VMHV - Vírus de Mutação Humana Vampiresca escrita por Bellaluna Creator


Capítulo 9
Medalhões na teia


Notas iniciais do capítulo

É, eu sei. A pessoa fala uma coisa e depois faz outra... Três semanas no mais tardar... Tenho que rir da minha própria ingenuidade.

Mas, enfim, volteeeeeei com mais um cap para vocês queridos leitores. Desculpa a demora. Podem puxar minha orelha.

Para compensar, vou postar mais dois caps amanhã, e já deixo avisado que meu queridinho Sebastian vai aparecer no cap que se segue a este.

Boa leitura! Vejo vocês nas notas finais. S2



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Alex passou um bom tempo deitado na cama com os olhos abertos tentando lembrar o que tinha sonhado, no entanto, por mais que forçasse a mente, não lembrava. Era sempre assim quando acordava subitamente. Os sonhos escapavam dele como água escorrendo por entre os dedos.

Decidiu deixar para lá já que nunca funcionava tentar recordar mesmo e se levantou indo pegar uma garrafa na geladeira lá embaixo, queria se alimentar enquanto Selênia se arrumava. A que tinha bebido na noite anterior — enquanto ela cochilava — estava agora vazia ao lado do criado mudo, teria que lavar logo, antes que o resto de sangue começasse a apodrecer.

As pessoas comuns geralmente não sabem, mas as cores nas tampas das garrafas identificam de qual animal vem aquele sangue. Alex não tinha uma preferência clara por um animal específico, mas gostava mais do sangue de animais herbívoros. Não sabia exatamente porquê. Ele pegou a garrafa de tampa azul e voltou para o quarto. Sentando na cama ele abriu-a e bebeu calmamente, apreciando o gosto. Não saberia explicar o sabor para um humano comum, estes diziam que sangue tem sabor de ferro, mas seu paladar não era mais de um humano normal, portanto o "sabor de ferro" que eles falavam, é diferente no paladar dele. Tudo o que podia dizer com certeza, a alguém não infectado, é que a textura do sangue passando por sua língua é macia e suave como a de veludo entre os dedos. Descia sua garganta deliciosamente encorpado.

Apesar de estar se alimentando, não estava com muita fome. Tinha bebido a primeira garrafa a pouco mais de 8 horas. O certo seria ele fazer isso de modo a não passar um período muito longo desde que esvaziou uma quando abrisse outra (mais de 12 horas), porém tendo que trabalhar de guarda-costas da Selênia era mais conveniente beber de manhã cedo e tarde da noite. Longe de gente comum já que tendiam a ficar incomodados se viam alguém tomando sangue. Nos locais de trabalho do DCI, insolúveis têm seus horários de alimentação diferentes dos humanos normais para evitar esse desconforto.

Metade do líquido já estava em seu estômago quando Selênia bateu na porta do quarto.

— Ei, parceiro?! — ela sabia que ele estava acordado porque ouviu os passos de alguém no corredor e presumiu que fossem os dele já que era diferente do andar dos pais dela que já conhecia. — TCHARAM! Um presente! — abriu a porta de repente, assustando Alex e quase o fazendo cuspir o sangue que estava na boca. Ele engoliu rapidamente, quase engasgando com a velocidade, e focou o que ela estava lhe mostrando em meio a pigarros, socando de leve o peito. Era um medalhão preso a uma corrente fina e longa de aço inoxidável. 

Tampando bem a garrafa ele a colocou de lado, ao pé da cama e se levantou tendo o cuidado de verificar discretamente se não havia alguma gota vermelha ao redor da boca que talvez tivesse escapado. Aproximou-se de Selênia para ver melhor o medalhão. Reparou vagamente que ela ainda vestia a roupa com a qual ele a viu de noite, um short e blusa de dormir de flanela. Aparentemente ela só tinha lavado o rosto desde que a ouviu levantar uns vinte minutos atrás. Tirando o cordão da mão dela, levando-o mais próximo do rosto, pôde ver gravado no objeto, em alto relevo, duas mãos se apertando de um lado, e do outro duas espadas cruzadas. Levantou uma sobrancelha indagando. Selênia sorriu antes de responder a pergunta muda. Estava agitada desde que acordou. Tinha lembrado do cordão apenas pouco antes de pegar no sono, então decidiu dar a ele quando acordasse.

— Meu avô deixou pra mim em seu testamento. Disse que é costume em nossa família, quando um imune faz dupla com um insolúvel dar esse medalhão de presente. É o símbolo da cooperação entre nós — respondeu ela visivelmente animada. — Vem, deixa eu colocar em você. Faz parte do costume — continuou, tirando-lhe o objeto das mãos, eufórica, e se aproximando mais para colocá-lo em seu pescoço. Sem dizer nada Alex se inclinou para tornar mais fácil a tarefa. Aquilo representava um pacto antigo o que o deixou estranhamente nervoso.

Enquanto ela acertava o fecho do cordão, seus rostos ficaram muito próximos. Podia sentir a respiração dela roçando levemente seu maxilar e pescoço.

— Pronto! —  disse ela, se afastando pouco depois. Então pegou a mão dele, tirou outro medalhão do bolso do short e pôs sobre a palma aberta. — Este é pra você colocar em mim — falou, e se virou de costas afastando o cabelo do pescoço. Estava eletrizada. Só faltava dar pulinhos. Alex achou fofo e engraçado toda essa animação. Daquele jeito ela parecia um cachorrinho quando vai sair para passear com o dono. Até conseguiu imaginar as orelhas em pé e o rabo balançando. Teve que se segurar para não rir enquanto tentava encaixar o fecho. Sentiu como se estivesse colocando uma coleira para levá-la para passear. Afastou essa imagem da mente balançando uma mão imaginária sobre a cabeça como se espantasse uma mosca.

Sabia que estava firmando um compromisso com ela, e isso o deixou inquieto fazendo-o lembrar de outro tipo de compromisso entre duas pessoas. Porém, antes que a imagem pudesse terminar de tomar forma balançou a cabeça furiosamente expulsando aqueles pensamentos esquisitos e tratou de prender corretamente o fecho. Assumindo um semblante neutro afastou-se. Selênia sorriu ao se virar de volta e estendeu a mão, Alex entendendo a deixa, apertou a mão dela, como as do medalhão.

— Repita depois de mim — falou Selênia ficando séria. — Com o céu e a terra como testemunhas, nos ligamos neste dia... Minhas mãos serão suas, suas mãos serão minhas... Minha armas serão suas, suas armas serão minhas... Minha vida será sua e sua vida será minha... A partir de hoje protegemos um ao outro mutuamente... Somos agora, irmãos de armas... — a cada frase ela fazia uma pausa esperando ele repetir antes de dizer a próxima, por fim sorriu mais uma vez e soltou a mão dele. — Sabe, geralmente essa pequena cerimônia é feita no primeiro contato sanguíneo entre a dupla, mas como tivemos esse contato ontem, achei que o mais certo seria te dar o medalhão o quanto antes — ela sorriu uma última vez e saiu do quarto toda boba indo se arrumar antes de descer para tomar café da manhã. 

Alex fechou a porta suspirando e balançando a cabeça. Trancou-a, pegou novamente a garrafa e se sentou do outro lado da cama virado para a sacada, por precaução. Se fosse acabar cuspindo o que estava bebendo era melhor que fizesse isso do lado menos visível. Mais uma vez Selênia estava fazendo as coisas sem pensar muito. E se ao invés de estar comendo ele estivesse trocando de roupa? Ela tinha que bater e esperar ele dizer se podia ou não entrar, que coisa! Garota descuidada… Teria certo trabalho para imbuir um pouco de bom senso em relação a certas coisas naquela cabecinha de vento. É uma ótima guerreira. Tem um instinto natural para batalha que chega a ser impressionante. Mas não é uma estrategista. Ponderar não é o forte dela. Ainda bem que ele tinha se especializado em estratégias.

Espera… Refletindo agora, ele tem exatamente o que estava faltando a ela... E ela o que faltava a ele... No caso, a confiança que perdeu.

Isso poderia fazer parte do plano dos superiores dele? Possivelmente... Ainda mais tendo o dedo de Roger alí. Como coronel ele é responsável por todos os imunes da sua área, por isso deve ter pesquisado Selênia a fundo para escolher o parceiro/guarda-costas mais adequa… PÁ! Alex deu um tapa na própria testa. Acabava de perceber toda a tramoia de seu pai adotivo e notava que Roger sabia bem mais sobre Selênia do que demonstrou. Era tão óbvio… Como não percebeu antes? Roger não deixaria seu filho trabalhar com qualquer um, depois do que aconteceu naquela missão falha. Então deve ter pesquisado Selênia muito detalhadamente. E tramou o encontro deles, com aquela ficha pífia que cedeu a Alex. Afinal, conhecia muito bem seu filho. Sabia que com o empurrãozinho certo ele iria atrás da Selênia querendo conhecê-la melhor e ter suas próprias conclusões a respeito dela, de modo a não cometer o mesmo erro que com o ex-parceiro.

Foi uma aposta arriscada daquele velho sabichão. E o plano saiu melhor do que o esperado. Ele sabia que se Alex não conhecesse Selênia por conta própria e visse com seus próprios olhos as características honestas da garota, não conseguiria trabalhar direito com ela. E se Selênia não fosse quem é, e tivesse agido diferente naquele dia na lanchonete, o plano de Roger teria ido pelo ralo.

Alex estava chocado! Estava tão claro agora... Roger não apenas escolheu um protetor qualificado para a Selênia. Ah não… Fez muito mais. Formou um time de combate direto extremamente eficaz. O que faltava em um, o outro complementava, e vice-versa. Claro que ainda havia muito o que trabalhar, principalmente em relação a parte imune do time. Porém Alex já via... Com o tempo poderiam se tornar uma das melhores duplas de controle direto, do DCII. Nem sabia porque estava surpreso com o quão longe seu pai conseguia pensar. Roger é um gênio. Literalmente.

Permaneceu sentado por uns dez minutos enquanto terminava de beber o líquido da garrafa, admirado com a inteligência do pai. Então, aos poucos começou a ficar chateado. O velho fez uma armadilha para ele, e depois que mordeu a isca, ainda deu um sermão desnecessário de DUAS HORAS E MEIA, deixando Alex com uma forte dor de cabeça que demorou a passar mesmo depois de ter tomado analgésicos. Estreitando os olhos Alex sussurrou:

Vai ter volta, velho... — e virou o resto da garrafa de uma vez goela a baixo, pensando no quando Roger devia ter se divertido enquanto o enrolava na teia dele. "Aquela velha aranha matreira..." pensava girando o medalhão distraidamente de um lado a outro nos dedos. Não é atoa que o codinome do Roger é Weaver, que traduzido do inglês é "tecelão". Alex nem estava chateado por ter caído na armadilha. Conhecendo bem Roger, ele sabia que quando este mira em alguém, essa pessoa (no caso ele) está ferrada. "Que bom que eu sou filho dele, e que ele só usa essa genialidade toda em prol do bem... Principalmente o bem estar do filho, né?!" pensou dando uma risadinha  consigo mesmo, embora ainda chateado. Roger bem que podia ter pegado mais leve com o sermão, já que não passava de uma parte da trama. Contudo, enquanto pensava nisso, Alex sabia que se o velho tivesse sido brando, ele teria suspeitado.

Resolvendo deixar esse assunto para outra hora Alex tratou de levantar e foi lavar as garrafas, antes de se arrumar.

Quando Selênia voltou ao próprio quarto, se jogou de costas na cama e ficou uns minutos à toa virando o medalhão de um lado a outro na frente do rosto. Tracejou lentamente com um dedo os contornos das imagens no medalhão. Mais do que uma ligação com seu parceiro, aquele medalhão a conectava com seus ancestrais. Quantos de seus parentes teriam usado aquele modelo de colar? Tantas duplas de batalha foram formadas por décadas ao longo de gerações. Aqueles símbolos acompanharam muitas lutas. Que herança… Era algo tão legal e ao mesmo tempo assustador. Não pela primeira vez pensou no peso da responsabilidade a carregar quando for uma agente oficialmente. Fazer parte dessa tradição de família, e lutar pela justiça e o bem estar de todos, é tanto uma honra quanto um fardo. Ela teria força suficiente para aguentar a jornada? Perguntou-se brevemente, mas logo afastou o pensamento com uma bufada. "De que adianta se preocupar com o futuro? Ninguém sabe o que o amanhã nos aguarda" Seu avô costumava dizer. "Se prepare para o futuro, mas viva o presente, pois o passado não volta. O hoje é uma dádiva que só pode ser aproveitada um dia de cada vez." Ela balbuciou as palavras dele e sorriu melancólica.

— Sinto sua falta, vovô — sussurrou.

Vendo a hora brevemente no celular decidiu se arrumar logo para não acabar atrasada. Largou o medalhão e voltou a levantar da cama. Rapidamente se arrumou e desceu para comer alguma coisa antes de saírem para a escola.

Alex desceu novamente quando ela tinha acabado de colocar o cereal numa tigela. Sentou no sofá da sala e ficou esperando pacientemente. Ela comeu, escovou os dentes e eles saíram. Pegaram um ônibus até o colégio. Não podiam ir de carro, já que o disfarce de Alex dizia que ele é de menor, portanto não devia ter CNH.

Logo que chegaram, as amigas da Selênia, eufóricas, puxaram-na de lado e perguntaram se ela tinha conseguido as informações que pediram por telefone. "Não, Alex não tem namorada. Não, não faço ideia se ele é homossexual. Não sei se ele tá aberto para o namoro, mas a sorte ajuda quem cedo madruga. Blá blá blá blá blá." Embora falassem todas essas coisas em sussurros, Alex às conseguia ouvir perfeitamente por conta da audição vampírica. Resistiu a sorrir ou ficar vermelho, pelas perguntas. Foi difícil, ainda mais quando ouviu-as dizer: "Então podemos entrar no páreo." seguida de uma pequena discussão sobre quem ganharia que acabou mediada pela juíza Selênia, com a decisão de uma luta justa, sem artimanhas, e que vencesse a melhor. Por último, escutou Mila falar "Gatinho, você será meu."

Na real, Selênia não sabia se mais da metade do que disse sobre Alex a Mila e Hana, era verdade. Ela só falou o que achou que fossem gostar de ouvir e que não levantasse suspeitas. Porém tinha certeza de que ele devia ter ouvido a conversa e caso elas perguntassem, confirmaria pelo bem da missão. Mesmo assim sussurrou um aviso e pediu um sinal de confirmação. Ele tocou o lóbulo da orelha em resposta. Ela respirou aliviada e se concentrou na aula que estava começando.

O professor entrou na sala, que silenciou o burburinho aos poucos, então o dia letivo começou. Outras aulas seguiram-se. O intervalo veio e se foi. Mais aulas, e o último sinal tocou. O dia estava tão normal que chegava a ser monótono. Todavia, não permaneceria assim por muito tempo... Logo que saíram do prédio escolar Selênia viu uma figura muito conhecida, recostada displicentemente num carro cinza (um Ford Focus Hatch) que ela também conhecia muito bem. A figura sorriu e acenou quando a viu, ela sorriu de volta e correu até ele, envolvendo-o em um abraço.


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Notas finais do capítulo

Então, gente podem reclamar pelo atraso. Me chamar no in box, até crio um server no Discord pra ouvir e responder seus reclames.
Gosto de interação. Podem perguntar sobre o andamento dos caps ou qualquer coisa relacionacioda a história.

E ai, o que acharam desse cap?
Ansiosos para os de amanhã? Espero que sim porque Sebastian vem ai...



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