Entre Extremos escrita por Bella P


Capítulo 56
Epílogo




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1° de Setembro de 1998 amanheceu ensolarado e entregou ao seus destinatários duas cartas enviadas por vias diferentes: bruxa e trouxa. 

O primeiro destinatário, o que recebeu por via trouxa, foi um rapaz, bonito a medida em que os anos amadureciam os seus traços, de sorriso largo, perolado e charmoso. Em seus dedos longos e de pele suave e unhas manicuradas, a prova de que ele não exerceu por um segundo que fosse de sua jovem vida trabalhos pesados, estava a carta. Um pedaço de papel, na verdade, uma página de um caderno escolar que foi rasgada de forma qualquer, mal dobrada e guardada de qualquer maneira dentro do envelope barato.

Allen riu, porque ele sabia que aquilo era um gesto de rebeldia da remetente. Dallas Winford tinha plenas condições de ao menos adquirir um papel de carta e envelope decentes, mas decidiu pelo contrário, só para zombar dele. 

O conteúdo da carta era tão vagabundo quanto a sua embalagem. Era uma dispensa em poucas palavras, mas gotejando a arrogância de sua interlocutora.

"Arrumei algo melhor, Halliwell. Boa sorte!"

Dallas estava desfazendo o trato entre as famílias Winford e Halliwell sem nenhuma explicação, sem nenhum pedido de desculpas, os desprezando e os desconsiderando como se eles fossem meros inconvenientes em seu caminho. 

Allen riu mais uma vez. Não esperava menos da garota. Tão linda, tão inteligente, tão arredia. Por um momento desejou tê-la, Dallas era uma raridade dentro daquele mundo de dinheiro e hipocrisia e estar casado com ela iria ser uma aventura diária. Porém nunca se iludiu, sempre soube que seria uma questão de tempo para ela perceber que tinha a faca e o queijo nas mãos, que ela não precisaria de nada e nem de ninguém e muito menos acordos arcaicos de casamento para crescer, brilhar e ser a força incontrolável da natureza que ela sempre prometeu ser, mudando o mundo a sua maneira, uma porrada de cada vez. 

Guardou a carta, como uma lembrança nostálgica do que poderia ter tido e curioso em saber quando o seu caminho cruzaria novamente com o de Dallas e que surpresas ela traria consigo neste encontro.

A outra carta, enviada por via mágica, chegou a mão de Amélia Winford horas mais tarde. A família ainda estava no Brasil, ainda esperava a confusão do pós-guerra contra Voldemort amainar para assim retornar para a Inglaterra, e o envelope da carta era bem mais luxuoso e o seu conteúdo mais extenso e pesado que a carta enviada a Allen Halliwell. 

Quando Amélia quebrou o selo e virou o envelope sobre a palma, a primeira coisa que encontrou foi uma pequena caixa, e em seu interior repousava uma medalha, a maior honraria que um civil poderia receber do Ministério da Magia. Uma Ordem de Merlin, Primeira Classe. A carta que acompanhava a Ordem de Merlin foi escrita em pergaminho e pena tinteiro, com letra cuidadosamente desenhada e embora de texto curto, o seu significado pesou profundamente na mente e coração de Amélia. 

"Tem razão. Eu não sou a Cinderela, ou o Príncipe Encantado. Eu sou apenas Dallas, e tenho muito orgulho disto. Au revoir, grand-mère. Nos vemos por aí."

— Mamãe? — Albert chamou ao ver o sorriso no rosto de Amélia. Uma raridade, uma expressão que em todos os anos em que a conhecia e a reconhecia como sua mãe, jamais tinha visto na face bonita dela. Porque aquele era um sorriso genuíno, um sorriso satisfeito, um sorriso feliz.

Amélia dobrou a carta e a guardou novamente no envelope, junto com a merecida Ordem de Merlin.

— De todos os erros que você cometeu, Albert, Dallas foi o mais acertado deles. — disse de forma enigmática e ergueu-se do sofá, para então depositar uma mão sobre o ombro do homem em um gesto de carinho. — Obrigada. — pediu e seguiu o seu caminho, deixando para trás um Albert aturdido e confuso.

Em 31 de Outubro de 1998, no que era para ser a comemoração de sua maioridade oficial, e não aquela obtida graças a um amigo ousado e sem medo de quebrar as regras, Dallas e Harry encenaram mais uma de suas memoráveis e rotineiras discussões quando a jovem declarou que havia feito os testes de nivelamento das escolas trouxas, havia conseguido pontuações esplêndidas em suas provas, o que não era nenhuma novidade para ninguém, e o resultado deste sucesso foi uma bolsa integral de estudos no MIT. Dallas iria para os EUA assim que se formasse em Hogwarts, enquanto Harry seria deixado para trás, na Inglaterra, em seu curso de Auror.

Em 1° de Novembro de 1998, Harry pediu desculpas por sua imbecilidade e pediu Dallas em casamento. Dallas riu na cara dele e o respondeu com um sonoro "não". Outra discussão fenomenal foi encenada entre eles. Dois dias depois, fizeram as pazes, chegaram a um acordo, e a vida voltou aos seus eixos. 

No ano seguinte, após formada, Dallas embarcou para os EUA e para o MIT.

Em Junho de 2001, formou-se com honrarias na faculdade. Primeira da turma, Engenharias Mecânica e da Computação, duas graduações ao mesmo tempo, só porque ela podia. O doutorado era o próximo caminho, junto com uma formação em Princípios da Criação e Fusão da Magia. Pelo lado trouxa, algo na área de Química, só para ter um desafio.

Em Setembro de 2003 fundou a Black Inc. com Draco. A primeira empresa que fundia magia com tecnologia trouxa. O mundo mágico precisava urgentemente alcançar o século vinte e um, foi o que Dallas disse em seu discurso para a imprensa durante a inauguração da sede da empresa no Beco Diagonal. A ideia dela foi relutantemente recebida pelos bruxos e bruxas, e muitos questionavam se realmente havia essa necessidade, pois viveram séculos daquele jeito, por que mudar agora? Os mais novos estavam empolgados com esta perspectiva, mas todos concordavam que a existência da Black Inc. estava fadada ao fracasso, ainda mais que o CEO da empresa era Draco Malfoy, ex-Comensal da Morte.

Todos, obviamente, erraram,  Black Inc. transformou-se em um sucesso, a pioneira em seu ramo de atuação, no mundo mágico, e em poucos anos Dallas tornou-se a bruxa mais rica de toda a comunidade mágica britânica. 

Na noite da inauguração da sede da Black Inc., Harry pediu Dallas mais uma vez em casamento, e novamente ela disse não. 

Em Fevereiro de 2005, Dallas descobriu-se grávida de seu primeiro filho, Evan. Métodos contraceptivos, aparentemente, não eram 100% eficazes. Isto ou alguma força maior estava zombando dela. Ser mãe não estava nos planos de Dallas, ao menos não pelos próximos dez anos, mas já que estava neste barco, era melhor navegá-lo, não? Harry a pediu em casamento naquela noite, ao receber a notícia de que seria pai, Dallas novamente disse não. 

— Estamos nos anos 2000, Potter, eu não preciso estar casada no papel com você, para formar família com você. Evolua, por favor!

Dallas só veio a aceitar o pedido de casamento de Harry depois da décima segunda tentativa e após o nascimento dos gêmeos, Hannah e Day, em Maio de 2007. Ron disse que isto aconteceu porque Harry venceu Dallas pelo cansaço, Hermione repreendeu o marido e rebateu informando que na verdade era amor mesmo, Patrick riu e questionou baixinho a amiga, durante a festa de noivado: "isto é a sua veela interior testando Harry, de novo?". A resposta de Dallas para ele foi apenas um sorriso enigmático. 

A cerimônia de casamento entre Dallas Winford e Harry Potter foi simples, realizada em Agosto daquele mesmo ano, no jardim dos fundos da renovada mansão Black, somente para os amigos mais íntimos do casal e a família. A noiva vestia-se de forma simples e bela, o noivo não parava de tremer e suar dentro de seu terno, enquanto via a sua futura esposa caminhar em sua direção no altar. Dallas riu da cara de Harry quando ele tropeçou nas palavras durante os seus votos, o rosto do ex-grifinório era um tom profundo de vermelho por causa da vergonha, e ela só calou a boca quando o homem a beijou, apenas por petulância. 

Quatro anos depois, em Setembro de 2011, nasceu Fey Winford-Potter.

— Você está querendo me transformar em uma máquina de criar Potters, Potter?! — Dallas esbravejou, cansada após trinta e duas longas horas de trabalho de parto. — A fábrica fecha aqui! — declarou, convicta. Harry riu da cara dela, outra discussão acalorada ocorreu, e os amigos do casal nem mais manifestaram-se ao presenciar aquela briga. Já era rotina.

Esta era a rotina deles:

Brigas, reconciliações, beijos, bicos, temperamentos chocando-se e declarações de amor eterno. Dallas gostava disto, Harry também. Eles não viviam um Conto de Fadas, viviam a realidade com os seus entendimentos e conflitos. Isto era amor e eles estavam felizes assim. E além do mais, na arrogante opinião de Dallas Geraldine Winford-Potter, finais felizes eram para os fracos, não é mesmo?


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