Ingredientes para se Curar um Coração escrita por LizAAguiar


Capítulo 1
Ingrediente 00: Vontade


Notas iniciais do capítulo

Oooooooooolar o/

Faz tanto tempo que não posto nada que até esqueci como eu enrolava antes pra escrever as notas iniciais ;-;

Bom, apenas tenho a dizer que essa fic surgiu do meu descontentamento extremo com o final que a Piper e a Reyna tiveram em As Provações de Apolo, então ela é basicamente eu tentando aprofundar e resolver as questões pessoas delas exploradas nesses livros.
E claro, enfiando meu shipp maluco no meio e.e

Citei Apolo, mas ninguém precisa ter lido pra entender a fic.

E esse capítulo não tem nada a ver com a sinopse, não estranhem, ele é só um prólogo ^^

Com as ressalvas feitas:
Tenham uma boa leitura =3



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Aproximou-se sorrateiramente dos dois, Leo dizia algo sobre visão de calor para os galgos, Piper só observava as costas dela, mas sabia que Reyna não estava gostando nada da conversa. Expulsou o amigo com o olhar, por mais que estivesse aliviada em vê-lo novamente, sua raiva pelo tempo sem notícias ainda continuava viva.

´´Não vou dar qualquer colher de chá para você. ``

— Hoje a senhorita está tão requisitada. — Teve um leve sobressalto com seu sussurro ao pé do ouvido, o que lhe arrancou um sorriso divertido, afastou-se para que ela pudesse se virar.

— Olá, McLean. — A romana lhe presenteou com um sorriso amistoso e passou os olhos pela clareira. — Achei que seria um piquenique.

— Bem, era para ser, mas o chalé de Hermes ficou sabendo, depois o de Ares, Apolo... — Assistiu-a servir um pouco de ponche de groselha no copo vermelho. — E acabou chegando nos ouvidos do Quiron.

— E vocês não haviam falando com ele sobre isso? — Indagou antes de bebericar do copo.

— Era só um encontrinho para relembrar os velhos tempos, ele não precisava saber. — A única resposta que recebeu de Reyna foi uma sobrancelha arqueada e um sorriso enigmático.

— Como está a escola? Soube que levou o Hedge e a família dele com vocês. — Sorriu ao se lembrar do sátiro.

— Está sendo o que eu mais precisava: tranquilo e normal. — Eles quase não haviam tido incidentes com monstros, o que fazia com que Piper achasse que tudo que vivera há pouco mais de dez meses era um sonho, pela primeira vez na vida não teve que se preocupar com alguma garota a atormentando sem nenhuma razão ou mesmo os incidentes pela suposta cleptomania, embora a presença de Jason a puxasse para a realidade. — Como está lá no Júpiter?

— A reconstrução do fórum finalmente terminou e acho que agora vai ser muito mais fácil o Valdez não ser amaldiçoado pelos Lares.

— Isso é bom, mas... — Depois de um abraço de cinco minutos em Frank e Hazel, havia conseguido aquela informação com eles, o rosto da pretora levou uma expressão de dúvida consigo. — Eu estava falando de você. — Um sorriso cheio de humor cresceu em seus lábios ao ver o dela surgir sem graça.

— Ótimo, as coisas continuam agitadas, mas ter o Zhang ajudando deixa o trabalho mais leve. — Foi bom ouvi-la dizer aquilo, era a primeira vez que a via depois da guerra contra Gaia e saber que ao menos uma parte daquele peso descomunal que ela um dia carregara não estava mais em suas costas a deixava feliz.

Estava para soltar um comentário sobre esse ajudar, — Frank era tão pretor quando a descendente de Belona, não um assistente, — mas ver à expressão leve se extinguir e tornar-se....Aquilo era aflição?

— Claro! Eu adoraria ver a parede de escalada. — A fala saiu mais alta enquanto Reyna a puxava pelo braço, mesmo sendo inusitada a descendente de Afrodite não achou difícil entende-la, a confirmação veio quando olhou de forma disfarçada para trás.

"Deuses, até o Austin?"

Piper não havia nem mesmo conseguido dar um oi a ela naquele dia, se não eram os próprios subordinados, os gregos a cercavam, o que era bem esquisito, mas Lacy lhe esclarecera a situação, já que Drew a encarou com sua pior face de tédio.

´´Eles ainda não cansaram do MPT? ``

O Militar Post Top havia começado por diversão, apenas para brincar com as náiades, semanas depois da guerra ter acabado, que a todo custo tentavam escolher o romano mais bonito, mas assim que o resultado saia elas esqueciam e começavam novamente, depois o pequeno jure se estendeu a todo o chalé 10, Piper não soube dizer quando ganhara nome e se tornara um evento mensal, sempre que Drew perguntava sua opinião a resposta, — em 100% das vezes, — era o nome do namorado.

"É impressionante como os romanos não ficaram sabendo disso, eles circulam tanto por aqui agora."

Mas não seria ela a delatora, por mais que achasse aquilo idiota.

Não que fizesse diferença ou tivesse sido uma surpresa Reyna ser a escolhida do mês, apenas achava um tanto...

´´Ridículo. ``

Piper imaginava que a pretora não precisava lidar com aquele tipo de atenção no Acampamento Júpiter porque os campistas olhavam para sua comandante apenas daquela forma, — ou como uma professora ranzinza, como gostava de pensar as vezes, — mas os gregos não tinham que vê-la daquela forma.

E como era irritante ver aquela incompetência.

— Quanta atenção. — Comentou desgostosa assim que elas saíram da clareira, a pretora apenas suspirou.

— É normal que as pessoas sintam curiosidade com uma dinastia diferente, mas eu não sou a única que posso responder essas questões. — Piscou três vezes antes de entender o que ela queria dizer.

´´Isso também não é estranho, eles não sabem como se aproximar de você, precisavam puxar assunto de algum jeito. ``

Um jeito bem torpe e infantil, se fosse permitido dar sua opinião. Aparentemente a romana não havia pegado as verdadeiras intenções deles, Piper teve o impulso de contar o que realmente estava acontecendo, mas pensar o quanto seria xingada pelos irmãos a fez desistir da ideia.

Não era importante de qualquer forma.

Por mais que o final do verão daquele ano parecesse mais frio que o normal, o acampamento estava com um clima ameno, apenas uma brisa suave passava pelo andar das duas sem causar qualquer dano térmico, o céu estava limpo e a lua cheia iluminava a noite, quanto mais Piper se afastava da floresta mais o silêncio se expandia, ela não soube ao certo o porquê, mas aquele momento lhe dava uma sensação de paz, era confortável.

— Eu não sabia que você vinha. — Não queria que sua voz mostrasse irritação, apenas uma forma branda de cobrar a oferta de férias da última vez que haviam se visto, mas o sorriso sem jeito de Reyna confirmou sua falha na tarefa.

— Não era algo programado, mas eu precisava falar com Quiron. — A filha de Belona deu de ombros. — Melhor pessoalmente do que por outro meio.

— Aconteceu alguma coisa? — Sussurrou preocupada, como os deuses conseguiam tantos problemas?!

´´E eles sempre sobram para os semideuses. ``

— Não, mas quero que continue assim. — O tom dela se tornou pensativo, o olhar se perdia no lago de canoagem que Piper nem ao menos havia notado a sua frente. — A paz precisa de manutenção, milênios de ódio não são deixados de lado com facilidade.

Entendia o que ela queria dizer, mas...

— Já não estava tudo resolvido entre gregos e romanos? — Os pretores estavam em uma festa em território grego no final das contas.

— Está, mas a calmaria sempre antecede a tempestade. — Os olhos dela buscaram os seus, a preocupação só se dissipou quando pode ver serenidade neles. — Estava pensando em firmarmos melhor essa parceria de maneira mais sólida, quem sabe alguma festa anual ou intercâmbio com mais serviços. — Piper suspirou aliviada, mas não perdeu a chance de alfinetar.

´´Não me faça ficar preocupada com você outra vez. ``

— Deuses, você precisa de férias. — Sem esperar por uma resposta, a grega foi até o cais e sentou-se as margens do lago, não demorou muito para que ouvisse os passos de Reyna a seguirem até o local e imitarem seus movimentos.

‘Foi aqui a última vez que nos falamos, não foi?’

Já fazia tanto tempo.

— Não, ser pretora é uma honra que eu mesma fiquei surpresa de receber. — O tom espantado dela a fez sorrir, modéstia tinha limites. O olhar de Reyna se prendia nas águas escuras do lago enquanto o seu não conseguia deixar de observa-la, a camisa roxa e o jeans escuro eram vestimentas simples, mas caiam muito bem nela, como filha de Afrodite não pode deixar de notar. — Foi cansativo nos tempos de guerra, como não poderia deixar de ser, mas tomar conta do meu lar é algo que não consigo deixar de fazer.

— Então nada de férias no Acampamento Meio-Sangue. — Foi apenas uma brincadeira, mas ouvir a risada baixa não a agradou, será que aquilo era tão distante da realidade?

´´Todo mundo precisa de um descanso as vezes. ``

Descanso de verdade, não apenas um dia de folga. Gostaria de dizer isso a ela, mas o clima leve era um bom argumento para fazê-la deixar para lá. A própria ação fez a curiosidade despertar em seu interior, a alguns dias reclamara com o namorado sobre o quanto sua casa era silenciosa e vazia, foi fácil aprender a não gostar daquela mansão.

No momento as falas eram murmuradas e toda a população do acampamento se encontrava em outro lugar, aquele cais era quase como uma bolha de paz junto a uma conversa agradável e banal, talvez a companhia também ajudasse, a presença de Reyna era confortável, por mais contraditório que pudesse parecer, sempre fora.

Será que se sentiria mais confortável naquela casa se Tristan fosse mais presente? Se tudo não parecesse impessoal e criado por um arquiteto renomado qualquer? Era estranho pensar que o primeiro local em que se sentiu em casa fora com os amigos no Argos II, as vezes se perguntava se algum tempo junto aos primos na tribo poderia fazê-la reviver aquele sentimento, sem que os deuses interferissem em sua vida.

Claro que estava excluindo o fato de que os cherokees pertenciam a tribo de suas mães, e que obviamente Afrodite não poderia ajudá-la naquele quesito.

Suspirou, se negando a cair naquele limbo de pensamentos outra vez. Seus olhos percorreram a extensão do lago e o céu estrelado, detendo-se na lua, era difícil ignora-la.

— Ártemis está inspirada hoje. — Ouviu-a responder com um som de concordância. — Mas vovô Tom sempre dizia que as luas de outono são as melhores.

— Não posso duvidar disso. — Perguntou-se se aquilo teria um motivo especial, mesmo que não conhecesse a deusa, ela não lhe parecia o tipo que faria algo assim sem motivo.

´´Até a versão grega dela parece romana. ``

— Pela última carta de Thalia as caçadoras parecem estar em um ritmo acelerado, como se quisessem descontar o tempo perdido pelas guerras. — Encarou-a em dúvida, sendo uma baita novidade saber daquele contato, por mais que Jason tentasse a caixa postal Thalia nunca respondia, ele fingia não ficar triste, todavia o olhar perdido e decepcionado era bem fácil de notar, embora o filho de Júpiter nunca deixasse de tentar, tendo a convicção que a irmã não o respondia por causa de Ártemis.

´´Deve ser complicado ter uma chefe que odeia homens. ``

— Deuses, Piper. — A exclamação acabou por chamar sua mente de volta até a garota sentada ao seu lado, Reyna parecia envergonhada. — Eu acabei puxando você para fora da festa, desculpe.

— Não tem problema, estava barulhento e acho que aquele ponche foi batizado. — A pretora suprimiu o riso.

— Achou certo, estava forte. — Riu, será que Travis havia vindo também?

— Além do mais eu nem conseguia cumprimentar você se não tivesse espantado o Leo. — Reyna suspirou, não parecia cansada de fato, talvez incomodada.

— Vocês estão brigados? — Crispou os lábios com a indagação.

— Eu estou com raiva, ele conseguiu criar um dragão duas vezes e um navio de guerra, mas não pode mandar uma mensagem decente? — Foi impossível conter o bico que tomou suas feições.

— Concordo. — Depois de segundos ponderando ela respondeu. — Mas não deixe isso continuar por muito tempo, nunca se sabe o que pode acontecer.

— Só quero dar um susto nele. — O riso de Reyna foi baixo. — O Jason nem se ligou nesse detalhe.

A maioria das pessoas deveria achar que Leo era a terceira parte do trio, o que Piper discordava.

´´Às vezes eu me sinto segurando vela. ``

Embora não fosse uma sensação ruim, era bom fazer parte de um grupo, — mesmo que pequeno, — sem qualquer holofote mirado em seu rosto, gostava daquele número.

´´Três não é demais, é o número perfeito. ``

Um pensamento que se multiplicava em sua mente cada vez mais, ao mesmo tempo em que as batidas aceleradas de seu coração, a euforia e as borboletas em seu estômago evaporavam os poucos.

Engoliu em seco, com receio do que aquilo significava.

Gostar de Jason agora não parecia mais como gostar de Jason antes.

— Olha só o que eu encontrei... — Ao invés de um grito, o susto lhe causou um arrepio tão forte que Piper precisou respirar fundo para se recompor. — Estão fugindo da festa?

— Você também, pelo que posso ver. — Annabeth riu com ironia do comentário da romana e se pôs no meio delas, a filha de Afrodite teve que se afastar para que ela pudesse sentar-se.

Algo lhe dizia que a amiga havia gostado do ponche.

— O Percy e o Jason estão naquela competição besta deles, eu disse para não fazerem isso. — Ela suspirou aborrecida. — Clarisse é uma idiota.

— Competindo no que? — A curiosidade a fisgou, o filho de Júpiter não era do tipo competitivo, tão pouco Percy o era.

´´Não muito. ``

— Primeiro foi para ver quem conseguia comer mais cachorro quente, agora estão no ponche e o Connor garantiu que consegue mais um balde para eles se entupirem até vomitar. — Ela cruzou os braços enquanto fulminava o lago com o olhar. — Que seja, eu não vou cuidar de bêbado nenhum, por mim você dorme na floresta hoje. — O resmungo lhe deu a confirmação de que não deveria questionar mais do assunto. — Vocês estão aqui por que?

— Descansando. — Reyna respondeu de forma simples, olhando para frente. — Conversando.

— Sendo antissociais. — A descendente de Belona riu suavemente. — Vamos! Você vai embora amanhã, é uma festa de adolescentes que serve para descontração, o Quiron já foi dormir. — A loira soltou uma risada, o que a fez ter a ligeira impressão de que a filha de Athena havia tomado alguns copos de ponche, mas não foi isso que chamou sua atenção.

— Vai embora amanhã? — Sua pergunta saiu perplexa, seus olhos também procuraram os da pretora com o mesmo sentimento. — Mas você chegou hoje! — Reyna jogou a trança que descansava em seu ombro para trás em um gesto rápido e inquieto.

— Acontece que o Frank está aqui, junto com o Michael e a Hazel, o Acampamento Júpiter não pode ficar tão desfalcado por muito tempo. — Mesmo sendo lógica e perfeitamente cabível a realidade, a explicação dela lhe deixou aborrecida.

— O que foi que eu disse a você da última vez? — Reyna arqueou a sobrancelha em dúvida, mas abriu a boca para responder, Piper não lhe permitiu esse tempo. — Que precisava aprender a confiar nos outros e relaxar. — Sua fala era dita em um tom normal, mas irritada, talvez fosse o escuro lhe pregando peças, entretanto ela poderia jurar que a romana havia desviado o olhar e se encolhido pela bronca. — Sei que você é perfeita e...

— Nunca disse que sou perfeita. — A romana pareceu ter reencontrado a própria voz, calma e imponente.

´´Pode agir e falar como uma rainha, mas aqui não é seu território. ``

— Não precisa dizer. — A atitude dela estava alimentando sua raiva. — Você é linda e incrível em todos os sentidos, se isso não é perfeição eu não sei o que é. — Piper só havia notado suas palavras quando viu o alvo delas tomar para si uma expressão boquiaberta, assim como ela própria.

— Wow. — A loira apertou a bochecha da pretora. — Ficou vermelhinha, está com vergonha? — A descendente de Belona afastou a mão da outra e suspirou.

— Quantos copos de ponche você bebeu? — A graça de Annabeth se extinguiu.

— Eu não estou bêbada. — Afirmou, Piper teve que segurar a língua para não contestar.

— Alterada, com toda a certeza. — Reyna se levantou. — Vou acompanha-la até o seu chalé. — A descendente de Athena riu, todavia, sua alegria minguou quando a outra apenas a fitava séria.

— Deuses, você não está brincando. — Piper também se levantou, Annabeth levou sua atitude como uma ofensa, os olhos dela podiam lhe dizer isso mesmo na escuridão. — Foram só três copos, mamãe. —  Resmungou irritada, trocou olhares com Reyna.

´´Ela mente muito mal quando está bêbada. ``

A pretora estendeu a mão para ajudá-la a se levantar, o bico de Annabeth era enorme.

— Eu deveria é jogar você nesse lago. — Foi difícil conter o riso, mas conseguiu fazê-lo, poderia solta-lo em outro momento.

— Talvez, se eu fosse seu namorado. — Era apenas uma brincadeira boba, mas a loira riu como se tivesse visto Hera caindo em solo adubado. A loira encarou a romana, esperando que ela dissesse algo, como vamos voltar para festa ou quem subir a parede de escalada primeiro ganhar um chocolate.

Quando Reyna apenas indicou a direção dos chalés com a cabeça Annabeth suspirou.

— Eu não acredito que você está falando sério. — Tomou a dianteira, com Piper e Reyna acompanhando sua fúria a uma distância segura.

— Vamos, senhorita Chase. — Não soube exatamente de onde veio sua coragem para provocar uma Annabeth já aborrecida, provavelmente porque poderia se esconder atrás da pretora se algo desse errado. — Está na hora das crianças dormirem e os adultos conversarem. — Pode jurar que viu o relampejar nos olhos cinzentos.

— Eu sou mais velha que você. — Seu sorriso vitorioso pelo tom cortante lhe pareceu suicida, mas não se importou.

— Mas eu não fiquei bêbada. — Piscou para ela e virou-se para frente, a risada de Reyna soou como música para os seus ouvidos.

A filha de Athena resmungou algumas palavras pelo caminho, provavelmente ameaças de morte, entretanto Piper só parou de rir quando sua amiga estacou, seu instinto de autopreservação fez com que sua mão enlaçasse o braço da romana, que também levou um susto com sua atitude de protagonista de filme de terror.

O sorrio de Annabeth saiu vitorioso.

 — A gente nunca tem festas por aqui, então eu vou aproveitar essa até o fim. — Esperou que uma das duas tentasse contrapor. — Vocês vêm ou vamos ter que resolver a fobia social de vocês no tapa? — Um frio na espinha fez com que apertasse mais o braço de Reyna.

— Acho que passamos dessa vez. — Aparentemente a pretora pegou seu medo como um sinal. Annabeth estalou a língua, insatisfeita. A filha de Afrodite estava perplexa.

A loira ficava muito mais assustadora quando estava bêbada.

— Tá, mas pelo menos achem algo divertido para fazer. — Ordenou antes de dar as costas e voltar para a floresta.

— Ok. — Se Reyna estava assustada, era ótima em não demostrar. — Você ouviu a filha de Athena, o que vamos fazer?

Piper respirou fundo para se recuperar, pensando um minuto, não queria dar de cara com algum idiota tentando cantar a pretora, nem com bêbados, encarou o céu a leste...

´´Por que não? ``

Sem falar nada, soltou o braço da romana e começou a caminhar em direção a Casa Grande, seu olhar prendeu-se na figura da pretora sem que notasse, os olhos dela percorriam tudo ao seu redor como se estive no acampamento pela primeira vez.

´´Ela passou três dias aqui há quase um ano, claro que não decorou tudo. ``

Ainda se lembrava com nitidez da voz dela dizendo que pensaria em vir ao grego para tirar férias, como havia sugerido.

´´Estou vendo, pensou tanto que deve até ter esquecido. ``

Não poderia deixar de se sentir com raiva. Por que ela não poderia ter um momento para si mesma? Por que não se permitir isso?

Era meio complicado não se preocupar com Reyna quando ela simplesmente se negava a fazer o mesmo. Poderia muito bem usar esse tempo para socar Afrodite, ou ao menos sair por alguns dias para o mundo mortal e conhecer alguém, por que não?

´´Eu sei que você ama aquele lugar, mas um dia de folga faz bem, Miss Perfeição. ``

Desviou o olhar para o gramado, sentindo-se idiota.

´´Ela ganhou o concurso de lavada, não sou só eu que acho isso, Annabeth. ``

Quando soubera que Drew Tanaka havia tomado posse e dado o nome ao MPT, Piper não quis se meter, embora tivesse deixando os ouvidos bem atentos enquanto guardava seus pertences, não poderia baixar a guarda perto dela.

´´Admito que achei engraçado no início, mas não esperava que tivesse tanta repercussão. Ela nem conseguiu curtir a festa por causa disso, sempre vinha algum idiota tentado puxar assunto. ``

Marco, Connor, Cecil, Austin...Esses foram os que conseguiu contar, entretanto não se surpreenderia se houvessem mais.

´´Não que eu estivesse espionando ou contando, mas...``

Os romanos haviam chegado pela manhã, justamente no dia da inspeção dos chalés, Mitchell e Lacy entenderam perfeitamente a situação e não viram problema em dispensa-la da faxina, mas Drew não foi tão compreensiva, esperneando como a criança mimada e irritante que era.

Ela se sentou na cama e a encarou irritada, sabia que assim que colocasse o pé para fora do chalé alguma coisa aconteceria, algo ruim, diga-se de passagem.

´´Garota insuportável. ``

Conseguiu ver Hazel depois das onze da manhã, Frank recebera suas boas-vindas depois do almoço, todavia Reyna lhe escapou, só conseguiu botar os olhos nela na clareira.

´´Além desse povo me atrapalhando fico sabendo que você vai embora amanhã. ``

Maravilha!

— Você quer ver se o Jason está bem? — A pergunta varreu o silêncio da madrugada, a pegando de surpresa, não seu conteúdo, mas o fato de não ter cogitado a possibilidade antes.

Pensou por um momento, eles não estavam sozinhos e se algo acontecesse Leo poderia ajudá-lo.

´´E eu também não quero cuidar de bêbado. ``

— Não, ele conseguiu matar gigantes, o ponche não pode ser pior. — Deu de ombros, a resposta da romana foi um sorriso.

´´Se faz tanta questão de se viciada em trabalho ao menos eu tiro um tempinho pra relaxar com você. ``

Porque Reyna não parecia saber fazer isso sozinha.

— Pra onde estamos indo? — A curiosidade pareceu falar mais alto, Piper não soube dizer porque achou aquilo engraçado.

— Ver o nascer do sol. — A pretora arfou em surpresa, mesmo sem se virar a filha de Afrodite soube que ela olhava para o céu ao leste que começava a mostrar sinais de azul mais claro.

— Deuses, não sabia que era tão tarde. — Um sorriso convencido brotou em seus lábios.

´´Bom saber que os gregos conseguem fazer você sair um pouquinho dos eixos. ``

A frente da casa grande não deveria ser o melhor local para se ver o nascer do sol, mas estava longe de ser o pior, elas assistiram lado a lado os primeiros raios ainda tímidos tomarem o negro.

— Aposto que vocês não têm um nascer do sol desse jeito lá na California. — Provocou, tentando não pensar no quanto sua cabeça estava confusa.

— É verdade, aqui tem muito mais manchas de poluição. — Arfou fingindo indignação, dando um tapa leve em seu braço, voltou a encarar o nascer do astro rei e, teria continuado a deixar a tranquilidade daquele momento florescer, isso se o suspiro baixo, mas cansando não houvesse lhe chamado a atenção.

— O que foi? — Não pretendia parecer tão preocupada, porém lhe pareceu pouco importante se ligar em como soava.

— Acho que os boatos já chegaram por aqui, não é? — De braços cruzados, a pretora encarava o chão. — Sobre Vênus e eu. — As últimas palavras saíram em um sussurro, Piper engoliu em seco, pensando de que formas poderia matar sua irmã.

´´Militar Post idiota, Drew: você é uma vaca. ``

Era muita inocência de sua parte achar que Reyna não notaria toda aquela atenção.

— Acha que os garotos foram falar com você por causa da minha mãe? — O riso fraco da pretora soou sarcástico.

— Desde a missão em Chasleston, foram só alguns meses antes da guerra no Monte Otris. — Ela gesticulou com uma das mãos, Piper seria capaz de dizer que a pretora enforcaria Vênus se pudesse. — Você não vai achar amor onde deseja ou espera. Nenhum semideus vai curar seu coração. — Soltou as palavras com desgosto, a raiva invadindo seu olhar pouco a pouco. — Eu tenho que lidar com todo mundo me encarando com pena, dando palpites sobre quem eu deveria namorar, quem resolveria meu problema, eu... — Fechou os olhos, respirando fundo para se acalmar. — Eu não estou quebrada. — A voz de Reyna soou embargada, mais do que o suficiente para esquecer Drew e concentrar sua raiva em quem merecia realmente.

Sua mãe inconsequente, insensível e cruel.

— Reyna. — Tentou soar calma, escondendo a vontade que tinha de socar Afrodite, ela não era importante naquele momento, pousou sua mão no antebraço da pretora, para chamar sua atenção e passar o máximo de conforto que poderia. — Não escute minha mãe. — Um riso leve, sarcástico e cansado foi sua resposta. — É sério, ela não sabe o que está dizendo.

— A deusa do amor não sabe o que está dizendo? — Reyna a fitou com a sobrancelha arqueada, quase a desafiando a continuar com suas palavras. — Por que Vênus estaria errada, McLean? — Sussurrou olhando para a grama, o conformismo em sua voz aplacou a raiva e deu lugar a preocupação, outro pequeno riso sem humor soou. — Sabe, todo mundo me diz isso, que Vênus é cabeça de vento, ou que ela tem um plano maior pra mim, como se aquela história da maçã fosse se repetir. — Ambas suspiraram ao mesmo tempo, a guerra de Troia não era uma boa lembrança para nenhum lado.

´´Como você pode chegar em uma garota de quinze anos e dizer isso, mãe? ``

— Quer um conselho de quem ficou meses tentando entender a Profecia dos Sete e usa a faca que tem visões da garota da maçã dourada? — Reyna a encarou, procurando compreender suas palavras. — Não existe sentido, seja lá como você interpretou o que Vênus disse: está errado.

— Qual é, Piper. — Ela deu de ombros, sem muita energia para discordar, mas pouco convencida por seus argumentos. — Não tem muita coisa para se interpretar nessa frase.

— Isso é um desafio? — Cruzou os braços, se pondo a sua frente, dando um passo em sua direção para reforçar a ameaça, não havia humor em sua voz, entretanto Reyna pareceu achar engraçado.

Ou hilário.

Observou-a cobrir a boca para abafar o riso, o que fez com que o um sorriso singelo surgisse em seus lábios.

— Desculpe, é que... — Ela tomou fôlego e depositou uma mão em sua cabeça. — Você é tão baixinha e... — Rolou os olhos, deixaria essa passar, — ...bonitinha, me sinto atacada por um coelhinho.

Seu queixo caiu.

— Como é que é?! — Deu um tapa na mão que continuava em sua cabeça, Reyna a abanou como se o contato houvesse doido, mas continuou a rir, secando as lágrimas de seus olhos enquanto Piper a encarava irritada. — Quero ver se vai continuar pensando desse jeito depois que eu te mandar dar um mergulho naquela água fria do lago. — Resmungou, tentando se manter irritada enquanto o humor da pretora minava o seu.

Nunca havia ouvido aquela risada, ou visto seu olhar tão leve quanto naquele momento, até seu coração pareceu se aliviar das próprias angustias.

— Ok, desculpe. — Ela a empurrou levemente com o ombro, voltando o olhar novamente para o nascer do sol, ele já era visível pela colina, com os tons de rosa, laranja e amarelo dominando o preto e o azul escuto do céu estrelado. — E obrigada, Piper.  — O murmuro de Reyna soou tão baixo que se Piper estivesse mais longe não o ouviria.

´´Di Immortales! Eu já não deixei claro que você poderia contar comigo? Que me preocupo? Que agora você faz parte da família? Não pode ser tão difícil entender que quero que venha falar comigo. ``

Mas, ao invés de destilar sua pequena explosão de raiva sobre a teimosia da pretora, preferiu deixar seus sentimentos nas entrelinhas, apenas rolou os olhos, suspirando teatralmente.

— Disponha, pretora.

Se Jason havia ajudado Nico em seus momentos mais difíceis com o Cupido, por que Piper não poderia ajudar Reyna a curar seu coração?


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Notas finais do capítulo

Apenas comentando, depois que li A Tumba do Tirano surtei e resolvi escrever essa fic antes das minhas férias acabarem, vulgo duas semanas.

Como vou usar as postagens programadas no Nyah, terei de sacrificar a revisão, talvez algumas partes estejam estranhas ou com atrocidades linglisticas.

Mas uma hora eu arrumo, tipo daqui seis meses nas minhas próximas férias ;-;

Por hoje é só pessoinhas, para xingamentos, críticas, elogios ou sugestões, não deixem de comentar ^^



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