Parte I

Fazia cinco anos que a família Namikaze não ia até a sua casa de praia, há alguns quilômetros de distância da cidade que moravam. Minato, o pai, tinha passado por alguns problemas no trabalho e isso acabou fazendo com que as férias fossem adiadas cada vez mais, porém, agora tudo estava bem e ele conseguiu aquele tempo para a família que Kushina, sua esposa, sempre cobrava.

Naruto, o filho único do casal, tinha resistido durante algum tempo. Seus amigos ficariam na cidade naquele verão e ele queria aproveitar as festas e as tardes para sair com eles antes de ir para o último ano do colegial. Mas, no final, acabara aceitando que aquelas eram as férias que tinham esperado durante muito tempo. Ele gostava da praia, o lugar sempre tinha festas animadas, luais, sem contar que voltava com ótimas histórias para contar. Assim, logo no primeiro dia de férias, tratou de se despedir dos amigos e partir de carro para a casa.

O lugar tinha ficado muito tempo fechado, por isso, Kushina tinha pedido que alguém fosse antes fazer uma limpeza, para que não acabasse gastando o tempo da família com arrumação. Ao chegarem, o lugar estava perfeito, como se tivesse apenas saído mais cedo e deixado tudo arrumado para sua volta. A moça contratada para a arrumação estava à porta e informou que tinha preparado o almoço para a família, o que lhe rendeu uma gorjeta melhor.

Naruto queria ir logo para a praia, mas é claro que sua mãe não deixou, ela pediu que ele desfizesse as malas e depois descesse para comer, já que estava perto da hora do almoço. Obviamente, o jovem de dezessete anos não arrumou as roupas dentro do ármario e, sim, jogou tudo o que estava dentro da pequena mala lá e fechou, jogando o objeto embaixo da cama. Tudo estava desfeito, como a mãe pediu. Antes de descer, porém, foi até a janela do seu quarto. Ele se lembrava que gostava daquele lugar por dois motivos. O primeiro é que dava para ver a praia a pouca distância. O segundo motivo é que dava para ele descer pela trepadeira do jardim e fugir. Tinha feito isso algumas vezes, mas como era muito jovem, em todas tinha sido pego por não poder ir muito longe. Esperava conseguir melhor isso agora.

O almoço que tinha sido feito com muito carinho pela moça estava delicioso, tanto que o rapaz repetiu mais duas vezes, sentindo-se tão cheio que pensava em dormir um pouco antes de ir para a praia. Novamente, sua mãe foi quem o impediu de realizar seus planos. Kushina era o tipo de mulher que não podia ser contrariada, pelo simples fato que ela colocava medo quando ficava irritada com alguma coisa. E, claro, Naruto era quem mais temia aquela mulher… Mas também era, provavelmente, o que mais amava.

A família se trocou e caminhou lado a lado até a praia. A cada passo, o rapaz se animava mais. Sentia falta do lugar e só o cheio que vinha do mar pelo vento o fazia reviver ótimas lembranças. Por ser ainda o início das férias, o local ainda estava vazio, por isso puderam escolher um bom lugar para se acomodarem. O rapaz não ficou na areia, sua paixão estava mais a frente e, por isso, acenou para os pais e correu para o mar, perdendo a noção do tempo enquanto nadava ali.

O dia da família foi agradável, com Kushina gritando o filho algumas vezes, como quando ele era mais novo, para que passasse protetor solar e comesse. Em todas as vezes ele balançava a cabeça, jogando o excesso de água na mãe, que lhe dava um tapa, ralhando com ele e arrancando risadas dos dois homens da família, por saberem que não importava o quanto a perturbassem, ela sempre reagia da mesma forma.

O sol estava começando a se pôr quando a Namikaze chamou o filho para que fossem embora, afinal, ela ainda faria algo para que comessem. Porém, Naruto não queria. Era o seu primeiro dia e ele queria ver o pôr do sol.

— Prometo que assim que o sol se for, eu vou pra casa! — ele disse, segurando as mãos da mãe e a olhando nos olhos — Por favor!

— Tudo bem, mas se demorar muito você irá ficar de castigo nas férias e sem argumento.

— Feito! — gritou e a abraçou, molhando-a. Aquilo lhe rendeu mais um tapa.

O casal foi embora de mãos dadas, levando as coisas que tinham carregado para a praia naquele dia. Naruto os observava, com um sorriso nos lábios. Gostava da relação que os pais tinham, era algo que não conseguiam esconder — mesmo que quisessem — e que parecia sempre aumentar ao longo dos anos. Ele sentia orgulho de ter nascido de uma relação como aquela.

Caminhou até o lado extremo da praia, onde podia ver melhor o pôr do sol, sentando-se sobre uma pedra alta. Seus pais o tinham levado ali algumas vezes quando era mais novo e, por isso, tinha lembranças boas do lugar. Porém, mais que o sol, uma moça chamou sua atenção.

Ela passou ao seu lado, o cheiro era maravilhoso, uma flor misturado com o cheiro do mar. Seu cabelo era escuro, quase azulado à luz do pôr do sol, constratando com sua pele alva. Alguns centímetros mais baixa que ele, pelo que pôde notar e com algumas curvas muito bonitas. Porém, mesmo depois que ela passou, o que lhe fixou a memória tinha sido o cheiro. Em seu pensamento tinha a cumprimentado com aquela cantada barata que dera algumas vezes e que recebeu um olhar fulminante como resposta. Mas apenas em seu pensamento. Na realidade, ele olhava para onde ela tinha ido, também observar o pôr do sol, mas com pessoas tão parecidas com ela que só poderiam ser membros de sua família.

Naquele fim de tarde ele não admirou o sol, nem mesmo a praia. Seus olhos tinham ficado fixos nela. A moça misteriora que ele não tinha visto o rosto, mas que vira muito bem o cabelo e sentira o cheiro.

Alguns dias se passaram, mas Naruto não viu aquela moça novamente, ele se perguntava se ela morava ali e se ela tinha ido passar as férias em outro lugar. Seria uma tremenda falta de sorte. Mesmo assim, sempre que iam à praia — o que eram todos os dias — ele caminhava de uma ponta a outra, olhando cada rosto ali e procurando ela. Também dedicou o seu tempo à família, como a mãe tinha pedido, ajudando-a a renovar as fotos de família naquele lugar e na casa das férias. Tudo o que ele queria era deixar sua mãe feliz.

No domingo, primeiro fim de semana das férias, ele começava a perder as esperanças de encontrar a moça novamente. Porém, como tinha pegado gosto por andar pela praia, aproveitou que sua mãe tinha deixado que ele fosse antes e sozinho, pois ela ainda faria o almoço, e resolveu correr pelo lugar já bem movimentado. Não olhava para cada rosto, pois não dava tempo, mas estaria mentindo se não dissesse a si mesmo que buscava por aqueles cabelos negros.

E quando viu, ele quase caiu, pois tropeçou nos próprios pés, tentando parar a tempo de admirá-la. A moça estava sentada, desta vez sozinha, passando protetor solar em suas pernas, completamente concentrada na sua ação. De biquini, ao contrário daquele dia que ela usava um vestido branco, ele conseguia ver melhor as curvas, mesmo que um pouco cobertas pelo próprio corpo dela naquela posição. E ela tinha muitas curvas. Se obrigou a olhar para outro lugar, pois se havia uma coisa que apanhara muito de dona Kushina para aprender é que não devia ficar “comendo” as pessoas com os olhos, era desrespeitoso.

Retirou os óculos escuros que usava, colocando acima da cabeça, e a fitou de longe. Como poderia se aproximar sem parecer idiota? Sem parecer que era um daqueles caras que estavam mesmo a comendo com os olhos? Não queria mesmo que ela pensasse isso. Com um suspiro, caminhou até lá. Seria no improviso.

Ao contrário da moça, ele não tinha nenhuma toalha para estender na areia, já que a mãe não confiaria nele para cuidar de suas coisas ali. Logo, Naruto sentou-se na areia, a uma distância boa da menina, mas deixando clara a sua presença. Tinha recolocado os óculos escuros em frente aos olhos, pois isso lhe dava mais liberdade para olhá-la sem que ela percebesse e achasse estranho. Por algum motivo inexplicável, ele sentia o seu coração acelerado ao lado dela. Desde que a vira, na verdade.

Quando a moça, enfim, virou o rosto para ver quem tinha parado ao seu lado, ele pôde contemplar seu rosto de perto e com detalhes. Rosto arredondado, pele realmente muito clara para ser seguro ficar no sol muito tempo, boca rosada de forma natural e olhos de um azul tão claro que pareciam pérolas. Ele prendeu a respiração, sentindo-se perdido em seus sentidos ao encarar aqueles olhos que, naquele momento, estavam fixos em si. Só que o olhar não durou mais do que alguns segundos. Logo ela olhava para frente, de forma fixa e o rosto atingia tons avermelhados.

Naruto sorriu, tentando disfarçar. Ele sabia, mesmo sem ter como explicar como, que ela tinha ficado corada por sua causa. Será que o tinha achado bonito? Será que seu coração tinha reagido como o dele? Será que ela queria falar com ele?

— Oi! — ele se ouviu a chamar. — Desculpe lhe incomodar, mas é que meus pais não vieram hoje e eu esqueci de trazer protetor, será que poderia me emprestar o seu?

Péssima forma de começar uma conversa, ele pensou. Mas pelo menos não chegara dando uma cantada, não é mesmo? Achava que sim. Sorriu ao perceber que ela ficou ainda mais vermelha, mas logo lhe estendeu o frasco.

— Obrigado! — agradeceu, mas ficou encabulado, em momento algum ela tinha falado.

O rapaz de cabelos loiros passou o protetor pela pele, espalhando lentamente enquanto pensava em uma forma de puxar assunto com ela. A observava pelo canto dos olhos também, notando que ela permanecia olhando para frente, para o mar, com o rosto corado.

— Aliás — ele a chamou novamente —, meu nome é Naruto Namizake. Muito gentil de sua parte me emprestar o protetor, … — Fez uma pausa na fala, indicando que naquele momento ela diria o nome, para que ele pudesse agradecer. Já tinha o frasco estendido na direção dela.

— Hinata. Meu nome é Hinata Hyuuga. E não foi nada. — A voz dela era baixa e doce, fazia com que o corpo de Naruto reagisse no mesmo instante, querendo se aproximar e a envolver em um abraço. Ela pegou o protetor, guardando na bolsa e, claramente, evitando olhá-lo.

— Desculpa perguntar, você mora aqui ou está de férias também?

Ela o olhou assim que o ouviu perguntar. Será que estava com medo dele? Será que escolhera a pior forma de se aproximar?

— Estou de férias. Pelo visto você também, né?

— Sim! Minha família tem casa aqui, mas estamos há alguns anos sem vir por conta do trabalho do meu pai. E você, está sozinha aqui? Digo, é que está sozinha aqui hoje.

— Ah, não. Vim sozinha pra aproveitar o sol um pouco, pois à tarde é mais complicado conseguir isso. — Pouco a pouco ele notava que ela conseguia se soltar. Ela sorriu ao ver o sorriso dele e ambos ficaram se encarando durante alguns segundos daquele jeito.

“Foi assim que a conheci,

Naquele dia junto ao mar

As onda vinham beijar a praia

O sol brilhava de tanta emoção

O rosto lindo, como o verão”

Naruto conseguiu manter uma conversa sobre o lugar, sobre si e, da mesma forma, conheceu um pouco mais de Hinata. Descobriu que ela morava em uma cidade não muito longe da dele, algumas horas de distância, mas que pretendia se mudar depois daquele último ano do ensino médio. Assim como a família dele, a dela também tinha casa ali, mas há pouco tempo, obtida no tempo que ele não estava frequentando o lugar, o que impediu que eles se conhecessem antes.

Não viu o tempo passando conforme descobria que tipo de comida ela gostava, que tipo de música ouvia e até os livros que tinha lido até então naquelas férias. Se surpreendeu quando, muito sem graça, ela retirou um da bolsa que tinha levado, alegando que nunca sabia como poderia passar o tempo. Ele riu e concordou, apesar de não ser do tipo que lia muitos livros, sempre tinha preferido os filmes. E com esse pensamento, ele descobriu que ela gostava de muitos parecidos com os dele.

No fim, não foi a falta de assunto que os impediu de conversa a tarde toda, mas o celular de Hinata tocando. Ela pediu licença e atendeu.

— Sinto muito, Naruto — disse após desligar a ligação. — Minha irmã me ligou dizendo que meu pai pediu que eu fosse almoçar.

— Ah, não se preocupe. — Ele se levantou e pôs-se a ajudá-la a guardar as coisas. — Minha mãe também está me esperando para almoçar. Nos veremos outro dia?

— Acredito que sim. Adoraria — ao dizer aquilo, as bochechas da Hyuuga se tornaram rosadas, mas ela manteve o olhar no dele e um sorriso nos lábios.

Naruto dobrou e a entregou a toalha que ela estivera sentada, abrindo um grande sorriso. Não tinha ideia do que estava sentindo, só sabia que era novo, bom e ele não queria parar de sentir. Se despediu dela dando um beijo em sua bochecha e Hinata se virou rapidamente, não antes que ele visse o rosto completamente vermelho. Ela tinha vestido um vestido branco por cima do biquini e estava linda, andando apressada, completamente envergonhada.

Ficou observando ela sumir ao longe. Sem notar, tinha levado a mão direita até a nuca, coçado e então passado pelo cabelo, bagunçando, ao mesmo tempo que suspirou. Ele estava muito ferrado por estar sentindo aquilo, tinha certeza. Mas quando tinha sido sensato antes? Não seria agora que começaria.

O telefone em seu bolso tocou e ele começou a correr para casa antes mesmo de atender. Sua mãe o mataria antes mesmo que tivesse a chance de rever Hinata!