7.579 dias e uma carta e meia escrita por Dall


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Espero que você goste dessa história tanto quanto eu gostei de escrever ela, Rafa.



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Londres, 2020.

 

Querido Remus,

Prezado Sr. Lupin

Caro Sr. Lupin,

Oi Remus,

Sou eu, a Tonks.

Olha, eu não acho que é assim que se começa e também acho que eu não sei mais como escrever uma carta. Quer dizer, já tem, talvez, algumas boas décadas desde que eu fiz isso pela última vez.

É bem engraçado tudo isso, não acha? Vejo só, eu, uma mulher de quase quarenta anos, tentando, e suspeito que falhando, escrever algo minimamente decente pra minha paixão da juventude. E o melhor é que é muito provável, e estamos falando de probabilidades ridiculamente altas, de que essa carta não chegue até você. O que não parece tão ruim agora, já que eu tenho certeza que até o final isso vai deixar de ser engraçado e se tornar patético.

Se bem que, se analisarmos melhor, já é meio patético.

Enfim, você deve estar se perguntando porque estou fazendo isso e sendo sincera eu não sei a resposta exata para a sua pergunta. Foi uma coisa que começou a algumas semanas, eu tinha acabado de me mudar para um apartamento no centro de Londres e decidi que seria uma ótima ideia dar um passeio e relembrar os velhos tempos. E foi mesmo uma ótima ideia, até eu me perder. Duas vezes.

O ônibus me deixou em frente a um carvalho velho e eu tive que ligar para uma amiga e pedir que ela viesse me buscar, foi só quando eu desliguei o telefone que percebi que sabia onde estava. Essas árvores são bem comuns por aqui, é óbvio, mas aquela era diferente, aquela eu conhecia e sei que nunca seria capaz de esquecê-la. Mesmo depois de 20 anos. 

 

༄  

Hogwarts - Instituto de Reabilitação Moral, 1999.

Primeiro dia.

 

“O que panquecas e abelhas têm em comum?”. A garota perguntou.

“Você soube do cara novo?”. O jovem ruivo ao lado falou, segundos depois, envolvido na novidade o bastante para que não percebesse a pergunta da amiga ou se desse o trabalho de respondê-la. “Eu ouvi dizer que os pais dele pagaram o triplo pra que ele entrasse aqui”.

“Por que?”

“Porque ele é mais velho e perigoso”. E sentindo uma mistura de excitação e ansiedade ao imaginar a aparência da mais nova aquisição de Hogwarts, o ruivo respondeu. Seus pensamentos foram interrompidos pela voz da amiga, que articulava confusa sobre o quanto isso não fazia sentido. “Não precisa ter lógica, Tonks, só precisa ser interessante”. 

Quando a mais baixa continuou com uma expressão confusa no rosto o rapaz se deu por vencido. Em meio a um suspiro descontente ele apenas continuou caminhando até árvore em que os dois sempre se encostavam no tempo livre. E quanto mais ele se aproximava do lugar mais devagar ele andava, até que parou, fazendo com que Tonks esbarrasse em suas costas.

“Ai”. Ela murmurou enquanto levava a mão até o nariz para logo o mover em uma massagem leve.

“Olha só aquilo, eu não acredito, é o cara novo. Merda, ele tá no nosso lugar. O que a gente faz agora?”. O garoto parecia verdadeiramente preocupado e até mesmo assustado, todos os seus bons sentimentos foram substituídos ao dar de cara com a sua fantasia, em carne e osso.

“Vai lá e se apresenta?”. Tonks perguntou como se fosse óbvio, e era na mente dela. Vendo que o amigo não parecia o muito disposto a fazer isso ela se ofereceu. “Que tal assim, eu vou, digo “oi” e depois é sua vez. Simples e fácil, não acha?”

Ela sabia que ele concordaria, o conhecia bem o bastante para prever isso, então não esperou uma resposta para começar a andar até a figura misteriosa. Ele estava sentado sobre a sombra do carvalho, que naquela época do ano estava cheio de folhas, e vestia o mesmo uniforme bege que todos os internados ali. Calça de moletom, blusa e chinelos feios. Tinha uma coisa de diferente nele, ela pensou. Não sabia se eram as unhas pintadas de preto, o cabelo rebelde e mal cortado, o enorme hematoma no rosto ou quem sabe o cigarro preso atrás de sua orelha.

“Oi, eu sou a Tonks, e é um prazer te conhecer”. Ela levantou a mão educadamente, mesmo esperando que ele não aceitasse. Foi de longe uma surpresa boa, quando a mão dele, cheia de pequenos machucados, cobriu a dela balançando delicadamente em comprimento.

“Remus”.

“Seu nome é diferente, eu gostei. Não que você se importe com isso e tal então eu nem sei mais o que eu estou falando.” A garota se calou. Com a mão no peito ela suspirou alto e só então voltou a falar. “Eu sou péssima em apresentações, ou tudo que envolve lidar com pessoas em geral  Vamos começar de novo, que tal? Eu sou a Tonks, você é o Remus e aquele ali é o Charles.”

Ela se virou para trás, apontando em direção ao distante garoto ruivo. Esse que acenou levemente, antes de sair correndo arrancando dela alguns gritos exclamativos.

“Bobão.” Tonks murmurou antes de voltar sua atenção a Remus. “Então…você sabia que o elefante é o único animal com quatro joelhos?”

 

Hogwarts - Instituto de Reabilitação Moral, 1999.

Segundo dia.

 

“Oi, você vem sempre aqui?”

Quando Remus levantou a cabeça para encarar a dona da voz e, consequentemente. da sombra que atrapalhava sua leitura, encontrou o rosto feliz de Tonks. A mesma garota da tarde anterior, igualmente desacompanhada, mas com o cabelo pintado.

“Rosa.”

“O que?” Ela o olhou confusa antes de o ver levando a mão ao próprio cabelo e em seguida apontar para ela. “Ah, esse rosa. Eu decidi aproveitar que estou longe de casa, eles odeiam essa cor em mim. Ou talvez o problema não seja a cor. Enfim, papo pesou aqui e a culpa é minha. Sabia que aquela pedra preciosa, o âmbar, é na verdade resina de árvore fossilizada? Maluco né?”

“Você é sempre assim tão falante?” Ele questionou enquanto arqueava uma sobrancelha. Tonks levou as mãos até a cintura e estalou a língua contra o céu da boca antes de responder.

“Você é sempre assim tão silencioso?”

O jovem riu, curto e rouco, surpreendendo Tonks que, definitivamente, não esperava essa reação. Ou qualquer outra das que ele teve no começo dessa interação.

“Vou considerar isso como uma resposta parecida com, abre aspas, normalmente não sou tão quieto mas estou esperando criarmos um laço duradouro e sincero de amizade para mostrar o quão comunicativo e barulhento eu sou. Ponto final. Fecha aspas.” Disse a rosada, enquanto se sentava no chão gramado ao lado de Remus. “E com essa resposta super carismática eu decidi que não vou te fazer esperar muito tempo pra essa amizade acontecer. Ou seja, eu estou me ficando aqui, do seu lado, por um longo tempo todos os dias. Vou me deitar e olhar as nuvens até o sol se pôr, você pode ir embora ou ficar e apreciar a criação dessa nova rotina.”

Tudo o que Tonks recebeu do outro foi o silêncio cortante, mas isso não a abalou. De alguma forma, que ela não podia entender ainda, conseguiu interpretar corretamente a falta de palavras. Então ela apenas deitou seu corpo, escutando somente o som de suas respirações e das folhas do livro, que ainda residia nas mãos dele, sendo passadas.

 

Hogwarts - Instituto de Reabilitação Moral, 1999.

Quinto dia.

 

“Você trocou exatas 17 palavras comigo nesses últimos dias, que podem ser resumidas em bom dia, boa tarde, boa noite, por favor e obrigado. Você é educado, eu já entendi, mas já passou tempo o bastante pra você se acostumar comigo e eu apreciaria um diálogo.” Pela quinta vez naquela semana ela estava ali, deitada na grama, ao lado dele. Se não fosse pelas mãos movendo de modo nervoso, Remus poderia dizer que ela, coincidentemente, continuava na mesma posição dos outros dias.

“Não sei o que te falar.” Ele disse simplesmente, como se a breve ideia de ter passado todo aquele tempo em silêncio porque não conseguia decidir o que falar para ela não fosse importante ou impactante.

“Oh.” Tonks murmurou, um pouco constrangida e um pouco chocada com a brecha que ele estava dando-a. “Que tal eu te fazer uma pergunta e você me responder? Parece um lugar legal pra se começar.”

Remus assentiu sem ter muitas opções.

“Porque portas são chamadas de portas e não de buracos?”

“O que?!” Ele disse, em um tom mais alto que o normal, atordoado.

“É isso mesmo que você escutou, não faz sentido algum. Por que colocar um nome diferente se, em essência, são a mesma coisa?”

“Espera, eu não entendo.” Remus pausou procurando alguma lógica naquilo, nela. “Eu estava esperando você me perguntar o motivo de eu estar aqui.”

Ela deu de ombros. “Ah, isso eu já sei.”

“Sabe?” A cada momento que passava ao seu lado o jovem se via mais confuso.

“Aham, quer dizer, mais ou menos. Tem só três motivos de se acabar em Hogwarts: a) problema com a família, b) problema com si mesmo ou c) problema com as pessoas. É igual a história da porta barra buraco, nomes diferente mas tudo a mesma coisa.”

Tonks movia as mãos no ar, como se pesasse algo, comparando as duas coisas. A expressão de seriedade em seu rosto era, de longe, adorável na concepção de Remus. Ele, apesar da pouca convivência, gostava da forma que ela encarava as coisas e não resistiu a respondê-la.

“Acho que uma porta não é chamada de buraco porque ela abre e fecha. Um buraco não faz isso. Se você o tampar, ele deixa de ser um buraco.”

“Hm, é verdade. Você é bem esperto, Remus, gostei.” Ela disse, com a calma e segurança de alguém que tinha feito uma grande descoberta e assim arrancando, mais uma vez, uma risada de Remus.

Tonks descobriria mais tarde que aquele era seu som favorito.

 

Hogwarts - Instituto de Reabilitação Moral, 1999.

Décimo segundo dia.

 

Remus andava apressado pelos corredores, procurando a figura cor de rosa que foi sua companhia nos últimos dias. Era tarde e Tonks não havia comparecido ao estranho, e agora rotineiro, encontro deles.

Quando o jovem finalmente alcançou a entrada do refeitório, deparou-se com a rosada sentada sozinha na ponta de uma das longas mesas de madeira que corriam do ínicio ao fim da ampla sala. Ela encarava um simples garfo que segurava com uma das mãos.

Quando ele chegou a mesa foi recebido com um sorriso, como normalmente sempre acontecia.

“Você estava me procurando.” Aquilo não era uma pergunta, Remus percebeu.

“Você sabia...” Ela apenas balançou a cabeça em uma confirmação silenciosa. “Por que foi me encontrar?” Remus perguntou, apesar de não saber sobre qual situação ele se referia.

O rosto de Tonks brilhou em um sorriso, um tipo diferente entretanto, o primeiro de muitos que ele ainda conheceria. Um sorriso triste, constatou. “Aquela era minha árvore. Minha e do Charles. A gente passava tanto tempo lá que parecia que a árvore era o terceiro elemento da nossa amizade. Ele foi embora na madrugada..” Ela pausou, olhando pro garfo outra vez enquanto passava os dedos pelas quatro pontas.

“Um dos irmãos dele, acho que o segundo, não sei ele tem muitos irmãos, soube que ele era gay e disse que se ele não viesse pra cá ele contaria pra família toda. Ele ficou tão assustado que concordou na hora. Há uma semana ele decidiu contar tudo. O Sr. e a Sra. Weasley vieram correndo. Ele deixou uma carta, se despediu e pediu desculpas por não me falar o que fez. Acredita que ele achou que eu ficaria com raiva por ele estar indo embora e eu não?” Tonks levantou os olhos até o rosto sério de Remus e deu outro sorriso. Dessa vez não era triste nem feliz, era só meio vazio. “Charlie bobão, eu só queria que ele fosse feliz.”

“E você não está com raiva?” Ele sabia que essa não era a pergunta certa, mas algo dentro dele o dizia que era a que devia ser feita.

“Nem com raiva, nem com mágoa ou coisa do tipo. Só com saudades, eu acho.”

Remus entendia como era sentir falta dos amigos. Saudade doía e ainda não sabia como melhorar disso.

“A gente não precisa ficar na árvore.” Ele diz a única solução que conseguiu pensar, mesmo gostando do seu lugar de descanso.

“Você me procurou.” Tonks repetiu, deixando o outro ainda mais confuso e curioso por acreditar que aquilo era uma coisa muito significativa para ela. Ele assentiu uma única vez antes de Tonks se levantar e começar a andar em direção a saída. “Estou indo pra árvore, você vem?” Ela gritou ainda caminhando.

 

Hogwarts - Instituto de Reabilitação Moral, 1999.

Décimo sexto dia.

 

Em algum momento Tonks parou de se deitar tão longe de Remus, enquanto ele deixou de ficar apenas sentado.

Naquele momento, com os corpos lado a lado, contra a grama verde, ambos olhavam para o tronco antigo do carvalho. Tonks uma mão no chão e a outra passando pelos fios claros de Remus, desenhando, inconscientemente, um círculo em algum ponto de sua cabeça.

“Se você tivesse a chance de ter uma resposta verdadeiramente sincera para qualquer pergunta que você fizesse pra qualquer pessoa, qual pergunta você faria e pra quem?” Foi a rosada que começou a falar depois de longos momentos em silêncio, era comum de sua parte fazer perguntas como aquela mesmo que até a chegada de Remus ela nunca fosse respondida.

“Deus. Por que?” Essa tinha sido a primeira vez que ele retrucava tão rápido, como se fosse uma coisa que ele pensava sempre e por isso tinha tanta certeza.

“Como assim?” Ele suspirou, lentamente levantando seu corpo e se aproximando da árvore.

“Eu perguntaria a Deus o por quê de eu ser quem sou, das coisas terem acontecido, de eu estar aqui e de ter feito o que eu fiz. Por que tudo isso, entende?” Remus tirou do bolso um canivete, o abrindo para logo o usar para começar a entalhar algo no carvalho.

“O que você fez?” A pergunta veio devagar e insegura.

“Eu tenho um amigo, Padfoot, ele tem um problema tipo A.” Problemas com a família, Tonks se lembrou. “Os pais dele não o aceitam e mesmo assim ele continua lá, pelo irmão mais novo ele diz. Acho que ele fica porque tem esperança das coisas melhorarem, talvez por isso ele nunca revidava. Mas só pioraram no último mês e eu não aguentei. Então um dia eu fui na casa dele, falei pra ele fazer as malas que ele ia passar um tempo bem longo na casa do Prongs. O pai dele nos barrou na saída e falou sem parar. Quando ele começou a gritar e ir pra cima do Padfoot eu fiz o que achei certo. Eu entrei na frente dele e o soquei. Começamos a brigar, a polícia chegou e tudo que me lembro é de estar na frente de uma juíza me mandando pra cá enquanto eu torcia pra que Padfoot tivesse conseguido chegar até o Prongs.” Quando Remus terminou de contar a história se virou para Tonks, estendendo o canivete. “E você?”

A garota copiou seus movimentos, os dois novamente lado a lado, e olhou para o que tinha feito. Iniciais escritas no caule longo. RL. “Remus Lupin” Ele sussurrou em resposta  a pergunta não feita.

“Eu perguntaria aos meus pais se eles me procuraram.” Foi ela que começou a entalhar dessa vez. “Quando eu tinha oito anos meus pais me levaram pra conhecer uma tia minha, a irmã mais velha minha mãe. Ela era assustadora e mesmo assim quando ela me chamou pra brincar eu aceitei. Ela me disse pra correr o mais rápido que eu conseguisse, para o mais longe possível. A propriedade era enorme e desconhecida, acabei me perdendo. Já era tarde na noite quando um menino me achou, mais velho que eu e mais machucado também. Ele parecia conhecido sabe, como um primo distante. Me levou até o quintal da minha tia e depois sumiu. Quando eu entrei na casa meus pais pareciam tão felizes. Fomos embora pouco tempo depois. Ainda consigo me lembrar da minha tia me abraçando e sussurrando, dizendo que eu devia ter ficado perdida que meus pais não me procuraram porque não me queriam de volta. É coisa de criança, eu sei, mas ainda me pergunto se ele fizeram.”

Ela tinha terminado, a história e o desenho, sob o olhar de Remus. Tonks lhe devolveu o canivete antes de se sentar, encostada na árvore. Ela pode escutar ele perguntando o que significava o N antes do T.

“É de Ninfadora.” Sentia o corpo dele se ajustar no lugar ao seu lado. “Não gosto do meu primeiro nome, então todo mundo me chama de Tonks.”

“Eu não sou todo mundo” Ele ainda se mexia quando falou.

“Não, não é. Mas ainda não pode me chamar de Ninfadora”

“E que tal Dora?” Remus finalmente tinha achado a posição perfeita.

“Eu gosto disso” Tonks murmurou.

O jovem Lupin nunca soube se ela falava do apelido ou da mão dele sobre a dela.

 

Hogwarts - Instituto de Reabilitação Moral, 1999.

Décimo nono dia.

 

“Se sua autobiografia tivesse que ter o nome de uma bebida como título, qual seria e porque?”

O sol já estava se pondo e as luzes por toda a propriedade de Hogwarts começavam a se acender, uma a uma, quando Tonks fez a pergunta do dia. Durante as últimas semanas Remus havia percebido um padrão em certas atitudes da mais nova amiga. Ela fazia uma pergunta aleatória todos os dias, a não ser, é claro, quando se via em uma situação que a deixasse nervosa. Era fofo, ele concluiu.

“Como você acabou aqui, Dora?”

As pernas da garota, que estavam sendo balançadas no ar enquanto ela continuava deitada, pararam de se mover e sua respiração falhou alguns segundos antes de voltar ao normal.

“Você não respondeu minha pergunta, menino gótico.” Ele sorriu ao escutar as palavras dela, sabia que entrado em um assunto delicado e que agora ele precisava redobrar o cuidado ao falar.

“Água. Seria uma obra limpa. Não sou gótico. Como você acabou aqui, Dora?” Remus continuava a sorrir, o que fez Tonks decidir que odiava aquele sorriso de dele em particular.

“Suas unhas estão pintadas de preto e desconfio que se pudesse conseguir um lápis de olho também estaria usando. Porque sou louca.” Ela disparou em resposta, voltando as pernas para o chão e sentando em frente a ele.

“Unhas pretas não me fazem gótico. Padfoot usava e agora eu uso pra me lembrar dele, de que eu preciso sair daqui e descobrir se ele conseguiu se salvar.” Ambos olhavam para as mãos do mais velho, em um silêncio respeitoso, antes de Remus levantar a cabeça e concluir sua sentença: “Você não é louca”

“Aham, sou sim.”

“Por que?”

“Você acha que chuva só pode ser chamada de chuva se for em estado líquido?”

“Não, não acho. Por que, Tonks?”

“Porque algumas pessoas talvez se sintam desconfortáveis com a gente chamando de chuva..” Ela foi interrompida por um resmungo de Remus, soube que não conseguiria mais fugir disso. “Eu não sei o por quê, eu só sei que foi isso o que me falaram.”

O garoto Lupin arqueava uma sobrancelha esperando que ela continuasse e contasse toda a história. “As coisas ficaram complicadas depois da visita a casa da tia Bella. Nossa vida, nosso relacionamento e, de quebra, meu comportamento. A família da minha mãe, ou a do meu pai, não aprovava tudo isso e eles não aguentariam mais um problema, e os parentes me chamando de pequena louca bastarda era um grande problema, acredite. Então em algum momento eles cederam a pressão e aceitaram me mandar pra cá. Meu avô paga por tudo isso, e em troca do meu bom comportamento meus pais me enviam um frasco de tinta de cabelo. Engraçado né, isso tudo quando eu era só uma criança com medo ”

“Já faz quanto tempo?” Ele perguntou delicado, como se estivesse segurando uma taça de cristal.

“Quatro anos e meio.” Tonks reconhecia um olhar chocado quando via um, e não gostava muito, então ela somente riu de leve e bateu o punho contra o ombro do outro. “É muito tempo pra ficar presa dentro de um castelo, num acha, menino gótico? Eu devia parar de esperar o meu cavaleiro de armadura brilhante, a não ser que você seja ele. Você é?”

Remus corou e engasgando com a própria saliva tentou, inutilmente, responder a mais nova, que riu cada vez mais alto de sua reação e por ter conseguido fazer com que o amigo se distraísse o bastante para esquecer o assunto inicial. Afinal, apesar do longo tratamento psicológico, talvez a atual Dora no fundo ainda fosse Ninfadora, a menina assustada.

 

Hogwarts - Instituto de Reabilitação Moral, 1999.

Vigésimo quarto dia.

 

Ela o encontrou no refeitório dessa vez, com o rosto marcado por uma péssima expressão. Talvez esse seja nosso lugar de dias ruins, Tonks pensou.

“Ei bonitão, por que essa cara triste?”

“Recebi uma carta.” Remus realmente não estava bem, considerando que nem mesmo ficou minimamente constrangido com a fala da amiga

“Uou, isso é uma boa notícia!”  A mais baixa não conseguia entender o ponto negativo daquilo, ela mesma esperava a carta de aniversário, que era enviada pela família todos os anos, com ansiedade e alegria.

“Péssima na verdade.” Disse o moreno, atrapalhando a linha de pensamentos da amiga.

“Quer falar sobre isso?” A voz dela soava baixa, doce e gentil, o que não era verdadeiramente do comum mas que ainda combinava com sua personalidade gritante.

“É uma carta do Prongs, ele acha que o Padfoot vai fazer uma grande, uma enorme, merda.” Remus não precisou de tempo para decidir se ia contar ou não para ela, eles já tinham passado desse nível.

“E você?”  Ela perguntou, desejando, no fundo, que ele discordasse.

“Eu tenho certeza que ele vai fazer e até sei o que. O problema é que eu não posso avisar o Prongs, aqui não pega sinal de telefone e a minha carta chegaria nele tarde demais.”

Tonks suspirou, não era uma surpresa e de certo modo ela já esperava, só não estava preparada. E passando a mão no rosto enquanto murmurava “Droga, não acredito que vou fazer isso” ela se levantou, o puxando junto com ela.

“Você tem sorte de eu gostar de você, menino gótico. Muita sorte.”

“O que você quer dizer com isso?” Sendo pelo emocional abalado pela carta ou não, Remus estava confuso.

“Quero dizer que vou te ajudar.” Ela o puxava pelos corredores do castelo, em direção a algum lugar que ele não conseguia reconhecer.

Lupin travou as pernas a fazendo parar brutalmente e perguntou: “Como assim?”.

“Você costumava ser mais inteligente. Não é óbvio?” Ele discordou e em resposta a isso ganhou um grunhido. “Acha mesmo que durante os anos aqui eu não descobri um jeito de sair?”

Remus estava silencioso e constrangido, isso era o bastante para mais nova entender.

“Típico”

 

Hogwarts - Instituto de Reabilitação Moral, 1999.

Vigésimo sexto dia.

 

“Eu não acredito que estamos fazendo isso.”

“Se você disser isso mais uma vez eu juro que vou te socar e quebrar seu nariz, o que seria um desperdício porque ele é um nariz muito bonito.” Tonks resmungava enquanto pulava a cerca de madeira que separava eles da longa e grande estrada de asfalto.

“O sol vai nascer a qualquer minuto.” Dizia Remus olhando para trás.

“Dia novo, vida nova… vida antiga outra vez, melhor dizendo.” Ela deu de ombros fazendo o amigo rir.

“É verdade. Obrigado outra vez.”

“Imagina. Se o segurança não tivesse trocado o horário eu teria conseguido te trazer antes.”

“Isso não importa, você fez mais do que precisava. Muito mais.”  O jovem Lupin tomou a mão dela na sua em um aperto que dizia muito.

“Esquece isso, Remus, se concentra em encontrar seus amigos e salvar o dia, ok?” Ele assentiu, com as mãos ainda unidas as delas. “Ótimo, agora fica esperto que o ônibus já vai chegar”

“Eu não entendo, se você sabe tudo isso por que você nunca foi embora?”

“Medo, eu acho. Não sei se quero descobrir o que me espera lá fora.” Ela conseguia ver o ônibus chegando até eles enquanto falava.

“Dora, me promete uma coisa?” Remus disse, sabendo que não tinham tempo o bastante para que ele analisasse a resposta da rosada.

“O que dessa vez?” O ônibus havia chegado e Tonks puxava o braço do mais alto em direção a ele. “Vem”

“Me promete que vai ser feliz.” Ele ainda se lembra do movimentos da tarde passada, de como trançar as mãos e das palavras que tinha que dizer, então ela não é capaz de negar.

“E Dora…” O motorista buzina e grita apressado, Remus entra, sobe os degraus e se vira para trás para terminar sua frase.

Tonks vê os lábios dele mexendo, ela não consegue o escutar mas ainda sorri, acenando com uma mão, olhando o ônibus sumir de vista e levar pra longe seu… amigo?

Mais tarde, naquele mesmo dia, todos já sabiam da fuga de Remus e não paravam de falar sobre a garota de cabelo rosa, a que todos os amigos sempre vão embora. Tonks estava distraída demais com o pequeno pedaço de papel onde o endereço do garoto estava escrito para perceber os comentários e olhares que recebia. 

Durante um mês foi apenas isso que aconteceu, ela sentava embaixo do mesmo carvalho velho de sempre e ficava lá, esperando, sozinha, o sol se pôr. Até que um dia ninguém mais viu ela.

Procuraram por todos os cantos pensando que ela tinha se perdido. A verdade, é que Ninfadora Tonks realmente esteve perdida por um longo tempo, mas de alguma maneira, quando Hogwarts sumiu do campo de visão da jovem, sentada, dessa vez não embaixo de um carvalho mas, na janela de um ônibus que partia em direção a Londres, ela percebeu que tinha se encontrado.

 

 

Eu nunca soube o que você disse naquele dia, e mesmo depois de anos eu ainda penso sobre isso. Quer dizer, será que alguma coisa seria diferente caso eu tivesse conseguido te escutar?

Se quer saber a verdade, essa foi uma dúvida que não somente me atormentou durante muito tempo como também afetou outros aspectos da minha vida. É meio triste pensar que uma única frase teve tanto poder sobre mim, e talvez as coisas tivessem sido diferentes se eu tivesse superado ela... e você.

Comecei essa carta falando do passado, então quem sabe você está se perguntando sobre que coisas são essas que eu tanto falo. Pouco tempo depois que você subiu naquele ônibus às pressas, um ou dois meses já não sei mais, eu fui embora. Encontrei meus pais e confrontei minha família, entrei em uma faculdade, fiz novas amizades e revivi antigas, conheci novas pessoas e acabei namorando uma delas. 

Ele era um cara legal, um ótimo cara pra falar a verdade, inteligente, gentil e fofo. Me pediu em casamento no meio de uma pista de patinação, com direito a um discurso emocionante e um anel enorme. Foi perfeito. Nos casamos no verão, porque primavera não era do estilo dele, em uma igreja pequena na cidade ao lado. Eu tinha seguido em frente, sabe, apesar de às vezes olhar para trás esperando, eu não sei, um sinal? Alguém me dizendo que tudo bem, que não dizer nada foi o certo? Você?

Acho que foi esse o problema, ou um deles, porque duas semanas antes de completarmos nosso quinto aniversário de casamento eu descobri algumas coisas. Um: meu cachorro tinha estragado meu melhor par de sapatos. Dois: a Dedos de Mel tinha me oferecido o cargo de cerimonialista chefe. Três: meu marido, que nunca quis filhos, tinha engravidado sua namorada loira, alta, magra e dez anos mais nova que eu.

O divórcio foi amigável, apesar de tudo. E por amigável eu quero dizer que depois de assinar os papéis e perder meu cachorro e minha dignidade pra ele, eu sentei em frente a TV, fiz uma maratona de todas as vinte e uma temporadas de Law & Order: Special Victims Unit, e depois comi sorvete enquanto chorava assistindo Love, Rosie. Treze vezes.

Quando finalmente superei o que tinha acontecido voltei a pintar meu cabelo de rosa e adotei outro cachorro. Ele se chama Moony e não come meus sapatos. Prefere os pés da mesa da cozinha. 

Muita coisa aconteceu a partir disso, como por exemplo: eu voltei para a terapia e ao mesmo tempo em que ele entrou na minha vida. Quando o conheci nós dois estávamos perdidos (e ele me lembrava você de certa forma). Foi profundo, intenso e eu percebi que nunca seria capaz de amar alguém da forma que amava ele.

Mas eu tive medo, pensei que só estava tentando compensar algo que eu não pude ter antes. Então eu sentei com minha psicóloga e pedi pra que ela me dissesse que era real. Dois meses depois eu entrei com o pedido de adoção.

Demorou um pouco, mas logo eu tinha um adorável, e meio marrento, menino de onze anos morando comigo. O nome dele é Teddy, Teddy Tonks. Meu filho.

Hoje em dia ele já está na faculdade, meu menino brilhante, e me visita nas férias ou quando precisa de roupas limpas. Então em dias normais, sou só eu e o Moony contra o mundo e pés de mesas.

Acho que essa carta ficou mais longa do que o recomendado, então se você for mesmo o Remus, me desculpa pelo tamanho. E se não for, retiro minhas desculpas porque você, leitor desconhecido, nem devia estar lendo isso.

De qualquer modo, eu não espero que você me responda, Remus. Já faz quase uma vida e não tenho o direito de cobrar nada, eu só quero me desculpar.

Falei coisas demais e tive medo de mais coisas ainda. Descumpri quase todas minhas promessas, menos as duas que eu fiz para você. Elas sempre foram as mais importantes. Espero que saiba disso e que também tenha mantido a sua.

Atenciosamente,

Sua Dora.

Ninfadora Tonks. 

 

Londres, hoje.

Sétimo milésimo quingentésimo sexagésimo terceiro dia.

 

Tonks olhava o movimento da rua, sentada em uma mesa em frente a cafeteria. O sol brilhava e as pessoas andavam apressadas. Apaixonadas. Era Valentine's Day, afinal, o dia do romance barato. As lojas estavam lotadas e ela estava de folga. Uma bem merecida, ela diria, estava velha demais para lidar com uma noiva controladora e sua família irritante. Pelo menos hoje.

Moony estava aos seus pés, deitado sobre a sombra da mesa. Era sua única companhia naquele dia. Seus amigos estavam o ocupados e Teddy estava em um grupo de estudos. Ela riu ao pensar no último. Grupo de estudos, seu filho as vezes esquecia que ela já tinha sido jovem algum dia.

A mulher sentiu o celular vibrando, pouco depois de terminar seu café, ao tirar do bolso e olhar a tela brilhante não reconheceu o número.

"Tonks falando". Ela atendeu entediada, esperando que fosse um colega do trabalho pedindo ajuda com alguma emergência.

"Eu disse que você não era só bege". A rosada não reconheceu a voz masculina no outro lado da linha e não encontrou sentido no que ela falou.

"Aquele dia, no ônibus, eu falei que se você fosse uma cor com certeza não seria apenas bege." Ele fez uma pausa, como se precisasse de um momento de silêncio para lidar com a sua falta de coragem. "Eu disse que você era… que você é a droga de um grande, brilhante e complexo arco íris. Todas as cores. Cheia de mistério e, principalmente, cheia de significado."

"Remus?". Tonks estava em choque, se sentindo boba, perdida em todas as emoções que já sentiu e que insistiam em travar uma guerra dentro de si. Ela, em um reflexo comum, olhou ao redor procurando alguém e para sua surpresa encontrou.

Havia um homem do outro lado da rua, encostado contra um poste. Ele vestia preto, o que a fez sorrir, como se tivesse escutado uma piada velha mas que, mesmo sabendo o final dela, ainda conseguia ser engraçada, tinha a barba por fazer e cabelo castanho claro, apesar de Tonks apostar na existência de algumas mechas brancas.

Quando ele sorriu de volta, e uma única lágrima escorreu pelo rosto da mulher, os dois finalmente voltaram a respirar. Era como um sopro de ar fresco em pulmões cheios de cicatrizes.

"Oi Dora".

 

Hogwarts - Instituto de Reabilitação Moral, 1999.

Vigésimo quinto dia.

 

"Se você fosse uma cor, qual seria e porquê?". Ninfadora perguntou, deitada na grama ao lado de Remus.

"Não sei, acho que azul. É calmo mas também tempestuoso. Profundo."

"Bege". Ela disse rápida e simples, fazendo com que ele virasse o rosto em sua direção.

"Por que?"

"Bege existe, eu existo. Não tem mistério ou significado. Só existe." Ao terminar de falar foi surpreendida com o som rouco da risada do jovem.

"Isso não parece certo". Ela olhou para ele, curiosa, esperando uma explicação.

"Isso o que?"

"Não sei". Remus respondeu tímido, não sabendo como se expressar corretamente. A garota virou seu corpo na direção do amigo, o encarando pensativa.

"Você vai embora amanhã".

"Vou." Ele afirmou, levando uma das mãos em direção ao rosto de Tonks, o acariciando. "Me promete uma coisa?"

Ela balançou a cabeça levemente, apreciando o carinho que recebia.

"Promete que vai se lembrar de mim."

"Te esquecer é meio que impossível, Remus, a não ser que eu perca a memória. Ai não seria tão impossível assim, mas quais as chances disso acontecer?"

"Promete". Ele é firme. Ansioso. Ignorando pela primeira vez uma das perguntas aleatórias de Tonks, pois uma parte do jovem precisa escutar aquilo para ficar em paz, precisa saber que não vai ser apagado da vida dela como foi da dos pais.

"Só se você me prometer que vai se cuidar.”

Lupin sorriu pra ela, surpreso e até comovido com a fala. "Tudo bem."

"Ótimo, então agora me dá sua mão". A dúvida e confusão passa pelo rosto dele enquanto Tonks estica a própria mão em sua direção."Anda, anda, me dá ela." Ele deixa de resistir e faz o que ela pede, olhando a forma que ela entrelaça suas mãos juntando-as como em um nó. Um nó estranhamente bonito.

"Agora repete comigo: prometo de coração.". Ela aproximou mais ainda seus corpos e beija rapidamente a mão dele, esperando que ele copiasse o movimento.

"Prometo de coração.". Remus sussurrou, levando a mão dela até seus lábios em um beijo casto e demorado.

Seus olhares brigam entre si, gritando coisas que nenhum dos dois estão preparados para escutar. Quando enfim se afastaram, ambos com os rostos corados e corpos ardendo em expectativa, o silêncio cobria o espaço em meio aos dois.

"Avalie seus amigos em cortinado, persiana e cortina.". Tonks fala repentinamente, desfazendo o silêncio e quebrando qualquer clima que houvesse entre eles.

Remus ri, não sabendo porque ainda conseguia ficar surpreso com as atitudes de Tonks, para logo responder. "Prongs é uma cortina: você tem que ver os sentimentos através dele pra conseguir o entender. Wormtail é um cortinado porque ele faz um bom trabalho mas por dentro é meio duvidoso. Padfoot: persiana. A explicação que posso te dar se resume a uma única palavra. Versátil."

 

Londres, hoje.

Sétimo milésimo quingentésimo septuagésimo nono dia.

 

Os corpos ainda estavam suados, grudando um no outro, mas isso não os incomodava. Nada poderia interferir na bolha que encontravam, deitados, em meio a lençóis bagunçados, nos braços um do outro.

Os dedos finos de Tonks passeavam pela pele de Remus, contornando o desenho em seu peito, feito em tinta preta, da sombra de uma árvore. Não uma qualquer, ela sabia disso.

"Eu tentei escrever uma resposta pra você." Lupin rompeu o silêncio.

"Sério?"

"Sério, fiquei dias tentando e tudo o que consegui foi metade do que deveria ser uma carta."

Tonks achou fofo o modo que ele parecia frustrado por isso, a fala dele acabou lembrando-a de uma dúvida frequente.

"Você ficou no mesmo endereço por vinte anos, realmente?"

"Eu me mudei algumas vezes, mas acabei voltando. Um lar é sempre um lar. E você, por que esperou tanto pra me escrever?"

"Eu estava assustada, não entendia meu sentimentos por você e quando finalmente entendi não conseguia acreditar. Como era possível me apaixonar… amar uma pessoa que eu só conhecia a trinta dias?"

"Da mesma forma que foi possível pra mim?"

"Você sempre foi mais corajoso que eu, menino gótico."

Ele riu, tão alto quanto pode, nostálgico e emocionado. Enquanto recuperava o fôlego se lembrou de uma parte específica da carta.

"Você realmente cumpriu as promessas que me fez?"

"Bem, como pode ver, eu não te esqueci." Tonks moveu as mãos apontando pros dois.

"E a outra?" Ele pergunta, ignorando a malícia na voz da mulher.

"Eu fui feliz. Absurdamente feliz. Eu sou. Não foi fácil, mas eu consegui e cumpri a promessa. Eu aceitei quem eu sou e o que eu sentia e então, um dia, eu percebi que todo esse processo tinha levado vinte anos. Me desculpa demorar tanto."

"O tempo é uma coisa pequena perto de algo tão intenso, Dora. Mas eu sinto muito, por não ter ido atrás de você, por não ter sido seu cavaleiro de armadura brilhante." Eles compartilharam um sorriso com as lembranças inundando a ambiente.

"Eu nunca quis um cavaleiro, Remus."

"Ah, não?"

"Não." Ela balançou a cabeça, divertida, negando. "Eu queria alguém que me amasse pelo que eu era, aceitando minha loucura, mesmo que ela fosse a única coisa que eu podia oferecer. Então eu me tornei esse alguém."  Tonks dizia, se ajeitando no peito do outro, seus olhos se fechando lentamente.

"Dora…"

"Hm?" Ela murmurou antes de cair no sono.

"Eu amo você." Remus sussurrou, e em seguida fechou os olhos para, por fim, seguir o mesmo caminho que a mulher

 

 

Um ano depois Remus pediu a bênção de Teddy para propor a Tonks. Eles se casaram no parque.

Ela finalmente conheceu os amigos de Remus, e para surpresa de todos, o famoso Padfoot era ninguém menos que o menino que a encontrou. Sirius Black. Seu primo, apesar de tentar fazer com que Teddy o chamasse de tio.

O casal comprou uma casa afastada do centro da cidade meses depois do casamento. Eles plantaram um carvalho no quintal e assistiram juntos, todos os dias, o pôr do sol. Ele, ela, Moony e nos feriados Teddy.

Depois de quinze anos, em meio a uma  festa que comemorava as bodas dos dois, o pequeno afilhado de Sirius perguntou a todos quais eram suas cores. Os Potter eram vermelho, Sirius era branco e Remus continuava azul.

Tonks só conseguia sorrir, dando a mão a uma memória antiga, quando a criança a questionou

"Todas." Ela respondeu.

 

 


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