Paradoxo Temporal 2: O Projeto K1 escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 39
Quem tem sangue de barata? - Parte II




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― I-ISSO É UMA NAVE ESPACIAL?!

Shinpachi fazia uma pergunta que agora era apenas retórica, em meio a solavancos de uma decolagem confusa e desajeitada de uma grande construção que agora se revelara como uma nave espacial das grandes. Quando a nave deu mais outro solavanco mais forte, Ginmaru caiu de Sadaharu, com o cão gigante caindo sentado sobre o jovem. Gintoki caiu de sua scooter, vendo-a cair para fora e ouvindo o barulho dela caindo.

Será que sobraria alguma coisa da pobre motoneta para poder consertar? Rezava para que sim, e que não precisasse pagar.

Em meio àquela decolagem confusa, viu que não era apenas ele, o filho, o cachorro e os óculos que haviam afundado para dentro da nave inimiga. Não só viu, como sentiu mais três pessoas caindo sobre ele quando o grande veículo espacial se inclinou para um dos lados. Tão logo sentiram alguma estabilidade, ouviu uma voz de alguém que estava por sobre ele:

― Cara... Com um sacode desses, eu já teria vomitado...

Era Sakamoto, que falava aos risos como sempre. Afinal, ele era um otimista incorrigível que ria como um idiota e...

... Sentia enjoos a bordo de uma nave, mesmo ele sendo o capitão da frota do Kaientai, e vomitava sem parar a cada mínima sacudida. Foi quando se lembrou de que não queria seu yukata branco todo sujo de vômito e gritou:

― SAI DE CIMA DE MIM, NÃO QUERO FICAR FEDENDO A VÔMITO!

Não apenas Sakamoto, mas também Katsura e Takasugi saíram de cima do faz-tudo. Haviam se desequilibrado naquele momento de inclinação da nave e tiveram a “sorte” de cair em cima do amigo pavio-curto de cabelos prateados.

― Relaxa, Kintoki. – Tatsuma ajustou seus fiéis óculos escuros no rosto e tratou de checar se havia munição suficiente em sua pistola. – Meus tempos de náuseas acabaram. Consegui um medicamento muito bom do planeta Bonaria e meus enjoos se foram!

 Embora aliviado com essa informação, Gintoki não confiava totalmente nessa história e ainda revirou os olhos para corrigir:

― Não é Kintoki, é Gintoki.

― Deveriam deixar de conversa fiada e ir até a sala de comando pra parar essa lataria voadora. – Takasugi disse enquanto atacava soldados inimigos e seguia caminho. – Vamos, Zura.

― Não é Zura, é Katsura. – o líder Joui respondeu enquanto ia junto com Elizabeth atrás do líder do Kiheitai.

Gintoki suspirou enquanto se levantava e seguia os amigos de infância. Ginmaru foi logo atrás, chamando Sadaharu para acompanhá-lo.

― Dá um tempo, Sadaharu... Não fica mascando essas porcarias alienígenas... Sua ração é melhor do que isso!

 

*

 

― Piloto automático ativado.— dizia a voz artificial do computador principal da nave. – Rota definida. Destino: Sol.

― Isso não é nada bom... – Shinpachi murmurou. – Estamos bem encrencados!

― Isso vai fazer muito mal à minha pele. – Kagura se queixou, enquanto olhava para os braços, os quais mostravam o quanto sua pele era pálida, principalmente em contraste com suas roupas vermelhas.

― Só à sua pele? – Gintoki questionou. – Nós vamos torrar, virar um monte de matéria escura igual aos tamagoyakis da Otae! Vamos ter que desativar aquela porcaria de piloto automático e salvar nossas peles!

― Fazendo aquele mesmo esquema, chefe? – Yamazaki indagou. – Deu para perceber que eles são fortes, mas não conseguem revidar nossos ataques quando atacamos de duas direções ao mesmo tempo.

― O poder mental deles é bem limitado. – Taichirou disse. – Só precisamos tomar cuidado num revide direto.

― O que estamos esperando pra atacar e botar essa nave abaixo? – Hijikata jogou no chão a bituca de cigarro e pisou por sobre ela.

Seguindo o mesmo plano anterior, as duplas novamente foram formadas enquanto a nave ganhava velocidade em sua subida. Atacaram Huey, Dewey e Louie, que em vão usavam suas ondas telecinéticas para evitar receberem os golpes de Gintoki, Shinpachi e Kagura. Eram bastante poderosos no ataque, mas quando adversários conseguiam escapar desses ataques, a defesa era precária e o contra-ataque se tornava nulo.

Em dado momento, Gintoki e Kagura atacaram, respectivamente, Huey e Louie, desferindo chutes em seus rostos. As duas cabeças rodopiaram como se lâmpadas estivessem sendo desrosqueadas de um abajur. Shinpachi golpeou Dewey, que caiu no chão atordoado, e arregalou os olhos ao ver aquela cena bizarra.

Para falar a verdade, todos estavam estarrecidos com aquilo, inclusive quem causou tal situação. Os corpos de Huey e Louie caíram pesadamente no painel do computador central, que entrou em curto-circuito. Daqueles corpos sem cabeça, saíram voando duas baratas, que aterrissaram em segurança no chão diante de um sexteto paralisado pela incredulidade.

― MAS QUE DIABOS ACABOU DE ACONTECER AQUI?! – Hijikata externou a pergunta que todos se faziam.

A nave estremeceu, indicando que o piloto automático havia sido desabilitado. Quando um solavanco foi sentido, caíram para dentro da sala do computador principal Sakamoto, Katsura, Ginmaru e o outro Gintoki. Conseguiram se recuperar a tempo de ver os demais encarando dois corpos envolvidos em curto-circuito, Dewey caído no chão e duas baratas paradas como se encarassem todos naquele local.

― Espera aí... – Taichirou tentava raciocinar. – Quer dizer que esse tempo todo nós éramos governados por baratas?!

― Agora entendo por que os três pediam para não haver dedetização nas áreas em que eles circulavam. – Yamazaki comentou. – Nunca isso passaria pela minha cabeça.

― NÃO PASSARIA PELA CABEÇA DE NINGUÉM! – o jovem Shinpachi contestou. – ONDE JÁ SE VIU UM PLANETA GOVERNADO POR BARATAS?

― Peraí! – Ginmaru estava totalmente confuso. – A Junta é uma junta de baratas dentro de robôs?!

Aquela breve discussão deu tempo suficiente para que Dewey recobrasse os sentidos e a interrompesse com um riso discreto, mas debochado. Ele se levantou com um ar triunfante e encarou todos os rostos estupefatos presentes.

― Nós, darkenianos, dominamos a arte de modificar geneticamente certas espécies. Huey e Louie eram experimentos anteriores àquele que viria a ser o Projeto K1... Aquele projeto grandioso que vocês destruíram! Pretendíamos expandir nosso domínio por todo o universo, mas os enjilianos liderados por Kasler atrapalhavam nossos planos.

Nas memórias dos dois Trios Yorozuya e de Katsura vinham as lembranças daquela luta contra Kasler e a menção aos darkenianos que seriam derrotados com o desvio intergaláctico, construído no antigo Terminal... O qual também poderia destruir a Terra naquela ocasião.

― Vocês nos fizeram um grande favor matando-o... – dirigiu o olhar para o Gintoki mais velho. – Eu deveria ter agradecido antes ao Shiroyasha por nos ajudar. Nosso objetivo pôde ser retomado, mas aqui estou, lamentando que meu plano de dominação universal foi novamente frustrado... Mas não de todo, porque estamos na rota de colisão com Edo. E a explosão desta nave atingirá um raio considerável de distância, atingindo aquele antro de depravação e sujidade chamado Distrito Kabuki!

― FALOU O CARA QUE TEM DUAS BARATAS DE ESTIMAÇÃO! – o faz-tudo berrou e surpreendeu o darkeniano com um soco cuja força fora devastadora.

― Na verdade, tinha... – o Gintoki mais jovem debochou enquanto esmagava uma das baratas com o pé.

―... Agora não tem mais! – Kagura completou enquanto imitava o albino e matava o outro inseto com um pisão.

Mesmo vendo o que os dois fizeram, Dewey não tirou o sorriso do rosto. Tudo já estava perdido, mas ainda assim não queria sair por baixo.

― Não é interessante? – sua voz começava a denunciar aquela loucura típica de um vilão prestes a ser derrotado e que lança mão de um recurso desesperado para evitar uma derrota ainda mais dolorosa. – Vocês esmagaram meus “irmãos”... E esta nave esmagará as pessoas como baratas!

― NÃO, SE EU CONSEGUIR DESVIAR A ROTA! – Sakamoto exclamou enquanto atirava contra o alien e Katsura lhe dava cobertura.

Tatsuma correu até onde avistou algo como um controle manual da nave. Quando o agarrou, suas suspeitas se confirmaram pois, ainda que oferecesse alguma resistência, o manche funcionou de tal modo que foi possível arremeter. Enquanto o líder do Kaientai colocava à prova sua experiência nas andanças espaço afora, a luta contra Dewey recomeçava. As veias da fronte do amanto se estufaram, dando a entender que ele faria um grande esforço para poder se livrar dos dois Gintokis e de quem mais estivesse o atacando.

― MORRAM, SEUS MALDITOS! – Dewey berrou enquanto vários raios emanavam de seu corpo, como se estivesse em curto-circuito. – MORRAM TODOS!

Dewey se explodiu, jogando todos para longe. Uns, contra as paredes, outros, contra outros setores do grande computador principal e ainda outros, para fora da sala. E, por fim, um dos vidros estourou, jogando alguém para fora. A sala toda foi engolida pela explosão, da qual se protegeu da melhor forma possível quem não conseguira sair.

Assim que o efeito da explosão passou e a fumaça se dissipou um pouco, perceberam que não havia nada a se fazer. A nave estava em queda livre e precisariam evacuá-la o quanto antes, mesmo depois de Sakamoto ter conseguido desviar sua queda para o mar. Outras explosões se seguiram, chacoalhando a nave e a avariando ainda mais. Quando iriam procurar por outras saídas mais seguras e tentar alcançar as naves do Kaientai que a ladeavam, Shinpachi e Kagura deram pela falta de Gintoki.

― Cadê o Gin-san?! – Shinpachi indagou.

― Eu tô aqui. – o Gintoki do futuro apareceu pelo o que sobrou da porta da sala destruída. – Mas não vi meu outro eu.

Quando pensavam em procurar o faz-tudo, viram um pedaço de tecido branco com ondas azuis preso em um caco de vidro que ainda estava junto à estrutura da nave. Kagura não teve dúvidas:

― O nosso Gin-chan... Caiu da nave!

Antes que alguém protestasse, a Yato puxou Shinpachi pelo braço e, abrindo seu guarda-chuva, pulou para fora da nave com o companheiro de Yorozuya.

Eles precisavam encontrar Gin-san/Gin-chan vivo, custasse o que custasse.

 

*

 

― SHINPACHI! – Gintoki gritou a plenos pulmões. – KAGURA!

Estava no meio do mar, que não estava muito agitado. Entretanto, isso não fazia diferença alguma para um homem que não sabia nadar e se debatia para tentar se manter na superfície, enquanto procurava algum vislumbre dos pirralhos. No céu, a grande nave por fim parava de funcionar após mais uma nova explosão e fazia sua trajetória descendente até a água, enquanto as naves do Kaientai se afastavam rapidamente após aparentemente conseguir resgatar todos que estavam nela.

― SHINPACHI! KAGURA! – ele berrou mais uma vez, o medo de se afogar lhe trazendo ainda mais desespero a cada onda que lhe atingia. – CADÊ VOCÊS?!

A nave se chocou violentamente com as águas do mar, produzindo uma grande onda que o cobriu e o jogou para baixo. O faz-tudo agitou seus braços como se buscasse escalar uma parede de água salgada para voltar à tona. Entretanto, a água estava muito agitada e ondas secundárias vinham em sucessão à medida que a nave afundava e explodia, impedindo-o de realizar seu intento.

Mais uma vez, o albino voltou à tona e tomou uma grande quantidade de ar, fazendo seus pulmões reporem tudo o que perderam. Buscou tentar novamente se manter na superfície com muito esforço e procurava mais uma vez por Shinpachi e Kagura em vão. Àquela altura, em meio ao desespero, servia até ser salvo pelo babaca viciado em nicotina e maionese.

Sentiu seu corpo afundar de novo e a água salgada invadir seus ouvidos, suas narinas e sua boca... E novamente se debatia para subir de novo, berrando mais uma vez o nome do par de óculos ambulante e da pirralha eternamente esfomeada, com um desespero ainda maior na sua voz.

Erguia seu braço esquerdo, ainda vestido com a manga do quimono branco com ondas azuis totalmente encharcada e grudada contra a sua pele, num último apelo por socorro. Não queria morrer afogado daquela maneira e fazer parte do sinistro e famoso “Clube dos 27”, formado por famosos que morreram aos vinte e sete anos de idade.

Ele não queria ter aquele fim. Não daquela maneira. Ele não sobrevivera por vinte e sete anos para morrer daquele jeito!

Pouco a pouco, ele afundava. A água salgada invadia novamente seus ouvidos, suas narinas e sua boca, que buscava, em vão, por mais oxigênio. Seus olhos ardiam enquanto pouco a pouco sua visão escurecia e ele se sufocava.

Gintoki não podia...

Não queria...

Morrer...

Sozinho.

“GIN-SAN!”, parecia ouvir ao longe a voz de Shinpachi.

“GIN-CHAN!”, agora pensava ter ouvido a voz distante de Kagura.

Estaria tendo delírios por estar prestes a morrer sozinho?

Sua consciência, prestes a deixá-lo, voltou com força total quando sentiu um forte puxão em seu braço. Duas mãos agarravam fortemente seu pulso esquerdo e o içavam, mesmo com dificuldade, como se mal conseguissem suportar seu peso. Tão logo viu que voltava à tona, e sentiu o ar encher seu peito, reconheceu aqueles rostos que gritavam seu nome com alívio. Assim que conseguiu se estabilizar sobre a placa metálica na qual estavam os outros dois, não pensou em mais nada a não ser dar um sorriso cansado e abraçar forte aqueles dois pirralhos.

Mais uma vez, eles salvaram a sua vida... Como sempre faziam desde que os conhecera.

As águas se acalmaram assim que a nave terminou de afundar, estabilizando a placa metálica que flutuava com três pessoas em cima. Passado o calor do momento em que se abraçaram, o Trio Yorozuya guardou alguns minutos em silêncio digerindo tudo o que havia acontecido até então, com direito a um plot twist bastante bizarro.

Gintoki encarava uma parte do barrado de seu quimono que havia se rasgado quando fora jogado para fora da nave naquela explosão. Apesar de tudo, não se ferira tão gravemente, assim como Kagura. Já Shinpachi...

― Ei, Shinpachi – Gintoki chamou a atenção do garoto de óculos. – Tá tudo bem com você?

― Sim, está, Gin-san. Nem me machuquei tanto.

― Tem certeza? Esse trincado na lente...

―... Parece grave, Shinpachi! – Kagura completou o mais velho.

― Pensei que estivessem preocupados comigo!

― Claro que estamos, Quatro-Olhos... – o albino afirmou. – Principalmente com a parte que compõe 95% de você!

― Ora, seu...

O Shimura fez menção de atacar Gintoki, mas a placa metálica sobre a qual estavam começou a se desestabilizar e eles quase caíram. Depois desse susto, o trio decidiu ficar quieto e esperar o resgate, que não demorou muito a chegar. Uma nave do Kaientai flutuou acima do trio, com Sakamoto e Mutsu jogando a escada feita de cordas para que os três segurassem e subissem.

Agora sim aquela aventura insana havia acabado. A missão de todos fora cumprida e tudo dera certo, mesmo de um jeito torto.

E os laços que uniam o Trio Yorozuya se estreitaram ainda mais.


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