Ingredientes para se Curar um Coração escrita por LizAAguiar


Capítulo 3
Ingrediente 02: Quando Tudo Falhar: Seja Imprevisível


Notas iniciais do capítulo

OLAR,
Seres aqui presentes, tudo bem com vocês?

Hoje teremos a estreia do ponto de vista da outra parte do embate o/

Boa leitura ^^



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Reyna amava chocolate quente.

Chocolate meio amargo, com uma pitada de canela, chantily e uma cereja a tira colo — mesmo que a frutinha fosse só um enfeite. Essa era a receita para deixar o cansaço do dia cheio da principia, melhorar sua dor de cabeça, como quando Lavínia Asimov deixava seu posto e se metia em algum canto obscuro e tinha que pensar em outra punição para que ela entendesse que ser legionária era sério.

´´O que pode ser pior que limpar as privadas da casa de banho por um mês? ``

Às vezes, quando o dia estava cheio demais, passava em sua padaria preferida após o almoço com uma caneca térmica e pedia um para mais tarde, em meio a toda burocracia, era como ter uma massagem relaxante, quase como magia seus músculos tensionados relaxavam por alguns instantes, a revigorando até o final do expediente.

Jogar papo furado com Frank não era tão efetivo, mas ajudava quando as letras embaralhavam em sua visão.

— Hey, Reyna. — Abaixou o pergaminho para encarar seu colega de trabalho, desde que dissera sua indicação ao próprio cargo, os olhos do filho de Marte demonstravam todo o orgulho e animação com a promoção de sua namorada. — Quando vamos poder contar para Hazel? Não sei se consigo mais segurar esse segredo. — Ele pediu desculpas com olhar: aquela não era a primeira vez que fazia a pergunta. — Eu não sei disfarças direito, então meio que ela acha que é algo ruim. — Ele sorriu sem jeito, embora não conseguisse disfarçar a felicidade.

´´Como ela pode achar que é algo ruim com você desse jeito? ``

Talvez houvesse mais a ver com Nico.

´´Não, você não vai pensar nele agora. ``

Lembrar do olhar descrente, seguido pelo magoado e raivoso deixava seu coração pesado de culpa.

Não queria lhe fazer mal, mas Nico já não era mais o garotinho assustado e sem amigos que conheceu anos atrás.

´´Amigos, namorado, um lar: você não está mais sozinho. ``

Ela não era mais necessária.

— Aguente mais um pouco Zhang, você sabe que para escolher um pretor são necessárias a indicação e a votação, não vamos apressar as coisas. — Mesmo que Reyna tivesse quase certeza que ninguém se oporia.

Hazel era perfeita para o cargo.

— Tem razão, é só que... — Ele estava tão animado e contente que Reyna conseguia deixar de lado seus problemas por alguns instantes e se contaminar com as emoções também. — Parece tão perfeito. — O sorriso bobo e apaixonado quase a contagiou.

Quase.

´´Ser pretor junto com a sua namorada. ``

Era perfeito mesmo, a única coisa que faltava para a fantasia virar realidade era que saísse de vez.

Deveria estar feliz, era uma decisão sua, finalmente uma decisão sua, não tinha a ver com a irmã, com o acampamento, com Vênus, — credo, — estava correspondendo a suas expectativas, não tentando ser o que as pessoas queriam ou achavam que deveria ser.

Infelizmente, a sensação de inutilidade e que estava sendo posta de lado foram um pouco fortes demais para fingir não notar.

— Imagino. — Não soube o que responder, voltou o olhar para o pergaminho novamente. — Você parece estar muito feliz com a ideia. — Procurou a caneca térmica com as mãos, precisava de uma dose de seu paliativo.

— Espera, não é que eu queira que você saia. — Sua voz denotava preocupação, Reyna quase deu risada. — Eu só estava imaginando que...

— Eu entendi, Frank, não se preocupe com isso. — Deu de ombros, tomando um gole do chocolate.

Ainda em uma temperatura quente, mas não o bastante para queimar sua língua: perfeito.

´´Vou sentir falta desse chocolate. ``

— Você me ensinou tanta coisa. — Deixou o pergaminho e a caneca sobre a mesa quando notou que o filho de Marte ainda a encarava. — Eu sempre admirei o jeito que liderava o Acampamento, e nem em sonho imaginei que poderia sentar aqui, e realmente fazer a diferença, você me ensinou tanta coisa. — Os olhos de Frank estavam levemente marejados e sua voz demonstrava emoção. — Foi um prazer servir ao seu lado.

´´Ah, droga! Você não vai me fazer chorar agora. ``

— Eu não fiz nada. — Negou com a cabeça e encarou o teto, tentando afastar à vontade chorar.

Estavam na principia, qualquer um poderia entrar e não seria nada legal ver seus comandantes chorando como duas crianças.

´´Eu nem vou embora agora. ``

— Você demonstrou coragem e força quando necessário, conquistou o respeito e o lugar que tem hoje na Décima Segunda Legião Fulminta, foi um prazer e uma honra servir ao seu lado, pretor Frank Zhang. — Satisfeita com suas palavras e com o tom polido, mas amistoso, Reyna teria sorriso.

Se Frank não estivesse fungando.

— Você é... — Fungou novamente. — ...tão boa... — os olhos negros estavam brilhando, as lágrimas estavam para cair, — ...com as palavras, — respirou fundo para se recompor minimamente, —... pra mim é que foi um prazer servir com você! — E antes que a descendente de Bolona pudesse agir, o colega de trabalho lhe deu um abraço de urso.

E Reyna agradeceu por ele não ter se transformado em um.

— Todo mundo vai ficar triste quando você for embora. — Ele continuou dizendo entre fungadas e a voz tomada pelo choro, sem saber o que fazer, chocada com as ações do amigo, Reyna apenas continuou parada, seus braços estavam rígidos como os da estátua que teve que escoltar há quase dois anos.

Havia uma inquietação no fundo de sua mente com o contato inesperado, não estava acostumada com isso.

— Até o Aníbal vai sentir sua falta. — A romana engoliu em seco, adorava levar os galgos para brincar com o elefante. — Prometo que a Hazel e eu vamos cuidar do Guido. — Encarou o teto da principia, sentiu o coração ser espetado em todas as direções.

Seu pegasus não havia recebido bem aquela notícia.

— E... — Ele se afastou sorrindo com o nariz escorrendo. — Vamos dar uma festa, para comemorar todos os anos que esse acampamento teve a melhor pretora de todas.

Reyna apenas o encarou, surpresa por suas palavras, as questões burocráticas de sua substituição sumiram de sua cabeça quando se deu conta que a sua frente estava seu amigo e colega de trabalho, feliz por sua decisão e, triste por sua saída.

Foi sua vez de fungar.

´´Ah, droga! Você vai mesmo me fazer chorar. ``

— Tá tudo bem...? — Uma voz hesitante soou na entrada da principia.

´´Deuses! ``

Os movimentos da pretora foram ágeis, virou-se para frente, dando uma imperceptível limpada no nariz, disfarçando-a como gesto, voltando a se adequar ao decoro que um pretor deveria ter.

Isso até ver quem estava lá.

— Oi, Piper. — Frank não pareceu se importar de ser visto com a cara melada de fluidos corporais pela amiga, a grega andou até eles com um olhar interrogativo. — Tá tudo bem sim, nós só... — Ele pareceu procurar as palavras certas, tecnicamente sua partida ainda era um segredo. — Estávamos falando do passado. — O olhar de Piper a questionou se estavam falando do que achava que estavam falando.

Reyna apenas desviou o olhar para o pergaminho na mesa e tomou um gole do chocolate, tentando parecer menos tensa e envergonhada do que estava.

´´Por favor, não faça outra cena pavorosa, não no meu trabalho. ``

Desde que havia discutido com Piper na noite da festa em sua casa, era como se uma bomba relógio estivesse grudada em suas costas fazendo tic-tac, sem que a pretora soubesse quanto tempo restava até a infame explosão.

´´A última vez que passei tanta vergonha foi quando Frank me mandou uma mensagem de Íris enquanto eu estava tomando banho. ``

A diferença era que Jason não estava presente.

Voltou para casa com a cabeça meio zonza, uma parte se perguntando se a discussão continuaria lá ou se Piper e Jason estavam lhe seguindo. Deixou as compras na pia, ignorando os olhares de interrogação de Percy e Leo, — triste pelo fim de um dos Dr. Pepper, — se refugiou no jardim pelo resto da noite, até Annabeth aparecer e dizer já haviam arrumado tudo e que todos já tinham ido embora.

E que fora uma anfitriã antissocial.

´´Isso faz o que? Uma semana? ``

Atenta a cada camiseta laranja, — ou da Hello Kitty, — que seus olhos poderiam encontrar, Reyna andou pelo acampamento como se a grega fosse surgir das sombras para fazer perguntas sem resposta e gritar consigo.

Ou...

´´O que você quis dizer com vou curar seu coração?! ``

Céus, só de pensar nisso sentia as mãos suando e o rosto esquentar.

´´Ela estava irritada e disse um monte de besteiras. ``

Mas parecia muito séria em suas palavras, reafirmando-as mais de uma vez.

Não tem como ela...

´´Pelos deuses! O que é que você tem na cabeça, McLean?!``

Se os deuses fossem bons, jamais descobriria.

´´Droga...``

— Relaxa, Frank. — Mesmo que falando com o amigo, Reyna conseguia sentir os olhos dela em sua pessoa, penetrantes e lhe dando frio na espinha. — Eu já sei o que ela está tramando.

— Tramando? — O pretor indagou, perdido na situação, a sombra de Piper se fez presente no pergaminho, a romana sequer se mexeu.

´´Talvez se eu for grossa ela desista. ``

Sim, estava desesperada.

— Oi, Reyna. — Seu nome foi dito de um jeito doce, banhado em sarcasmo, engoliu em seco, tentando se convencer de que estava sentindo aborrecimento, não a sensação de que a filha de Afrodite havia a encurralado contra a parede. — Posso falar com você?

Levantou a cabeça para encara-la com sua melhor face de burocrata.

— Estou ocupada no momento, McLean. — Juntou as mãos sobre a mesa, o sorriso de Piper não vacilou, embora tenha franzido minimamente a testa ao ouvir seu sobrenome. — Mas Zhang poderá atende-la. — E voltou-se para o papiro, com uma pontada de culpa por estar sendo tão impessoal para alguém que, no final das contas só estava preocupada consigo.

´´O que mais posso fazer? Ela nunca entenderia. ``

Piper McLean era filha de um ator famoso, crescido longe daquele mundo maluco e, por mais que fosse difícil, havia encontrado seus amigos, amigos de verdade, que a tratavam como igual, havia amado, mesmo que esse amor houvesse acabado, construído laços que levaria para a vida toda.

Reyna só conhecia o pedestal.

Era quase como se fosse seu destino. Havia nascido dentro do mundo dos imortais, o treinamento era sua primeira memória, Julian deixou a ela e a irmã prontas para servir por Roma e, foi nisso que sempre acreditou.

Hylla cuspiu nesse destino assim que saíram dos poderes do Barba Negra, Reyna não conhecia outra coisa, portanto caminhou conforme o desejo do pai: primeiro passou por Lupa, pelas missões e, por Vênus.

E, as palavras dela ainda eram capazes de marejar seus olhos. Então tudo o que o futuro lhe reservava era um coração machucado e os monstros? Era isso?

Havia tentado com Jason, Percy e, — por desespero, — considerado até Octavian.

´´Tentei e isso não me levou a nada. ``

Já havia servido Roma, chegado ao todo do pedestal que Julian queria, não havia mais degraus naquela escada, o que deveria fazer?

´´Deixar tudo para caçar monstros? Eu caço monstros desde sempre, é isso que eu sou, é isso que sempre fiz. ``

E, talvez fosse isso que estivesse destinada a fazer.

— Você sabe que temos que conversar e, que não tem nada a ver com o Acampamento Júpiter. — O bom-humor deu lugar a neutralidade em sua voz. Fitou-a novamente, ponderando se valia a pena resistir.

´´O Frank aceitou numa boa, e convivo mais com ele do que com você, por que está tão revoltada? ``

Se lembrava, — com um ressentimento que preferia ignorar, por soar infantil ao extremo, — de Piper sempre dizendo que deveria ir visita-la no Acampamento Meio-Sangue e tirar umas férias, embora a filha de Afrodite nunca ficasse por lá por mais de uma semana.

´´E você nem faz questão de avisar. ``

—É pessoal? — Piper rolou os olhos para sua demência programada. — Então terá que esperar o final do meu turno, estou em horário de trabalho.

Voltou-se novamente para o pergaminho, sem se lembrar mais do que ele falava.

— Olha, Reyna. — Frank se interpôs com medo na voz, notando a aura assassina de Piper crescer, o olhar dele demonstrava o quanto a situação era esquisita. — Eu posso te cobrir por um tempo. — Fechou os olhos por um instante.

´´Por que você tem que ser tão prestativo? ``

Levantou-se sem encarar a grega, levando o copo consigo.

— Volto em 15 minutos. — Desafiou Piper com o olhar a dizer o contrário, infelizmente não foi capaz de ler a expressão em seu rosto, mas no fim ela apenas concordou com a cabeça, acenou em despedida para Frank e a seguiu pela porta da principia.

Reyna tomou um gole generoso do chocolate, sentindo a necessidade de conforto e coragem.

***

— E então? — Piper indagou, encarando seu rosto enquanto Reyna fixava o olhar em seu objetivo: as margens do Pequeno Tibre.

Pensou seriamente em levar a grega até o Jardim de Baco, porém seu santuário particular deveria continuar a ser respeitado: sem xingamentos ou estresse.

— E então o que, McLean? — Talvez a ela sua pergunta houvesse soado sarcástica, mesmo que não fosse sua intenção. A atenção da pretora focou-se nos campistas desviando de sua comandante, observando de longe, entendendo que queira privacidade para uma conversa.

Reyna gostava daquilo, da atenção e disciplina que um soldado romano tinha para com seu superior.

´´O problema é que todos sabem onde eu estou e o que estou fazendo. ``

Fofocas, Reyna sempre as odiaria.

´´Como você quer que eu tente alguma coisa com alguém quando todo mundo me olha desse jeito? ``

— Desistiu de seu plano maluco? — Rolou os olhos, já cansada, o tom de Piper dizia que ela não cederia tão fácil.

— Não, e não é maluco. — Sentou-se no gramado, olhando o rio correr, límpido como nenhum rio mortal. — Só estou fazendo o que acho melhor pra mim.

Piper soltou um som de concordância, sentando-se ao seu lado, encarando o céu cheio de nuvens branquinhas.

— Aqui chove? — Repassou as duas palavras e o tom de interrogação em seus pensamentos, tentando pescas alguma sugestão ou significado oculto.

— Claro que chove. — Fitou-a, se esforçando para entender onde queria chegar, a descendente de Afrodite encarava o chão enquanto arrancava alguns fiapos de grama.

 — É que lá no Meio-Sague não chove. — Semicerrou os olhos, incerta se havia escutado bem.

— O que? — A resposta para sua pergunta descrente foi uma risada.

— É sério, parece que tem algum tipo de magia para não chover. — Deu de ombros, sem ideia de como o conceito funcionava. — Às vezes eu colho alguns morangos, sento do lado do Peleu, dou alguns pra ele e fico vendo a chuva do outro lado da barreira.

O sorriso ameno nos lábios da grega a deixou tensa.

— Quem é Peleu? — Não sabia o que dizer.

— É o dragão que toma conta do Velocino de Ouro da Árvore de Thalia, ela é a fonte de poder da barreira do Acampamento e, ele é adorável. — Piper estava feliz, muito esquisito.

Não que preferisse a raiva e os gritos, mas aquele rosto calmo e amável parecia esconder algum trunfo.

´´Você não está considerando usar o charme, não é? ``

Havia sentido a magia na voz dela semana passada, quando disse que...Que...

´´Deuses... ``

— Mas não conte isso pra ninguém, os filhos de Deméter me matariam se soubessem. — Ela olhou ao redor, realmente preocupada, um sorriso se desenhou em seus lábios, ignorando o rebuliço em seu interior.

— Os campistas são proibidos de pegas os morangos, não é? — O bico no rosto de Piper quase a fez rir.

— Todo mundo pega alguns, e eu ainda divido com o Peleu. — Abanou a mão, como se sua infração estivesse perdoada. — Mas sério, para um dragão ele é muito dócil.

Silêncio.

Reyna pensou em dizer algo para quebrar o gelo que começava a se formar, até se lembrar que a grega a chamou para conversar.

´´Você está hesitando? Preparando o terreno? Isso é uma armadilha? ``

Olhou por cima do ombro, esperando que Nico, Jason ou a mesa maravilha de Leo pulasse em suas costas: nada.

— Você não quer ir comigo alimentar o Peleu? — Encarou-a novamente, a expressão de Piper demonstrava animação, como se o passeio fosse hiper legal e irrecusável.

— Quer que eu atravesse metade do país para alimentar um dragão com morangos roubados? — Seu tom absurdo não diminuiu a animação de seu olhar.

— Não, quero que tire uma folga. — Piper piscou para ela. — Aposto que uns três dias longe daqui vão fazer bem, vai até ficar com saudade.

O suspirou que soltou não foi cansado ou irritado, estava quase rindo.

— Não sabia que era tão insistente, Piper. — Riu baixinho, sem saber mais o que fazer. Encarou o rio, lembrando-se de quantas vezes ficou apenas o admirando em busca de sabedoria, quantas lutas travou em suas margens. — É claro que vou ter saudade. — Havia dado tanto sangue pelo Acampamento Júpiter que poderia considera-lo parte de seu corpo. — Mas sinto que essa parte da minha vida acabou, não tenho mais objetivo aqui.

— E agora? Seu objetivo é se juntas as Caçadoras? — Não havia peso ou cobranças em suas palavras, apenas a dúvida genuína.

´´Elas fazem a única coisa que aprendi a fazer: matar. ``

Engoliu em seco, essa verdade ainda doía demais para verbalizar.

— Elas viajam o mundo tendo aventuras, vai me dizer que não parece divertido? — Abraçou os joelhos, fixando a atenção ao purpura de sua toga e ao dourado da armadura.

O manto de pretor era cem vezes mais pesado que seu uniforme e, mesmo assim, se perguntou como seria depois de entrega-lo, não ser mais a líder do Décima Segunda Legião Fulminata.

Ainda se lembrava de como ser apenas Reyna? Ou sua função sugou o que havia dentro dela?

Às vezes sentia medo das respostas, mas a inquietação de não saber era muito pior.

— Ok. — Piper suspirou, um tanto cansada. — Você não quer me contar? Tudo bem.

Tensionou o maxilar, era tão fácil notar que estava mentindo?

´´Não é mentira, só não é a verdade inteira. ``

— Quer sair por aí matando monstros? Faz outra coisa então, ser caça-recompensa, ou só viajar por aí, Frank me disse que o salário de vocês é ótimo. — Fuzilou o gramado com o olhar.

´´Você não pode ficar falando de valores por aí, Zhang. ``

Mas prendeu-se nas palavras de Piper, falaria com o pretor depois.

—  Então o problema é eu ser caçadora? — Pontuou quando a fitou, Piper crispou os lábios, parecia incerta do que responder.

´´O que? Você nem sabe o porquê de estar brava? ``

— Eu vi o quanto o Jason sofre com a irmã dele. — Murmurou, pegando uma pedrinha entre a grama e jogando no rio. — Ele continua mandando cartas, contando como as coisas vão, mas ela nunca responde. — Reyna chacoalhou os ombros, tentando afastar o peso que pousou em suas costas. — Jason sabe que ela não pode responder, mas ela lê, não é? — Soltou a pergunta no ar. — Com o Nico vai ser pior. — Queria dizer algo, mas se lembrar do desastre que foi dar a notícia roubou sua voz.

Desde o final da guerra, Nico aparecia as vezes, para ver Hazel, mostrar o lugar a Will, e para visita-la. Eles normalmente assistiam algum filme, — na conta da Amazon Prime Video que Hylla havia lhe dado, — pediam uma pizza e conversavam.

Ensaiou dezenas de vezes no espelho como contar, ignorando tudo o que sabia sobre o filho de Hades e o quanto ele era bom em causar terremotos emocionais. Esperou o momento certo, fez uma introdução de seus motivos e, ele parecia estar aceitando bem.

Até a palavra caçadora se moldar em seus lábios.

Depois não houve como acalma-lo. Reyna preferia não se lembrar da voz embargada de ódio e mágoa, de ser o motivo do olhar ferido, das lágrimas e palavras.

´´Eu não estou abandonando você. ``

Não era isso que acontecia com Nico, ele tinha um lar para abraça-lo, amigos para o animar e um namorado para o consolo.

Saber que essa provavelmente seria a última conversa que teriam esmagava seu coração, entretanto não havia mais nada a ser feito.

´´Minha decisão está tomada. ``

Nico não mudaria seu pensamento, como Piper poderia?

— Por que? — Em uma semana pensando sobre, não conseguiu uma resposta favorável.

— O que? — Piper devolveu a pergunta.

— Por que está tão obstinada em me fazer ficar? — Era esquisito, para dizer o mínimo.

— Porque acho que não é isso que você quer de verdade. — A certeza nos olhos da grega a incomodou.

— Claro, você deve saber mais de mim do que eu mesma. — Ela não tentou contestar seu sarcasmo, aliás, parecia concordar com a frase.

O que a irritou ainda mais.

— Eu não estou fugindo da sua mãe, McLean. — Disse pausadamente, talvez assim Piper entendesse, sua fala apenas fez com que olhasse para cima e suspirasse. — As caçadoras tiveram muitas perdas lutando contra Órion.

A indignação dela pareceu crescer.

— É por isso que que ir? Por que acha que precisam de você? — Piper arfou, como se não acreditasse nas próprias palavras. — Ótimo, então eu preciso de você! — E cruzou os braços, encarando o rio em busca de alguma paz de espírito.

O que a fez perder sua face petrificada ganhando cor a cada segundo.

— O qu- que...? — Deuses, até sua voz estava envergonhada demais para sair. — Você tem noção do que está dizendo, McLean? — Murmurou, tentando se manter firme quando sua vontade era enterrar a cara na terra e ficar por lá durante alguns dias.

´´Você...Você...Que?!``

— Admite logo que está se acobertando na saia de uma deusa casta para ficar longe da minha mãe. — O orgulho de Reyna se pariu em milhares de pedaços, o que a ajudou a ignorar o comentário anterior.

— Eu... — Encarou a ponte próxima, o cabelo rosa de Lavínia Asimov destacava a troca de guardas do túnel Caldecott, não daria motivos para a maior fofoqueira do Acampamento falar sobre sua pessoa. — Eu não vou discutir isso com você outra vez. — Se levantou, agradecendo por ter um motivo para ir embora. — Chega, McLean, seus 15 minutos acabaram. — Nunca agradeceu tanto por sua voz ter saído firme como sempre.

Ficaram se encarando por um tempo que Reyna não soube contar, medindo forças.

´´Deuses, o que você tem na cabeça, Piper?!``

— Se gosta tanto do meu sobrenome então tatue ele na testa. — Resmungou ao se levantar, surpreendendo a pretora.

— Como quer que eu te chame, Rainha da Beleza? — A expressão de Piper se fechou mais, ela respirou, provavelmente para manda-la para o Tártaro, porém pareceu mudar de ideia de última hora, como se um pássaro invisível houvesse dado uma ideia.

— Pode ser, me chame assim agora. — Ela deu de ombros.

´´Dá última vez que chequei você tolerava que te chamassem assim.``

Na verdade, o único que parecia ter permissão para isso sem ser ameaçado era Leo.

— Mas... — Definitivamente: Reyna estava perdida.

— Seus 15 minutos acabaram, pretora. — Ela deu um tchauzinho com a mão e se despediu com um sorriso, dando as costas e caminhando até o Acampamento.

´´O que? ``

Suspirou, massageando as têmporas.

´´Preciso de um remédio para dor de cabeça. ``

E, Reyna suspeitava que precisaria de muitos enquanto Piper estivesse presente.


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Notas finais do capítulo

E a Piper continua dizendo coisas no mínimo interpretáveis de um jeito ´´quero te pegar``
Esse shipp destrói meu coração ♥

para xingamentos, críticas, elogios ou sugestões, não deixem de comentar ^^

Até outra semana, pessoas o/



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