Entre Extremos escrita por Bella P


Capítulo 31
Capítulo 30




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O ataque de Crouch contra Krum fez a fofoca sobre o triângulo amoroso entre Potter x Granger x Krum morrer em segundos, assim como a aproximação do dia da terceira tarefa estava deixando uma nuvem de tensão sobre Hogwarts. A torcida era grande e pequenas desavenças entre os alunos das três escolas surgiam aqui e acolá e uma nova matéria de Skeeter sobre Potter não ajudou muito a questão, pois a mesma serviu de base para muitas das provocações dos alunos da Durmstrang e Beauxbatons contra os de Hogwarts. Dallas poderia não estar mais trocando ideias ou olhares com Potter, mas as palavras desdenhosas de Skeeter e o tom dela de pouco caso, o tom de alguém que só quer chamar a atenção ao custo do sofrimento alheio, foi o suficiente para fazê-la marchar na direção de Granger quando a garota estava saindo da biblioteca, segurá-la pelo braço e arrastá-la para a primeira alcova que encontrou, longe dos olhares curiosos. 

— Draco está servindo de informante para Skeeter. — declarou antes mesmo que Granger pudesse abrir a boca para questionar o que estava acontecendo. 

— Eu sabia! — a grifinória disse com exasperação e um tom de raiva na voz. O desafeto dela com Draco era maior do que deste com Potter. — Havia coisas que Skeeter escreveu que somente alguém de Hogwarts saberia, porque implica acontecimentos passados, acontecimentos dentro da escola. Mas como ele está fazendo isto? Skeeter não é autorizada a ficar nos terrenos da escola exceto quando as tarefas estão ocorrendo. Como Malfoy está falando com ela? 

— Você é inteligente, Granger, descubra. — porque Dallas só iria ajudar até aí e a cara de desgosto de Draco no dia seguinte, a cara de quem lhe foi tirado o seu doce favorito, mostrou que Granger realmente descobriu como Draco passava as informações para Skeeter, e Dallas escondeu o sorriso de triunfo por detrás de seu livro Animais Fantásticos E Onde Habitam. Porém a felicidade dela durou pouco, pois o dia da terceira tarefa chegou mais rápido do que ela gostaria. Ao meio da tarde, os alunos foram levados para o estádio de Quadribol, onde o campo deu lugar a um enorme labirinto nada convidativo. 

Dallas sentou nas arquibancadas usualmente ocupadas por corvinais, com Patrick ao seu lado, e os olhos grudados na entrada do labirinto. Embora metros abaixo de onde estavam, o lugar tinha altas paredes de arbustos e trepadeiras, tornando impossível enxergar o seu interior. A voz de Dumbledore ecoava pelo estádio, algo sobre a taça do torneio estar no centro do labirinto e quem chegasse à ela primeiro, seria declarado o campeão. Em seguida, ele explicou que os campeões iriam entrar por ordem de pontuação, primeiramente Diggory, depois Potter, Krum e Delacour, e então a buzina tocou e um a um, em intervalos de poucos minutos, os campeões sumiram por entre as paredes de plantas. 

— Eu não estou gostando disto. — Dallas murmurou para ninguém em particular. Uma inquietação revirava dentro de seu peito e seu corpo vibrava com energia contida. Ela sentiu um toque em sua mão e ao abaixar os olhos, viu dedos envolverem os seus e apertá-los em um gesto de conforto. Quando seguiu com os olhos ao longo da mão e braço, encontrou o rosto sereno de Patrick que observava o labirinto como se nada tivesse acontecido. Dallas apertou os dedos dele de volta, entrelaçando os dígitos, e Patrick interpretou este gesto como um ok para puxar a mão dela para o seu colo e cobri-la com a sua outra mão, oferecendo mais conforto. 

A primeira hora da tarefa passou de forma lenta. Após um grito que ecoou até a Floresta Negra, Fleur foi resgatada do meio do labirinto e trazida pálida e aos prantos para perto das arquibancadas, onde bancos estavam dispostos com os juízes, professores e representantes das escolas. Krum foi o segundo a ser resgatado, sob o efeito de um Estupefaça poderoso o suficiente que Madame Pomfrey precisou aplicar um Enervate por duas vezes seguidas para acordá-lo. Com isto, só faltou Diggory e Potter e a questão era que, independente de quem fosse o campeão, Hogwarts de qualquer maneira levaria esta taça. 

Quase duas horas e meia desde o início da tarefa e Potter finalmente retornou do labirinto. Melhor dizendo, ele apareceu do nada entre a mesa do júri e a entrada do labirinto, na companhia de um Diggory desmaiado, e estava sujo, descabelado e sangrando.

— Tem alguma coisa errada. — Dallas comentou e pôs-se de pé em um pulo, soltando a sua mão da mão de Patrick. Delacour deu um grito histérico que não foi abafado pela banda e o sr. Diggory destacou-se de entre a multidão aos berros. Foi aí que o público começou a perceber o que Dallas captou segundos antes: Cedric Diggory não estava inconsciente, estava morto. 

— Dallas? Dallas! — Dallas ignorou os gritos de Patrick, a chamando, em favor de abrir caminho entre alunos e público visitante. Ela precisava chegar até Potter, mas quando os seus pés finalmente tocaram ao gramado do campo, foi para ver que o garoto estava sendo levado para o castelo pelo professor Moody. 

— Todos os alunos, por favor retornem para as suas salas comunais e escolas. — a voz de Dumbledore soou pelo campo mas, para Dallas, pareceu apenas um eco distante pois a sua atenção estava fixa na dupla que desapareceu dentro do castelo.

— Dallas! — seu nome foi pronunciado por uma voz familiar e mãos a seguraram pelo ombro no momento em que ela iria correr atrás de Potter e Moody. — Dallas, vamos! — de rabo de olho ela reconheceu Draco, que a puxava na direção do castelo. Ao redor deles, outros alunos da sonserina os flanqueavam. Por sobre as cabeças da multidão assustada e confusa, Dallas viu Patrick junto aos alunos da Corvinal. No campo, Dumbledore congregava com outros professores e funcionários do Ministério, ao redor do corpo de Diggory e do pai do garoto que debulhava-se em lágrimas. Dallas deixou-se levar, seguindo o fluxo até a Sonserina. As pessoas ao seu redor estavam caladas e nem mesmo Draco manifestava uma grosseria que fosse, pálido e tenso demais para proferir qualquer palavra.

Ao chegarem na sala comunal da Sonserina e ainda em silêncio, os alunos tomaram o caminho de seus respectivos dormitórios. Não havia clima para conversa, ou comentários, ou qualquer ruído que fosse. O que deveria ser uma noite terminando em comemorações e festividade, tornou-se algo fúnebre e tenebroso. Dallas seguiu a sua rotina noturna com gestos mecânicos e olhar perdido e quando enfiou-se sob as cobertas de sua cama, foi para ficar horas encarando as costas de Daphne quem ela sabia que, assim como ela, assim como todas as outras ali, não estava dormindo ou não dormiria tão cedo, mas também não tinha humor algum para preencher o tempo com conversas frívolas. 

O amanhecer não trouxe melhorias para o ambiente do castelo. Ao entrarem no salão principal para o banquete de despedida, foi para encontrar as bandeiras das casas cobertas com um véu negro e um ar de enterro rodeando a todos. Até o momento não era bem certo o que realmente tinha acontecido. O Torneio Tribruxo tinha uma fama ruim, e mortes eram esperadas durante o campeonato, mas não eram desejadas, obviamente. Dallas sentiu-se estúpida por ter caído na ilusão, como todos os seus colegas, de que o Ministério iria garantir que jovens não fossem feridos além do esperado no torneio, mas isto obviamente não aconteceu. E então Dumbledore começou a discursar e a percepção de todos sobre o que tinha ocorrido mudou drasticamente. 

No momento em que o diretor anunciou que Diggory havia sido assassinado, e por ninguém menos que Voldemort, os olhos de Dallas foram automaticamente para a mesa da Grifinória. Potter sentava entre Granger e Weasley, com o braço enfaixado, pálido e com olheiras quase negras sob os olhos. Ele mirava o prato vazio, com a cabeça baixa e ombros arriados. Havia tristeza e desespero no rosto dele, o que corroborava as palavras do diretor. Voldemort havia voltado, com força total e pronto para continuar de onde parou. 

Foi com esta despedida macabra que Dallas embarcou no Expresso de Hogwarts no dia seguinte, a caminho de Londres. A viagem seguiu em silêncio. Patrick e ela trocaram poucas palavras e as horas passaram de forma lenta e desagradável. Ao final do dia, o trem foi desacelerando até que parou por completo na plataforma 9 ¾ e os alunos deixaram os vagões da forma desordenada de sempre, arrastando os seus malões às suas costas. 

— Não esqueça de escrever. — Patrick lembrou após um breve abraço de despedida e então sumiu por entre pais e alunos na companhia de Pietro, que deu à Dallas um curto aceno de despedida. Um minuto depois da partida deles, Dallas reconheceu as mechas negras e rebeldes de Potter entre os alunos e o seu corpo por inteiro comichou diante de uma descarga elétrica de adrenalina que a incitava ir na direção dele, a falar com ele, mas ela manteve-se teimosamente no lugar. Se Voldemort estava de volta, ele iria concentrar todas as suas forças em continuar a espalhar a sua doutrina pelo mundo bruxo e a tirar de seu caminho todo e qualquer obstáculo, incluindo o garoto que o humilhou e o condenou por treze anos a algum buraco escuro quando este mesmo garoto ainda usava fraldas. Potter tornou-se um alvo e como tal, precisava estar preparado para qualquer batalha e se o que Granger falou era certo, se Potter realmente importava-se tanto com ela, Dallas tornou-se uma fraqueza. A fraqueza dele e que poderia ser usada contra o grifinório a qualquer momento e Dallas nunca iria se perdoar se isto acontecesse. 

— Dallas. — o chamado veio das suas costas e ao virar-se, Dallas viu Narcissa parada a poucos metros de distância. A plataforma esvaziava pouco a pouco, o que deixava a sra. Malfoy em destaque entre os bruxos e bruxas que transitavam por ali. — Onde está o seu ir… — ela calou-se, respirou fundo para recuperar-se deste pequeno lapso, e continuou. — Onde está Draco? — Dallas deu de ombros. Não falava ou via Draco desde que embarcaram no Expresso e, sinceramente, não estava muito disposta a lidar com qualquer ladainha que viesse do garoto. Potter ganhou o Torneio Tribuxo, o que foi prato cheio para as reclamações de Draco sobre complacência e favoritismo, e Dallas teve que afastar-se do irmão para não virar a mão na cara dele, porque ele ignorava completamente o que a vitória de Potter significava.

Não foi somente a verdadeira causa da morte de Diggory que foi revelada com o final do Torneio, mas a forma como Potter acabou tornando-se um dos campeões, também. Moody não era Moody, mas sim Bartô Crouch Jr., Comensal da Morte condenado que passava-se por Moody e que armou para Potter de modo a levá-lo a Voldemort e permitir que este usasse de magia negra e antiga para retornar ao poder. E, neste meio tempo, matou Diggory quem inocentemente e expandindo o seu espírito lufa sugeriu que Potter e ele pegassem a taça ao mesmo tempo para garantir que ambos fossem campeões. E Draco achava que todo este cenário era favoritismo. Era nojento. 

— Sinceramente? Não faço ideia e realmente não me interessa. — respondeu seca e passou por Narcissa sem dar à ela um segundo olhar. Quando saiu da plataforma 9 ¾ para a King Cross, viu a figura altiva e imponente de Amélia ao longe, sombreada pela forma protetora e grandalhona de Montgomery. 

— Como foi este ano de escola? — Amélia perguntou em um tom calmo e com expressão desinteressada e Dallas viu que, pelo modo relaxado com que se portava, a avó ainda não ficou sabendo das novidades. Dallas também não contou, não até estarem no carro, com as malas guardadas e a gaiola de Osíris descansando no banco do carona, ao lado de Monty. — Dallas? Como foi este ano de escola? — o olhar de Dallas encontrou o de Montgomery no retrovisor. De todos na mansão Winford, somente Amélia e Monty sabiam sobre o seu segredo mágico, mas somente Amélia entenderia o peso do que ela diria naquele momento. 

— Meu ano na escola? Foi perfeito… Até recebermos a maravilhosa notícia de que Voldemort voltou. — e pronto, a temperatura dentro do carro pareceu cair alguns graus após as suas palavras e o rosto bonito de Amélia ficou pálido como um lençol de linho.

— Como… é?! — a voz da mulher, sempre suave e aveludada, saiu aguda e grasnada.

— Voldemort voltou, grand-mère. — Dallas repetiu, com impaciência. — O mundo mágico está em guerra… De novo. 

 

oOo

 

Harry detestava férias, o que era estranho, porque nenhuma criança, ou adolescente normal, detestava férias. O desprezo geralmente estava dedicado a escola. Mas Harry detestava férias, desde antes de entrar em Hogwarts. Férias significava passar mais tempo na companhia desagradável dos Dursley e, depois de Hogwarts, significava ser lembrado da vida miserável que viveu por toda a sua infância. Essas férias, particularmente, estavam sendo tão ruins quanto as que teve antes de seu segundo ano. Hermione e Ron escreviam, ainda mandavam presentes em forma de comida e entretenimento, mas quando Harry retornava agradecendo e perguntando o que eles estavam fazendo, as respostas eram vagas ou não havia resposta alguma. 

Além do mistério que envolvia as cartas de Hermione e Ron, ainda havia o fato de que ele não podia mais escrever para Dallas. E por tudo que era mais sagrado, a sua mão comichava e o seu corpo tremia de vontade de escrever para Dallas. Dizer bobagens, piadas sem graça, perguntar sobre dever de casa, qualquer futilidade para saber que ainda tinha um espectro de atenção que fosse da garota. Mas a despedida deles no Baile de Inverno foi definitiva e acertada. Harry não sabia que Voldemort planejava retornar, mas sempre soube que ele iria retornar, os encontros com o bruxo no primeiro e segundo ano foram uma preview aterrorizante do fato. Ron e Hermione tinham proteção, da família Weasley,  Harry e Dumbledore, simplesmente porque eles eram os seus melhores amigos. Mas Dallas? Dallas era uma sonserina de má fama só porque foi sorteada para aquela casa. Ninguém verdadeiramente a conhecia naquela escola, mas a desconsideravam e falavam mal dela só porque andava com Malfoy e a sua trupe. Dallas nunca arrumou briga com os colegas das outras casas, mas isto não os impediu de já ostracizá-la baseando o seu desprezo em pré-conceitos sobre a Sonserina. Dumbledore e os professores e os Weasley não iriam estender a proteção deles à garota, mal a conheciam ou sabiam quem ela era. Afastar-se dela foi o mais acertado. 

Mas doía. Incrivelmente. Doía de forma a lhe tirar o ar dos pulmões e pesar os seus membros. Harry não podia escrever para Dallas então a única coisa que lhe sobrava eram revistas e jornais que ele folheava todos os dias, na banca ao final da rua, para descobrir uma nota de rodapé que fosse sobre a família Winford. Até que em um belo dia ele encontrou uma propaganda de duas páginas, no centro de uma revista de fofocas, com a foto de Dallas. Era a propaganda de uma marca de roupa e ela estava absolutamente estonteante embora usasse peças simples. Harry comprou a revista no ato, usando os galeões convertidos em libras e que sempre guardava para uma eventual emergência. Esta era uma emergência. A revista? Ele teve que praticamente contrabandeá-la para dentro da casa dos Dursley. Se os seus tios o pegassem com ela, a zombaria não teria fim. Se Dudley o pegasse com ela? Nem queria pensar no assunto.

A foto de Dallas, séria e em pose de modelo, no centro da revista, era o seu único bálsamo naquelas férias sem nenhuma notícia. Voldemort tinha voltado, então por que ele não estava sabendo de nada? Onde estavam os ataques? Por que ele ainda estava morando com os Dursley? Isto não o tornava vulnerável? Mais os pesadelos com o bruxo que estavam ficando mais intensos. Foi por isso que, carregado de tensão e raiva que Harry cedeu as provocações de Dudley, que não chegou nem a uma briga porque Dementadores surgiram na Rua dos Alfeneiros e atacaram ambos.

Harry detestava férias, ainda mais quando depois do ataque ele recebeu uma avalanche de carta informando que ele havia sido expulso de Hogwarts, para o deleite de Petúnia. Mas a felicidade de sua tia não durou mundo, não depois de um misterioso berrador que gritou palavras ainda mais misteriosas para a mulher, mas que foi o suficiente para ela declarar que Harry não seria expulso de casa. A audiência no Ministério foi tão desagradável quanto o ataque dos Dementadores. Desde quando um simples caso de uso indevido de magia fora de Hogwarts merecia uma audiência com o próprio Ministro? Ainda mais uso de magia em defesa própria. Harry não era bom em decorar regras, tinha Hermione para isto, mas ele lembrava que uso de magia por menor de idade fora da escola era aceito se fosse em um caso de vida ou morte. Ele foi atacado por Dementadores, que apareceram em uma rua trouxa, em um bairro trouxa, então isto era caso de vida ou morte. Por que o Ministério não estava investigando isto? A saída dos Dementadores de Azkaban. Por que eles estavam se preocupando com Harry?

Felizmente a defesa de Dumbledore, que pôs voz a todas essas dúvidas que reverberavam na cabeça de Harry, foi o suficiente para reverter a ordem de expulsão e ele foi permitido retornar à Hogwarts para o quinto ano. Harry quis agradecer ao diretor novamente pela ajuda, mas o homem desapareceu tão rápido quanto apareceu e à ele só restou retornar as suas férias miseráveis na Rua dos Alfeneiros, onde ele não ficou por mais tempo pois Lupin, Tonks e o verdadeiro professor Moody apareceram para resgatá-lo e levá-lo para a sede da Ordem da Fênix, um grupo de resistência contra Voldemort e que ficava sediado na antiga casa da família de Sirius. Uma mansão velha, de interior macabro e muito desagradável de se viver, apesar dos esforços da sra. Weasley de tornar o local habitável. Mas foi ali que Sirius passou toda a sua infância e adolescência, ali estava a história de seu padrinho, um homem que ele conhecia tão pouco mas que estimava tanto. 

— Ah! A velha tapeçaria da Casa dos Black. — Sirius disse a porta da sala onde Harry curiosamente entrou quando viu o estranho papel de parede que cobria um lado da sala inteiro. Nele havia fotos e nomes ligados por troncos de uma árvore que estendia-se para todos os lados. — Todos os nascimentos e mortes são registrados aqui. Claro que há alguns desvios na longa linhagem que fez a minha mãe arrancá-los da árvore com ardor. — Sirius apontou para alguns pontos queimados na tapeçaria. — Huh, ela tirou Andrômeda. Pena, era a única irmã decente daquele trio. — ele apontou para a parte da árvore onde tinha Andrômeda. — Ela se casou com um trouxa. O pai da Tonks. 

— Você e Tonks são parentes? — Sirius riu aquela risada que lembrava um latido.

— Muitas das famílias sangue-puro são parentes. Nós não costumávamos nos misturar. Algumas quebraram a tradição ao longo dos anos ao perceber que o isolamento estava causando uma queda nos nascimentos dentro da comunidade. Quando elas quebraram a tradição, deixaram de ser consideradas verdadeiros sangue-puros. No fim, sobraram apenas 28 famílias que permaneceram com regra tão rígida de procriação. Os Black é uma delas. Sem envolvimentos com nenhum trouxa ou nascido trouxa, até que Andrômeda resolveu ser a ovelha negra da família. Sem trocadilhos. — ele brincou e o seu olhar e as pontas dos dedos ossudos percorreram a árvore. — Oh! — Sirius parou ao chegar em um dos nomes. — Narcissa, Narcissa. — ele deu um sorriso maldoso ao dizer o nome. — O que você andou aprontando?

— Narcissa? De Narcissa Malfoy? — Harry aproximou-se e parou ao lado do padrinho, para ver o que ele via. 

— Sim. Aqui. — Sirius bateu com os nós dos dedos na parte da árvore da família que continha os Malfoy. — Casar com trouxas e nascidos trouxas é blasfêmia dentro desta família. Ter filhos bastardos, não. — e Harry viu o que interessou tanto o padrinho. Sob o nome de Narcissa Malfoy estendia-se um ramo que conectava-se a outro nome:

Dallas G. Winford, Outubro 31, 1981 ~

Não havia um outro nome conectado ao de Narcissa, indicando quem era o pai da criança, mas Sirius explicou esta ausência logo em seguida.

— O pai deve ser trouxa, trouxas não entram na tapeçaria. — ele indicou o nome de Andrômeda ligado ao de Tonks, mas sem nenhum marido conectado à ela. — Minha mãe morreu no meu último ano de Hogwarts, isto explica a ausência de queimaduras na tapeçaria onde tem o nome de Narcissa. — Sirius comentou com divertimento, virando-se para Harry, mas este não compartilhou de sua piada, ao contrário, estava pálido, com os olhos largos e lábios crispados. — Harry? Harry? — Sirius chamou ao ver o estado do afilhado, e Harry o ignorou, preocupado demais com esta nova descoberta para dar a devida atenção ao homem ao seu lado.

Dallas era filha de Narcissa. Era irmã de Draco, era uma Black.

Será que ela sabia disto? E então ele lembrou-se da súbita mudança no relacionamento da garota com Malfoy, do aparecimento de Narcissa naquela floresta na Copa Mundial de Quadribol. Por que a sra. Malfoy não apareceria? Por que não resgataria a própria filha? Por que Dallas não andaria com o irmão?

— Harry? Está tudo bem? — a mão de Sirius pesou em seu ombro, mas ele não sabia realmente responder se estava bem. A revelação mudava muitas coisas dentro da mente e do coração de Harry. Se antes ele achava que não era digno de Dallas, agora ele tinha certeza. 

Sirius observou o afilhado sair da sala apressado e retornou sua atenção para a árvore da família, para o nome da pessoa que fez Harry ficar daquele jeito. Curioso, como sempre foi desde criança, e determinado, ele procurou aqueles que poderiam lhe oferecer respostas sobre esta situação. Ron e Hermione estavam na sala de estar, entretidos com os seus próprios afazeres. Quando Sirius aproximou-se dos dois, eles largaram o que os entretia em favor de dar-lhes atenção. 

— Quem é Dallas Winford? — Sirius perguntou sem muitas delongas. O nome afetou o seu afilhado, mais do que deveria, e os olhares que Ron e Hermione trocaram apenas cimentou a ideia de que esta garota possuía grande importância na vida de Harry. 

— Dallas Winford é filha de Albert Winford, um empresário britânico, muito, muito rico e famoso por suas puladas de cerca. Dallas é o resultado de uma dessas puladas. — Hermione explicou. — Foi um escândalo na época. Os Winford são poderosos e tradicionais, como os Malfoy… — ela olhou a mansão ao seu redor e tudo o que aprendeu sobre ela e sobre esta família nos últimos dias. — correção. Tão tradicionais quanto os Black. 

— Os Winford são trouxas? — porque Sirius nunca ouviu falar de uma família bruxa com este nome. Hermione e Ron assentiram. Sirius acomodou-se no sofá ao lado de Ron e fez um gesto com a mão para Hermione continuar com a história. 

— Dallas foi criada dentro do bom e do melhor que o dinheiro dos Winford pode oferecer. As melhores escolas, a melhor educação, as melhores roupas, mas isto não foi o suficiente para tirar dela o estigma de filha bastarda. Dallas pode ser uma Winford, mas a origem dela a marginaliza dentro do próprio círculo social em que ela cresceu. A mãe dela sempre foi uma incógnita para o mundo trouxa.

— Por que o mundo trouxa preocuparia-se em saber quem é a mãe dela? — Sirius perguntou.

— Os Winford são ricos, poderosos e influentes. Possuem parentesco na realeza e alguns títulos de nobreza nos ombros de seus antepassados. Os trouxas adoram fofocas e saber da vida de pessoas assim. Ele são famosos, por isso sempre o foco da atenção. 

— E qual é a relação dessa menina com Harry? — novamente Ron e Hermione trocaram olhares e foi a vez de Ron responder. 

— Nós não sabemos. O relacionamento deles é estranho. Há intimidade e proximidade e, ao mesmo tempo, não. Harry e Dallas possuem uma conexão quase sobrenatural… — Sirius observou que Hermione desviou o olhar diante das palavras de Ron.

— Hermione, você está sabendo de alguma coisa? — ele perguntou e a garota hesitou por um segundo antes de responder.

— Dallas é uma Veela. 

— Impossível. — Sirius retrucou. — Veelas são criaturas mágicas, mas não possuem a mesma magia de um bruxo. Dallas nunca entraria em Hogwarts como aluna se fosse uma Veela. Porque eu presumo que seja daí que Harry a conheça.

— Sim, mas Dallas não é uma Veela pura. Amélia Winford, a avó de Dallas, sim. Eu procurei algumas fotos dela, algumas histórias, procurei até onde pude porque no nosso terceiro ano, depois de Harry, Dallas era a que reagia de forma mais violenta na presença de Dementadores e então professor Lupin comentou algo sobre a espécie dela não lidar bem com criaturas das trevas...

— E daí você chegou a conclusão de que ela é uma Veela? — Ron comentou abismado. 

— Não existe uma bibliografia extensa sobre Veelas, mas o pouco que existe fez todos os sinais baterem. Em nosso segundo ano ela duelou contra Patrick Gordon e com uma única ordem, o fez parar no meio do ataque. No terceiro ano ela cantou para Bicuço, o acalmando. Eu ouvi buxixos de alguns sonserinos sobre umas brigas dela com Malfoy, e existem algumas histórias de brigas dela com os gêmeos Winford, irmãos dela por parte de pai. Veelas são muito temperamentais. Sem contar que Dallas é muito inteligente, bem mais inteligente do que eu. Veelas são gênios naturais. Não é uma regra, mas é bem comum entre a espécie. E ela é muito, muito bonita. Ela tem todas as características de uma Veela, exceto a manipulação do fogo. 

— Faz sentido. Se a avó dela é uma Veela pura e casou com um trouxa, Dallas é a segunda geração de Veela dentro da família. A segunda geração sempre herda todos os poderes de uma Veela pura, com exceção da manipulação do fogo a transformação em harpia. — Sirius comentou. 

— E se ela tem poderes bruxos, a mãe dela é uma bruxa, por isso que os trouxas nunca descobriram a identidade dela. — Hermione completou.

— Ainda sim, no que Winford ser uma Veela tem a ver com Harry? — Ron comentou, exasperado, e Hermione rolou os olhos para ele. O amigo vinha de uma família sangue puro, mas possuía um sério déficit de conhecimento sobre a própria história e povo. 

— Existe uma história sobre Veelas possuírem parceiros predestinados. — Hermione explicou e Ron soltou um bufo de escárnio.

— Hermione, essas histórias não passam de romances piegas escritos para bruxas carentes. Não são reais. — Hermione lançou ao garoto um olhar venenoso diante do pouco caso dele. 

— Ainda sim, Veelas automaticamente buscam parceiros poderosos para se conectarem. É um instinto básico de qualquer espécie, garante a sobrevivência da prole. Harry pode ter sobrevivido a Você-Sabe-Quem graças ao sacrifício de Lily Potter, mas isto não muda o fato de que ele é um bruxo poderoso. Magia pode agir como um feromônio de acasalamento para atrair um parceiro à altura. 

— Ew! — Ron torceu o rosto em uma expressão de nojo. — Está dizendo que Harry quer acasalar com Dallas? — Hermione rolou novamente os olhos diante da infantilidade do garoto. Sirius riu. 

— Não, Ron. — ele respondeu. — O que Hermione quis dizer é que a Veela dentro de Dallas reconheceu em Harry um parceiro em potencial, para conectar-se em todas as esferas de um relacionamento. Ou seja, emocionalmente e sexualmente. 

— Sim. Mas é aí que está o problema. — Hermione continuou. — Dallas ainda está amadurecendo como bruxa, como Veela, como mulher, ela deveria estar considerando vários parceiros, não apenas o Harry. — o divertimento de Sirius sumiu imediatamente diante do que as palavras de Hermione implicavam. 

— Mas ela já escolheu o Harry e ninguém mais. 

— Sim. E Harry a escolheu de volta. E o mais irritante é que nenhum dos dois têm ciência disto. — Sirius deu um relance para o teto que dividia o primeiro andar do segundo andar da casa, como se pudesse ver Harry através do gesso e da laje. 

— Eu vou ter em minhas mãos um adolescente deprimido por todo o verão, não vou? — Sirius comentou com uma mistura de graça e sofrimento. Hermione riu. 

— Yep! Bem vindo a paternidade.


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