Lena escrita por Rapha Jorge


Capítulo 5
V - Dezoito Invernos




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/787186/chapter/5

Milena ainda tentava esconder os rastros das lágrimas de ódio que saíram de seus olhos ao escutar o que Roger havia dito e ser beijada por ele_ O pior beijo que ela já havia recebido na vida_ quando os dois voltaram à imponente casa dos Castelo.

— Se divertiram?_ O pai de Roger perguntou, já se levantando para irem para casa.

— Sim, papai. Foi uma tarde excelente._ Ele olhou sorrindo para Milena, que tinha ódio e medo no olhar.

— Que excelente, meu filho! O melhor é que o pai da Milena estava me contando agora que amanhã ela completa 18 anos. Felicidades, menina!_ Ele a abraçou_ Amanhã você se torna uma mulher.

— Papai... Todos sabemos que não é assim que se torna mulher..._ Ele olhou para Milena maliciosamente_ Se bem que eu adoraria te transformar em mulher.

— Com licença, eu não me sinto bem._ Milena subiu correndo para seu quarto e se deitou na cama para chorar. Lá mesmo, ela dormiu.

...

— Feliz aniversário, minha Lena!_ Os raios de sol já entravam pelas frestas da janela de madeira do quarto de Milena quando a garota acordou e viu sua mãe acariciando seu cabelo.

— Bom dia, mamãe._ Ela sorriu, se espreguiçou, levantou e abraçou forte a mãe.

— Que todos seus sonhos se realizem, minha linda.

— Sabe que eu só tenho um sonho. Que eu, você e meu irmão fujamos de perto do meu pai e possamos viver em paz em algum lugar distante.

— Sabe que não posso fazer isso.

— Eu não tenho mais nenhum sonho. Porque todos são tirados de mim pelo meu pai. E os que restarem vão ser tirados por aquele idiota que ele quer que eu chame de marido.

— Dê uma chance e tente ser feliz, meu amor... Assim como eu aprendi a ser feliz com o seu pai.

— Não é uma vida como a sua que eu escolhi.

— Mas é a única que você vai poder ter. E eu sou feliz com a minha. Tenho dois filhos maravilhosos que eu amo e que me amam, e isso é o que me importa. Tente ser feliz, meu amor, assim eu estarei feliz._ Sônia abraçou a filha_ E saiba que eu sempre estarei ao seu lado, mesmo que seja para secar as suas lágrimas.

— Te amo, mamãe. Queria que meu pai fosse como você.

— Mas ele não é. Não fique se frustrando pensando em como a vida poderia ser. Se conforme com como ela é.

— A bela adormecida já acordou?_ Rodrigo entrou sorrindo no quarto.

— Nem é tão tarde._ Milena sorriu e secou as lágrimas que desciam por seu rosto.

— Tava chorando?_ Ele ficou sério_ Isso tudo é tristeza porque agora pode ser presa?_ Sorriu.

— Como se eu fizesse muitas coisas que podem me fazer ser presa...

— Melhor ainda, assim não precisa usar sua identidade na delegacia... É sério. Não chora. Vai dar tudo certo.

— E você sempre otimista, irmão... É por isso, e por MUITAS outras coisas, que eu te admiro tanto._ Ela sorriu e abraçou o irmão.

— Sorria. Você já viveu 18 primaveras.

— Não. Eu já vivi 18 invernos, e minha vida tem sido tão fria quanto o dia de inverno em que eu nasci. Só quero que um dia, o sol brilhe e eu possa viver uma primavera, que eu possa desabrochar como as folhas e flores fazem depois de ficarem presas em um tenebroso inverno.

—Que bela reunião de família!_ O pai de Milena surgiu na porta do quarto_ Fico triste que não tenham me chamado pra parabenizar a minha caçulinha que hoje está se tornando uma mulher.

— Mas segundo o homem que você quer que seja meu marido, não é assim que uma garota se torna uma mulher.

— Esse tipo de mulher você só vai ser depois que se casar com o Roger, ouviu bem?

— Será mesmo?_ Ela ironizou.

— Você não seria louca. Agora que você já é uma mulher, espero que passe a tomar atitudes de uma mulher, não de uma menininha rebelde e mimada que finge ser defensora dos mais pobres enquanto desfruta os prazeres da riqueza.

— Pois saiba que no dia em que eu conseguir ser forte o suficiente pra não depender mais desses malditos prazeres da riqueza, você nunca mais vai ver o meu rosto.

— Faça isso agora então! Já é maior de idade e já pode decidir o que fazer e arcar com as consequências!

— Eu iria se o meu irmão não precisasse tanto do seu dinheiro e se a minha mãe tivesse a coragem de largar um marido imundo como você!

— Já chega vocês dois!_ Sônia se colocou entre a filha e o marido para apartar a discussão.

— Faça o que quiser da sua vida, mas não desfrutando do MEU dinheiro. Se você continuar dependendo do MEU dinheiro, você VAI se casar com o Roger, e ninguém vai me fazer mudar de opinião. O café está na mesa.

...

Milena sequer tomou seu café. Esperou que o pai saísse de casa para vestir sua saia longa e marrom e sua blusa azul escura e correr pelos campos. Até onde ela correu? Até o lugar em que estava um lindo rapaz de barba fina vestido com uma calça marrom e uma blusa xadrez branca e azul claro.

— Se tivéssemos combinado, não estaríamos tão parecidos._ Milena sorriu enquanto beijava seu amado.

— Você podia pelo menos ter me pedido pra vir de azul escuro, poxa._Ele riu_ Mas não importa. Feliz aniversário, meu amor!_ Ele a abraçou e lhe entregou um embrulho pequeno em formato de paralelepípedo.

— E isso? O que é?

— Abra e verá.

Ela abriu, e a caixa revelou um lindo colar trançado, com uma pequena medalha de prata pendurada. Na medalha, estavam escritas suas iniciais.

— Que lindo, meu amor! Muito obrigada!_ Ela sorriu e o beijou.

— E os presentes ainda não terminaram.

— Não?

— Não. Mas você terá que enfrentar um desafio pra chegar ao seu presente.

— E qual seria?

— Subir essa colina pra chegar até a estufa, porque lá estará o seu presente._ Sorriu.

— Mas isso não é desafio. Subo com prazer.

— Pensando melhor, você não vai precisar subir.

— E posso saber por que não vou?

— Porque eu, pessoalmente, vou te levar.

Ele a pegou no colo e subiu a colina até chegarem à estufa.

— E agora..._ Henrique fez um pequeno suspense_ Vou ter que te vendar.

— Mas a gente já tá na porta.

— Então você vai só fechar os olhos e eu quero poder confiar que estarão fechados.

— Tudo bem!

Ela fechou os olhos e ele a levou alguns passos para frente, para dentro da estufa.

— Vou contar até três e você vai abrir. 1,2... 2 e meio...

— Três.

Ela contou e sorriu ao abrir os olhos. Na sua frente, a estufa estava toda enfeitada de corações e fotos. No centro, havia uma mesa baixa com um lindo café da manhã.

— Como adivinhou?

— O quê?

— Que o meu pai estragou meu aniversário e por isso eu não quis tomar café.

— Sério? Acho que se chama conexão._ Ele sorriu e ela o beijou.

...

Assim que acabaram de tomar o delicioso café da manhã, Lena estava séria. Era a hora de contar a verdade.

— Henrique...

— Fala, princesa.

— Lembra quando conversamos sobre como eu sou insegura de ter a minha primeira vez?

— Sim. E eu te disse que não tem problema e que te esperaria sempre.

— E se lembra que ontem meu irmão me buscou correndo?

— Sim. Eu ia perguntar agora o que tinha acontecido. Você tá tensa, e eu tô preocupado com isso.

— O que aconteceu é que mais uma vez meu pai está achando que tem o direito de interferir na minha vida. E o pior é que, mais uma vez, eu não posso fazer nada.

— Me conta.

— Henrique, eu quero que você saiba que eu não quero.

— Tá me assustando.

— Eu tô assustada. Meu pai quer que eu me case com um idiota machista, mimado e infantil em troca de apoio político pra ele.

— O que?

— Foi exatamente a reação que eu tive. Não quero isso. O cara é um bosta. Tô tentando conversar com o meu pai, mas ele nunca me escuta... Ele nunca me escutou e nem escutou ninguém.

— Quer que eu converse com ele?

— Tá louco? Você é filho do maior opositor político dele. Te expulsaria a tiros!

— Eu levaria esses tiros feliz, se fosse por você.

— Não seja bobo. Se ele te mata, eu fico sozinha pra cair nos braços do tal cara.

— Então foge de casa!

— Eu sou a única que tem coragem de enfrentar meu pai, por isso não posso deixar meu irmão e minha mãe nas mãos dele.

— Leva os dois!

— Minha mãe não iria nunca. E você sabe que o meu irmão tem problemas de saúde e precisa do dinheiro do meu pai. O que o Rodrigo mais queria era ir embora, mas não pode.

— Mas se você se casar com o idiota, vão ficar sozinhos da mesma forma.

— Mas uma das partes do meu acordo com o meu pai é que ele jamais faça nada contra os dois. Eu tô desesperada._ Ela chorou.

— Calma, eu tô do seu lado._ Ele a abraçou_ Não sei por quanto tempo você vai ficar do meu, mas eu tô aqui. Mas o que tem haver a sua primeira vez? Ele te fez alguma coisa?

— É aí que eu quero chegar. Não fez, porque meu pai o mataria se descobrisse. Mas depois de casado, ele vai poder fazer.

— Não se você não quiser.

— Ele vai ser meu marido.

— Não importa! Seu pai vai permitir isso?

— Pro meu pai, quando uma mulher se casa, ela passa a ser obrigada a satisfazer seu marido, e não tem nada que eu possa fazer contra isso.

— Por que tá me falando isso?

— Eu sei que não tô pronta, mas quero me tornar mulher com o homem que eu amo.

— Não é assim que se torna uma mulher.

— Mas pro meu pai, e pro meu futuro marido, essa é a única forma. E não quero dar esse prazer aos dois.

— Tá me falando o que eu tô pensando?

— Parte da minha insegurança era pelo meu pai. Eu nunca entendi o porquê, mas ele sempre exigiu uma filha virgem. Agora eu entendo o motivo e não quero. Não quero ser uma moeda de troca do meu pai por apoio nem por nada. Mas se eu tiver que ser, essa moeda vai valer menos, nem que eu tenha que morrer pra isso.

— Você tá segura de que é o que quer?

— Sabe que segura eu não estou, mas é o que eu sinto que devo fazer. Meu futuro marido diz que uma garota não se torna uma mulher só por fazer 18 anos, ou por atitudes maduras. Se é assim, ele vai se casar com uma mulher. Ele pode conseguir tudo o que quiser, mas eu acredito que a primeira vez deve ser com quem se ama, e isso ele nunca vai conseguir: Ser o homem que eu amo._ Seus olhos estavam brilhando de lágrimas.

— Sendo assim, fico muito feliz pela exclusividade de ser o homem que você ama, e pretendo te fazer feliz, porque você é a mulher que eu amo.

Eles se beijaram. E naquela mesma estufa que significava para Milena os poucos e bons anos junto com sua avó, que significava tanto para ela em seu namoro escondido com Henrique, eles se amaram.

...

— Milena, princesa..._ Rodrigo abriu a porta do quarto da irmã e não a viu_ Merda! Ela devia ter me avisado que ia sair!

Ele desceu correndo as escadas até a sala, onde viu seu pai e sua mãe conversando. Foi o mais sutil possível ao abrir a porta e sair correndo pelos campos atrás da irmã.

Felizmente, ao chegar à base da colina, ele viu uma movimentação na estufa e se acalmou por saber que Milena estava com o namorado no esconderijo onde não poderiam ser vistos. Com essa certeza, voltou para casa.

...

— Tá feliz?_ Henrique cobriu o ombro de Milena com um cobertor que os dois usavam para fazer uma cabaninha quando eram menores.

— Eu sou a mulher mais feliz do mundo!_ Ela sorriu e o beijou_ Aliás, agora eu sou uma mulher.

— É verdade. E nós vamos dar um jeito de você não ter que casar com aquele maldito. Qual o nome dele mesmo?

— Do mauricinho? É Ro...

— Que palhaçada é essa aqui?_ Milena escutou o grito grave e se virou rapidamente para ver quem era. Seu coração congelou ao ver aquelas botas pretas pisando na soleira da porta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

A Lena finalmente conseguiu realizar seu sonho, mas será que ele não pode se transformar em um pesadelo antes que ela acorde?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lena" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.