Entre Extremos escrita por Bella P


Capítulo 9
Capítulo 8




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Foi em uma segunda chuvosa que Patrick convocou Dallas a estar no campo de Quadribol para assistir o seu teste para o time da casa. A garota sentou na área reservada aos jogadores, a única no estádio que tinha cobertura, e assistiu com desinteresse balaços serem rebatidos sob uma cortina fina d’água, enquanto artilheiros tentavam manter-se sobre o cabo escorregadio das vassouras e contra o vento forte que soprava vindo do sudoeste. Foram duas horas de teste e no fim um Patrick sorridente aproximou-se dela, coberto de água, lama e folhas soltas, e declarou que tinha entrado no time de Quadribol como um dos artilheiros.

— Meus parabéns. — Dallas até abraçaria o amigo em um raro gesto de afeto se este não estivesse parecendo um cachorro que correu pelo mato, rolou em uma poça de lama e então jogou-se dentro de um rio. 

O tempo chuvoso e frio perdurou durante toda a semana, dando um ar mais macabro ao Halloween. A decoração de praxe preenchia o Salão Principal e naquela manhã Dallas havia recebido uma curiosa coruja que trouxera um presente ainda mais curioso. Um par de pregadeiras prata e cravejadas com pequenos diamantes e topázio, e ela tinha quase certeza de que as pedras preciosas eram originais, o que fazia o presente ser valioso, e junto ao presente havia somente um bilhete com uma simples frase: “feliz aniversário, m.”  em uma letra que ela não reconhecia. 

— De quem é? — Patrick a indagou quando viu as pregadeiras descansando sobre a almofada, dentro da caixa de veludo.

— Eu não tenho certeza. — Dallas só tinha uma leve suspeita, que era a de que o remetente de seus presentes era a sua mãe. Sua mãe sabia que ela estava em Hogwarts, mas preferia enviar presentes anônimos ao invés de mostrar as caras e explicar porque a abandonou há onze anos. 

O dia seguiu normalmente até a noite e aparentemente estava tornando-se tradição fatos macabros acontecerem em Hogwarts justamente no Dia das Bruxas. Um ataque e uma mensagem em sangue na parede e a Madame Norris petrificada foram encontrados no corredor do terceiro andar. O incidente virou a fonte dos comentários nas rodas de alunos, que foram alimentados por outros incidente na aula de História da Magia onde Granger, em um feito inédito em toda a história da escola, fez uma pergunta ao professor Binns. Uma justamente que se referia a tal Câmara Secreta pichada na mensagem da parede. Claro que o fato foi temporariamente esquecido graças ao primeiro jogo da temporada de Quadribol, um do qual Draco não calou a boca porque agora ele era apanhador da Sonserina, posição que ele adquiriu com um pouco de talento e muito dinheiro. 

No dia do jogo, Dallas preferiu sentar entre os torcedores da Corvinal, para completo espanto destes. Era um ato de desafio contra Draco que encheu o saco de todos sobre como ele iria derrotar Potter custe o que custasse. Dallas não acreditava que Draco fosse realmente capaz de derrotar Potter. Ela viu alguns treinos do time da casa e os jogadores não tinham talento algum, exceto um terceiro anista e batedor, Devon Yale, que parecia estar sofrendo um AVC cada vez que via os seus colegas de equipe errarem uma jogada. Dallas não o culpava. Ela mesma não tinha muito conhecimento de Quadribol, mas sabia reconhecer um time ruim quando via um. 

O jogo estava um tédio em sua opinião de leiga, até que um fato curioso mudou tudo. Um balanço tomou vida e começou a perseguir Potter com uma determinação curiosa. E, ainda sim, uma queda dolorosa e um braço quebrado não impediu Potter de pegar o Pomo de Ouro e fazer a torcida da Corvinal explodir a sua volta em comemoração. 

— Droga. — Dallas resmungou quando a ovação diminuiu um pouco e Patrick voltou a sentar ao seu lado após um minutos em pé gritando e comemorando. — Draco vai ficar intragável pelo resto do dia. 

— Por que você ainda é amiga desse cara? Malfoy é um cretino. Ele chamou Hermione de sangue-ruim outro dia mesmo. — Patrick disse entre aplausos que aos poucos morriam e a atenção voltada ao campo onde os professores socorriam Potter. 

— Hermione quem?

— Hermione Granger. 

— Ah. Ela se ofendeu?

— Não porque ela não sabia o que a palavra significava, mas Ron sim e tentou azarar Malfoy. 

— Ron? — Patrick rolou os olhos. Se não conhecesse Dallas, diria que ela estava fazendo isto de propósito, mas a amiga tinha um grande talento para absorver informação inútil e descartar as relevantes, como o nome das pessoas.

— Weasley. 

— Isso foi quando?

— Semana passada.

— Não lembro de Draco aparecer azarado na sala comunal. 

— Porque o feitiço saiu pela culatra. A varinha de Ron está quebrada e ele acabou se azarando. Ficou vomitando lesmas por uma hora.  

— Eca. 

— É, essa também foi a minha reação quando fiquei sabendo. 

— A ofensa só é válida se você se deixar ofender. Draco me chama de sangue-ruim o tempo todo e no fim ele que termina irritado porque eu não dou a menor bola pra ele. 

— Não é a ofensa, mas o seu significado. Sangue-ruim é um xingamento racista que não deveria sair da boca de ninguém e você não deveria fazer amizade com alguém que diz tal ofensa com tamanha naturalidade. 

— Draco Malfoy é cão que ladra mas não morde. E não somos amigos, no máximo aliados. 

— Ainda sim… Ah não. 

— O que foi? — Patrick apontou para o campo, onde Gilderoy Lockhart tinha acabado de se aproximar de Potter ainda caído, e sacado a varinha. — Eu se fosse Potter sairia correndo. — Dallas comentou, mas Potter não saiu correndo, provavelmente porque não deu tempo, e então Lockhart proferiu um feitiço que até mesmo a distância dava para ver que sumiu com todos os ossos do braço do grifinório. — Eca! — Dallas e Patrick disseram em uníssono e deixaram o estádio junto com a torcida do Corvinal. Dallas considerou procurar refúgio na casa das águias, só para não ter que ouvir os resmungos de Draco, mas no fim respirou fundo, tomou coragem e retornou para a Sonserina. Qualquer coisa ele azarava Draco e calava a boca dele. Capaz até de ganhar prêmio por isto, não é mesmo? Por serviços prestados a comunidade. 

Dallas riu diante do pensamento e com o humor melhorado só diante da ideia, despediu-se de Patrick e tomou o rumo das masmorras. 

 

oOo

 

TPM não era uma coisa de Deus e cólicas eram uma invenção do demônio, e a ideia de que sofreria com isto pelos próximos quarenta anos de sua vida fazia Dallas querer arrancar o útero, somente para poupar a dor de cabeça. 

As amaldiçoadas chegaram após o jantar, pontadas de dor em seu ventre, um prelúdio ao desastre que deveria dar as caras no dia seguinte. Engolindo gemidos e xingamentos, ela tomou o rumo da enfermaria para solicitar uma das doses das abençoadas poções de Madame Pomfrey. O problema foi que quando chegou no local, a enfermeira não estava lá. O jantar ainda ocorria no Salão Principal, indiferente ao fato de que Dallas abandonou a sua comida na metade, enjoada demais para dar mais uma garfada que fosse naquele assado. 

— Dallas? — Potter a chamou sobre uma das camas. Estava pálido, cor que combinava com as ataduras e tipoia em seu braço, havia uma travessa de comida com prato vazio na mesa de cabeceira e o Profeta Diário largado em seu colo. 

— Potter. — Dallas aproximou-se da cama e com um pulo pôs-se sentada sobre esta, bem perto dos pés cobertos do grifinório. Potter era o único paciente na enfermaria e alguém que poderia distraí-la da dor até Pomfrey retornar. — O dano é irreversível? — gracejou ao apontar para o braço e Potter rolou os olhos. 

— Você bem que gostaria não? Assim a Sonserina finalmente ganharia da Grifinória. 

— O time da Sonserina é uma bosta! A maioria dos seus melhores jogadores formaram-se ano passado e acho que até com um braço apenas você ganharia do Draco. — Potter ruborizou com o elogio que não era nada mais que uma verdade. Ele era um bom jogador e tinha o direito de gabar-se sobre isto. 

— Eu te vi na torcida da Corvinal. — havia um tom de curiosidade na afirmação dele e Dallas deu de ombros.

— Foi um ato de rebeldia contra Draco. — algo no rosto de Potter mudou diante do que ela disse. A sua expressão ficou mais fechada, os seus lábios comprimiram-se por um segundo e ele parecia desagradado com algo.

— Malfoy e você são amigos? — Dallas considerou a pergunta dele. Não poderia dizer que Draco e ela eram amigos. Ele ofereceu a sua amizade no início de ano, no Expresso de Hogwarts, uma oferta que Dallas falou que iria considerar mas isto foi o suficiente para Draco achar que tinha carta branca para transformá-la em seu muro das lamentações e segui-la como uma sombra, ou arrumar desculpas para estar na sua presença e agir de forma bipolar. Uma hora ele gostava dela, outra hora a desprezava e a chamava de sangue-ruim. Então não, não podia dizer exatamente que eles eram amigos. 

— Não exatamente. 

— Você o chama de Draco. 

— E? 

— Tamanha intimidade só há entre amigos. 

— Eu chamo todos os meus colegas da Sonserina pelo nome, Draco não é um floquinho de neve especial, ou coisa do tipo. 

— Você chama Patrick pelo nome. 

— Ele é meu amigo. Aonde você quer chegar, Potter?

— Aí. Você só me chama de Potter. 

— E? 

— Por que não me chama de Harry?

— Você está sob efeito de analgésicos, Potter? Porque não está fazendo sentido. 

— Só não sei por que você não me chama de Harry. 

— Porque não somos amigos, Potter. Nossa convivência é escassa e geralmente estranha, não é algo que você chamaria de amizade, não é mesmo? — ele fez um bico que Dallas ficou surpresa ao perceber que considerou a expressão adorável. — Vamos fazer o seguinte, Potter. — disse apressadamente quando viu Madame Pomfrey entrar na enfermaria e vir na direção deles. — Eu vou pensar no seu caso, okay? — Harry sorriu abobalhadamente para ela. 

— Senhorita Winford, precisa de algo? — Dallas deixou a cama em um pulo..

— Poção para cólicas. 

— Venha comigo. — Madame Pomfrey pediu e tomou o rumo de seu escritório.

— Boa noite, Potter. — Dallas desejou com um sorriso que fez o menino enrubescer, e então seguiu a enfermeira. 

Na manhã seguinte, o corpo e Colin Creevey, grifinório e nascido-trouxa, foi encontrado petrificado. 


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