Ingredientes para se Curar um Coração escrita por LizAAguiar


Capítulo 5
Ingrediente 04: Ouça Conselhos e Tenha um Plano


Notas iniciais do capítulo

Eis eu aqui novamente pessoinhas o/

Hoje essa fic anda ou eu não me chamo Snow Queen!! u.u

Tenham uma boa leitura ^^



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Piper nunca tinha visto a irmã sem palavras.

Drew sempre tinha algo a dizer, — idiota, na maior parte das vezes, — ela poderia ter perdido a discussão, mas nunca deixava de dar a última palavra.

A surpresa nunca ficava em sua expressão tempo o bastante para perder a chance de dizer algo maldoso.

Foi por isso que ficou tão estática quanto ela ao ver Malcolm em seu campo de visão.

— Quem diria que um dia você pegaria no pesado, né Tanaka? — Ele soltou o comentário ácido, como tantos que Piper presenciou nas últimas semanas no Roubo a Bandeira ou junto a fogueira do Acampamento Meio-Sangue.

— O que você...? — O potro que estava quase cedendo a sua voz, se vendo livre do encanto, saiu em disparada rumo a Oakland Hills. Butch ficaria estressado — Você está me seguindo?!

Ele pareceu pessoalmente ofendido com a ideia.

— Claro que não, faz semanas que estou aqui e você sabe disso. — Por causa da faculdade, pelo que Piper sabia, sua irmã rolou os olhos para o comentário. — Annabeth me disse que os pegasus estavam dando trabalho e vim ajudar o Butch. — O irmão da amiga o encarou com um sorriso prestativo. — O que posso fazer?

— Bem... — A aura assassina de Drew estava a distraindo. — Você pode ajudar os romanos a construírem o estábulo, ou a montar as armadilhas com torrões de açúcar para pegarmos os filhos que escaparam.

´´Pelos deuses, como esses pegasus dão trabalho! ``

Não paravam quietos um segundo só, a ponto da filha de Afrodite achar o Roubo a Bandeira menos cansativo.

´´E mais divertido. ``

— Ei. — Malcolm se dirigiu a irmã. — Vê se não joga o trabalho todo em cima da Piper.

Drew permaneceu calada, a face emburrada fazia parecer que estava recendo uma bronca do pai, seus olhos passaram entre os dois, sem ter qualquer noção do que estava acontecendo, Malcolm notou sua cara de descrença e sorriu.

— Você não contou a ninguém, não é? — Ele simulou um suspiro de cansaço, de alguma forma parecia se divertir com as reações da irmã. — Drew e eu estamos...

— Vai embora, Pace. — A voz dela estava perigosamente baixa, embora Piper tenha identificado o chame presente. — Vá falar com o Butch.

Foi o que o filho de Athena fez, sem se despedir e com os olhos cinzentos levemente desfocados. Fitou as costas do garoto por alguns segundos, recuperando-se do choque.

´´Isso pode ser um monte de coisas. ``

A final, fazia tempo que Piper não aparecia no Acampamento Meio-Sangue.

— Cadê aquele potro desgraçado? — Drew murmurou para si mesma, praticamente correndo para longe dela, obviamente para não responder as perguntas.

´´Pode ser tanta coisa...``

Mas sua intuição dizia que não era.

´´Você ficou até menos fútil depois da guerra, acho que foi um bom choque de realidade. ``

Seus pés se moveram sem que notasse, andando atrás da irmã.

´´Mas isso? E com o Malcolm? ``

Não foi difícil achar o filhote, rodeando o ninho de uma águia gigante, que o encarava como se fosse um mosquitinho chato.

— Zangado? Mestre? Soneca? — Drew soprou uma mecha que havia saído do rabo de cavalo, irritada pelo pegasus não responder.

— Feliz! Eu tenho torrões de açúcar. — O potro quase despencou para chegar mais rápido até a guloseima, Piper jogou dois ao lado quando notou sua irmã tentando sair de fininho entre os arbustos.

— Você e o Malcolm estão namorando? — Ela estacou, literalmente.

´´Nossa, eu esperava tudo, menos isso. ``

Até onde sabia o discurso dela sobre quebrar corações continuava o mesmo.

— Era bem óbvio que você tinha um crush nele... — O tanto que o provocava era no mínimo estranho. — Mas isso? Como conseguiu fazer ele aceitar?

Ela se virou lentamente, o olhar de ofensa teria assustado Piper se Medéia não houvesse existido em sua vida.

— Retire o que disse. — Rolou os olhos.

— Me diz logo o que aconteceu. — Jogou outro torrão de açúcar para Feliz.

— É tudo culpa daquela vaca nojenta. — O ódio que saiu em suas palavras soou morno, como se já estivesse cansada da situação.

— Hera? — Drew ofereceu outro doce ao pegasus, andando novamente até os estábulos.

— Afrodite. — O nome da mãe foi dito com rancor.

Piper não a culpou.

— O que ela fez dessa vez? — Seu tom foi suave, já com experiência em lidar com pessoas amaldiçoadas pela deusa do amor.

— Botou esse magrelo na minha vida. — Ela pegou o saquinho com açúcar que Butch havia distribuído e chacoalhou-o, deixando o filhote animado com a perspectiva de mais. — Vai buscar!

E jogou com toda força na direção do estábulo novo.

´´Cacete, que corpo mole. ``

— Vamos lá, deixa eu contar a desgraça da minha vida, e você conta a sua. — Ela começou a caminhar até a margem do Pequeno Tibre.

— A minha vida vai muito bem, obrigada. — Ela soltou um riso baixo e sarcástico.

— Então aquela fofoca toda era mentira? E olha que eu estava começando a respeitar você. — Sentou-se junto a irmã ignorando a provocação, lembrando-se da última vez que esteve ali.

E com medo de fazer a pergunta.

— Que fofoca? — Encarou o céu, em busca de respostas, por fiz suspirou. — Tanto faz, eu não quero saber. — Sentiu o olhar de Drew, sem interesse algum em saber do que ela estava falando.

´´Deve ser aquela coisa de triangulo amoroso que a Reyna e o Jason comentaram. ``

O silêncio se prolongou tanto que Piper pensou em se levantar, já que a irmã pareceu ter perdido a língua.

— Tá... — O desanimo em sua voz pareceu quase enjoado. — Eu gos... — Ela encarava o rio como se fosse um posso gigante de vômito. — Gos... — Levantou a mão pedindo tempo enquanto fechava os olhos e respirava fundo. — Eu gosto do.... — Bufou irritada. — Você entendeu!

— Nossa. — Disse, realmente impressionada com a dificuldade, mas essa não era a parte mais estranha. — E como fez ele gostar de você? — A irritação se transferiu de si mesma para Piper. — O que?

´´É muito estranho, antes ele só te suportava. ``

— Afrodite. — Ela sussurrou o nome como se fosse o pior dos palavrões. — Tenho certeza que ela fez alguma coisa com ele.

´´Então você concorda que é estranho? ``

— Ela... — Drew praticamente rosnou. — Ela não vai me pegar.

— Comece do início, o que aconteceu? — O bico em seu rosto arrancou-lhe um sorrio.

— Eu posso ter dito algumas vezes que Ares era feio e que mamãe tinha um péssimo gosto para homens. — Murmurou, como uma criança que confessa ter comido do pote de biscoitos antes do jantar.

— E como vingança ela faz o Malcolm se apaixonar por você? — Drew rolou os olhos.

— Acompanha o raciocínio. — Ela apontou para a própria têmpora. — Assim que eu baixar a guarda ela vai fazer ele se apaixonar por uma imbecil qualquer. — Drew soltou um som de desdém. — Mas não vai rolar, ele nem é bonito. — A fala saiu como se tentasse se convencer.

´´Acha mesmo que Afrodite liga do que achamos do gosto dela para homens? ``

Não que seu ego fosse forte, porém Piper tinha certeza que ela preferia se divertir com outras coisas a arquitetar planos para se vigar de um comentário ácido da filha.

Preferiu se abster, não puxaria aquela briga com a irmã.

´´Você vai descobrir por si mesma. ``

Embora ainda soasse estranho que Malcolm realmente gostasse de Drew.

´´Ele não parece o tipo que brinca com o sentimento dos outros. ``

Ele não era como a irmã.

— E você? Qual é o problema? — Levou seu olhar até o dela, perguntando a si mesma se deveria levantar a questão.

´´Talvez ela me dê razão. ``

— A Reyna tomou uma decisão, e eu acho que ela vai se arrepender muito se continuar com isso em mente. — Como nem Hazel sabia dos detalhes, achou melhor não continuar com a fofoca que os romanos pareciam adorar tanto. — Todo mundo acha que está tudo bem, mas...

A ideia de ver Reyna partindo sempre a deixava com um gosto amargo na boca.

— Sua intuição diz que a coisa vai feder? — Deu de ombros para a conclusão da irmã. — Entenda uma coisa maninha. — Juntou as duas mãos a frente do corpo, quase como se fosse rezar. — Por mais que você seja boa em chutar a bunda de gigantes e feiticeiras, todo mundo sempre vai te enxergar como uma filhinha de Afrodite que não sabe de nada. — Seu queixo caiu.

E o orgulho o acompanhou.

— Vai se ferr...

— Então você tem que usar esse estereótipo a seu favor, se as pessoas acham que você é uma lombriga inofensiva como a Lacy: seja isso. — Piper teve vontade de proteger a irmã, mesmo que Drew fosse ignorar. — Coma pelas beiradas, deixe ela achar que está do lado dela, honre essa voz absurda que mamãe te deu, converse, faça ela acreditar que quer o que você quer que aconteça.

Uma brisa suave compôs junto a correnteza do Pequeno Tibre enquanto a grega absorvia as palavras da outra.

— Isso é... — Drew a encarou com um sorriso debochado nos lábios.

— Manipulador demais pra você?

— Perfeito. — Ainda meio extasiada, não se importou com a presunção em seu tom de voz.

— Disponha, irmãzinha.

***

Reyna amava o estilo de banho romano.

Não era só uma ducha para lavar o corpo, mas sim um ritual de relaxamento completo que se via quase obrigada a praticar todos sábados nas Termas após o jantar.

O primeiro passo era mergulhar nas águas quentes do caldarium, onde ela poderia ficar até que a tontura pelo vapor a obrigasse a seguir ao tepidarium, com sua água morna em uma preparação ao frigidarium, onde a água fria atuava em uma conclusão mais do que balanceada: perfeita.

Normalmente a pretora ignorava a sauna em prol de passar mais tempo na água quente, já que nem mesmo o chocolate que tanto amava conseguia relaxar seu corpo tanto quanto um bom banho nas Termas, sua postura física mudava e até seus subordinados notavam.

´´Só aos sábados, depois do jantar, quando ninguém vem me dar mais problemas para resolver. ``

Se os Elísios fossem parecidos com a sensação que tinha após sair das Termas, não se importaria nem um pouco em pegar um avião para Los Angeles naquele momento.

Mas agora, no conforto de seu sofá, usando seu kimono preto de seda preferido e com uma pizza meia tomates secos e 4 queijos esquecida na cozinha, Reyna se perguntava o que tinha de errado com seu cérebro.

´´Por que você comprou isso? Ele não vai aparecer. ``

Na TV o episódio 5 de Star Wars passava sem que prestasse atenção, em seu estado de espírito preferiu esconder o rosto na almofaça, enquanto Aurum e Argentum disputavam o espaço abaixo de sua mão pendurada, em busca de carinho.

Claro, pelo olhar que Hazel lhe deu quando perguntou sobre Nico, — como se ela não quisesse contar que Guido ficou preso no aqueduto outra vez, — não poderia esperar que o filho de Hades aparecesse, todavia, jamais se perdoaria se perdesse a esperança.

´´Ele não pode ficar irritado comigo para sempre. ``

Ou era o que tentava se convencer, que ele ouviria a razão, — ou Will, — que estava apenas tentando experimentar coisas novas, descansar das missões e de todas as confusões que os deuses arrumavam o tempo todo.

´´Não estou indo embora por não gostar ou me importar com você, eu só quero...``

Um pouco de paz, para ouvir os pensamentos em sua cabeça, seus pensamentos, não os da pretora, ou do Acampamento Júpiter, os de Vênus. Era tão errado assim querer um tempo sozinha? Estava sendo egoísta por colocar a si mesma em primeiro lugar?

Os galgos deixaram sua mão em paz, sentiu um deles subir no sofá, tentando conseguir espaço empurrando suas costas com o focinho, ato que resultou em um calafrio, seda não era exatamente o mais grosso dos tecidos. Ouvir um barulho seco de algo caindo no carpete macio, — com certeza o pote de jujubas, — foi o necessário para identificar onde estava cada um sem precisar sair de seu esconderijo.

— Quieto, Aurum. — Ele parou empurrar suas costas e se deitou, descansando a cabeça em sua cintura. — Chega de açúcar por hoje, vem aqui, Argentum. — Sentiu-o esfregar o dorso em sua mão pendurada, o que durou apenas por alguns segundos.

E claro, o desfecho foi sua culpa.

Reyna não sabia dizer se era uma ligação empática, como Percy tinha com Grover, ou apenas a intensa convivência que tinha com eles, mas os galgos sempre ficavam mais agitados quando se jogava no sofá daquele jeito, ou ficava muito tempo encarando a janela, sentada na bancada da cozinha.

Sentiu algo pequeno, pesado e frio afundar em sua barriga, Argentum retirou as patas quando sua dona ofegou de dor e susto, rolando para o lado, que a fez cair do sofá, nocauteada pelo próprio cachorro.

Ouviu o latido de Aurum, como se ele dissesse você matou a mamãe!

Ao abrir os olhos dois pares de rubis a encaravam de perto, os corpos estáticos enquanto as caudas chicoteavam agitadas de um lado para o outro, esperando alguma reação sua, um sorriso singelo se desenhou em seus lábios, sentou-se para abraçar seus cães preocupados, pouco se importando com o frio que o toque causou a sua pele.

Seu coração se aquecia e, era isso que importava.

Reyna não soube pontuar quanto tempo passou fazendo carinho nos galgos e dando jujubas vermelhas a eles, — não estava em condições para ser rígida naquela noite, — quando deu por si encarava o pergaminho de comunicação dourado, enrolado na mesa de centro.

Ainda não havia tido coragem de tentar falar com Nico outra vez.

Estava perdida exatamente como quando Hylla tentava lhe dar conselhos.

´´Por que é tão difícil para você entender que eu só quero ficar um tempo sozinha? Você já teve esse tempo, deveria entender que...``

Não! Era tão demorado para que conseguisse relaxar, não jogaria sua preparação no lixo.

Comeu uma das jujubas azuis, pensando se deveria dormir ou não.

´´Só vai pegar no sono agora se a própria Vênus cantar uma canção de ninar. ``

Preferia morrer.

Levantou-se devagar, pensando em que tipos de chá tinha para ajuda-la a dormir.

´´Me diga que tem um saquinho de camomila. ``

Os galgos a seguiram agitados até a cozinha, compartilhando apenas das emoções que Reyna não queria sentir, abriu o armário acima da pia, encarando os potinhos enquanto desfazia o coque e penteava o cabelo com os dedos, na esperança de rebaixa-los do nível bagunçado para o levemente bagunçado, esticou a mão para o chá de mel e limão quando a campainha soou.

Seu coração falhou uma batida, as orelhas dos galgos estavam em pé, os olhos vermelhos pregados no corredor de entrada, Reyna engoliu em seco, será?

Quase correu até a ponta, mas hesitou em abrir.

´´Por favor, vamos só assistir esse filme ruim e comer pizza. ``

Respirou fundo, abrindo a porta para...

A filha de Afrodite?

— Piper? — A grega estava com um sorriso simpático no rosto, que sumiu assim que a encarou. — O que está fazendo aqui? — Indagou, torcendo para que Leo não tivesse colocado fogo em algo, como o senado.

— Eu... — Reyna poderia dizer que ela não estava prestando atenção no que dizia, os olhos multicoloridos foram para seus pés, voltando lentamente para cima, evidenciando que o que chamava sua atenção não eram os galgos. — Eu vim te dar isso. — E estendeu uma sacola de papel amarronzado, voltando a ter firmeza em sua voz.

— Oh... — Não sabia o que dizer, retirou um pacote da pequena sacola. — São alfajores? — Disse, encarando o doce, ainda perdida na situação.

— De chocolate meio amargo com recheio de marshmallow, são uma delícia. — A grega soltou um riso curto, ajeitando a pena azul de harpia em seu cabelo. — É uma oferta de paz. — E a encarou incerta, esperando sua reação.

Os olhos de Reyna viajaram pela rua escura, com uma mínima esperança de que Nico pudesse aparecer.

— Reyna? — O tom incerto de Piper a chamou novamente para o presente, embora eu coração tenha se apertado.

— Claro, entre por favor. — E deu espaço para que ela o fizesse. — Quer alguma coisa? — Guiou-a até a cozinha, deixando o doce no balcão, incerta se guardar seria falta de educação ou se deveria comer, bandeiras de paz eram mais fáceis de lidar. — Tem pizza. — Não a comeria mesmo, era melhor que alguém aproveitasse enquanto ainda estava quente.

— Não precisa, eu... — Abriu a caixa, o cheiro ainda estava bom e, ao julgar pelo olhar demorado para a pizza, a grega pareceu mudar de ideia enquanto se sentava no banco junto ao balcão. — Como sabia que rúcula com tomate seco é a minha preferida? — Deu de ombros para não responder, embora estivesse tão surpresa quanto ela.

— Vou pegar um prato pra você. — E outro para si mesma, com uma determinação repentina e misteriosa em não deixar aquela pizza estragar. — Quer algo para beber? — Indagou, fingindo não notar o olhar dela preso em suas costas.

Mordeu o lábio inferior, torcendo para não ser o tipo que seu instinto apontava.

´´Para com isso, não tem nada a ver com o que ela disse antes, Piper só estava irritada, não tem como ela curar meu coração. ``

Ou que precisava dela, ou que...

Reyna engoliu em seco, obrigando a si mesma a deixar a questão de lado e xingando próprio coração por estar batendo tão rápido.

— Qualquer coisa está bom. — Deixou os pratos e talheres no balcão, Piper não se demorou em arruma-los. — Você come pizza de garfo e faca? Que afronta, pretora. — A graça estava presente em sua voz, mas o tom levemente agudo denotava desconforto e nervosismo, usou a porta da geladeira para se recompor.

´´Ela disse paz, uma bandeira de paz, pare de pensar nessa... ``

Deuses, aquilo era demais para uma noite em que só queria relaxar. Era o oposto de relaxar.

Pegou duas latas de Coca-Cola na parte de baixo da porta, a sensação de que estava sendo observada de uma forma nada ortodoxa só piorava.

— Piper. — Virou-se de supetão, pegando sua visita de surpresa. — O que foi? — Indagou lentamente, com a vergonha estampada em sua voz.

— Nada. — A grega respondeu rápido em um tom que tentava não ser falso, depois suspirou, notando seu olhar prolongado. — É que a sua pele está ótima. — Disse a contragosto. — E esse kimono preto com os desenho de ondas em azul combina muito com você. — A voz soou sem emoção enquanto ela fitava sua roupa.

— O que? — Não soube o que dizer, apenas se preocupou em não cruzar os braços ou se encolher pelo olhar de análise que a grega lhe mandava.

— Filhos de Hipnos dormem 20 horas por dia e eu noto se os poros das pessoas estão abertos ou não. — Tentou colocar humor na voz, embora o tom mordaz tenha prevalecido, claramente Piper não gostava da ideia. — Você deve ter algum tique desses também.

— Acho que sim. — Deixou as duas latinhas no balcão, seus dedos estavam quase dormentes, sentou-se de frente para a grega, pensativa. — Tenho facilidade para aprender a usar todo tipo de arma. — Piper pegou um pedaço de pizza com as mãos, dispensando os talheres. — Eu meio que sinto como elas gostariam de ser usadas.

A filha de Afrodite parou o movimento de levar o pedaço a boca, fitou-a com resignação no olhar, depois soltou uma risada baixa.

— Eu não vou nem comentar. — Também riu, sabia como aquilo soava.

Comeram em silêncio e, um sentimento de gratidão passou a se espalhar em seu coração. Não queria mais brigar com ninguém, com Nico já tinha dor o bastante, não queria ir embora sem falar com outra pessoa.

— Eu... — Começou a grega assim que terminou o primeiro pedaço, fitando a pizza como se avaliasse quanto espaço ainda tinha em seu estômago. — Eu ainda não entendo e acho um absurdo você querer entrar pras Caçadoras de Ártemis... — A faca escorregou do prato, tamanha sua raiva com as palavras dela.

´´As Termas, Reyna. Não fique irritada, não fique irritada, não fique irrita...``

Piper pigarreou, fingindo não estar incomodada com seu olhar assassino.

— Mas, eu entendo que deve ter seus motivos para tomar essa atitude. — Pontuou com a voz calma e baixa. — Não quero mais brigar com você por causa disso. — Ouvir um tom quase imperceptível de magoa em sua voz fez com a raiva dissipasse, encarou sua pizza de 4 queijos pela metade, era bom e ruim saber que não era a única afetada por isso. — Amigas de novo? — Seu olhar encontrou o dela, a filha de Afrodite estava ansiosa por sua resposta e não tentava esconder.

Reyna teve vontade de rir e chorar ao mesmo tempo.

— E quando foi que deixamos de ser, McLean? — Murmurou com delicadeza, sem a necessidade de falar mais alto, Piper apenas a encarou a princípio, absorvendo suas palavras, aos poucos um sorriso adornou sua face, um sinceramente feliz, ela colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, pegando outro pedaço de pizza, completamente sem jeito.

A filha de Belona poderia dizer que aquele sorriso havia conquistado Jason Grace.

— Você realmente ama meu sobrenome. — Murmurou, fingindo estar ofendida.

— Ora, por favor! Você realmente quer que eu te chame de Rainha da Beleza? — Tomou um gole da latinha de Coca, esperando que ela mastigasse para responder.

— Não, mas foi engraçado ver a sua surpresa. — Rolou os olhos, ela só tinha dito aquilo para lhe deixar confusa? — Deveria me agradecer por tirar essa ruga de preocupação do seu rosto. — Ela cutucou levemente com o indicador um ponto entre suas sobrancelhas, Reyna afastou sua mão com um sorriso no rosto.

— Tira esse dedo gorduroso do meu rosto. — Piper ofegou e cobriu a boca com a mão, fingindo estar surpresa.

— Ah, claro, você fez limpeza de pele hoje, desculpe. — Seu falso tom de arrependimento a fez rir. — Onde eu estava com a cabeça.

— Cala a boca. — Se pôs a terminar seu primeiro pedaço, deixando o clima leve e confortável preencher o ambiente.

— Sabe, mereço um prêmio. — Piper pegou a latinha de Coca nas mãos, encarando o objeto com um interesse fingindo.

— A é? E por que? — Indagou, genuinamente curiosa, apoiando os cotovelos na bancada e chegado mais perto.

— Porque... — A grega olhou para os lados e também se aproximou, fingindo guardar um segredo. — Todas as vezes que eu disse pra tirar férias, você me ignorou. — O olhar acusador pareceu apenas meio brincalhão. — Inclusive esses dias.

— Você só estava brincando. — Se defendeu, deixando os talheres no prato, apenas com as bordas da pizza. — E você sabe como são as coisas aqui, não temos um Quiron para nos ajudar.

— Tá. — Ela concordou a contragosto. — Mas... — Cruzou os braços, os olhos camaleônicos não estavam dispostos a ouvir um não. — Quero que você me compense.

Reyna sorriu, surpresa, divertida e com nuances de admiração.

´´Paz? Você me ofereceu isso porque sabia que não poderia recusar um pedido seu. ``

Nunca imaginou que Piper fosse tão argilosa e, isso a deixou interessada, pensando no que ela poderia estar planejando enquanto empurrava suas suspeitas sobre a oferta para o fundo da mente, ignorando o quanto aquilo soava sugestivo.

´´Vou entrar no jogo: me surpreenda. ``

Ou não, talvez fosse melhor não ter surpresa nenhuma.

— E como eu faria isso, McLean? — Ela rolou os olhos quando a chamou pelo sobrenome.

— Como você sempre vem com essa desculpa. — Abanou a mão, como se o que dissesse não fizesse sentido. — Não vou pedir por férias, mas quero que tire folgas, um monte. — Completou quando viu seu sorriso divertido. — E eu mesma vou fiscalizar pra ver se você está usando esse tempo para relaxar. — Fingiu tossir para que ela não notasse que estava rindo, pela expressão fechada em seu rosto sua tentativa foi em vão.

´´Deuses, eu não acredito. ``

A preocupação com o rumo da conversa tornou-se grande o bastante para deixar de ser ignorada, embora Reyna ainda tentasse muito.

´´É tudo neurose da sua cabeça, não tem como...Vênus, é só se lembrar de Vênus. ``

— Deixe-me ver se entendi. — Fingiu pensar por alguns segundos. — Você quer que eu saia com você de vez em quando?

— Não de vez em quando, e não só comigo. — Ela encarou a latinha, a irritação em seu olhar parecia ter como alvo a si mesma. — E então? Fechado? — E estendeu a mão para que apertasse, séria sobre o assunto.

Enquanto Reyna só conseguia pensar em como tudo aquilo era fofo.

— Sua mão está suja, ao menos use um guardanapo. — Piper a encarou surpresa, ofendida e, com um meio sorriso que tentava a todo custo esconder.

— Quanta frescura, eu vou jogar essa pizza de 4 queijos no seu cabelinho perfeito. — Ela chegou a estender a mão a fatia, felizmente Reyna puxou sua bandeira branca da paz a tempo.

— Posso abrir? — Indagou, Piper a encarou como se não entendesse a pergunta.

— É seu, é claro que pode. — Disse, como se fosse obvio.

— É, mas foi você quem me deu. — Ela rolou os olhos enquanto a observava abrir a embalagem. — E você, como sabia que esse era meu sabor preferido? — Fitou-a, em busca de uma resposta, Piper pegou um dos alfajor, sorrindo com cumplicidade para o doce.

— Isso é segredo. — Reyna pescou o do doce da caixa, tentando imaginar quem seria seu delator.

A seus pés, os galgos dormiam tranquilamente.


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Notas finais do capítulo

´´Autora, seus shipps são malucos``

Eu sei, ok! É uma doença, quando vi já shippava a Drew com o Malcolm sem motivo nenhum u.u

Sabe, eu amei escrever essa história, porque adoro a Piper e a Reyna é meu bebe.

Mas essa cena das duas é especial ♥

Para xingamentos, críticas, elogios ou sugestões, não deixem de comentar ^^

Até semana que vem o/



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