AnaBela escrita por Kori Hime


Capítulo 1
AnaBela


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura



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Bela estava distraída, enquanto assistiam aquele filme romântico. Não era seu estilo favorito, preferia suspense e terror, mas gostava de observar as expressões no rosto de Ana. A trilha sonora já era o bastante para fazê-la chorar. Os diálogos, muitas vezes Ana sabia decorado e Bela via seus lábios se mexerem conforme os personagens conversavam e parava quando a áudio descrição do filme narrava o que estava acontecendo.

— Você está quieta demais. — Ana comentou.

— Estou te admirando. — Ela levou a mão as trancinhas de Ana, inclinando o corpo para dar um beijo em seu rosto.

— Está tentando me seduzir? — Ana virou o rosto na sua direção. — Porque está conseguindo, eu já sei como acaba esse filme.

Bela riu, inclinando mais o corpo sobre o de Ana para beijá-la nos lábios.

A primeira vez que viu Ana, ela não tinha ideia de onde estaria anos depois. Foi na biblioteca da universidade, ela era caloura e não sabia ainda como se deslocar pelo enorme campus. Havia se mudado para a cidade há pouco tempo e ainda estava tentando se habituar com o calor e a confusão do trânsito caótico da cidade grande.

Se perdeu por entre alguns corredores e acabou parando no instituto de Macromoléculas. Deu meia volta e retornou ao corredor, encontrando a biblioteca, sentindo-se burra por ter passado por ali várias vezes e ter se perdido. Ela daria um desconto para sua falta de atenção, o dia não estava sendo nada fácil. Perdeu o horário da primeira aula, a professora a humilhou na frente de todos os colegas e ainda ficou sem almoçar porque alguém roubou sua marmita, que ela havia deixado na geladeira do diretório de estudantes. Falaram que ela deu bobeira, mas ninguém a alertou de assaltante de marmitas. Estavam todos ali no mesmo barco, não esperava que isso fosse acontecer.

Um pouco mais calma, Bela focou no seu objetivo, precisava de um livro para o trabalho. E queria fazer com antecedência, mesmo que o professor tenha dado uma folga na entrega. Acontece que ela não poderia dar moleza, trabalhava a semana toda para poder usar os finais de semana para estudar. E apenas sábado e domingo não seria o suficiente para as cinco disciplinas que haviam se inscrito, além da eletiva que começava dali meia hora.

— Oi, eu quero pegar um livro, pode me ajudar? — Ela perguntou, abrindo o caderno para mostrar o nome do livro.

Sentada na cadeira, virada de costas, estava Ana. As tranças estavam presas no alto de sua cabeça, enquanto um lenço de cor verde chamava a atenção para o penteado.

Bela direcionou os olhos para o caderno, constrangida pelos pensamentos em sua cabeça.

— Qual o livro? — Ela perguntou, ficando de pé.

— Esse aqui. — Bela virou o caderno para que ela pudesse ler e só depois notou que a bibliotecária usava um par de óculos escuros.

— Você vai precisar me falar o nome do livro e do autor, ok? — Ela puxou a cadeira e se sentou na frente do computador. Bela pediu desculpas pelo inconveniente. — Não é nenhum inconveniente, é meu trabalho ajudar você. Pode falar.

Bela então falou o nome do livro e do autor. A pesquisa não levou muito tempo e Bela ainda aproveitou para encontrar mais um livro que foi indicado pela professora na semana passada, mas estavam todos os exemplares emprestados.

— Ainda não temos nenhum, você pode verificar quando estiver disponível no site.

— Obrigada, vou tentar em outra biblioteca.

Bela chegou atrasada na aula da tarde, e começou a se questionar se deveria mesmo ter puxado aquela eletiva. O tema era interessante, mas estava preocupada se conseguiria manter aquele ritmo. No final da aula, estava cansada e com fome. Além disso, era horário de pico e não fazia diferença se pegasse o ônibus agora ou dali duas horas, chegaria tarde em casa do mesmo jeito.

Decidiu comprar um saquinho com pães de queijo que estava na promoção, usando os últimos cinco reais que tinha na bolsa. Os corredores pareciam todos iguais, levando-a até um pátio com algumas barraquinhas montadas. Era uma feira vegana, mas nem se deixou levar pela carinha bonita dos docinhos, preferindo se manter distante para não passar vontade.

Ela sentou-se no chão mesmo, colocando o celular para carregar em uma tomada e passou a ler o livro que havia pegado na biblioteca. A lembrança da bibliotecária a fez perder a linha do raciocínio logo no primeiro parágrafo do primeiro capítulo.

A mulher era bonita e possuía um sorriso de um milhão de reais. Bela riu, recordando-se da vergonha que passou quando percebeu que a bibliotecária era cega. Pior, sentiu-se mal por ter pensando naquele momento que ela a atrasaria. Ficou envergonhada por tal pensamento, constatando em seguida que a mulher era perfeitamente capaz de fazer o trabalho dela sem atrasá-la. Bem, ela estava atrasada antes, então a coitada não tinha culpa de nada.

O pão de queijo havia acabado e agora só restava 500ml de água filtrada do bebedouro. Bela olhou o relógio, faltava ainda uma hora e meia para ela pegar o ônibus. Pensou em ir no lotado mesmo, mas só de lembrar do trânsito na Avenida Brasil, suas pernas amoleceram e ela decidiu ficar mais um pouco.

O celular havia carregado 10% e conseguiu responder algumas mensagens no WhatsApp, não havia muitas mensagens especificamente para ela. Eram vários grupos de trabalho e ninguém parecia focar no tópico principal, senão mandar banner de chopada ou link para abaixo assinado de algum caso grave ao qual ela não estava emocionalmente preparada para acompanhar naquele momento.

Bela dobrou as pernas e observou as pessoas que passavam. Um casal de rapazes trocava um beijo perto de uma barraca de empadas artesanais, enquanto um grupo de garotas experimentavam os brincos na outra barraca.

Bela reconheceu a mulher conversando com uma outra pessoa logo atrás das garotas. Era a bibliotecária. Ela parecia ter uma conversa divertida porque não parava de rir, depois, pegou a carteira dentro da bolsa e entregou um cartão. Provavelmente para pagar o pacote que recebeu em seguida.

Seus olhos seguiram a mulher pelo pátio, atenta a cada passo que ela dava, parecia tão segura de seus passos assim como da bengala em sua mão. Ela chegou até um banco e se sentou. A todo momento Bela desviava seu olhar para a bibliotecária. Em um momento ela estava com o celular na mão e um fone de ouvido, em outro comendo uma empada artesanal e bebendo um suco.

Bela sempre foi tímida, não era seu costume dar o primeiro passo. Mas não via como naquela situação ela esperar ser notada pela bibliotecária que não fazia ideia da sua presença tão próxima.

Foi com uma montanha de coragem que ela se levantou e guardou tudo na mochila e caminhou na direção da bibliotecária. Foram apenas dez passos até chegar até ela, mas seu coração batia acelerado, e a palma de sua mão ficou suada. Não sabia ainda o que falar para ela, ou se estaria sendo inconveniente, mas não desistiu de caminhar até ela.

E foi a melhor decisão que teve em sua vida. Descobriu que seu nome era Ana e que ela adorava ir à praia e de carnaval. Estava no mestrado e aguardava naquele momento carona para casa. Talvez fosse coincidência, mas elas moravam em bairros próximos e Bela também ganhou uma carona. Levou alguns meses até Bela se declarar, e poucos minutos para Ana a beijar. Agora, Bela não sabia mais como viver longe de Ana, e muito menos longe daquelas empanadas artesanais que descobriu ser ela quem preparava.

De volta à sala, onde o filme já estava no final, Ana enrolava nos dedos uma mecha do cabelo enrolado de Bela.

— Está muito quieta. — Ana sussurrou.

— Eu estava pensando na primeira vez que vi você.

— Ah! Me conte novamente, eu adoro essa história.

— Já te contei mil vezes. — Ela sentou-se no sofá empurrando a almofada na direção de Ana.

— Mas eu adoro. — Ana insistiu, esticando a mão para tocar o rosto de Bela. — Nunca vou esquecer de ouvir você reclamando sozinha antes de falar comigo. Parecia brava com tudo.

— Roubaram minha marmita naquele dia.

— É verdade. — Ana gargalhou, jogando o corpo para trás, caindo sobre as outras almofadas do sofá. — Coitadinha.

— Eu queria esquecer essa parte.

— Comeu seis pães de queijo depois. — Ela continuou rindo e Bela acabou a acompanhando. Agora parecia mais engraçado do que na época. — Se eu soubesse, teria te dado todas as empadas.

— Eu tive coragem de puxar conversa com você, mas pedir comida já era demais. — Bela fez um bico, mas Ana não poderia ver.

— Fico feliz que tenha tido coragem de falar comigo naquele dia.

— Eu também. — Ela voltou a abraçá-la pela cintura e a beijou no pescoço. — Por todos esses anos, eu sou grata e feliz.

Ao deitar a cabeça no colo de Ana, sentiu que as mãos dela acariciavam seus cabelos gentilmente. Bela fechou os olhos, aqueles anos não foram fáceis, mas valeram a pena cada momento ao lado de Ana.


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Notas finais do capítulo

É isso, curtinha mas com amor hehe
Beijos, aceito empada e comentários



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