Ingredientes para se Curar um Coração escrita por LizAAguiar


Capítulo 15
Tempero a gosto: Divida Sentimentos Bons e Ruins


Notas iniciais do capítulo

Bom, se você leu as notas da fic vai notar que seriam 14 capítulos ao todo.

E seria isso mesmo, se eu não estivesse insatisfeita com o desenvolvimento da Reyna na fic.

Como eu disse em algum lugar essa história só saiu por causa do meu descontentamento em relação ao arco de personagem da Reyna na saga do Apolo, foi superficial e eu ainda sinto que o Tio Rick não trabalhou a Reyna e todo aquele drama com Vênus como ele tinha planejado.

Minha proposta com Ingredientes era usar o plot que tinha aberto da Piper e da Reyna e explorar eles um pouco mais, como eu shippo elas como uma demente juntei a fome com a vontade de comer e de nesse meu xodó de fanfic ♥

Fiquei satisfeita da forma que abordei as questões da Piper e senti que consegui dar uma resposta pra elas, mas as da Reyna ficaram meio em aberto até o Ingrediente 10, isso porque eu ainda não tinha entendido as questões da Reyna em a Tumba do Tirano.

Tomei spoiler do livro e passei ele inteiro tentando entender porque ela tomaria aquela atitude e, escrevendo essa fic continuei em dúvida, talvez por isso a Piper tenha tomado mais tempo de ´´tela`` da metade para o final da fic e, mesmo o cap final sendo com a narração da Reyna ainda não tinha conseguido sentir que pra ela tinha acabado.

MAS, essa quarentena by COVID-19 me deu um tempo pra refletir um pouco mais sobre e, acho que consegui entender a Reyna.

Enfim, depois desse textão, tenham uma boa leitura ^^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/786704/chapter/15

Reyna tentou vislumbrar o relógio digital no criado-mudo sem sucesso, apenas para ter a certeza das horas que a posição da lua minguante e as estrelas apontavam, pouco mais de três da manhã.

A princípio não soube dizer o que a acordou, descartou o barulho do vento batendo na porta de vidro que ligava o quarto a varanda, o barulho constante, porém sutil do ar condicionado e sequer pensou que o culpado fosse a respiração de Piper.

Foi apenas ao reconhecer o arrepiar de desespero em sua pele que as lembranças do sonho vieram a sua cabeça.

Fantasmas, a loucura de Julian, Hylla imóvel ao chão, o sabre de ouro imperial: pó pairando no ar.

Saiu da cama da filha de Afrodite para diminuir a chance de acordá-la, perambulou pelo quarto mal iluminado pelo luar, procurou focar a atenção em algo que a fizesse parar de tremer, depois de um tempo olhando para o mural de fotos, cheia de memórias com os amigos e familiares que nunca viu, Reyna desistiu e se refugiou na varanda.

Lupa sempre lhe disse que a respiração era o fundamento mais importante em uma batalha corpo-a-corpo, em negociações ou em momentos em que precisaria se esconder. Respirar era trazer combustível ao cérebro e aos músculos, deveria ser feita do jeito certo, para acalmar, ter mais foco em um momento crítico ou parecer confiante, ninguém levaria a sério um comandante respirando em um saquinho de papel.

E Reyna não poderia concordar mais com a deusa, entretanto, respirar nunca a ajudou a varrer aquelas lembranças de sua mente, toda vez que tinha aquele sonho e tentava fechar os olhos para pensar em outra coisa ou dormir, o pó dourado voltava a reluzir a sua frente, como milhões de pequenos vagalumes tendo seu último voo.

Era obrigada a reviver os momentos até que sua mente se exaurisse e a permitisse focar em outra coisa, porque dormir já não era possível.

Não se permitiria cair na hipótese de ter mais de um pesadelo por noite.

Mais uma vez, a pretora encarou o jardim bem cuidado da casa de Piper, olhando de cima parecia um campo de golfe com arbustos ornamentais e sem as bandeiras para sinalizar os buracos.

A filha de Afrodite precisou de quase um mês para convence-la de que o Acampamento Júpiter ficaria bem durante uma semana sem sua presença, com a justificativa de que Tristan McLean finalmente teria sua agenda minimamente livre para serem apresentados.

Reyna tinha que admitir que poucas vezes em sua vida havia ficado tão nervosa.

Agora, três dias depois de sua chegada, a romana conheceu o jardineiro e seus auxiliares, o chef francês, — de que Piper claramente não gostava, — o garagista que cuidava da coleção de carros de seu pai, — que parecia amar seu serviço, — os donos de um restaurante simples e aconchegante que Piper adorava, — as únicas pessoas que valia a pena conhecer na região, segundo ela, — haviam até mesmo passado uma tarde no telhado olhando para a casa dos vizinhos enquanto sua namorada contava uma fofoca ou outra sobre eles.

Foi apresentada a todos, menos a pessoa que viera conhecer.

´´E você não parece nada surpresa com isso, Rainha da Beleza. ``

Diria até que Piper estava feliz por terem a casa apenas para elas, mesmo que não gostasse do lugar.

Pela fresta entre as cortinas olhou para o amontoado de cobertas em que a filha de Afrodite estava embola, lembrando-se que naquela tarde ela havia dado a entender que queria conhecer Hylla.

Uma risada curta e suave escapou de sua garganta, passou a rodar o anel de ouro imperial em seu dedo, nem em seu sonho mais maluco poderia imaginar uma situação dessa.

Apresentar uma namorada a sua irmã.

´´Porque é isso que se faz quando você namora e tem alguma família. ``

Pensar sobre isso lhe causava um sentimento de estranheza no peito, e Reyna tinha total consciência de que se sentia assim, não porque parecia errado ou não estava feliz, era justamente o contrário.

Acariciou o metal já quente em seu dedo, que havia nascido com ela e, que esteve presente em todos os momentos de sua vida, sendo decisivo na maior parte deles, se alguém lhe perguntasse qual palavra definiria sua vida, guerra seria sua primeira opção.

Era filha de uma deusa da guerra, de um império poderoso e mortífero, sua infância foi uma guerra por sobrevivência, até se tornar uma guerra para defender o legado de seu povo e o mundo.

Agora não havia mais guerra, e por muito tempo Reyna se perguntou se haveria lugar para ela em um mundo assim.

Um mundo sem o que a definiu por toda a vida, era isso que Vênus queria dizer com suas palavras?

A filha de Belona mais sentiu do que ouviu a movimentação no quarto, viu Piper sentar, coçar a cabeça e tatear a cama, olhar para os lados e fixar a atenção na varanda, acenou para ela, desejando que entendesse o sinal para que voltasse a dormir, ainda precisaria de um bom tempo para que tentasse cair nas graças de Somno.

Mas não foi o que aconteceu.

A filha de Afrodite se levantou, calçou as pantufas temáticas com o rosto de Aníbal que havia comprado no Acampamento Júpiter e andou a passos sonolentos até a varanda.

— O que você está fazendo? — A fala saiu arrastada e murmurada, mas cheia de indignação, Reyna teve o cuidado de não demonstrar o quanto achou a situação engraçada, enquanto tentava dizer algo que fizesse sentido às três horas da madrugada.

Piper suspirou, cansada de esperar uma resposta e estendeu a mão, claramente querendo que voltasse para cama.

— Estou sem sono. — Não era mentira, mesmo que o correto fosse dizer que estava com medo de dormir.

— Não vai recuperar ficando sentada aí no calor. — Disse, mal humorada, balançando a mão para que a pegasse, quando percebeu que não tinha intenção de voltar, Piper deixou que os joelhos cedessem devagar ao se lado, apoiando a cabeça em seu ombro e abraçando seu braço. — O que foi?

Reyna crispou os lábios, deixando que os dedos dela se envolvessem aos seus, acariciando o dorso com o polegar, sentindo a pele arrepiar com o contato com a dela ainda fria por causa do ar condicionado.

O único papel que sempre prestou foi o de guerreira e comandante: altiva, forte, independente, feroz, justa, pronta para fazer o que fosse necessário. Aprendeu a ser amiga quando Nico a ensinou, agora gostaria de aprender a ser uma namorada.

E para isso precisa confiar, tanto quanto confiava em Nico.

 — Tive um pesadelo. — Murmurou, voltando a encarar o jardim. — Com Julian, meu pai. — Completou, para que ela soubesse quem era.

Sentiu o corpo da grega tensionar, notando o quanto aquela conversa poderia ser séria, a pretora até conseguia imaginar o olhar preocupado de Piper enquanto ela pensava em algo para lhe dizer.

Sempre acharia seu tato exagerado a coisa mais fofa do mundo.

— Você... — Começou, hesitante como quando queria uma informação que achava ser delicada. — Quer falar sobre isso? — Indagou, afastando-se para encara-la e notar suas reações, um leve brilho de ansiedade por sua resposta foi fácil de perceber em seus olhos multicoloridos, um sorriso divertido brotou de seus lábios, deixando Piper ainda mais confusa.

— Obrigada, McLean. — Colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha da filha de Afrodite, deslizando os dedos por sua bochecha em uma caricia suave.

— De nada... — Murmurou sem certeza na voz quando encostou suas testas, completamente perdida na situação. Deixou-se ficar ali, enquanto sua mão soltava a dela para rodear sua cintura, plantou um beijo casto em sua testa antes de deixar o rosto ser acolhido para a curva de seu pescoço, respirou fundo, sentindo o cheiro da garota que havia lhe tirado de seu ciclo vicioso.

O suspiro que escapou por seus lábios foi cheio de satisfação.

— É assim que você fica quando tem pesadelos? — Sussurrou ao abraça-la de volta, tentando esconder a timidez que sua atitude inesperada causava.

— Não. — A pretora fechou os olhos, sentindo a textura macia do cabelo de Piper enquanto embrenhava seus dedos ali. — Normalmente consigo controlar meus pesadelos. — Um reflexo no Jardim de Baco, se não os quisesse precisaria apenas tocar o espelho d`água. — Mas com meu pai não costuma funcionar. — A filha de Afrodite a apertou mais em seus braços, como forma de apoio, dando o tempo que precisasse e, a chance de falar ou não sobre o assunto.

Em outro momento Reyna não teria sequer piscado para achar qualquer brecha e se ver o mais longe possível daquele assunto, as memórias que tinha da infância naquela casa em San Juan, enquanto brincava de esconde-esconde com Hylla ou no Barrachina experimentando coquetéis de frutas e raspadinhas de todos os sabores.

Tudo que ainda conseguia resgatar de bom era deturpado pela presença de Julian, como uma sombra agorenta que não poderia se livrar nunca, não importava o quanto corresse de seu passado, quantas guerras travasse ou quantas honras trouxesse para Roma.

Ele sempre estava ali, nas profundezas de sua mente, voltando de tempos em tempos para lembra-la da pior noite de sua vida, para lembra-la de sua culpa. Sempre que revivia aquela noite, Reyna passava por ela sozinha, como pela primeira vez, sentindo-se arrastada até um inferno particular construído em suas medidas.

E mesmo com medo por estar prestes a reviver as sensações horrorosas daquele momento, algo em seu coração pediu para que o fizesse.

Algo estava diferente.

— Julian foi um bom soldado, mas a guerra deixou marcas demais para ele voltar a vida civil. — Passou a enrolar uma mecha do cabelo de Piper, quase sem notar, sua voz soou distante até para si mesma, sentindo a mente ser tragada outra vez para as memórias que durante muito tempo poderia ter dado tudo para esquecer. — Hylla dizia que ele era um bom pai quando ela era pequena, mas eu não cheguei a conhecer essa parte dele.

A filha de Afrodite se remexeu em seus braços, desfazendo o abraçado para encara-la, Reyna reconheceu o cuidado em seu olhar, embora pudesse perceber que ela analisava suas palavras, como se não pudesse acreditar nela.

— O que foi, McLean? — Reyna estranhou a graça em sua voz, deveria estar tremendo de medo.

— Ele era... — Piper lambeu o lábio inferior, como se estivesse prestes a cortar um fio para desarmar uma bomba. — ...violento com vocês? — As mãos da grega agarraram a blusa de seu pijama a altura da cintura.

Piper tinha medo de pressiona-la demais e fazer com que Reyna se fechasse, isso era óbvio, mas o que ainda não havia notado, é que aquele comportamento era algo que já não precisava temer.

Estava tudo bem, finalmente estava tudo bem.

— Ele colecionava armas, gritava e nos trancava no quarto, dizendo que estava nos protegendo do inimigo, mas nunca nos bateu. — A expressão dela não suavizou com o comentário. — Belona sempre cercou minha família, dando bençãos aos meus antepassados, porque os Ramírez-Arellano seriam importantes para Roma, seu legado sempre estaria vivo com nossa família.

— Deuses... — Murmurou com irritação, sua expressão lhe dizia claramente que estava se contendo para não blasfemar. — E seu pai se apaixonou por ela e ficou obcecado por isso. — Reyna apenas a encarou, surpresa com sua conclusão. — Annabeth me disse que aconteceu algo assim com a mãe de Luke Castellan.

— Aquele Luke Castellan? — Indagou apenas para confirmar, não sabia mais do que a maioria em relação a ele.

— A mãe dele tentou receber Delphos e enlouqueceu. — Piper mordeu o lábio inferior para conter o receio, procurou as mãos dela com as suas para conforta-la. — Afrodite me deu a chance de fazer meu pai esquecer de tudo isso. — O olhar da grega se voltou para as mãos unidas. — Quem realmente salvou a vida dele foi ela. — Semicerrou os olhos. — Depois de entrar na vida dele, sumir sem dizer nada e deixar um buraco no lugar. — Suspirou de cansaço.

— Não tente entender ao deuses, nunca funciona. — Apertou sua mão para ter sua atenção novamente. — Posso dizer que Julian entendeu as palavras de Belona como uma profecia e sim, ele estava obcecado por elas. — O maxilar de Reyna tensionou, sentindo a sensação de inquietude e temor começarem em sua espinha e se espalharem pelo corpo todo.

Quantas vezes havia sentido aquele desejo gritante de fugir do que estava prestes a dizer?

— Essa obsessão só piorou o estresse pós traumático, ao ponto de fantasmas dos meus antepassados começarem a rondar a casa. — Respirou fundo, sentido a boca seca e o coração disparado.

Exposta, fraca e indefesa.

Deuses, Reyna odiava se sentir assim, impotente e sem defesas, era irritante, mas suportável, passar por essa fase sozinha, permitir que a vissem daquela forma era inimaginável, seu orgulho se despedaçava com essa ideia, seu orgulho como pretora, como romana, como guerreira.

Apenas percebeu os olhos marejados voltados para o chão quando sentiu os dedos de Piper acariciarem seu rosto.

— Reyna. — Murmurou, pedindo que a encarasse. Mordeu o lábio inferior, não se permitindo fechar os olhos e respirar fundo para tentar se controlar.

Uma pretora não deveria ter momentos de fraqueza, deveria estar a postos para proteger sua nação e qualquer hora e a qualquer custo, mas Reyna não precisava desempenhar esse papel o tempo todo, não com Nico, não com Piper.

Encarar a garota a sua frente naquele momento precisou de um tipo de força e coragem opostas as que Reyna estava acostumada a usar.

— Você disse isso a alguém antes? — A voz suave e cheia de afeto fez seu lábio tremer.

— Eu... — Sua voz saiu embargada, e Reyna se obrigou a continuar. — Ainda não terminei, eu... — Calou-se quando Piper negou com a cabeça.

— Já contou isso para mais alguém? — Seu olhar foi até a porta de vidro entreaberta quando uma lágrima rolou por sua face, ao qual Piper limpou prontamente.

— O Nico. — Sussurrou em um fio de voz. — Quando levamos a estátua para o Acampamento Meio-Sangue. — Porque sentia as dores do filho de Hades, porque ele a incentivou a falar e porque Hylla a prensou contra a parede, os fantasmas naquela casa sussurrando.

Aquela maldita casa.

— Nunca falou sobre isso com sua irmã? — Negou com a cabeça, fazendo a mão de Piper escorrer de seu rosto e repousar no ombro.

— Eu não posso, eu... — Um soluço a interrompeu e um segundo depois sentiu os braços de Piper a envolverem novamente, repousou a cabeça em seu peito, pela primeira vez em que pode se lembrar deixou que a lágrimas caírem sem tentar contê-las, rolando silenciosamente por suas bochechas enquanto se concentrava no calor daquele contato.

— Obrigada. — A filha de Afrodite disse em um suspiro, como expulsasse as preocupações de seu corpo. — Obrigada por confiar em mim. — A pretora fechou os olhos, sentindo o coração mais leve.

— Me sinto segura com você. — Constatar aquela verdade fez um sorriso se desenhar em seus lábios.

Segura para mostrar suas fraquezas, as partes de si mesma que não gostava e, quando estivesse pronta, o pior momento de sua vida.

Porque aqueles momentos faziam parte de seu passado, e Reyna agora se via capaz de deixa-lo aonde pertenciam.

— Deuses... — Piper suspirou em seu pescoço, beijando o local em seguida. — Você é tão doce. — O riso que soltou foi completamente espontâneo.

— Você é a única pessoa do planeta que me diria algo assim. — Apartou-se dela, limpando as lágrimas já esquecidas em seu rosto, Piper sorriu para seu comentário.

— Gosto dessa ideia. — Beijou o canto de sua boca e se afastou para fita-la, o semblante estranhamente pensativo.

— O que foi? — Piper se levantou, estendendo a mão para que a seguisse até o quarto, sentou-se na cama enquanto a grega procurava algo no criado-mudo.

Sentada no meio da cama de casal mostrou o pequeno objeto que tinha em mãos, Reyna precisou chegar mais perto para enxergar na penumbra, encarou a grega, completamente descrente.

— Eu não acredito nisso. — Disse ao vê-la pescar uma bala e jogar o pacote para trás sem cuidado algum, fazendo um barulho fofo no tapete felpudo. — Eu deveria ficar ofendida, Piper. — Ela sorriu ao colocar na bala na boca.

— Estávamos dormindo, estou salvando nós duas. — Empurrou seu ombro para que se deitasse, dando fim ao clima leve ao passar uma de suas pernas por sua cintura, sentando em seu ventre. — Eu estava com tanta vontade de te beijar. — Murmurou próxima a seus lábios, juntando-os sem cerimónia alguma.

O gosto adocicado da bala preencheu seu paladar enquanto Reyna sentia o corpo arrepiar com o contato intenso, cheio de amor e urgência, como se sentissem a necessidade de que aquela conversa tão intima e árdua fosse selada com aquele beijo.

A sensação odiosa de estar exposta ou frágil, não a incomodou, porque Piper ansiava em conhecer essas partes de seu ser, as abraçava e acolhia, a acalentava em sua dor e compreendia quando chegava a seu limite.

Você não vai encontrar amor onde deseja ou espera. Nenhum semideus vai curar seu coração.

Ninguém seria capaz de curar seu coração, não enquanto a culpa soasse como uma punição autoimposta, quando sentia apenas como uma comandante, ignorando seus sentimentos e se limitando a encarar o passado como um futuro sentenciado. Enquanto ao resto da frase...

Deuses, que importância tinha agora?

Seria incapaz de dizer por quanto tempo trocaram beijos e caricias, ou quando Piper deitou-se a sua frente, apenas voltou a consciência quando sentiu os dedos da filha de Afrodite afastando seus cabelos do rosto, quando abriu os olhos pode ver seu sorriso singelo.

Reyna sentiu como se seu coração estivesse sendo mergulhado em chocolate derretido.

— A quanto tempo você acordou? — A grega murmurou quando a abraçou pela cintura e a trouxe para mais perto, aconchegando-se uma a outra.

— Uma hora, talvez. — Espiou o relógio no criado-mudo, eram quase quatro horas. — Eu não fiz nenhum barulho, o que te acordou?

— As Parcas. — Murmurou enquanto desenhava figuras geométricas em seu braço, Reyna apenas rolou os olhos. — Está com medo de ter um pesadelo outra vez. — A afirmativa em sua voz a incomodou levemente. — Vou fazer você pegar no sono. — E sorriu, como se fosse a coisa mais fácil do mundo.

— O que? — Piper passou a acalentar seu cabelo, quase como um preparativo para realizar sua ideia. — Você realmente acha que...

— Eu fiz Gaia dormir, baixe essa bola, pretora. — A surpresa pairou em sua expressão, até um sorriso bobo e orgulhoso se desenhar em seus lábios.

Piper era incrível.

— Ela deve estar sonhando comigo até agora. — Seu tom saiu irreverente, embora fosse um aviso que não aceitaria um não como resposta a sua ideia.

E Reyna sequer cogitou essa hipótese.

— Sonhar com você. — Saboreou as palavras. — Isso me parece ótimo.  — Foi a vez da filha de Afrodite se surpreender, lhe presenteado com um sorriso tímido e adorável.

— Chega de me deixar sem graça, vem aqui. — Beijou seus lábios em um selinho demorado antes de puxa-la para mais perto, Reyna apoiou o rosto em seu colo, acomodando-se ali. — Hoje você vai sonhar comigo. — A pretora sentiu a sugestão forte em sua voz, o tom doce e inebriante foram os bastante para sentir os músculos começarem a relaxar.

A pretora sentiu a leve vibração do cantarolar de Piper, em um ritmo suave e lento de uma canção desconhecida, mas que entendia sua mensagem como se estivesse em sintonia com seu coração.

Você não precisa mais estar sozinha.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Pelo meu textão lá em cima acho que ficou bem claro o quanto eu adoro essa personagem, e ver que ela foi praticamente jogada no limbo (narrativamente falando meio que é isso que as Caçadoras são), me deixou meio fora do ar em relação a saga de Apolo, mas ao menos me deu vontade de escrever sobre ela ^^

Enfim, sinto que agora Ingredientes está completa de verdade u.u

Escrever esse capítulo só me deu mais vontade de explorar essa questão da Reyna e do passado dela em outras fics

Well, eu amei escrever essa fic e espero que quem tenha chegado até aqui tenha conseguido se divertir ^^

Até mais, pessoinhas o/



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ingredientes para se Curar um Coração" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.