Entre Extremos escrita por Bella P


Capítulo 50
Capítulo 49




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Ginny Weasley não conseguia acreditar no que viam os seus olhos. A porta do vagão coletivo, ocupado somente por grifinórios, abriu em um deslizar brusco e bateu de forma estalada contra a parede. Dallas Winford estava sob a moldura, diferente de todas as outras vezes em que Ginny a havia visto. O seu cabelo estava em um tom intenso de ruivo, os seus olhos eram mais azuis do que nunca e Ginny somente a reconheceu porque aquele sorriso que misturava superioridade e escárnio era tão característico da sonserina que não importava sob quantos feitiços de camuflagem ela estivesse, aquela expressão de eterno desdém para o mundo a sua volta já era marca registrada dela. 

— O que você está fazendo aqui? — Neville perguntou com uma mistura de incredulidade e apreensão na voz. Ele também havia reconhecido Dallas só pelo modo como ela caminhou na direção deles, deslizando sobre o chão como se este fosse indigno de seus passos. 

— Indo para Hogwarts, o que você acha que eu faço aqui? — ela comentou com a ingenuidade de quem verdadeiramente não compreendia a razão da surpresa de todos e sentou ao banco com um deslizar, espremendo Dean e Seamus contra a parede do vagão. 

— Se Harry… — Seamus começou e terminou de dizer com a mesma rapidez diante do olhar ácido que recebeu de Dallas. 

— Por favor me informe quando retornamos a era medieval onde eu tenho que dar conta dos meus passos aos homens em minha vida, porque eu perdi o memorando. — Ginny riu diante da alfinetada da sonserina, o que fez Seamus ficar rubro de vergonha. Nunca conviveu muito com Dallas. Na verdade, por uns bons anos sentiu inveja e ciúmes da garota. Inveja porque ela era perfeita, a sua existência era uma afronta a simplicidade que era Ginny. Ciúmes porque Dallas era a grande paixão de Harry Potter, o garoto por quem ela estava apaixonada. 

Felizmente os anos traziam maturidade e novas paixões e anulavam as antigas e a fez ver o mundo com novos olhos. Ginny nunca conviveu muito com Dallas, mas a conhecia um pouco por causa das histórias sobre ela, fofocas que ouviu nos corredores de Hogwarts, histórias contadas pelo próprio Harry, e nenhuma delas realmente desmentia a garota na sua frente. Geniosa e avessa, Dallas Winford era como uma súbita tempestade, chegava sem aviso, destruía tudo em seu caminho, e ainda sim você não conseguia deixar de encantar-se pela beleza dos raios que ela soltava, o atraindo de forma quase hipnótica para o perigo. 

A porta da cabine novamente abriu em um estrondo e as respirações ficaram em suspenso quando as figuras emolduradas pelo batente carregavam as expressões amarradas e perigosas dos Comensais da Morte. Dallas, de costas para a porta e com o seu cabelo acobreado descendo-lhe pelas costas e ombros, deu apenas uma leve inclinada de cabeça para a esquerda, uma mecha de cabelo lhe cobriu parte do rosto e ela observou o movimento de rabo de olho. Ginny, Dean e Seamus eram um estado de nervos puro. Dallas tinha tanta importância para a mundo mágico quanto Harry e a sobrevivência dela era extremamente vital para esta guerra. Todos na Grifinória sabiam sobre a complexa e profunda conexão que Harry e Dallas possuíam e as reações de Harry diante de todas as pequenas possibilidades em não ter Dallas em sua vida. 

Neville ergueu-se de seu assento, posicionando o seu corpo de forma estratégica em frente a Dallas, cobrindo-a parcialmente da visão dos Comensais enquanto ao mesmo tempo atraía a atenção deles informando de forma dura e debochada que Harry não estava ali. Havia de se questionar o processo de seleção do Lorde das Trevas para escolher seguidores tão imbecis que pensavam que Harry Potter iria facilitar as coisas para eles, retornando para Hogwarts. 

Por sorte ou simples falta de vontade de gastar saliva e feitiço, os Comensais não atacaram Neville que retornou ao seu assento tremendo pela adrenalina ainda percorrendo as as suas veias. Dallas o mirava com ambas as sobrancelhas erguidas e um sorriso de canto de boca, uma expressão que misturava surpresa, deboche e aprovação. 

— Você não deveria ter voltado para Hogwarts. — Ginny repreendeu a outra garota, atraindo a atenção dela para si. O olhar de Dallas era de um azul profundo, com um suave tom de violeta na íris quando a luz batia sobre essas. O rosto dela era fascinante de se olhar e ao mesmo tempo enervante, a beleza deste tinha um ar plastificado, impossível de acreditar que era real e Ginny não acreditava que era real. Sendo veela ou não, como ouviu Ron, Hermione e Harry comentarem pelos cantos, ainda sim havia um ar falso nos traços dela, que deixava o espectador desconfortável se a encarasse por muito tempo. 

Ginny piscou e sentiu-se estúpida, porque esta era a intenção de Dallas durante todo este tempo, ser notada a ponto de causar desconforto e ser esquecida porque a pessoa que a olhava não queria lembrar desta experiência desagradável. Era um feitiço de camuflagem brilhante, tinha que admitir.

— Minha visita é temporária. Estou de passagem apenas. — Dallas declarou com a displicência de quem não considerava o cenário atual que viviam grande coisa e digno de preocupação. 

Pelo resto da viagem, Dallas ficou sob os olhares curiosos dos grifinórios do vagão, então sob olhares confusos quando Patrick Gordon juntou-se à eles e finalizou com olhares chocados quando ela trocou as suas roupas do dia-a-dia pelo uniforme da escola e este tinha as cores da Lufa-Lufa. 

— O Universo está entrando em colapso em algum lugar ao te ver usando essas cores. — Seamus comentou com um tom de incredulidade na voz e Dallas gargalhou antes de deixar o Expresso e misturar-se ao grupo deprimente de alunos que tomavam as carruagens que os levaria para a escola. 

A silhueta de Hogwarts, ao longe, não era tão convidativa quanto foi nos anos anteriores. Dementadores sobrevoavam a escola em uma distância segura, mas ainda sim nauseante, Comensais da Morte fiscalizavam a entrada dos alunos e Patrick deu uma discreta cotovelada em Dallas quando viu que um deles tinha uma lista de presença nas mãos e checava estudante por estudante e separava alguns do grupo, crianças que eram arrastadas aos gritos para longe, nascidos trouxas que desapareceriam de Hogwarts e da história. Dallas pôde sentir Patrick retesar-se por completo ao seu lado e não precisava tocá-lo para saber que os músculos sob a pele pálida estavam travados de tensão. A magia dele estalava no ar de forma quase imperceptível, um relance para a mão esquerda dele a fez ver o punho fechado com força ao redor da base de sua varinha e, para evitar o pior, Dallas o segurou pelo ombro, apertando este com força o suficiente para deixar marca através das camadas de tecidos, o que o forçou a repensar os seus atos e guardar novamente a varinha dentro da manga de seu suéter. Não era uma boa ideia Patrick bancar o herói justo agora. Eles tinham uma missão e precisavam cumprí-la, independente de quem fosse sacrificado no caminho para o sucesso, embora ela também quisesse azarar de forma feroz os Comensais que estavam atacando crianças inocentes, mas conteve-se. 

Dallas e Patrick seguiram o tenebroso cortejo em direção a entrada principal de Hogwarts e foram parados em seu progresso por um Comensal bancando o recepcionista da vez. 

— Nomes. — o bruxo exigiu com uma voz rouca e expressão atravessada. Pela cara que ele fazia, o fato de estar ali checando a chegada de alunos não era bem o tipo de carreira que ele aspirou como seguidor de Você-Sabe-Quem. 

— Liam Rosenberg e Deena Brönte. — Patrick anunciou, o seu cabelo dourado realmente o fazia lembrar o pai, de quem ele adotou o nome como disfarce, mais o sobrenome de solteira da mãe. Dallas foi mais prática, usando um apelido comum para o nome Geraldine, que era o seu nome do meio, mais o nome de solteira de Amélia, quem era a sua inspiração para todos esses momentos em que tinha que colocar o seu Encanto Veela em ação.

— Não estão na lista. — o Comensal anunciou com ferocidade e a sua postura antes enojada por estar com um trabalho tão insignificante, aos poucos mudava para suspeita e agressão. De rabo de olho, Dallas viu a varinha de Patrick deslizar novamente para a sua palma, e ela reagiu com um largo sorriso direcionado ao bruxo recepcionista e soltou um “hum” cantarolado do fundo da garganta.

— Tem certeza? — sua voz soou com um suave tilintar, como sininhos de Natal. Ela aproximou-se do Comensal, sob o olhar tenso e atento de Patrick, ainda sorrindo e com um jogar charmoso do cabelo por sobre o ombro e bingo, o olhar negro do homem cravou no rosto dela com a intensidade e cobiça de alguém que via um oásis de águas límpidas após dias vagando a esmo sob o sol do deserto. — Aqui, não são estes daqui? — Dallas pousou a ponta do dedo em um espaço do pergaminho que milésimos de segundos atrás, enquanto o bruxo estava ocupado demais a devorando com os olhos, estava branco e agora, quando ele voltou a atenção para a lista, tinha os nomes Rosenberg, Liam e Brönte, Deena impressos nele. 

— Esses nomes não estavam aí antes. — o homem franziu as sobrancelhas e Dallas pensou todos os xingamentos possíveis e conhecidos diante da infelicidade de pegar um Comensal que era mais resistente ao Encanto. Resistente, mas não imune. 

— Claro que estavam! — ela entoou quase como uma melodia, aproximando-se mais do que o necessário e do que gostaria do espaço pessoal do bruxo e roçou de forma discreta o seu braço contra o dele, fingindo inclinar-se para ver melhor a lista e permitindo que o seu perfume de jasmim alcançasse o olfato dele. 

O bruxo ainda tinha as sobrancelhas franzidas e Dallas trocou um olhar com Patrick. Não queriam apelar para a violência tão cedo, pois isto denunciaria a razão deles de estarem ali, mas precisavam entrar na escola a todo custo e nada ficaria no caminho deles. 

— Aldridge! — felizmente os planos de Dallas e Patrick foram interrompidos por outro Comensal que aproximou-se deles. — O que diabos você está fazendo? Anda, a fila precisa andar! — disse, impaciente e de forma grosseira e Aldridge resmungou e com um gesto brusco de dispensa, ordenou que Dallas e Patrick seguissem caminho para o castelo. 

— Essa passou perto. — Patrick comentou após um suspiro de alívio e guardou novamente a sua varinha. 

— Não comemore ainda. A pior parte ainda está por vir.  — Dallas completou quando entraram no castelo, que tinha um ar tão melancólico quanto o exterior. Os alunos foram dispersando, cada grupo seguindo para as suas casas. Dallas e Patrick acompanharam alguns lufa-lufa até as escadas moventes e quando estavam longe dos olhos atentos dos Comensais que eram os novos guardas de Hogwarts, separaram-se do grupo e embrenharam-se pelo que um dia foi o corredor proibido do terceiro andar. 

Em uma alcova, eles transfiguraram os seus uniformes em roupas escuras, semelhantes aos que os seguidores de Você-Sabe-Quem usavam. Jeans escuros, couro e coturno. Dallas adotou o visual inspirado em sua tia louca e Patrick optou por um rosto macilento, com cicatrizes e um cabelo castanho desgrenhado. Não era uma regra todos os Comensais da Morte aparentarem ser fugitivos de um manicômio, muitos desses bruxos e bruxas provinham de famílias antigas, nobres e muito ricas, que conheciam umas às outras muito bem e a intenção de Patrick e Dallas eram passar despercebidos. E aqueles que pareciam terem sido cuspidos da boca de um boi de tão largados que eram geralmente obtinham mais sucesso nesse negócio de ficar incógnito a olhares curiosos. 

— Agora faça a sua mágica. — Dallas comentou quando saíram da alcova e alcançaram o fosso das escadas moventes, onde pararam no patamar ao pé do primeiro lance de escadas que era caminho para a diretoria. Patrick rolou os olhos diante do tom de zombaria dela. E daí que ele tinha como passatempo na escola conversar com os quadros? As pinturas, que eram usualmente ignoradas pelos transeuntes, eram uma fonte fascinante de História. Muitos desses bruxos e bruxas eternamente imortalizados em tinta óleo realmente viveram nesta Terra e graças a magia inexplicável que existia nas pinturas, eles retinham as suas memórias de quando foram vivos e portanto tinham contos fascinantes para contar a qualquer ouvido disposto a ouvir. 

Patrick sempre foi um dos raros casos de pessoas dispostas a ouvir as histórias dessas pinturas. E agora o seu pequeno passatempo estava provando-se ser provincial, não é mesmo? Então Dallas não tinha nenhum direito de ficar debochando da cara dele, visto que ela não teve ideia melhor para como eles iriam entrar na sala do diretor. 

— Deirdre. — Patrick chamou em um sussurro ao aproximar-se do quadro de uma bruxa em vestes vitorianas, sentada sobre uma enorme poltrona de veludo, com um livro no colo. Deirdre respondeu ao chamado com um olhar de desconfiança sobre Patrick, que só mudou quando ele desfez por alguns segundos o feitiço de camuflagem e ela reconheceu com um sorriso quem lhe dirigia a palavra. 

— Não deveria ter voltado a Hogwarts, meu caro. Estamos passando por tempos sombrios e ninguém está seguro, independente da casa, ancestralidade ou sangue. — Deirdre comentou em um tom quase maternal e os seus olhos castanhos eram curiosamente parecidos com os de Patrick, em um tom que lembrava chocolate derretido em bebida quente para degustar em gostosas noites de inverno, ao lado da lareira. 

— Deirdre Prewett-Rosenberg é minha ancestral. — Patrick explicou para Dallas. — Foi a inventora de muitos feitiços domésticos práticos, usados até hoje por bruxos. 

— E como é que você não é podre de rico? — Dallas questionou. Se Deirdre era uma inventora, ela tinha patentes. E se tinha patentes, essas geravam dinheiro cada vez que os feitiços eram usados. Patrick deu de ombros, com um ar sem graça. 

— Meu tataravô gastou praticamente toda a fortuna da família em jogatina e bebidas e investimentos furados. Então a minha tataravó, como descendente direta de Deirdre, para evitar maior colapso econômico na família, doou todos os direitos das patentes para financiar bolsas de estudos e pesquisas do Ministério. Meu tataravô ficou possesso com a falta de dinheiro, atacou a minha tataravó que se defendeu usando um feitiço rápido de fatiar carne. 

— Patrick Gordon! — Dallas sussurrou em um tom surpreso e divertido. — Quanto drama em sua família, e você nem tem coragem de me contar esses podres? É assim que você valoriza a nossa amizade?

— E eu acho que o momento não é propício para explanar os "podres", como você colocou de forma tão eloquente minha jovem. — a repreensão de Deirdre, cuja expressão era puro desdém, lembrou à Dallas imensamente de sua avó Amélia e ela quase riu, mas segurou-se a tempo para não chamar a atenção de algum passante em corredores adjacentes. No momento eles deram sorte, os alunos estavam todos em suas casas, terminando de acomodarem-se, para então seguir para o jantar. Isso se alguém fosse conseguir digerir alguma coisa com Comensais da Morte baforando em suas nucas. 

— Deirdre, nós precisamos entrar na sala do diretor. — Patrick foi direto ao ponto eu recebeu um olhar curioso de sua ancestral.

— Por quê? — ela questionou, fechando o seu livro e o depositando na mesinha ao lado da poltrona, em gestos tão delicados que parecia que os movimentos dela estavam em câmera lenta. 

— Precisamos roubar o arquivo de alunos de Hogwarts. — Dallas explicou e a expressão de Deirdre mudou de curiosa para a de alguém que compreendeu naquele momento a intenção deles, o sorriso de canto de boca que ela deu à eles cimentou a ideia. 

— E por que vocês acham que eu conseguiria ajudá-los? — Deirdre provocou e Patrick rolou os olhos. 

— Porque você mesma me disse que as pinturas de Hogwarts tinham livre acesso umas às outras e a sala do diretor é cheia de quadros dos antigos diretores da escola. Eles devem saber a senha que Snape está usando agora para a passagem. — Patrick comentou e Deirdre soltou uma risadinha. 

— Bem, Phineas Black costuma ficar com a língua bem solta após algumas taças de vinho, ainda mais quando quer impressionar Beatrix Burbank durante os chás das sextas-feiras, e ele contou que já não era sem tempo de Hogwarts ter novamente um diretor sonserino, embora achasse a senha "lily" indigna de um homem da estirpe de Severus Snape. 

— Lily? — Patrick e Dallas disseram em um sussurro, trocando olhares curiosos. 

— Obrigado, Deirdre. — Patrick agradeceu e ainda recebeu um aviso de "cuidado" antes de dobrarem a esquina e ganharem o corredor a caminho da diretoria.


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