Entre Extremos escrita por Bella P


Capítulo 13
Capítulo 12




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— Por que a senhora nunca me disse que era um Veela? — foi a primeira coisa a sair da boca de Dallas quando ela entrou na sala de estudos da Mansão Winford. Monty havia ido buscá-la na King’s Cross e assim que pôs os pés dentro da mansão ancestral, a primeira coisa que Dallas fez foi procurar por Amélia e quando a encontrou, jogou-se na cadeira oposta à mulher e soltou aquela pergunta.

Amélia calmamente abaixou o livro que lia e usou uma pétala seca de rosa para marcar a página e, com a elegância que lhe era característica, levantou-se, aprumou-se e foi até Dallas, lhe dando um tapa estalado em um dos joelhos antes de soltar a ordem:

— Sente-se como gente! Você é uma pessoa, não um cão com artrite para largar-se desta maneira sobre a cadeira. — rapidamente Dallas endireitou-se, costas eretas, joelhos juntos, tornozelos cruzados e mãos repousadas sobre as coxas. Satisfeita, Amélia retornou para a sua poltrona e assumiu postura semelhante da neta ao sentar-se, com a diferença que os seus braços estavam descansando sobre o apoio de braços. 

— Saber que a senhora é uma Veela explica tanta coisa. Por que não me disse? Eu tive que descobrir após um incidente na escola. 

— Eu sei. O seu professor de Poções entrou em contato, informando-me do ocorrido. 

— Por que então… — Amélia ergueu uma mão, pedindo silêncio. 

— Veelas não cruzam com trouxas. Não há registros do fato e, portanto, eu não fazia ideia do que esperar. Você apresentou alguns comportamentos característicos da espécie? Sim. Isto significava que você herdaria os meus genes Veela? Não. Além do mais, eu estou afastada da comunidade mágica há anos, não sei que evoluções ocorreram, que estudos foram feitos, se há relatos novos de Veelas unindo-se a trouxas e se a prole delas herdam características Veela. Além do mais, havia o seu lado mágico para considerar. 

— Isto é outra coisa! — Dallas soltou de forma inflamada. — A senhora mentiu. — Amélia estreitou os olhos em desagrado diante da acusação. — Não faça essa cara para mim grand-mère, a senhora mentiu. A senhora me disse que tinha conhecimento de Hogwarts por causa da minha mãe, sabia que eu era uma bruxa, por causa da minha mãe, quando todo este tempo este conhecimento venho da senhora. Eu deveria ter desconfiado, a senhora parecia muito confortável no Beco Diagonal na primeira vez em que fomos lá, sabia onde ir e o que fazer. Muito conhecimento para alguém que tecnicamente só teve contato com a minha mãe quando soube da minha existência.

— E você teria acreditado em mim? — Amélia disse tranquilamente, recostando na poltrona. 

— O quê?

— Você foi criada como uma trouxa, sob a crença de que magia é coisa de contos de fadas. Teria acreditado em mim se eu tivesse contado a verdade sem ter provas para oferecer? Como eu disse, estou há anos afastada da comunidade mágica, então eu não tinha nada o que usar para corroborar as minhas palavras e expor o meu lado Veela não surtiria efeito visto que até entrar no mundo mágico você não fazia ideia do que era uma Veela. Então, você teria acreditado em mim, sem provas? — a verdade era que não, Dallas não teria acreditado em Amélia. Sempre foi uma garota cética, do tipo ver para crer, e sempre considerou os incidentes estranhos causados por magia somente isto, incidentes estranhos que teriam uma explicação plausível se parasse para pensar nisto. 

— Não. — Dallas disse com um muxoxo e também recostou-se na poltrona, imitando a postura de Amélia. — Bem, agora que a Veela está fora da caixinha, como faço para controlá-la? Medir palavras não é bem o meu forte grand-mère, e eu deixei de mandar muita gente ir pastar em Hogwarts com medo de que eles fossem realmente ir pastar nos gramados da escola. — Amélia arqueou uma sobrancelha bem feita para Dallas, mas não comentou as palavras dela. 

— Não há como eu te ensinar. Você tem que prestar atenção na entonação que usa, em que momento, em que cenário, motivado porque emoção. O Encanto das Veelas tem um gatilho diferenciado para cada Veela e você tem que descobrir o seu. 

— Hum. E quanto ao cabelo? 

— O quê? — havia um suave tom de surpresa na voz de Amélia, o que era raro. Ninguém conseguia surpreender tão facilmente a matriarca dos Winford. 

— Dizem que se um fio de cabelo de Veela for arrancado da cabeça dela, ela murcha e morre. — a cara que Amélia fez foi resposta o suficiente para Dallas. Aquele fato era lenda, das mais ridículas existentes. 

— Criamos essa história para que parassem de pedir pelos nossos cabelos para poções ou varinhas. Veelas são criaturas vaidosas e o nosso cabelo é o nosso xodó.

— Transformar-se em harpias?

— Somente Veelas sangue-puro podem se transformar em harpias. E não, não é a criatura mitológica, é a ave, mais comumente conhecida como gavião-real. 

— Nunca ouvi falar. 

— Veelas são características da América do Sul, mas migraram para a Europa há alguns milênios. As Harpias da mitologia surgiram por causa de nós, mais especificamente por causa de trouxas que nos viram em meio a transformação ave-humano e acreditaram que éramos verdadeiramente assim.

— Bolas de fogo?

— Controlamos o elemento fogo, não geramos fogo. 

— Eu vou poder controlar o fogo? — Dallas perguntou com os olhos brilhando de excitação diante da possibilidade. 

— Pouco provável. Tal dom nunca manifestou-se em uma meia-veela mas, novamente, você é a mistura de três espécies diferentes, tudo é possível. — silêncio por um minuto, com Dallas contemplando o que tinha acabado de aprender até que uma nova pergunta surgiu em sua mente.

— A senhora sabe quem é a minha mãe, não sabe? — Amélia comprimiu os lábios, hesitou um pouco, até que por fim respondeu:

— Sim.

— Ela não é uma empregada que trabalhou temporariamente para os Winford, quando moramos na França. 

— Não. 

— Quem é ela? — novamente os lábios comprimidos e a hesitação. 

— A sua mãe irá se revelar quando ela assim achar melhor. Mas como você chegou a conclusão de que ela não era uma empregada?

— Eu recebi dois presentes nos meus últimos dois aniversários e nenhum deles tem aparência de barato e tenho quase certeza que um deles é relíquia de família. Minha mãe sabe que eu estou em Hogwarts, sabe exatamente quem eu sou e como estou, mas não se apresenta. 

— Eu já falei…

— Ela irá se revelar quando assim ela achar melhor. — Dallas repetiu e espalmou as mãos sobre o descanso de braço da poltrona, tomou impulso e pôs-se de pé. — Boa noite grand-mère

— Não irá jantar? 

— Estou sem fome. — informou e deixou a sala de estudos mais desanimada do que quando chegou lá. 



oOo



Harry arrependeu-se da carta no segundo seguinte em que soltou Edwiges no céu de fim de tarde, mas agora nada mais poderia fazer. O endereço ele havia conseguido em uma das dezenas de revistas velhas de fofoca de sua tia Petúnia, assim como algumas fotos que ele recortou e escondeu nos bolsos de seus jeans, com a culpa de alguém que cometeu algum crime hediondo. Mas a carta, esta foi um arroubo de coragem misturado a loucura. 

Tudo começou quando ao vasculhar uma caixa empoeirada com pertences antigos seus, Harry encontrou alguns brinquedos que herdou de Duda e, entre eles, um jogo de soldadinhos de chumbo. Ao girar entre os dedos um dos soldados em pose altiva, escorado em uma espingarda e com uma bandeira britânica presa na mochila em suas costas, Harry lembrou-se que aqueles poucos soldadinhos foram os únicos brinquedos que ele não herdou do primo, mas que sim ganhou de presente da velha sra. Figg em algum aniversário passado, tanto que as peças tinham as suas iniciais entalhadas sob a base. Harry ficou admirando o brinquedo em suas mãos por um bom tempo antes da ideia louca brotar em sua cabeça e ele embrulhar o soldadinho em uma folha de pergaminho, amarrar firmemente com um barbante e escrever um curto bilhete, para então entregar tudo para Edwiges e observar a coruja levantar voo e sumir no horizonte. 

Lembre-se do nosso acordo. H.P.” Era o que dizia o bilhete endereçado para Dallas Winford, Mansão Winford, Estrada Spaniards, 35, Hampstead, Londres. 

Por uma hora ele ficou questionando as suas escolhas de vida e com o estômago embrulhado, até que Edwiges entrou em seu quarto com um rasante e pousou em seu joelho. A coruja tinha um pacote preso em uma das patas e com dedos trêmulos, Harry desamarrou a correspondência e a abriu com cuidado. Um lenço lilás de linho caiu em seu colo e bordado em branco, em uma das bordas deste, havia as iniciais D.W. O lenço possuía um suave cheiro de perfume e o pergaminho no qual ele veio embrulhado tinha uma mensagem:

“Para você recordar-se de mim quando for novamente para o campo de batalha.” 

Harry riu. A situação era tão absurda que não havia como não rir e, ainda sim, ele guardou o lenço dentro de seu malão como o seu bem mais precioso e raro. 

A próxima carta que ele mandou foi uma pergunta sobre Poções. Harry lembrou que Dallas era uma das melhores alunas da classe e, diante da falta de assunto, resolveu perguntar sobre o dever de casa, o que ele considerou patético quando parou para pensar nisto. A resposta dela, no entanto, o fez rir mais uma vez. 

“Potter, pessoas sensatas procrastinam até o último momento. E a resposta está na página vinte e cinco.”

O vai e vem de cartas continuou durante as férias até que as 23:59 do dia trinta de Julho, Osíris pousou no parapeito da janela do quarto de Harry, sacudiu as asas para livrar-se da garoa noturna, e entrou no quarto exatamente a meia-noite, com a altivez que assemelhava-se a de sua dona. O coração de Harry acelerou dentro de seu peito, porque a presença da coruja ali, naquela data, tinha centenas, milhares de significados. Osíris largou o pacote em seu bico no chão em frente aos pés de Harry e voou até a gaiola de Edwiges para tomar um gole d'água. Harry recolheu o pacote e soltou com cuidado as fitas adesivas que prendiam a embalagem. O papel de presente era negro e com borrões em prata, era brilhante e a sua estampa lembrava a superfície de uma peça de mármore. O pacote era de tamanho mediano, quadrado e fundo e, quando o abriu, encontrou um walkman, fones de ouvido e duas fitas cassetes com uma listagem de músicas escrita a mão em seu encarte, mais um bilhete.

“Para auxiliar na procrastinação. Feliz aniversário, Potter.”

Harry sorriu e ergueu os olhos do presente para Osíris quando esta piou, chamando a sua atenção. Nos últimos dias, a rotina era que Edwiges enviava uma mensagem para Dallas e Osíris trazia a resposta para ele e então aguardava por uma resposta imediata de Harry, caso ele tivesse alguma. 

Harry arrancou uma folha de um de seus cadernos, onde escreveu poucas palavras de agradecimento e um post script:

“Se eu bombar em Poções, não hesitarei em colocar a culpa em você.” E entregou para Osíris que deixou o quarto no mesmo momento em que outras corujas adentraram o aposento, trazendo os presentes de aniversário enviados pelos seus amigos. 

Os presentes animaram Harry por tempo o suficiente para ele esquecer que tia Guida estava vindo passar alguns dias com eles mas, na manhã de seu aniversário, tio Válter chegou com a mulher e Harry viu o seu verão desmoronar com a presença desagradável de outro Dursley na sala, portanto não se sentiu nem um pouco culpado quando dias depois a transformou em balão, após Guida ter testado a sua paciência até o limite, e depois deixou a casa com o seu malão a tira colo.

Do outro lado de Londres, Dallas tinha acabado de arremessar Nicholas sobre uma mesa de tampo de vidro diante de um acesso de fúria. O garoto havia surgido do nada, enquanto Dallas relia pela décima vez a carta de Potter, e o pedaço de papel desapareceu tão rápido de sua mão que ela levou alguns segundos para entender o que tinha acontecido, e então Nicholas estava correndo pela mansão, gritando como um agouro e caçoando dela. Ao perceber o quanto Dallas dava valor àquela carta, ele ameaçou jogá-la na lareira acesa porque recentemente Londres andava mais fria que o usual. 

A reação de Dallas diante da ameaça foi tão rápida que tudo só foi registrado quando Nicholas já estava jogado entre cacos de vidro, que cortavam a sua pele a cada pequeno movimento dele, e um dos pedaços havia cravado no antebraço do garoto.

— Nicholas! — Dallas ofegou, com os olhos largos e a carta, a causa da discórdia, já esquecida no chão entre eles. — Desculpe-me… — ela aproximou-se para ajudá-lo, mas Nicholas deu um grito de pavor.

— NÃO TOQUE EM MIM! — Dallas recuou, aterrorizada diante do verdadeiro medo que viu no rosto do irmão. O som da mesa quebrando, mais o grito de Nicholas, chamou a atenção dos outros moradores da casa. Meredith e Clarisse foram as primeiras a chegarem na sala. Meredith soltou um grito agudo e correu para socorrer o filho mas Monty, que surgiu por outra porta naquele instante, a segurou. 

— Temos que tirá-lo dali com cuidado, para não agravar os ferimentos. — Montgomery explicou quando Meredith guinchou de pura indignação. 

Amélia apareceu na sala, seguida por Samantha, lançou um olhar para Nicholas caído e em seguida para Dallas que estava pálida, com os olhos largos e cobrindo a boca com ambas as mãos. 

— Ela me atacou! — Nicholas encontrou forças entre os soluços que dava para acusar Dallas. Meredith rosnou diante do que ouviu e deu um passo na direção de menina, na intenção de puni-la pelos seus atos, mas o olhar endurecido de Amélia sobre ela a congelou no lugar.

— Por quê? — a matriarca perguntou 

— Não há porquê, Amélia! — Meredith vociferou. — Eu sempre disse que essa bastarda era uma vergonha e um risco para nossa família e que deveríamos tê-la afogado no lago da propriedade assim que ela foi largada em nossa porta! — terminou de berrar,  com os olhos injetados de fúria e com trilha sonora de fundo os choramingos de Nicholas, que era cuidadosamente retirado por Montgomery de entre os cacos do tampo da mesa.

A lareira crepitou de forma perigosa e as chamas pareceram aumentar durante o discurso inflamado de Meredith. 

— Eu deveria ter afogado os seus filhos quando eles nasceram. — Amélia soltou com rispidez. — Vamos falar de bastardos, Meredith? Que tal começarmos pelos gêmeos?

— Os meus filhos são verdadeiros Winford! Você sabe disto! — Meredith retrucou, maldosa, e não estava de todo errada. A linhagem Winford vinha pela parte de Francis, e sendo filhos de Albert ou Francis, os gêmeos ainda eram Winford. Mas Dallas? Dallas era quem verdadeiramente honrava o nome que carregava, e Amélia não iria permitir tamanho insulto sob o seu teto. 

— Por que você o arremessou na mesa, Dallas? — Amélia perguntou mais uma vez, em um tom calmo. Dallas ainda estava pálida e com os olhos largos, chocada pelo que fez, e Amélia realizou os cálculos rapidamente em sua cabeça. Nicholas havia crescido consideravelmente nos últimos meses, estava maior do que Dallas, e mais pesado, e a forma como ele estava largado sobre os restos mortais da mesa implicava que ele não foi simplesmente empurrado contra o móvel, mas sim erguido do chão e então soltado com força contra o tampo, e foi isto que deixou ambos em choque. Dallas ainda era miúda para a idade, mas Amélia tinha a certeza de que era só uma questão de tempo para ela crescer e alcançar a altura padrão das Veelas, entre um metro e setenta a um metro e oitenta, e era franzina, o que a tornaria incapaz de erguer Nicholas, mas assim ela o fez. 

— Nicholas pegou a minha carta. — Dallas explicou, finalmente saindo do choque. — E ameaçou jogá-la no fogo. — os olhos de Amélia foram para a folha de papel no chão e em gestos lentos ela recolheu a página de caderno rabiscada e que tinha apenas uma simples mensagem:

“Vamos nos encontrar no Beco Diagonal? H.P.”

Dallas? Quem é H.P.? — porque Amélia desejava do fundo de sua alma que essas iniciais não fossem de quem ela achava que fosse. Dallas hesitou em responder e Amélia temeu pelo pior. 

— Harry Potter. — ela disse por fim e Amélia só conseguiu pensar: “merde”. 


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