão proporcionada pela emoção que o jogo causava, a fim de poder conversar com eles, porque eu tava surtando e precisava de conselho e os dois eram até que bons nisso. — Eu não gosto que ele goste de mim... Quer dizer, gosto, claro, óbvio! Mas, gosto muito mais de conhecer ele por palavras. O bagulho é mais intenso, saca? É tipo um lance mais de almas.

— Um lance que soa mais como algo que alguém diria depois de usar muita maconha. – o Pedro mexeu as sobrancelhas.

— 'Cê entendeu! – bati o pé de novo e me sentei em cima da mesa da professora. — Qual é? Eu não namoro ninguém desde o traste do Renan! Na verdade, eu não beijo ninguém desde aquele traste! Já virei BV de novo! Eu nunca tive interesse em me encontrar com alguém desde que terminei meu namoro com aquela porcaria, você realmente acha que eu ia querer isso se não tivesse gostando pra valer? Eu aguentei a maior cota de carência sem me envolver com ninguém, porra! Se eu digo que isso é diferente, é porque é!

Paulo suspirou, concordando com a cabeça.

— Então leva o "ok" como um "sim, vamos nos encontrar" e vai na fé! – ele deu de ombros e saiu da sala. — Vou terminar de ver o jogo. – avisou desnecessariamente, sobre o ombro.

— Um "ok"! – bufei de novo, encarando o teto irritadamente. O Pedro riu da minha cara, bagunçando meu cabelo enquanto sentava ao meu lado, mais relaxado do que nunca ou relaxado como sempre, era difícil ter certeza com ele.

— Calma, vai na fé. – ele riu me abraçando de lado. — A gente vê onde isso vai levar, hermoso.

Bufei, relaxando nos seus braços e encostando a cabeça no seu ombro. — É, a gente vê.

***

Dia 22 chegou.

Era uma sexta-feira.

Arrumei meu cabelo, coloquei uma roupa bonita e uma jaqueta jeans, além de sapatos novos. Escovei os dentes duas vezes antes de sair e coloquei algumas pastilhas pro hálito no bolso porque... Bom, nunca se sabe quando podem ser úteis, né?

Subi correndo para o ponto de ônibus, mas isso não me impediu de perdê-lo. Suspirei, me encostando numa parede e roendo as unhas, ansioso, esperando o próximo ônibus. E esperando, esperando... Cinco, dez, quinze minutos... Olhei o relógio ansioso.

14:50.

— Calma, dá tempo, dá tempo... – murmurei para mim mesmo. Embora, tivesse quase certeza que eram quinze minutos até a pracinha. Se bem que só cinco minutos de atraso tavam dentro do limite de tolerância, certo?

Até dez minutos de atraso ainda eram toleráveis, certo?

Peguei o ônibus e fiquei olhando pela janela até dar o momento de descer, cada segundo mais ansioso. Minhas pernas tremiam tanto que eu quase não conseguia me sustentar de pé, especialmente com os balanços do ônibus.

Tentei pela milésima vez imaginar quem seria que eu encontraria, como ele seria... Ah, meu peito apertava e minha boca estava seca com pura e completa ansiedade crescente. Era como se houvesse um balão se enchendo no meu peito e a qualquer instante eu fosse sair voando até parar lá na estratosfera!

Dei sinal e desci do ônibus praticamente pulando.

Optei por me sentar em uma das mesas de pedra, na sombra. Em frente a onde garotos praticavam manobras com o skate e a uma distância segurança dos bêbados e drogados.

Olhei ansioso ao redor, nervoso enquanto me dirigia a uma das mesas, quando meus olhos foram subitamente atraídos para perto do playground.

Para um rosto familiar em meio a tantos outros.

Sentado, com um livro da saga Percy Jackson no colo, estava o Pedro, os olhos brilhando enquanto lia. Meu coração acelerou.

Não!

Será que... Não! Mas... Hum... Ah, seria bom demais para ser verdade!

"A gente vê onde isso vai levar, hermoso."

Respirei fundo outra vez, me sentia prestes a ter uma verdadeira taquicardia, um ataque cardíaco fulminante, enquanto tremendo, ia para o lado dele.

— Oi... – chamei hesitante.

— Hã? – ele fechou o livro, pulando de susto. — Oi! Tudo bom?

Uni as sobrancelhas, confuso. — É você?


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Notas finais do capítulo

Até semana que vem ♥



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