Beast Hunters escrita por HAlm


Capítulo 9
O chacal negro


Notas iniciais do capítulo

Caramba! Próximo do décimo capítulo!!!

O décimo capítulo será o dos jogos, como é previsível vendo o andamento das coisas, então... Fiquem com o capítulo de hoje!



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Pela noite, Vael demorou para dormir.

Karin arrumou um lugar onde ele e sua família poderiam dormir. Um quarto com as camas improvisadas que eles precisariam.

Para os banhos, havia dois lugares que eles usariam. Um, para machos e outro para as fêmeas que eram divididos em dois grupos que, a cada semana, cada grupo teria dois banhos. Qualquer incômodo que fosse provocado por alguém era facilmente denunciado e ouvido pelos superiores que decidiam a punição adequada. Eram ambientes fechados, aquecidos com um enorme chuveiro no centro que derramava água automaticamente, que passava por um ralo para passar por um processo de cuidado, afinal, Anúbis tinha vários monges que o serviam. Cada coisa ali foi bem pensada para ser útil a eles.

Várias vezes Vael se sentou, virou para um lado ou outro, via sua irmã poucos centímetros ao lado, seus pais um pouco mais distante. 

O cobertor parecia sufocá-lo. Sem ele ainda sentia que faltava algo. Que precisava fazer alguma coisa.

Ele se levantou e saiu do quarto.

Lá fora sentiu o ar gelado da noite do deserto passando pelas entradas do complexo e um arrepio percorreu seu corpo junto a outro sentimento. Sabia que devia ir a algum lugar ali, que de alguma forma não se sentia tão seguro por algum motivo. Tinha que descobrir tudo... mesmo que não soubesse com certeza o que estava sentindo.

Tudo parecia ser uma voz que o chamava em sua cabeça. Chamava para ir a algum lugar...

Flashes de imagens apareciam enquanto caminhava e tentava lembrar de onde viu alguma daquelas imagens que apareciam e desapareciam num instante.

Ele andou até a estátua que tinha visto antes. A estátua de Anúbis. Somente agora viu seus detalhes: um chacal musculoso sentado num trono de pedra com a mão direita para baixo com os dois dedos apontando o solo e a direita levantada com uma balança.

— Era isto? - Vael se perguntou esperando que algo o respondesse.

Permaneceu olhando para a estátua. Todas as imagens que viu era daquele lugar em vários ângulos, mas... Não havia nada ou ninguém à vista.

— Vael - uma voz forte falou com seu som ecoando por todo o canto. Ninguém aparentemente deve ter escutado além dele.

Vael deu alguns passos para trás com os olhos fitando a grande escultura.

— Quem está falando?

— Já vi histórias... - a voz se tornou mais baixa, mas dessa vez o susto de Vael foi por saber uma direção. Saber que a voz vinha de suas costas, mas não saber ainda quem era. -  Um ser que viajou de terras distantes para acalmar o coração de uma raposa desamparada. Jovens que viajaram entre mundos para conseguir ajudar pessoas. Mas pensando melhor... eu gosto mais da simplicidade. Pessoas lutando pela terra que amam, isto é mais simples e... romântico até.

O dono da voz sentou-se com pernas cruzadas ao lado de Vael. Um enorme chacal musculoso e todo preto que vestia apenas uma bermuda de praia.

— Você é...

— Anúbis, garoto. Sim, sou eu.

— Wow! - Vael fechou os olhos, sacudiu a cabeça e voltou a olhar para ele assustado por não ter desaparecido. - Achei que fosse um sonho... Nunca achei que os deuses fossem reais.

— Chama do que achar melhor. Guardião acho que cai melhor. - Colocou as duas mãos na nuca e deitou de costas no chão.

— E você está aqui... ao invés dos outros... Você deve estar se beneficiando bastante com as mortes né? - Vael perguntou com certo desdém.

Anúbis soltou um suspiro.

— É isso que as pessoas pensam de um guardião da morte? Que são tipo um vilão que leva pessoas inocentes? Parece que nunca pensou sobre a morte ser necessária, não é?

— Necessária? Tipo, várias pessoas se mataram nesses últimos anos. Outras morreram tentando derrubar aquele idiota e acha isso necessário?

— O mundo seria um lugar melhor se houvesse imortalidade? - Ele se virou e olhou para o pequeno guaxinim apoiando sua cabeça com um dos braços. - Planeta superlotado, dor eternizada... Desculpe estragar sua fantasia, garoto, mas a morte seria a única saída para algumas situações. Se pessoas fossem imortais, poderiam ser torturadas para sempre. Se pessoas fossem imortais, seus cérebros não aguentariam por serem feitos para morrerem algum dia e então enlouqueceriam.

Vael se sentou ao lado do deus.

— Você não é mau então?

— Eu só faço meu trabalho, garoto. Só vejo quem é bom e quem não é para ver se a pessoa vai ir a algum lugar bom... ou ser esquecida. Eu só recebo as almas. O fim da vida de cada um não é da minha conta... e eu acho melhor não me envolver com isto.

— Acho que te julguei mal então...

— Não é isso... filmes infantis precisam de um vilão. Este vilão pode ser algo natural da vida como a morte. - Ele voltou para a sua posição anterior, olhando diretamente ao teto de seu templo. - Quer deitar também?

Vael olhou ao redor, ainda pensando em supostamente ser uma pegadinha, mas aparentemente todos dormiam. 

— Então? Não há nada que possamos fazer agora.

O guaxinim subiu no corpo do chacal e dentou com a cabeça em seu peitoral, olhando para a mesma direção que o guardião.

— Então... Por que quis que eu viesse aqui?

— Hoje, quando amanhecer, você vai para um treinamento, certo? É bom você dar seu melhor nisso, pois acredito que você fará bastante diferença.

— Mas como?

— Bom... Você verá, não posso dar spoilers né?

— Certo... Você quer que eu chame a atenção deles para ir em alguma missão...

— Sim 

Vael se aconchegou nos pêlos do guardião.

— Quero que você ajude um templo. Ou... o lugar era um templo... havia humanos lá antes - Anúbis continuou.

— Humanos? Pera, eles não são uma lenda? Achava que não existiam humanos.

— Sim, Vael. Humanos existem... Neste planeta há poucos, mas sim. Existem. Mas os que estavam lá morreram, então... quero que traga para cá qualquer um que estiver lá.

Anúbis fez um sinal com as mãos e as colocou no peitoral de Vael.

— Fique com isto para que reconheçam você. Eles estão protegendo um dos últimos templos de Rá - um colar surgiu no pescoço do guaxinim enquanto Anúbis dizia estas palavras. Um colar de prata com forma da cabeça de um chacal com cabelos trançados caindo pelos dois lados.

Anubis com o dedo indicador acariciou o menor da testa à ponta do focinho.

— Agora é bom descansar. Quando o sol sair estará disposto. Quando o sol cair você deverá partir. Agora durma...

Quanto mais carinho o guardião fazia passando o dedo entre seus olhos, mais sentia eles pesarem e lentamente se fechavam.

Vael dormiu se sentindo aquecido pelo abraço do que chamavam de deus do submundo e dos mortos e acordou com um piscar de olhos. 

Um sono aparentemente sem sonho. 

O colar de Anúbis ainda estava em volta de seu pescoço. Aquilo não foi um sonho...

O som de um sino atravessou todo o lugar.

Todos já estavam se preparando para começar tudo.

Vael correu para  ir até onde os desafiantes estariam em alguns minutos.

***

 

Depois de quase meia hora todos chegaram à frente dos portões transparentes enquanto as pontas dos dedos brilhavam com a formação de uma barreira que impedia a areia do deserto de atrapalhar o treinamento. 

Um vento forte como um furacão varreu todo o cenário que estava entre as torres e, detrás dos portões todos viram a natureza milagrosamente se formar. As areias foram espantadas através da barreira mágica, e ali, grama verde nasceu, arbustos e árvores surgiram entre as rochas e riachos começaram a correr...

E Vael olhava maravilhado para tudo aquilo acontecer diante de seus olhos.

— Ei Vael! - Kelsier tocou com carinho o ombro do guaxinim. - Finalmente te achei. Eaí? Vamos formar uma equipe? 

O lobo tubarão esboçou um sorriso confiante com as mãos na cintura tentando exibir o corpo bem detalhado por trás da regata.

— Uma equipe?

Uma cauda felpuda como a de esquilo passou pelo rosto de Vael. Vaiska surgiu usando uma camisa curta e colada, combinando com seu corpo esbelto, mostrando os tons de pelagem preta e branca e uma bermuda com um cinto preso e seus itens nele.

— Sim, uma equipe! Já que o jogo é de equipes de cinco pessoas, nós teremos você, a Liane e a Lully para participar! - Vaiska contou alegre e talvez ansioso. - Bom, nós cinco podemos brincar fácil disso!

— Então, como vamos fazer? - Liane apareceu entre eles com a coelha do Ártico, Lully. - Pelo que disseram temos uns minutos pra discutir a estratégia. Pegar a bandeira de um ponto e levá-la a outro ao mesmo tempo que a nossa deve estar mantida em segurança.

— Esta é a versão simplificada - replicou a coelha. - O jogo tem a parte do cenário que é magicamente construído para a ocasião toda vez que a barreira é ativada. É como se a vida fosse refeita ali, no meio do deserto.

Vael fitou cada ponto sem dizer uma palavra. Suas mãos firmemente seguravam os ganchos de escalada que tinham as cordas afastadas de seus pulsos por braceletes de couro. Os pontos onde se penduraria com facilidade eram a árvore, com seus galhos firmes daria conta de seu peso; a rocha no caso de se meter numa enrascada e escalar com facilidade. Ainda tentava analisar o restante do cenário. Era como se estivesse em seu próprio mundo enquanto fazia aquilo.

Para Vael aquilo era incrível. Não por ser um desafio, mas por ser parte de seu hiperfoco mais recente: sobrevivência. Analisar estrategicamente pontos específicos do ambiente ou de algum lugar e por instinto saber o que fazer para seu corpo se guiar como em modo automático.

Não seria bem um hiperfoco se apenas considerasse a ação do corpo para sobreviver, mas seria se Vael simplesmente usasse tudo o que aprendeu automaticamente neste momento. Usar a matemática a próprio favor, coisa que antes parecia um pouco inútil, agora não era tanto visto que adorava isto por testar sua capacidade lógica. 

Agora, calcular com precisão de cabeça ângulos enquanto seu dedo rabiscava o ar como se fosse seu caderno. Uma forma de não perder as anotações mentais que fazia enquanto os cálculos planejavam onde arremessar um gancho, qual a provável velocidade que iria balançar e, se fosse necessário, ao aplicar uma força, a distância poderia permitir que chegasse ao determinado lugar seguro.

A força era mais difícil e talvez imprevisível, pois dependia de seu corpo e de seu instinto de sobrevivência. Não tinha nada para calcular e ter noção de qual sua média de força.

Ao saber do básico da matemática e da física, provavelmente apenas quando uma ditadura começou que viu sentido nos argumentos dos professores sobre a utilidade das matérias em sua vida.

— Vael?

Ele acordou de seu transe apenas quando Liane tocou seu ombro.

— Vamos que já vai começar daqui a pouco... Só vamos ver um pouco o que vamos fazer...

— Eu posso pegar a bandeira - Vael disse indo ao encontro dos amigos. - Vocês podem distrair eles?

Kelsier colocou as mãos na cintura.

— Acha que consegue? - Suas mãos desajeitadamente foram à nuca. - Quero dizer, não tô dizendo que você seria ruim, mas... Acha...

— Eu consigo. Só confiem em mim, é algo que já fiz antes. 

— Bom, eu confio! Se bem que meus equipamentos servem bastante para suporte! - Lully mostrou os discos nos pulsos orgulhosa. - Nesses tempos que não nos vimos eu fiz umas mudanças neles, Vael. Imagina só! Eu dançar e com cada movimento o som lançado curar vocês? - Ela deu alguns passos de dança com os pés e as mãos.

— Verdade. Isto seria ótimo, Kel! - Vaiska disse. - Você consegue? Podemos dar algum suporte para você e a Liane.

Kelsier estalou o pescoço e os dedos, tirou a regata e empunhou seu bastão.

— Não temos motivos para não testar! 

 


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Notas finais do capítulo

Após o décimo capítulo eu prometo começar com a ação! Kkkk



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