Entre Extremos escrita por Bella P


Capítulo 17
Capítulo 16




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Draco cumpriu a ameaça quando a encurralou em um corredor a caminho das masmorras. Dallas só sentiu alguém puxá-la e então as suas costas bateram contra a pedra gelada da parede e o impacto arrancou-lhe o ar dos pulmões. Crabbe e Goyle flanqueavam Draco como os bons lacaios que eram, mas a expressão deles mostrava conflito puro. Dallas ainda era uma sonserina e uma garota e mesmo com QIs reduzidos, ambos os meninos ainda tinham alguma moral. Draco, no entanto, não importava-se com nada disto porque a humilhação que sofreu por causa dela era maior do que qualquer conflito moral. Dallas engoliu um grunhido por causa do impacto e por causa do aperto de Draco em seus braços. Ela tinha a certeza quê, pela forma com que os dedos dele a apertavam, que os mesmos deixariam marcas roxas em sua pele. Os olhos cinzentos brilhavam de pura fúria e somente agora ela percebeu que o menino havia crescido consideravelmente no último verão. O cabelo não estava mais jogado para trás, preso com uma camada generosa de gel, e o rosto estava menos redondo e mais pontiagudo. 

— O que você pensa que está fazendo? — Draco vociferou e em uma demonstração de poder, espalmou a mão com força na parede, ao lado do rosto de Dallas, que nem ao menos tremeu no lugar, o que o irritou mais ainda. Esta menina era um mistério e uma pedra em seu sapato. Dallas não abaixava a cabeça para a sua superioridade como sangue-puro e como Malfoy, como os colegas de ano deles faziam, não seguia a sua liderança e sempre questionava toda e qualquer pequena atitude dele, sempre o provocava e o contradizia, mas enquanto a rebeldia dela ficava confinada as paredes da sala comunal da Sonserina, estava tudo bem. Mas hoje? Hoje foi a gota d’água. Ela o humilhou em público, na frente de seus colegas, de grifinórios, e estava na hora dela saber quem mandava nesta história. 

Usar intimidação era uma tática antiga empregada pelos Malfoy. A família não chegou onde estava somente graças ao dinheiro e a linhagem de sangue-puros, havia muita coisa negra e sórdida por detrás da ascensão deles ao status dos Sagrados Vinte e Oito e não deixaria uma mestiça com traços de sangue-ruim arruinar a bem construída imagem da família com a sua ousadia.
— Colocando bom senso em sua cabeça oca. Eu sei que você é loiro, Malfoy, mas não precisa encaixar-se tanto assim nos estereótipos. — Draco sentiu o sangue ferver diante da petulância dela. Crabbe e Goyle eram sombras fiéis às suas costas, mas nem mesmo a presença imponente deles fazia a menina abaixar aquele nariz empinado. 

— Você faz ideia do que significa ser um Malfoy? — dane-se o que o seu pai tinha pedido, Draco não iria manter a diplomacia com aquela garota. Dallas passou os braços por entre os de Draco e o gesto brusco e violento o forçou a se afastar. 

— Você faz ideia do que significa ser uma Winford? — ela respondeu em um tom gélido. — Faz ideia do que é ser uma bastarda dentro da linhagem dos Winford? Meninos como você, mimados e que acham que o mundo deveria girar ao redor do seu umbigo, que não sabem levar um não e ofendem-se por qualquer coisa, eu já encontrei aos montes. Eu convivo com um ao qual eu tenho o imenso desprazer de chamar de irmão. O seu escândalo e as suas ameaças são vazias, Malfoy, porque elas são da boca para fora. Garotos como você não tem culhões para fazer nada por conta própria, porque estão sempre escondendo-se sob a barra da saia da mamãe ou sob a influência do papai. E sabe o que acontece com meninos como você, no futuro? — ela continuou com desdém e crueldade e cada palavra saída da boca dela era uma facada no orgulho de Draco, era uma ferida que ela abria em sua insegurança muito mal escondida sob a sua máscara de arrogância. — Quando a vida real aparece para te dar um alô, vocês não aguentam o tranco e acabam desmoronando no primeiro tapa de realidade. — ela finalizou com uma cutucada dolorida bem sobre o esterno de Draco. — Então não me ameace de novo, Malfoy. Nunca mais! Estamos entendidos? 

Draco hesitou na resposta. O tom dela era firme e exigia por concordância, mas ele recusava-se a ceder tão facilmente e por isto somente se afastou e deu as costas para ela com um farfalhar de suas vestes escolares. Crabbe e Goyle hesitaram por um segundo antes de seguirem o colega e sumirem em uma esquina formada pelo cruzamento de dois corredores. 

Dizer que as coisas ficaram tensas após o confronto entre Dallas e Draco em um dos corredores da masmorra era diminuir a gravidade da situação. Uma nova Guerra Fria estava sendo encenada dentro da Sonserina, sem lados definidos, e envolvia somente os alunos do terceiro ano para baixo. Draco poderia considerar-se influente por causa do nome de sua família, mas nenhum aluno mais velho iria sujeitar-se a dar ouvidos a um pirralho. Pansy e Millicent o apoiavam em sua nova empreitada de transformar a vida de Dallas em um inferno, Pansy principalmente visto que desenvolveu uma paixonite por Draco. Zabini não vivia nesta realidade, porque para ele nada e nem ninguém valia o esforço e era considerado inferior à ele. Crabbe e Goyle, como sempre, pulavam como cães fiéis a cada ordem de Draco e Theodore Nott era um sádico que gostava de ver o circo pegar fogo e ainda ajudava a derrubar gasolina nas chamas. Vez ele estava do lado de Draco, vez ele estava do lado de Dallas. A única que apoiava Dallas era Daphne porque a mesma estava sendo alvo das piadas grosseiras e constantes dos sonserinos por causa da ida de Astoria para a Lufa-Lufa. 

Draco era um moleque mimado e com o orgulho ferido e moleques mimados sabiam ser cruéis quando queriam. E Draco era um moleque mimado, com o orgulho ferido, inteligente, criativo e com dinheiro, então ficar sempre alerta tornara-se uma constante na vida de Dallas nas últimas semanas. Ela sempre tinha que verificar a sua cama e os seus pertences cada vez que ia usá-los, porque esses sempre eram alvos das piadinhas maldosas de Draco, e olhar por sobre o ombro a cada minuto e verificar cada esquina e novo corredor que fosse entrar, para não correr o risco de ser atingida por um feitiço errante. Somado à isto ainda havia a situação dos Dementadores que estavam inquietos porque Sirius Black aparentemente foi avistado por um trouxa, perto de Hogsmeade. A soma de todo estes fatores estavam acabando com os nervos de Dallas então, quando a sua poção explodiu em sua cara, graças a uma bombinha arremessada por Draco dentro de seu caldeirão, a menina não soube como reagir. De um lado havia uma vontade imensa de chorar e de outro lado a vontade que tinha era de bater com a cabeça de Draco na mesa até abrir o crânio dele. No fim, Dallas optou em recolher as suas coisas e deixar sala, pouco se importando de que iria ganhar outra detenção de Snape. Essas estavam tornando-se rotina neste ano escolar. 

Dallas abriu a porta da primeira sala vazia que encontrou com um estrondo, arremessou a mochila para um lado e os livros e caderno para o outro, retirou com gestos bruscos a capa do uniforme e afrouxou com dedos trêmulos a gravata verde e prata. Esta estava a sufocando e ela não conseguia tragar ar o suficiente para os seus pulmões com aquela coisa a esganando. As suas mãos tremiam, ela sentia frio e tentou em vão acender com a varinha a lareira da sala, mas o feitiço não saía, ela não lembrava do feitiço. Por que diabos ela não lembrava do feitiço? Além da janela fosca o tempo estava fechando em o que prometia ser uma tempestade, escurecendo tudo em volta da escola e ela podia jurar que conseguiu ver os Dementadores ao longe, pequenos pontos negros flutuando ao redor da propriedade. As lágrimas desceram pelas suas bochechas e ela odiou-se por isto. A última vez em que chorou por causa de algum idiota que estava arruinando a sua vida ela tinha uns oito anos, depois disto aprendeu que não valia a pena desperdiçar lágrimas com quem não merecia, mas os seus nervos já estavam à flor da pele e o imbecil do Draco não ajudou em nada com as suas atitudes infantis. 

E ela sentia frio e não lembrava da porcaria do feitiço para acender a lareira. 

— Merda! — xingou com pura raiva e uma cadeira voou contra a parede, despedaçando-se diante do choque entre madeira e pedra. A lareira subitamente acendeu e então braços a envolveram pelas costas, contendo o seu corpo trêmulo e o trazendo contra outro morno e acolhedor. Dallas não precisou olhar por cima do ombro para ver quem a abraçava, porque ela reconhecia aquele toque, mesmo de costas e olhos fechados ela reconhecia as mãos de Potter sobre as suas, envolvendo os seus dedos gelados entre os dele, a apertando contra o peito dele, a envolvendo com o seu corpo e formando um casulo protetor ao redor dela com este. 

— Shhh. — ele murmurou ao pé de seu ouvido e Dallas percebeu que a voz dele era rouca e agradável de se ouvir, diferente do tom arrastado que Draco usava e que sempre a irritava. Dallas soluçou uma, duas, três vezes e então girou dentro do círculo formado pelos braços de Potter, o envolveu pelo pescoço e o apertou em um abraço, escondendo o rosto na curva do pescoço dele com o ombro. Sentiu os braços dele a apertarem de volta pela cintura e manterem-se ali por um bom tempo.

Os dedos de Potter deslizaram pelo cabelo dela, penteando as mechas castanhas em um gesto suave e carinhoso, em um gesto de consolo que foi relaxando Dallas pouco a pouco e secando as lágrimas dela a cada minuto que passava. Quando sentiu-se sobre o controle de suas emoções, ela soltou-se de Potter e recuou um passo. 

— Eu posso quebrar a cara do Malfoy, se você quiser. — Dallas riu, com as bochechas geladas pelas lágrimas que terminavam de secar sobre elas. 

— Entra na fila. — um minuto de silêncio passou entre os dois. 

— Você está bem? — o grifinório perguntou e Dallas finalmente mirou o rosto dele, a genuína preocupação nos olhos verdes, as sobrancelhas franzidas e os braços dele estenderam-se a meio caminho do corpo dela, na intenção de tocá-la de novo, mas Potter mudou de ideia e os deixou cair em repouso ao lado de seu corpo. — Eu tenho uma coisa para você. — ele recolheu a mochila que largou no chão assim que entrou às pressas na sala e depois de revirá-la retirou de lá de dentro uma caixinha, a qual estendeu para Dallas. 

— O que é isto? — ela perguntou enquanto recolhia a caixa e Potter corou. 

— Feliz aniversário. — ele desejou e Dallas por um momento tinha esquecido deste detalhe. Quer dizer, no correio da manhã ela recebeu o usual presente de sua mãe misteriosa, um par de luvas para montaria com as suas iniciais bordadas em fios de ouro, mas o dia horrível que seguiu depois do café-da-manhã a fez esquecer este detalhe. 

— Onde você conseguiu isto? — Dallas perguntou quando abriu o embrulho e retirou de dentro deste uma pulseira de prata com um berloque em formato de cavalo. Os olhos do animal eram duas minúsculas pedras ametistas e quando prendeu a joia no pulso, as pequenas pedras emitiram um suave brilho que percorreu o braço de Dallas até desaparecer sob o colarinho de sua camisa. 

— Hogsmeade. Hermione me ajudou a colocar alguns encantos de proteção nele. Não é grande coisa, mas deve ajudar com os Dementadores… Espero. — Dallas sentia-se estranhamente tocada diante do gesto e absurdamente confusa. 

— Pensei que você não tivesse autorização para ir a Hogsmeade. — ela havia escutado sobre um incidente envolvendo Draco, Granger, Weasley e a Casa dos Gritos, mas não viu Potter em nenhum momento andando pelo vilarejo durante a visita deles, até que ouviu dos burburinhos que costumavam correr Hogwarts que o garoto não obteve autorização de seus guardiões para visitar Hogsmeade. Potter ficou em silêncio, evitando se explicar ou se denunciar, e Dallas achou melhor não saber mesmo como ele conseguiu a peça, por segurança. 

— Eu não sei porque os Dementadores te afetam, e não vou pedir que você me explique se ainda não está pronta, mas achei que seria uma boa ideia ter uma defesa extra contra eles.

— Se é uma defesa contra os Dementadores, por que você não tem um? — porque Dallas notou que não havia joia alguma visível no corpo dele. Potter corou novamente. 

— Hermione explicou que feitiços de proteção precisam ser executados por terceiros porque quanto maior for a intenção de proteger da pessoa, mais forte será o feitiço. E, segundo ela, eu não tenho nenhum senso de auto-preservação, então seria um esforço inútil. — Dallas riu por um segundo antes de dizer:

— Obrigada, Potter, foi muito gentil. — falou com sinceridade e com um girar de varinha convocou o seu material, mochila e vestes abandonados e recolheu tudo em seus braços. Dallas deu um passo na direção da porta, na intenção de partir, hesitou um segundo e virou-se para Potter, o pegando de surpresa ao estalar um beijo na bochecha dele. 

— Pensei que os beijos fossem somente para quando eu retornasse intacto de batalhas. 

— Considere este um brinde pelo seu ato de heroísmo hoje. 

— Mas eu não fiz nada. — ele disse, verdadeiramente confuso, e Dallas sorriu. 

— Você fez mais do que imagina, Potter. Obrigada. — declarou e deixou a sala, ainda sorrindo. 


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