Dois dias depois, sob o céu azul e o sol quente, em meio ao balançar de cetim vermelho, descobriu o que eram os papéis na pasta transparente. 

 O início das aulas foi celebrado com danças e euforias, orquestradas pelos veteranos do curso artístico. O grande gramado verde do campus foi palco de canto e festejo, onde todo o corpo docente sentou-se ao lado dos alunos para presenciar os costumeiros shows comemorativos.

Como de costume, acomodou-se à sombra de uma frondosa árvore junto aos amigos que cursavam outras cadeiras e assistiu os festejos em meio a risadas e brincadeiras. Foi quando notou, com aprazível surpresa, o mesmo cabelo escuro, emoldurando o rosto de pele alva.

 Do outro lado do campus, próximo às escadarias de entrada, o corpo magro se recostava na borda alta de mármore de um chafariz. Era como a primeira vez em que o viu, com água por trás de seu corpo. A diferença era que, naquele momento, ele não estava molhado. Os fios escuros voavam em frente ao seu rosto, obrigando-o a retirá-los constantemente dos olhos afim de desobstruir a visão. 

 E, dessa vez, a calça escura vetava qualquer chance de  vislumbre do que o rapaz trazia por baixo. Poderia ter se decepcionado com isso, caso fosse um dia chuvoso mais uma vez.

Sorriu, balançando a cabeça com o próprio pensamento. Não era muito educado de sua parte, reconhecia. 

Ignorando a memória gravada em sua mente, observou de forma atenta o rapaz, assim reparando no homem ao lado dele. Ambos muito semelhantes, seja na clareza da pele, nos fios escuros, nas feições estoicas e na postura do corpo. Julgou que pudessem ser parentes próximos. Irmãos, primos talvez.

Refletia sobre o possível parentesco quando os olhos negros do garoto se desviaram em sua direção. A princípio ele não focou em si, observando o todo, mas não tardou para ver o reconhecimento estampado nas orbes ônix. Não pode deixar de se divertir com o modo que ele lhe encarou. A surpresa vindo primeiro, clara pela maneira que as sobrancelhas se ergueram, a boca se abriu e as feições tornaram-se confusas. E, posteriormente, o constrangimento que tingiu seu rosto mais uma vez, assim que aumentou o sorriso em sua direção. Piscando o olho direito para mostrar que o tinha reconhecido também. 

Achou engraçado o jeito que ele abriu ainda mais os olhos e então virou o rosto para o lado rapidamente. Franzindo as feições aborrecidamente. Não pode segurar o riso que rompeu por seus lábios, atraindo a atenção de quem estava consigo. Alguns olhos se voltaram na direção em que olhava, ao passo em que outros lhe questionaram qual a graça. 

Apesar disso, não respondeu. Realmente divertido com o outro, que aparentava tanta vergonha pela cena passada, que decidiu arrastar o outro homem para longe dali. Ele não parecia ter dado alguma explicação do porque, ainda assim o homem mais alto entre eles lhe olhou, como se procurasse o motivo de tamanho desconforto repentino. 

Acabou acenando educadamente para ele em resposta.