A ducha trazia o alívio ao corpo cansado, os fios molhados colavam às costas, mas no momento, isso pouco importava a ele. Pensava em como o cheiro do café lhe confortava, vindo calmo e aconchegante quando fechou a água do chuveiro, enrolando-se na toalha, secando os fios escuros em uma menor. O reflexo no espelho embaçado pelo vapor do chuveiro ligado, a pronta entreaberta por onde o cheiro do café invadia sem dó, despertando nele o desejo pela bebida quente e forte. 

Manteve-se enrolado na toalha, a menor sobre os ombros para recolher as gotas d’água que ainda caiam dos fios molhados. O torso desnudo e úmido, a expressão sonolenta que raramente o abandonava e os passos a se arrastar no chão enquanto seguia à pequena cozinha. 

—  Bom dia, Aizawa-shounen! — O exemplo de bom humor matinal, o sorriso a tomar quase todo o rosto trazendo ainda mais intensidade àqueles olhos tão azuis. —  Fiz o café, espero que goste. 

Toshinori se aproximou, colocou-se atrás de Aizawa para que seus braços o envolvesse um abraço caloroso com direito a um ou outro beijo na nuca molhada e extremamente convidativa aos lábios, língua e também dentes. Visto que não tardou para receber umas mordidas no pescoço. 

Teria reclamado, teria alertado-o de que seu corpo ainda estava molhado e que ele acabaria molhando as roupas ao abraçá-lo assim, mas era bom. Não vê-lo molhado, mas tê-lo perto. O corpo que há muito não exibia um físico forte e quase descomunal. Mas ainda o mesmo espírito de quem buscava a ideologia de um mundo melhor, ainda um herói, mesmo sem participar de batalhas. 

Aquele mesmo jeito cativante que o conquistou, desde aquele outro drink, o primeiro. Tantos outros vieram depois daquele, tantas noites de conversas, de olhares trocados, de beijos, de volúpia. Quando deu por si, ouvia Toshinori lhe chamar pelo nome, e não apenas pelo sobrenome. Deu a ele intimidade para se aproximar, e motivos para ficar. 

Talvez fosse por envolver suas mãos as dele. Por virar e beijá-lo antes de sentar junto a ele para desfrutar de um café da manhã a dois, em meio ao sossego antes de vestirem as roupas e a pele de docentes e seguir rumo a moldar o futuro. 

Riu enquanto lembrava-se dos outros drinks, sempre bebidos inteiramente por ele, Toshinori não chegava perto do álcool. Riu ainda mais ao pensar que, por sorte, ainda tinham alguns bons minutos para aproveitarem sem que o atraso os tomasse. 

Aqueles beijos de agora lembravam e muito os de outrora, quando Yagi ainda não tinha o aval para chamá-lo pelo primeiro nome, mas tinha para beijá-lo enquanto seu corpo prensava o dele contra a parede mais próxima, fosse do corredor que levava a sua casa, fosse o do banheiro recluso no barzinho que haviam ido para que Aizawa pudesse beber. 

—  Continua me chamando de Aizawa-shounen, mesmo depois de poder me chamar pelo primeiro nome, tsc, Yagi. —  A risada mesclava certo escárnio, nada que incomodasse o antigo número 1, não quando já havia se habituado aos trejeitos de EraserHead. 

—  Com tanto tempo assim, acabei me acostumando, Shōta. 

Exatamente como da primeira vez, trazendo um arrepio a coluna dele, uma sensação quente e gostosa, assim como os beijos nada castos que tomavam seu pescoço. Certamente ainda mais decente que a mão que agora o livrava da toalha. 

Demorou para que chegassem até ali, mas o caminho havia valido a pena para os dois. E se mostrava ainda mais proveitoso naquela manhã, onde o próximo drink os aguardaria, sendo dessa vez um café à dois, como em todas as outras manhãs.