Dramione | Seis anos depois escrita por MStilinski


Capítulo 9
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

oi gente!
mais uma vez venho aqui agradecer a todo feedback, é muito gratificante mesmo!

espero que gostem do capítulo de hj!



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— Quando é seu aniversário? – ele perguntou, acariciando o braço dela distraidamente.

Estavam deitados em uma das camas da cabana de Draco, encolhidos embaixo de um cobertor, protegendo-se do vento frio que às vezes passava pela tenda. Hermione estava quase dormindo, com  os olhos fechados e a respiração lenta, mas ouviu a pergunta dele.

— 19 de setembro. E o seu? – respondeu.

— 5 de junho. Nunca gostei muito de aniversários. – Draco falou, dando um suspiro longo e voltando os olhos para a mulher em seus braços.

— Ah, isso é impossível. – ela abriu os olhos e o encarou, com um sorriso divertido – Por que você não gostaria? Todo mundo gosta de aniversários.

Draco tirou alguns fios de cabelo do rosto dela para vê-la melhor.

— Minha família é muito tradicional. – ele continuou – Eu sempre tinha jantares ou bailes de gala de aniversário e sempre, sem exceção, precisava usar um terno ridículo prata e muito apertado. Meus pais convidavam só quem era importante para a reputação e os negócios, então eu tinha poucos amigos e não podia brincar, só conversar sentado no sofá. Eu detestava.

Hermione suspirou.

— É, isso é bem difícil de gostar. – ela disse e Draco riu – Tive algumas festas de aniversário com amigos da minha antiga escola, antes de Hogwarts, antes mesmo de eu saber que era uma bruxa. Eram bem divertidas, cheguei a ganhar alguns presentes bem legais, principalmente quebra-cabeças, eu adorava.

— Quebra-cabeças?

— É um jogo trouxa. São várias peças separadas e você precisa juntá-las com o encaixe perfeito para formar a imagem completa. Não tem muito sentido para os bruxos, já que tudo pode se resolver em segundos com um feitiço, mas eu ainda gosto. Depois dos onze anos comecei a passar todos os meus aniversários em Hogwarts, então... Eram ótimos.

Draco olhou para cima, pensativo e em silêncio, até ele sorrir disfarçadamente.

— Tinha uma coisa que eu gostava. – falou – Quando o jantar acabava e eu ia para o meu quarto, alguns minutos antes da minha hora de dormir minha mãe ia até lá e levava um pedaço de torta ou de bolo que ela mandava fazerem escondido. Cantávamos parabéns, só nós dois, e eu assoprava a vela. Provavelmente é a única coisa que gosto relacionada ao meu aniversário.

Hermione olhou para ele alguns segundos. O sorriso no rosto ao falar da mãe com tanto amor, nunca, jamais, em hipótese alguma falando sobre o pai. Não conseguia imaginar o quanto ele deveria estar sofrendo com tudo aquilo: o peso da tortura de Voldemort através da Marca, os esforços para mantê-lo longe de sua mente, a culpa pela traição a sua família e ao seu nome, o medo pela mãe.

Ela via como tudo aquilo refletia nele. Apesar de Hermione passar todos os minutos das refeições insistindo para Draco comer mais e mais – e ele tentava -, ele continuava perdendo peso e parecendo mais fraco, já que tudo aquilo definitivamente era suficiente para sugar as energias de qualquer pessoa.

Hermione tinha tanta vontade de protegê-lo de tudo aquilo, mas não havia muito o que ela pudesse fazer além de tentar cuidar dele da melhor maneira possível, como seu coração mandava. Então ela se inclinou e lhe deu um beijo.

— Vamos encontrá-la amanhã. – ela sussurrou para ele, olhando no fundo do seu par de olhos cinzas prediletos, referindo-se ao fato de que ela, Draco, Rony e Harry planejavam a invasão de Gringotes no dia seguinte e logo depois iriam libertar Narcisa.

Draco sorriu para ela.

— Eu sei que vamos. Então estaremos mais um passo perto de acabar com tudo isso. – Draco a abraçou mais forte. – E no meu aniversário poderemos ir para a Escócia, o verão lá é muito bonito. Já foi para a Escócia?

 

Hermione acordou em um susto.

Olhou ao redor, observando o quarto já claro devido à luz do sol, mostrando que já era dia e fechou os olhos novamente, um pouco desnorteada.

Ela não havia sonhado com aquilo, só havia trazido uma memória de seis anos atrás à tona novamente. Aquilo realmente havia acontecido, toda aquela conversa, todo aquele carinho e todo aquele sentimento, exatamente um dia antes de Draco ir embora da sua vida.

Aquela lembrança havia sido libertada por seu subconsciente exatamente hoje, porque hoje é 5 de junho. É o aniversário dele. Aquilo vinha lhe incomodando inconscientemente durante toda a semana, mas não havia nada que ela pudesse fazer, afinal, tinha um grupo novo de Comensais se formando, com só duas pessoas – na verdade, três – fazendo algo para resolver, correndo contra o relógio, então ela iria vê-lo hoje.

Como deveria agir? Deveria lhe dar os parabéns? Deveria fingir que havia se esquecido e ignorar o fato a noite toda? Deveria perguntar se ele iria para a Escócia, já que nunca foi com ela?

Hermione bufou e cobriu a cabeça com o cobertor, se sentindo ridícula. Sim, passar o aniversário dele, há seis anos, junto à Draco e na Escócia era só mais um dos planos que eles fizeram que nunca se concretizaram, já que nunca mais se viram. Exatamente como ela iria levá-lo ao Museu Britânico e Draco iria fazê-la gostar de Quadribol e... Muitas coisas que simplesmente nunca aconteceram e nunca iriam acontecer.

E era exatamente nisso que ela tinha que estar focada: nada daquilo nunca iria acontecer, então ela só precisava esquecer tudo e se concentrar no trabalho deles, seria um milhão de vezes mais útil dessa maneira.

Olhou para o relógio na cabeceira da cama e ela estava alguns minutos adiantada em relação ao horário que acordava todos os dias, mas isso só lhe daria mais tempo para tomar um bom banho e um bom e relaxante café.

Foi isso o que ela fez. Tomou um rápido banho, tentando manter sua mente como uma tela em branco, evitando pensar em qualquer coisa que não fosse realmente necessária e então vestiu sua roupa e foi para a cozinha. Estava terminando de passar o café, quando uma coruja parda e com manchas amareladas nas asas apareceu voando em sua cozinha, jogando o Profeta Diário sobre a mesa e pousando. Hermione colocou alguns nuques dentro da bolsinha na pata da coruja e ela saiu voando novamente, em direção ao quarto de visitas em que Hermione sempre deixava a janela aberta para o correio bruxo.

Sentou-se à mesa com sua xícara de café e um prato de biscoitos e abriu o Profeta.

Aparentemente toda a energia gasta em evitar pensar em coisas desnecessárias era em vão, porque a coisa desnecessária tinha uma foto gigantesca na capa, em que ele passava a mão no cabelo e olhava diretamente para a câmera, com uma expressão irritada.

Irritantemente... bonito.

A manchete não poderia ser mais clara: Draco Malfoy – o solteiro cobiçado completa mais um ano de vida!

Hermione abriu o jornal na página da reportagem e começou a ler. Aparentemente Draco iria realizar um jantar comemorativo no dia seguinte, sábado à noite, apenas para a mãe, sua família mais próxima, e alguns amigos e contatos estratégicos. A última linha da reportagem dizia: “será que teremos uma convidada especial?” e, ao ler isso, Hermione revirou os olhos, bufou e fechou o jornal bruxo. Sabia bem de quem eles estavam falando e não, não havia ninguém especial. Ela não foi convidada e não tinha porque se sentir chateada por isso, afinal, eles não tinham nenhuma espécie de relacionamento, muito menos amoroso, como todos estavam cogitando e se sentiu aliviada ao lembrar que Draco emitiria uma declaração e então toda essa perseguição por notícias que não existem acabaria.

Colocou mais alguns biscoitos na boca, bebeu o café e então saiu de casa, pronta para mais um dia de trabalho monótono.

Quando chegou ao salão repleto de mesas dos advogados bruxos, Hermione se sentiu estranha. Estava ali, pronta para trabalhar, mas na verdade estava escondendo que há um dia havia invadido a sala do seu chefe, roubado um documento importante dele, sem contar que sabia que Davies estava envolvido em toda aquela tragédia relacionada aos Comensais. E todos estavam trabalhando com tanta naturalidade...

Ela sentiu um pequeno calafrio ao se sentar e olhar ao redor. Todos ali, assim como ela, há poucos dias, confiavam cegamente em Davies e nesse novo mundo pós-guerra, mas agora Hermione sabia que não era bem assim. Será que seu chefe notaria o documento perdido? Se notasse, saberia que foi ela? Hermione achava que ninguém havia a visto sair da sala dele no dia anterior, mas nunca se sabe. E o que aconteceria com ela? Tinha certeza que ser demitida era pouco.

Quando Davies entrou no salão, ela ainda estava estática, aqueles pensamentos mexendo com sua cabeça. Ele a cumprimentou de longe, com um sorriso simpático e Hermione retribuiu quase que roboticamente. Voltou seus olhos para sua mesa de trabalho e tentou se concentrar... Pelo visto o dia seria longo.

 

Ela reconsiderou a ida até a casa de Draco por vários minutos enquanto encarava a lareira em sua sala. Por fim, suspirou, pegou o pó de flu e foi consumida pelas chamas, aparecendo na sala de estar gigantesca da mansão de Draco Malfoy.

Ele estava sentado no sofá assinando alguns papéis, mas não estava sozinho. Um homem de cabelos castanhos e bem altos levantou os olhos castanhos escuros para Hermione, um sorriso irônico aparecendo em seu rosto.

— Hermione Granger. – ele disse.

Ela franziu o cenho, mas então seu cérebro deu um “clique”.

— Theodore Nott. – ela respondeu.

— Nott já está de saída. – Draco falou, pulando os olhos de Hermione para o antigo amigo várias vezes. – Só preciso terminar de assinar algumas coisas da empresa.

— Vou descendo então. – Hermione disse e encarou o amigo de Draco. – Foi um prazer vê-lo. – na verdade, para ela havia sido indiferente, porém seus pais lhe deram boa educação.

— Igualmente. – ele ainda sorria.

Hermione saiu da sala, mas não sem antes escutar os sussurros entre os velhos amigos.

— Ela ficou irritantemente linda. – Nott disse e deu uma risada.

— Não diga mais isso perto de mim. – Draco falou.

— Com ciúmes, aniversariante?

— Só cale a boca e vá guardando esses pergaminhos.

Hermione sentiu uma leve palpitação no coração, mas apenas seguiu seus passos até o porão. No andar mais baixo da casa, ela se deparou com uma das paredes do cômodo com os papéis das anotações de Voldemort, o desenho da Marca Negra e as três fichas com os nomes dos principais envolvidos – Margareth, Davies e Jackson – colados na parede, formando uma espécie de mapa. Draco deveria ter feito aquilo, mas ela não achou ruim, era bem fácil de visualizar tudo o que eles tinham... Que era muito pouco, analisando agora.

Ela sentou e pegou o segundo vidro da Poção de Memória que Draco havia preparado no dia anterior e encarou o líquido alaranjado. Era o único próximo passo possível na cabeça de Hermione, porque provavelmente as memórias sobre a iniciação de Draco diriam muito sobre a Marca, pelo menos ela esperava que sim.

Ainda estava com os olhos estáticos sobre a poção, sentindo o cansaço de uma semana estressante e ocupada, quando o rangido da escada fez com que ela movesse seu olhar para Draco, que terminava de descer para o último andar. Ele a encarou e então se sentou.

— Feliz aniversário. – Hermione disse, olhando para ele.

Draco suspirou.

— Obrigado. Um quarto de século.

— E um jantar de aniversário. – ela sorriu ironicamente para ele.

Draco riu.

— É uma estratégia. – ele deu de ombros – Já te falei, estou tentando ampliar o comércio na Ásia, então teremos muita comida japonesa.

Hermione riu. Eles ficaram em silêncio mais algum tempo.

— Nada da sua memória? – ela perguntou.

— Não. Vamos tentar de novo.

Hermione entregou o frasco para ele e Draco o segurou e tirou a tampa, mas antes de beber o líquido alaranjando, olhou para ela novamente.

— Você já está cansada de tudo isso?

Definitivamente sim.

— Sim. Nunca pensei que isso poderia acontecer de novo. – respondeu.

Draco apenas concordou e bebeu o líquido laranja. Ele fechou os olhos e a cabeça pendeu para trás na cadeira. Ela esperou. Esperou por longos segundos.

— Nada. – Draco disse, antes mesmo de abrir os olhos. Ele respirou fundo, abriu os olhos e a encarou – Nada mesmo.

Hermione bufou, frustrada.

— E o que fazemos agora?

— Ainda temos mais alguns arquivos de Voldemort lá em cima. – Draco deu de ombros.

— É o melhor que temos. Maneira estranha de passar o aniversário, Malfoy. – ela respondeu, se permitindo ser leve com ele, deixar tudo para trás; provavelmente o cansaço falando.

— Acredite, é o melhor aniversário em anos, Granger. – ele respondeu, com um tom divertido e eles subiram as escadas.

Foram direto para o escritório, Draco fechou as cortinas e acendeu a lareira. Deu algumas pastas para Hermione e ela se sentou no chão, com as pernas encolhidas e perto do fogo. Para sua surpresa, Draco se sentou ao lado dela, somente com as últimas pastas para análise entre eles.

— Você tem alguma bebida? – Hermione perguntou, com um suspiro.

— Não sabia que bebia no trabalho. – Draco disse, mas conjurou um copo de whisky para si e uma taça de vinho para Hermione.

Ela pegou a taça e deu um gole.

— É sexta à noite. – respondeu, dando de ombros e Draco riu – Vamos recapitular tudo o que sabemos sobre a Marca.

 - É formada por hemotoxinas presentes em veneno de cobra.

— Veneno da Nagini, que era uma horcrux, por isso Voldemort conseguia controlar e chamar os Comensais, porque uma parte dele corria no sangue de cada um.

— A ação é local e nada do mundo bruxou ou trouxa resolveu.

— O feitiço Macula é que criou a Marca e ele é um Feitiço Tantum que permite a posse.

— Posse essa que ele provavelmente passou adiante.

— E agora outros Comensais estão aprendendo a controlar a Marca para interligar e controlar todos os antigos seguidores de Voldemort.

Draco deu um gole no whisky.

— Além disso, não temos ideia de como tirar essas hemotoxinas do sangue para acabar com a Marca. – falou – E a iniciação não foi feita para ser lembrada.

— Esses são os últimos arquivos da guerra?

Draco assentiu.

Os dois começaram a ler cada um sua pasta. Grande parte das folhas que estavam ali eram nomes de famílias importantes e pontos fracos que poderiam servir de ameaça e Hermione teve que admitir o quanto Voldemort era meticuloso em tudo aquilo. Escolhia a dedos as famílias que queria ao seu lado, sabia como usá-las para que sempre fossem fiéis a ele, além de ter criado uma Marca para controlá-los de todos os modos possíveis. Voldemort era cuidadoso com os passos que dava, extremamente calculados e pensados antecipadamente.

Não havia nada de interessante em saber sobre os antigos casos de corrupção ou de extorsão de famílias tradicionais que Hermione, em grande parte, não conhecia. Voldemort só deveria usar daqueles segredos para, além da fidelidade, conseguir dinheiro, pois em cada ficha havia o valor do patrimônio. Ela estava tão mentalmente e fisicamente exausta que toda a leitura somada a taça de vinho quase vazia estava começando a lhe deixar com sono.

— Davies não notou nada hoje? – Draco perguntou e Hermione olhou para ele, sentindo mais uma vez o impacto daqueles olhos cinzentos.

— Sobre meu roubo? – ela deu uma risada fraca, pensando que talvez aquele vinho estivesse fazendo efeito rápido demais.

— Sobre o seu roubo.

— Não. Ainda estou empregada.

Draco continuou a observando e se aproximou um pouco, colocando algumas pastas de lado.

— Estou preocupado com você. – ele disse, em tom baixo.

— Não deveria.

— Hermione, você roubou uma lista com o nome de dezenas de Comensais.

— Ninguém vai saber que fui eu.

— Tem certeza de que ninguém te viu?

— Absoluta.

Hermione terminou a taça de vinho e voltou seus olhos para a leitura das famílias que se mantiveram ao lado de Voldemort. Mudou de folha e se deparou com a foto da família de Draco e sem nem mesmo ler, tirou a folha da pasta e entregou a ele.

— Isso é seu. – falou.

Draco pegou a folha, confuso, e ao ler e compreender o que era ele ficou pálido.

— Obrigado. – sussurrou.

— Seus pais tinham muitas dívidas com Voldemort? – ela perguntou, sem nem mesmo conseguir impedir. Definitivamente o cansaço somado ao vinho não trazia à tona o melhor de Hermione Granger.

Draco amassou a folha e jogou na lareira, observando enquanto as chamas consumiam o papel.

— Não. Tinham muito dinheiro e muito preconceito, provavelmente a família mais fácil que Voldemort já convenceu a ficar do seu lado. – falou – Provavelmente o maior problema que um Malfoy já se meteu com Voldemort foi na batalha do Departamento de Mistérios, quando meu pai foi preso pela primeira vez.

— Eu estava lá.

— Eu era muito covarde para qualquer coisa do tipo na época.

— Não te acho covarde. Poucas pessoas fugiriam de Voldemort como você fugiu.

Draco não disse nada, apenas continuou com os olhos no fogo.

— O que tem aí? – Hermione perguntou, apontando para os pergaminhos que Draco lia.

— Algumas informações sobre a Ordem da Fênix e os detalhes de alguns ataques.

Hermione assentiu.

— Quer mais vinho? – ele perguntou, olhando para ela.

— Acho melhor não. Já me sinto bêbada com uma taça, não sei o que duas fariam. – ela disse e Draco riu – Essa semana foi cansativa, mas pelo menos não tenho um jantar de aniversário amanhã.

Draco revirou os olhos e foi a vez de ela rir.

— Você está convidada se quiser. – ele disse, olhando para ela.

— Não quero alimentar as revistas de fofocas de plantão.

— A imprensa não é permitida.

— Mas os fofoqueiros são. Além disso, meus pais vão fazer um cruzeiro pela Europa como uma espécie de segunda lua de mel e saem no domingo, preciso vê-los.

Draco assentiu.

— Está convidada de qualquer maneira.

Hermione sorriu.

— Obrigada.

Eles continuaram se encarando e ela notou que eles haviam ficado assustadoramente próximos. Seus olhos castanhos pulavam dos olhos dele para a sua boca que, de repente, pareceu anormalmente atrativa. Os olhos cinzentos dele percorriam o mesmo caminho no rosto de Hermione e, ao notar isso, ela voltou o rosto o mais rápido possível para os papéis sobre o seu colo. Não podia beijá-lo, não estava ali para isso e eles não eram mais nada, absolutamente nada.

Draco pigarreou e o escritório caiu em silêncio, exceto pelo crepitar da lareira.

Hermione continuou lendo as histórias das famílias que Voldemort tinha nas mãos, mas não havia nada de útil ali.

— Não entendo como isso é possível. – ela falou, suspirando frustrada. – Naquelas folhas que encontrei em que Voldemort fala sobre a Marca ele não parecia ter absoluta certeza de nada. Parecia estar testando tudo. Então como ele nunca mais anotou nada em nenhum lugar, nem mesmo um rabisco?

Draco apenas deu outro gole no whisky, com o cenho franzido, pensando.

— Não tenho certeza se havia outro lugar que ele guardava os documentos dele. – ele disse, por fim – Isso foi tudo o que achei na Mansão Malfoy e Voldemort passava a maior parte dos seus dias lá, era de onde saiam todos os seus planos de ação. Vou tentar procurar algo novamente, mas acho bem difícil. Como eu te disse, a casa toda foi reformada.

— Não havia ninguém que ele confiasse para guardar seus segredos?

Draco passou a mão pelos cabelos loiros.

— Bellatrix. – ele disse, de repente, e no mesmo momento a cicatriz de Hermione queimou – Desculpe, eu...

— Está tudo bem. – ela o cortou, apertando distraidamente o pulso onde a tortura havia acontecido – E onde ela poderia ter escondido esses segredos?

— Ela faria qualquer coisa por ele, era completamente insana, obcecada. Se precisasse esconderia até mesmo no seu corpo para que nada de Voldemort escapasse, mas depois que ela morreu tudo o que estava em seu nome virou posse do Ministério.

— Não existe mais nada dela? Se ela realmente era tão obcecada com Voldemort como você diz é provável que ela carregasse o segredo dele da forma mais segura que conseguisse.

— Talvez com ela mesma. – ele ficou em silêncio alguns segundos, pensando - Ela tinha esse cordão...Era no formato de uma cabeça de corvo. Nunca a vi sem.

— E onde ele está?

Draco deu de ombros.

— Já te disse, tudo dela agora é do Ministério, então não sei.

— E ela estava usando o cordão naquele dia?

— Não sei.

Hermione deu um longo e frustrado suspiro.

— Provavelmente é um tiro no escuro... – ela disse – Toda essa coisa com Bellatrix. Só é estranho ele nunca mais ter escrito nada sobre a Marca.

Draco assentiu.

— Não acho que seja um tiro no escuro. – ele falou e virou o restante do whisky – Vou procurar saber com minha mãe amanhã à noite.

Hermione assentiu, observando Draco conjurar um novo copo de whisky.

— Você tem noção do teor alcóolico disso? – ela perguntou, um tanto quanto chocada.

— Exatamente 43,4%. – Draco respondeu e bebeu um pouco do líquido.

— E você toma como se fosse água.

— Na verdade, whisky é mais saboroso. E é só questão de costume.

— Não sabia que bebia tanto assim.

Draco a encarou de um jeito tão profundo e significativo que Hermione sentiu um arrepio por todas as curvas de seu corpo.

— Infelizmente tem algumas coisas que você não sabe sobre mim, Granger.

Ele estava próximo de novo e isso fazia seu coração disparar como nunca. Ela não entendia como ele lhe causava isso, nunca entenderia.

— Talvez eu saiba de uma. – ela disse, entrando no jogo, se rendendo ao seu subconsciente.

Draco arqueou uma sobrancelha, curioso. Sem desviar os olhos dele, Hermione conjurou um pedaço de torta de morango com uma vela acesa em cima.

— Feliz aniversário, Draco.

Ele sorriu de um jeito que ela ainda não tinha visto, pelo menos não nesses dias em que haviam voltado a se ver após anos distantes. Já havia visto aquele sorriso, timidamente largo, como se temesse sorrir demais, há anos, em praticamente todos os momentos em que eles ficavam a sós. Era um sorriso que parecia que Draco tinha apenas para ela.

— Vamos, assopre. – ela disse. – E faça um pedido, não arruíne a graça de tudo isso.

Draco riu e assoprou a vela, sem tirar os olhos dela em nenhum momento. Por Merlin, ela temia o poder daquele par de olhos cinzas como o céu de um dia nublado.

— Foi o melhor aniversário que eu tive em muito tempo. – Draco sussurrou.

Ela sentiu vontade de beijá-lo, eles estavam próximos o suficiente para isso. Mas ela não podia, porque não entendia o que ele lhe causava e Hermione era racional demais para entrar em algo que não entendia. Ela havia feito isso uma vez, há seis anos, e só saiu de tudo aquilo magoada e confusa de um jeito que nunca havia imaginado ser possível.

Hermione respirou fundo e olhou para o pedaço de torta na sua frente.

— Se importa de dividir sua torta de aniversário comigo?

Draco deu uma risada fraca, o sorriso único já havia diminuído significativamente.

— Vou buscar os talheres. – ele disse, ficou de pé e saiu do escritório.

Ela se encontrou sozinha, ouvindo o crepitar das chamas, a cabeça embaralhada como nunca. Não podia esquecer da mágoa que tinha dele, não podia deixar que nada a colocasse naquela situação novamente. Ela estava bem agora, certo? Ele não tinha o direito de confundi-la novamente.

Por fim, eles passaram o resto da noite comendo um único pedaço de torta, cada um lendo seus documentos e mergulhados nos próprios pensamentos que, no final das contas, era apenas sobre uma coisa: os dois.


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Notas finais do capítulo

capítulo mais "fofinho" e ao mesmo tempo mais respostas (ou mais perguntas? haha)

espero que tenham gostado!



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