Dramione | Seis anos depois escrita por MStilinski


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

oi gente!
muito obrigada pelos comentários, nunca vou conseguir agradecer o suficiente! fico mt feliz em saber que vocês estão gostando e estou me dedicando 100% a essa fic para não deixá-los na mão.

ah, fiz uma capa bem simples, mas estou aprendendo sobre isso ainda haha o que acharam??

muito obrigada mesmo!!



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Ela acordou devido a fresta da cortina que deixava passar os raios de sol, incidindo diretamente sobre seu rosto. Por alguns instantes nem mesmo entendeu onde estava, mas então todo o acontecimento da sexta à noite veio a sua mente, com a quase morte de Draco e ela se lembrou do desespero que sentiu.

Olhou para ele na cama, mas Draco dormia tranquilamente ainda, como se nada tivesse acontecido. Hermione pensou se ele ainda estaria com febre, se durante o dia teria mais algum efeito colateral e ficou de pé, se aproximando da cama. Cada parte de seu corpo doía devido a posição desconfortável em que havia dormido, então Hermione se espreguiçou, gemendo com os músculos doloridos, e depois mediu a temperatura de Draco, colocando a mão em seu pescoço.

Ele continuava um pouco quente, mas nada totalmente preocupante, nada como na noite passada.

Hermione dobrou a coberta que havia usado, deixou-a sobre a cama e então colocou a poltrona novamente no seu local de origem, em frente a lareira. Logo depois foi até o closet de Draco, onde suas roupas estavam e colocou-as novamente, lançando um feitiço rápido sobre o moletom dele para que desamassasse. Assim que voltou para o quarto, Draco estava se espreguiçando, sentado na cama.

Ela não soube como agir. Estava no quarto dele, apenas os dois ali. Somente os dois, dentro de um quarto, dentro da casa dele, onde ambos haviam passado a noite, de certa maneira, juntos. Draco olhou para ela, que estava parada como uma estátua e eles apenas se encararam por um longo momento.

— Como está se sentindo? – ela perguntou, desconfortável em quebrar o silêncio estranho entre eles.

— Como se cem hipogrifos tivessem passado por cima de mim pelo menos umas duzentas vezes. Basicamente... fraco.

— É de se esperar. Com certeza tem uma maldição que impede a retirada do sangue da Marca. Esse sangue deve ser o que alimenta a Marca. – ela havia chegado a essa conclusão enquanto falava – Acredito que a febre e a fraqueza sejam um efeito colateral, ainda mais depois de toda a questão com as queimaduras, inflamações e hemorragia.

Draco assentiu, ainda a encarando.

— Você ficou aqui a noite toda? – perguntou.

Hermione revirou os olhos, disfarçando a vergonha que sentiu devido as palavras dele.

— Você realmente ignorou todas as conclusões que eu tirei?

— Não, estou até bem impressionado. Mas ficou aqui a noite toda?

— Sim, fiquei. Dormi na poltrona. – ela encarava a porta da varanda, vendo o céu azulado do lado de fora, fingindo não estar envergonhada.

— Ah. – foi tudo o que ele disse, mas ela ainda sentia que ele a olhava, porque o olhar dele simplesmente tinha esse poder.

Draco não tinha o direito de se sentir importante simplesmente porque ela ficou ali com medo de que ele morresse do nada. Qualquer pessoa ficaria! Ele não podia pensar nada demais sobre isso, porque não era nada demais, era uma questão de empatia, apenas. Por outro lado, quem ela queria enganar? Sua vida não era movimentada, ela não tinha outro lugar para estar...

— Ah, não. Que droga! – Hermione exclamou, de repente.

Draco franziu o cenho para ela, confuso.

Ela tinha se esquecido totalmente de Joe e Bristol. Não havia avisado nada a ele e conseguia até vê-lo indo até a recepção do hotel, perguntando por ela e os funcionários dizendo-lhe que ninguém com aquele nome estava hospedado ali.

Por um lado, talvez isso fosse bom. Talvez fosse o pontapé que ela precisava para dar um basta naquilo. As noites em Bristol com Joe eram noites de vinho e queijos e depois sexo... Mas eles tinham boas conversas lá também, não? Ela se divertia um pouco com os assuntos. E ela realmente queria acabar com tudo aquilo?

— Eu preciso ir. – Hermione falou, de repente. – Que horas são?

— Onze e quinze.

Joe já havia saído de Bristol há uma hora, no trem das dez. Em pouco mais de quinze minutos ele estaria na casa dele, com sua família e Hermione havia perdido essa oportunidade.

Draco a encarava de um jeito estranho, algo que ela não soube decifrar. Draco Malfoy era uma pessoa totalmente inexpressiva, exceto pelos olhos cinzas, que sempre delatavam tudo. Mas Draco logo piscou, a inexpressão voltando com tudo, um balde de água fria para Hermione, mas ela decidiu não se importar.

— Vai ficar bem? – ela perguntou.

— Vou. Vou descer para comer algo.

— Tudo bem, qualquer coisa você... – ela parou no meio da frase. Ia pedir para avisá-la, mas eles tinham essa intimidade de novo? Ela esperava que não.

Draco não olhava mais para ela quando ela desaparatou. Apareceu em segundos na sua sala e foi direto para o quarto e pegou uma folha sobre a escrivaninha, pronta para escrever uma boa desculpa sobre ter acumulado trabalho e enviar a Joe, mas não fez isso.

Talvez fosse o momento de dar um fim a toda aquela confusão. Era um momento adequado: ela podia não dar satisfações do porquê não ter ido a Bristol, não aparecer na quarta e se ele a procurasse ela seria firme e diria que estava cansada. Não queria mais dormir com o peso de que estava destruindo um casamento, não queria estar comprometida com um homem que não estava comprometido a ela, não queria mais precisar evitar pensar no seu futuro quanto as suas relações amorosas por ser muito confuso. Era uma oportunidade única.

Mas ao mesmo tempo... Ela realmente queria isso? Queria mandar embora o único homem que a olhou, a reparou, depois de tanto tempo? O único homem que não havia a deixado de lado, que não tinha a esquecido?

Conheceu Joe na festa de Natal do Profeta Diário no ano passado. Ela foi representando Gina, que estava de licença-maternidade, porque James tinha apenas três meses na época – atualmente o garotinho estava no auge de seus oito meses e Gina havia voltado ao trabalho quando ele completou meio ano, exatamente quando Harry tomou o resto dos seis meses de licença, e ainda estava, para ficar até o primeiro ano completo de James; Hermione achava as leis quanto a licença-maternidade do Reino Unido simplesmente sensacionais. Joe foi um cara simpático, com um papo bom e leve, alguém com quem ela se identificou pela determinação e inteligência.

Hermione havia tido somente pequenos casos com alguns homens trouxas que seus pais arrumavam para ela em jantares estratégicos, mas nada havia ido muito longe. Joe foi a primeira pessoa com quem ela se identificou, com quem pensou que poderia ter um futuro. Teve essa identificação até rápido demais, pois saiu da festa de Natal direto para a sua casa e com ele de acompanhante, sendo a primeira vez que ficaram juntos.

Talvez... talvez conseguisse ficar naquela situação por mais um tempo. Se sentia bem em não ser esquecida.

Deixou a folha sobre a escrivaninha, dando uma última olhada no papel. Nem se quisesse poderia enviar aquele aviso, afinal, seria enviado para a casa dele e para sua esposa, o que definitivamente não era uma boa ideia. Hermione simplesmente suspirou e chegou à conclusão de que iria pensar nas suas opções: poderia deixar Joe para lá ou poderia esperar até segunda-feira para avisá-lo.

Decidiu simplesmente esquecer tudo. Desfez a mala que estava sobre a sua cama e decidiu tomar um banho, enchendo a banheira e utilizando de um dos poucos óleos essenciais que tinha – dessa vez de camomila – e relaxou, fechando os olhos.

Lembrou da noite anterior, lembrou do medo que sentiu pensando que Draco fosse morrer. Bom, ele tinha tudo para morrer. Hemorragias internas, inflamações, hemotoxinas de cobra correndo pelo corpo, queimaduras, febre a ponto de delirar... O pacote completo. Ela conseguiu salvá-lo e isso era o que mais a aliviava. Teve vontade de ser medibruxa nos últimos anos de Hogwarts, mas depois da Guerra e do convite de Kingsley para o Ministério, ela simplesmente deixou para lá. Acreditava que sua vida seria mais bem encaminhada com um trabalho administrativo. Mas aquela adrenalina da noite anterior havia feito com que essa vontade voltasse, mas talvez fosse tarde demais. Largar tudo para ir para o curso de medibruxa? Faria 26 anos em setembro...

O toque da campainha fez com que ela abrisse seus olhos. Saiu da banheira, se secou e vestiu uma calça jeans e uma blusa branca larga. Chegou até a sala e abriu a porta, se deparando com Joe.

Ele sorria para ela, os olhos verdes contrastando com o rosto moreno bronzeado – ele pegava bronze muito fácil. Estava com a mala em uma das mãos e um vinho em outra.

— Você não foi até Bristol. – ele disse, entrando e dando um beijo na bochecha dela. – Então resolvi vir até você. 

Hermione sorriu. Se sentia alegre por ele ter pensado em vê-la, por ter sentido sua falta.

— Eu tinha muito trabalho atrasado, não consegui avisar. – era mentira, é claro, mas ela não diria a verdade.

— Ah, não tem problema. – Joe disse, deixando a mala sobre o tapete – Pelo menos vim até aqui. Disse que pegaria o trem das onze horas, então tenho pelo menos uma hora com você. As taças estão na cozinha?

Hermione assentiu, o sorriso murchando. Ele estava ali, foi até ali para vê-la, mas só era possível por causa de uma mentira que ele havia contado para a sua mulher de verdade.

— Sim, estão na cozinha. – ela murmurou em resposta.

Joe sorriu e foi para a cozinha.

Hermione suspirou. Ela poderia ter acabado com aquilo, mas agora ele estava ali, com um vinho e uma hora até ter que voltar para casa...

Antes mesmo que pensasse em mais alguma coisa, uma batida na porta soou. Hermione franziu o cenho e um leve arrepio a percorreu, com medo de que fossem Rony ou Harry de surpresa... Uma surpresa mesmo.

Abriu a porta e franziu o cenho, confusa.

— Draco?

Ele estava parado ali, parecendo totalmente sem jeito, com uma calça jeans escura e um suéter verde escuro fino, uma roupa bem diferente para Draco Malfoy.

— Oi. – foi tudo o que ele disse – Posso entrar?

Ela deu passagem, sem entender direito o que estava acontecendo ali.

— Você está bem? – perguntou – Está sentindo alguma coisa?

Draco negou com a cabeça.

— Não, na verdade eu vim...

— Hermione, eu não achei as... – Joe apareceu na sala, com o vinho na mão, e encarou Draco, confuso – Draco Malfoy?

Draco olhou para Hermione, que parecia uma estátua enrubescida, e depois para Joe, confuso.

— Sim. E você é? – ele respondeu.

— Joe Robinson, prazer. – eles apertaram as mãos.

— Ah, sim. Você estava na coletiva de imprensa na minha empresa há alguns meses, não estava?

— Sim! Trabalho para o Profeta Diário, na seção de Negócios e Economia. Estava lá quando você deu a entrevista sobre a expansão dos negócios na Ásia.

— Sim, sim. Eu me lembro.

O silêncio constrangedor tomou conta da sala de estar, antes de Joe pigarrear.

— Bom, eu já vou indo. Só vim trazer esse vinho que Hermione pediu que eu comprasse para ela em Bristol, estava lá a trabalho.

— Certo. – foi tudo o que Draco falou.

Joe sorriu para ele, deixou a garrafa de vinho em cima da mesa de centro e olhou para Hermione, que queria cavar um buraco ali mesmo e se enterrar.

— Sarah está me esperando. Vou precisar ir até Bristol em um mês, se precisar de mais vinho me avise. – Joe sorriu para ela, pegou a mala e saiu do apartamento.

Hermione continuou estática. Joe simplesmente agiu normal, mesmo dentro do apartamento da sua amante.

— Ele é... – Draco começou, sem jeito.

— Um amigo antigo. Conheci na festa de Natal do Profeta Diário. Fui no lugar da Gina, ela estava de licença. – ela disse tudo aquilo roboticamente. Então respirou fundo, guardou tudo o que estava sentindo, desde a pequena raiva de Joe até a vergonha de si mesma por estar naquela situação, e olhou para Draco – O que está fazendo aqui?

Draco engoliu em seco e ele parecia totalmente desconfortável.

— Eu vim te chamar para almoçar. – ele disse, sem nem mesmo olhar para ela.

Hermione ficou surpresa. Sair com ele? Só os dois, sem nenhum objetivo de desvendar alguma coisa? Ela poderia ir ou então poderia ficar em casa repassando tudo o que Joe havia falado ali naquela sala, toda a naturalidade em fingir que Hermione não era nada para ele...

— Tudo bem. Aonde quer ir?

***

Por fim, eles estavam no Caldeirão Furado.

Sentaram-se em uma mesa mais afastada do balcão, uma parte até mesmo mais escurecida, bom o suficiente para não serem notados. Era horário de almoço e sábado, então o local estava bem cheio – alguns bruxos iam direto para o Beco Diagonal, outros estavam ali apenas bebendo e algumas famílias almoçavam juntas, fazendo um grande barulho.

Ana Abbott foi quem veio atendê-los. Ela e Neville estavam casados há dois anos e já um pouco antes do casamento o Caldeirão Furado já pertencia à Ana e foi desse modo que eles juntaram dinheiro suficiente para darem uma super festa de casamento, a qual Hermione compareceu e realmente havia sido sensacional.

— Não te vejo aqui há um tempo, Hermione. – Ana disse, sorrindo gentilmente, ao mesmo tempo em que lançava olhares desconfiados para Draco, que estava sentado de frente para Hermione.

— Ah, você sabe, tudo está tão corrido ultimamente. E como vai Neville?

— Foi levar o velho Tom em casa. Ele estava aqui bebendo desde cedo. – Ana riu e Hermione também.

Tom era o antigo dono do Caldeirão Furado, que, de acordo com o casal Longbottom, gastava todo o dinheiro que ele havia ganhado vendendo o Caldeirão Furado dentro do próprio Caldeirão Furado.

— E o que vocês vão querer para hoje? – ela perguntou, dando dois tapinhas no bloco de papel que estava em suas mãos; o bloco logo começou a flutuar ao seu lado, com uma pena enfeitiçada pronta para escrever.

— O do dia e uma cerveja amanteigada, por favor. – Draco disse.

Hermione deu de ombros.

— O mesmo. – respondeu por fim – Obrigada, Ana.

Ela sorriu e se afastou, lançando um último olhar ao estranho casal na mesa do canto.

— Aparentemente nem todos os seus amigos acreditam que eu realmente tenha mudado. – Draco disse, olhando o caminho por onde Ana havia passado.

— Não é isso. Ela só estranhou o fato de estarmos juntos aqui. Além disso, a mãe dela foi assassinada por um Comensal no sexto ano, ela nunca vai confiar em ninguém que já esteve perto de Voldemort.

Draco maneou a cabeça, aparentemente concordando.

Eles ficaram em silêncio por longos segundos, até as cervejas amanteigadas chegarem na mesa flutuando. Draco deu um longo gole e fez uma careta.

— Eu sempre detestei isso. – falou.

— Eu sei. Não entendi por que pediu. – ela disse aquilo achando graça, mas logo depois se martirizou por isso. Ela não podia mostrar que o conhecia, eles não eram próximos mais.

Draco deu de ombros.

— Queria relembrar o gosto. – falou.

— Mesmo sabendo que não ia gostar?

— Mesmo sabendo que eu não ia gostar.

Eles sorriram por alguns instantes um para o outro, mas Hermione logo cortou o contato e a familiarização daquilo, desviando o olhar para o balcão, onde os bêbados mais assíduos estavam, rindo e falando alto.

— Está sem febre? – ela perguntou.

— Sim. Depois do café tomei a poção para a febre e uma poção para dor. Me sinto novo.

Hermione assentiu.

— Isso é bom.

Draco encarou ela alguns longos instantes.

— Obrigado.

Hermione franziu o cenho.

— Pelo quê?

— Você salvou a minha vida ontem à noite. Sabe disso.

Hermione deu de ombros.

— Estamos quites então.

Eles se encararam algum tempo e Hermione se lembrou dele estuporando Bellatrix e a pegando no colo, indo soltar seus amigos do calabouço, tantos anos atrás. Teve quase certeza de que ele lembrou da mesma coisa.

— Enfim, te chamei para almoçar por um motivo. – ele disse.

— E qual é? – ela ficou ansiosa.

— Você me deu uma ideia. Hoje de manhã, disse que o sangue com as hemotoxinas estavam alimentando a Marca. Então, se pensarmos desse jeito, temos que deixar a Marca “com fome”. – ele fez aspas com os dedos – Deixando a Marca sem as hemotoxinas, sem o sangue dela, talvez faça com que ela suma.

Ele arqueou as sobrancelhas, esperando uma resposta.

Era estupidez. Ele basicamente estava falando para tirar o máximo possível de sangue da região da Marca para ver se desse modo bastaria para dar um fim a ela. Era uma ideia horrível, porque tirando somente três frascos de sangue do corpo dele foi o suficiente para quase matá-lo.

— Você está louco, Draco. Está insano. Você quase morreu ontem à noite, tem ideia disso?

— Sim, eu estava lá. – ele tinha um sorriso irônico no rosto.

Os pratos chegaram e ambos agradeceram a um garçom de cabelos e roupas compridas, antes de Hermione voltar a fuzilar Draco com o olhar.

— É, mas quem ficou desesperada e com medo vendo você gritar de dor e delirar de febre não foi você.

Draco apenas piscou.

— Você ficou com medo?

Hermione engoliu em seco, porque era algo que ela não devia ter falado, não podia dar esse gostinho a ele.

— É claro. Se você morresse quem iria como culpada para Azkaban seria eu. – foi tudo o que ela disse, antes de ocupar sua boca com uma batata assada.

Draco continuou a observando alguns segundos, antes de começar a comer.

Depois de quase metade do prato de cada um ter sido finalizado, Draco bufou e disse:

— Então me diga o que podemos fazer. Existem pouquíssimas coisas usadas para veneno de cobra no mundo bruxo, afinal, podemos pará-las com um feitiço, então a grande maioria não dá resultado. Não sabemos o tipo de cobra, apesar de as chances de serem a Nagini serem muito altas, mas nem sei mesmo se aquela coisa era só uma cobra.

— O que quer dizer com isso?

Draco suspirou.

— Nagini era uma serpente surpreendentemente inteligente e perspicaz. Aquilo não era normal para uma cobra qualquer. Ela era muito mais inteligente que pelo menos metade dos Comensais. Para mim, ela nunca foi só uma cobra.

— Acha que ela poderia ser um animago?

— Não, nada disso. Algo mais obscuro, provavelmente. Mas, acima de tudo, não deixa de ser uma cobra venenosa.

Hermione suspirou, assentindo. Eles só tinham três frascos pequenos de sangue para testarem possibilidades de pouquíssimas ferramentas bruxas contra veneno de cobra, então nada parecia promissor.

— Não precisamos usar nada bruxo. – ela disse, em um estalo.

Draco franziu o cenho, sem entender.

— Os trouxas. – Hermione continuou – Picadas de cobra são muito comuns para eles, então existem soros antiofídicos. São obtidos a partir de anticorpos de outros animais que reagem contra esses venenos. Podemos usar isso.

Draco deu um gole na cerveja amanteigada, fez outra careta e então disse:

— Podemos tentar. Mas acha mesmo que Voldemort deixaria a solução de como se livrar do seu controle, se livrando da Marca, por conta dos trouxas?

Havia uma grande chance de a resposta para aquela pergunta ser não, afinal, Voldemort considerava os trouxas sujos, mas Hermione apenas riu.

— Seria bem engraçado, não? – ela disse – Talvez ele tivesse pensado que havia criado o controle perfeito, sem nenhuma maneira de se livrar dele, quando, na verdade, a solução está com os trouxas há literalmente séculos.

Draco pensou por alguns segundos, antes de sorrir também.

— Seria bem engraçado. Ele nunca se perdoaria por perder para os trouxas.

Os dois riram, se olhando e tudo pareceu leve novamente. Como era há seis anos, quando eles ficavam acordados por várias madrugadas, só conversando e se conhecendo, algumas vezes na cozinha do Largo Grimmauld, outras em florestas espalhadas por toda Grã-Bretanha.

Hermione voltou os olhos para o prato, se sentindo... estranha? Ela gostava de rir com Draco de novo? Estava se permitindo ser leve com ele outra vez? Deveria permitir?

— E você consegue esse soro? – Draco perguntou, depois de finalizar seu prato.

— Talvez vendam em consultórios veterinários. Vou procurar saber.

Draco assentiu.

— Podemos tentar desse jeito então. – ele falou e então franziu o cenho, olhando além de Hermione. Ficou alguns segundos assim antes de voltar a olhar para ela – Já terminou?

Hermione assentiu. Ele realmente queria se livrar dela pelo jeito.

Eles ficaram em pé, foram até o balcão onde Draco entregou alguns galeões para Ana, sem nem mesmo deixar Hermione pensar em pagar e logo a puxou para o fim do pub, na entrada do Beco Diagonal.

Ele parecia sem jeito e olhava para trás, na direção da entrada para o Caldeirão a todo instante.

— Ok, então, algo que você não sabia sobre mim. – ele disse de repente, olhando para Hermione com os olhos cinzas intensos – Eu sou Presidente das Empresas Malfoy desde os vinte anos e mesmo assim não largam do meu pé para que eu me case, para manter as boas impressões. Então se sou visto com qualquer mulher, é notícia de primeira capa, inclusive a última delas foi a minha secretária e ela poderia ser minha mãe. E eu tenho quase certeza de que havia uma repórter de uma dessas péssimas revistas de fofocas ali dentro e nos viu, então, se algo desse tipo aparecer em qualquer lugar eu só... Sinto muito.

Hermione apenas assentiu, no fundo achando graça.

— Eu tenho que ver minha mãe agora. – Draco disse, depois de retomar o jeito sério, diferentemente do jeito conspiratório que estava antes. – Foi... interessante. Até segunda, Granger.

Ele a observou alguns instantes e então sumiu em um estalo.

Ele realmente havia dito que foi interessante?

***

Os domingos de Hermione Granger eram baseados em três opções: ficar em casa e cozinhar somente para si, o que ela fazia quando estava de bom humor, porque realmente gostava de cozinhar (afinal, era só seguir as regras!), ou ir para a casa dos Weasleys, em que Arthur e Molly reuniam todos os filhos e netos e era simplesmente uma bagunça adorável ou então ir para a casa de Harry e Gina, no Largo Grimmauld, onde ainda se encontrava com Rony e parecia nos tempos de Hogwarts.

Nesse domingo, ela se encontrava na terceira opção.

Estava temperando a carne de boi com sal e mais algumas especiarias no balcão da cozinha e ao seu lado Gina misturava o molho de raiz que era o acompanhamento essencial. Estava um dia bonito, o céu completamente azul, sem chuva e bem quente, a ponto de Hermione se permitir uma camiseta.

Colocou a carne no forno e se sentou à mesa.

— Rony vai trazer a namorada nova? – Hermione perguntou, se referindo a garota australiana que ela ainda não conhecia.

— Por Merlim, eu espero que não. – Gina falou, bufando. – Eu não te contei? Conheci ela ontem.

— E o que achou?

— Ela é um escândalo. Literalmente. Ela não sabe falar baixo, Mione. E James já estava dormindo!

— A garota não é tão ruim. – Harry falou, aparecendo na cozinha, com James no colo. Hermione sorriu para o bebê de pele clara gorducho e tirou o afilhado do colo do pai – Gina só está assim porque ela é uma modelo e você sabe o que Gina acha de modelos.

— Ah... Modelos. – Hermione assentiu, segurando James em um dos braços e no outro um urso de pelúcia que o garotinho olhava encantado – Mulheres excepcionalmente bonitas com um corpo invejável ganhando para viajarem o mundo e usarem roupas?

Gina revirou os olhos e Harry e Hermione riram. Gina realmente não era muito fã de modelos.

— Ela só sabe falar disso. É extremamente irritante. – a ruiva continuou – Temos um cérebro suficientemente grande para que acumule assuntos sobre os quais falar.

— Bom, isso é verdade. – Harry falou, começando a picar as cenouras em cima de uma tábua – Genevieve não tem outro assunto, é um pouco chato.

— Por quanto tempo vocês falaram com ela? – Hermione perguntou, fazendo caras e bocas para o afilhado, como uma boba, do jeito que qualquer pessoa fica com bebês.

— Por mais de uma hora, na verdade. – Harry falou, parecendo surpreso. – Foi bem chato.

— Eu disse. – Gina falou, dando de ombros.

— Ei! – a voz de Rony soou da entrada da casa – Já viram o Profeta hoje?

— Ainda não recebemos. – Gina gritou de volta para o irmão.

Rony apareceu na cozinha com uma camiseta estampada e uma bermuda.

— Por Merlim, não estamos indo para a praia. – Hermione falou, achando graça no look.

— Está atrasado. – Harry falou para o melhor amigo.

— Demorei para acordar hoje. – Rony bagunçou o cabelo da irmã, cumprimentou Harry e depois abraçou Hermione, pegando James do colo dela; o garotinho ficou totalmente animado porque ele era alucinado por Ron. – Peguei o Profeta de vocês ali na entrada. – ele jogou o jornal na mesa – Olhem a capa.

Hermione abriu o jornal e Harry e Gina se aproximaram.

Havia uma foto de Hermione e Draco no Caldeirão Furado no dia anterior, ambos rindo. A manchete era: Granger & Malfoy: quem imaginaria?

Os três amigos olharam para Hermione no mesmo instante, curiosos. Ela revirou os olhos.

— Não é nada. – ela disse – Estou trabalhando em um processo da empresa dele. – não sabia que tinha essa facilidade para mentir para os amigos.

— Em um sábado? – Rony falou, antes de fazer cosquinhas na barriga de James, que começou a rir enlouquecidamente.

— Durante o almoço? – foi Harry quem perguntou.

— É. Durante a semana somos ocupados. E é só isso. – Hermione falou, antes de virar o jornal para baixo, tampando a foto.

Os dois amigos, os mesmos que acompanharam todos os seus dias do breve relacionamento com Draco Malfoy, a encararam mais alguns segundos, antes de Rony voltar sua atenção para James e Harry para as cenouras.

Gina a encarou mais alguns segundos e depois voltou para o molho.

Eles não demoraram muito para almoçar, com Gina alterando entre comer e dar papinha para James, enquanto Harry e Rony ficavam em um papo de quadribol e Hermione mantinha sua cabeça naquela foto. Ela e Draco pareciam tão... normais. Leves, divertidos. Pareciam como antes. Mas eles não podiam ser como antes, não mais. Não depois de seis anos, em que a indiferença de Draco Malfoy quanto a tudo que eles viveram foi visível de um modo quase palpável.

Não depois do quanto ela se magoou.

Depois do almoço, Harry e Rony ficaram por conta de arrumar a cozinha – de um jeito único, porque sempre em algum momento eles começavam a jogar espuma um no outro, como crianças – e Hermione subiu com Gina, para fazer James dormir.

O garotinho já cochilava no colo da mãe, com Gina cantando uma canção sobre “mil vassouras no céu estrelado” e então ela o colocou no berço. Hermione estava sentada na poltrona cor de creme do quarto em tons neutros do garoto, olhando os títulos dos livrinhos de James.

— Então... – Gina começou, falando baixo – Draco Malfoy.

Hermione assentiu, folheando o livro “Pequenas pegadas de um sapo divertido”, que definitivamente não parecia divertido.

— É. Ele mesmo. – foi tudo o que respondeu.

Gina deu um longo e dramático suspiro, dramático o suficiente para fazer Hermione encará-la.

— E como você se sentiu? – Gina falou – Você sabe... Em relação a tudo.

Hermione deu de ombros, fingindo um relaxamento que não existia.

— Já tem seis anos, Gi. Eu e ele agora somos profissionais.

Gina encarou Hermione algum tempo e Hermione tinha medo desse olhar, porque Gina a conhecia muito bem.

— Eu não estava lá. – a ruiva disse – Não sei como vocês eram, mas Harry e Rony me contavam do jeito que ele te olhava e de como olhava para ele. Eu vi como você ficou nos primeiros meses pós-guerra, o quanto esperava por algo. Você não sabe perdoá-lo, Mi, eu vejo isso. Não consegue entender. Então por que simplesmente não pergunta para ele?

Hermione absorveu as palavras aos poucos.

— Ele não me procurou porque não significou nada para ele, Gina. Foi por isso e, se quer mesmo saber, estou bem. – ela não estava. Ver Draco nesses últimos dias lhe causava algo que ela não sabia decifrar, mas era perturbador – É um relacionamento estritamente profissional.

Gina assentiu e colocou uma coberta fina amarela sobre o filho e depois voltou a olhar para a amiga.

— Se quer saber, Draco Malfoy é um milhão de vezes melhor que Joe Wilson.


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Notas finais do capítulo

espero que gostem!



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