Paradoxo Temporal 2: O Projeto K1 escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 30
Blecautes são comuns na madrugada




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Em Yoshiwara, o movimento que já não era intenso como antes, diminuiu um pouco mais apesar da aparente normalidade. Os habitantes do Distrito Kabuki eram os que menos frequentavam aquele lugar ultimamente, até devido aos últimos acontecimentos. Apesar de ser noite avançada, o som de um shamisen sendo tocado ecoava livremente, como se transmitisse certa tranquilidade em meio ao temor do caos. As notas musicais vinham do instrumento tocado despretensiosamente por Takasugi Shinsuke, que ao mesmo tempo afinava as cordas da melhor forma possível.

Uma batida na porta do quarto onde estava hospedado o obrigou a interromper o que fazia. Ao atender, viu que era uma mulher loira de cabelos curtos, cuja franja era presa para trás por duas mini-kunais. A sisudez de seu rosto era reforçada por duas grandes cicatrizes partindo de um mesmo ponto: uma na testa, acima da sobrancelha esquerda e outra, que descia até a altura da boca, que segurava um kiseru. A mulher teria exatamente a sua altura, não fossem as botas de salto alto e usava um quimono preto, com estampa de folhas outonais.

Era Tsukuyo – a qual ele lembrou que tinha um relacionamento com Gintoki – e, embora tentasse, não conseguia esconder totalmente a expressão aborrecida que trazia.

― Com licença, Takasugi-san – ela pediu polidamente enquanto segurava o kiseru. – Não gosto de vir incomodá-lo, mas precisei vir reportar o mau comportamento de um de seus homens.

― Qual deles e o que estava fazendo?

― Adivinha? – o líder do Kiheitai reconheceu facilmente a voz que chegava ao local.

Kijima Matako trazia consigo Takechi Henpeita, agarrando-o pelo quimono enquanto apontava-lhe um revólver na cabeça. Shinsuke apenas deu um facepalm enquanto a líder da Hyakka explicava o que ele já imaginava ser:

― Ele estava se aproximando de forma muito suspeita de nossas garotas mais jovens, mais especificamente das nossas adolescentes de Yoshiwara... E elas se sentiram incomodadas e reportaram à Hyakka que ele agia como um lolicon.

― Não sou lolicon – Henpeita levantou a mão e protestou. – Sou feminista.

Um clique seco foi ouvido, seguido pelo berro de Matako:

― PARA COM ESSA CONVERSINHA, TAKECHI-HENTAI, OU TE ESTOURO OS MIOLOS!

O estrategista do Kiheitai nada respondeu, enquanto Takasugi apenas suspirou e meneou negativamente a cabeça. Tsukuyo, um pouco constrangida com aquela cena, apenas deu de ombros, como se dissesse um “complicado, não é?” ao homem. Ser líder de um grupo de pessoas sempre tinha esse tipo de perrengue.

― Bom, vou nessa. – ela disse. – Daqui a pouco voltamos para a nossa reunião estratégica. Espero que não haja mais importunação às nossas garotas.

― Não haverá. – ele respondeu após encarar brevemente seu liderado. – Meus homens saberão se comportar melhor.

Tsukuyo se despediu e seguiu seu caminho, apenas ouvindo os berros furiosos de Matako, que dizia que Henpeita merecia uma bala no meio da testa por ser um lolicon incorrigível. Percebera em Takasugi uma expressão um tanto desconfortável por ter ido ao distrito a pedido de Gintoki... Embora ele alegasse que estava ali com sua facção por livre e espontânea vontade e por razões estratégicas. Achou a situação engraçada e deu de ombros, afinal, toda ajuda era bem-vinda. Os homens do Kiheitai no geral eram disciplinados, então sabia que não haveria problemas além daquele com o esquisitão.

Não apenas o Kiheitai estava em Yoshiwara, mas também uma parte do Kaientai, sob a liderança de Mutsu, braço direito de Sakamoto Tatsuma, outro amigo de longa data de Gintoki. Eles estavam encarregados de fornecer suprimentos aos dois distritos durante o período de cerco e a execução de um plano bastante ousado que haviam definido antes de cada um tomar seu rumo. Estavam todos juntos nessa, e juntos levariam esse plano a cabo.

Era uma questão de sobrevivência para todos, então fazia-se necessário esquecerem as diferenças se não quisessem ter suas vidas e seus lares destruídos.

 

*

 

Na calada da noite o Distrito Kabuki buscava seguir com a aparência de que ninguém sabia o que estava prestes a acontecer. A maioria dos estabelecimentos começava a fechar as portas e encerrar suas atividades noturnas, enquanto os últimos e poucos clientes saíam rumo às suas casas. Um ou outro guarda-noturno circulava pelas ruas de chão batido com sua tradicional lanterna vermelha e com cassetete à cintura.

Catherine e Tama também encerravam o expediente do bar, enquanto Ginmaru e Gintoki saíam para subir a escada que levava ao segundo andar. Porém, diferente do corriqueiro, o Sakata mais velho não estava caindo de bêbado. Não queria uma ressaca na manhã seguinte e estava tenso demais para se permitir encher a cara. Antes de pisarem o primeiro degrau, avistaram um grande vulto que lhes chamou a atenção.

― Ah, é você. – Gintoki disse sem se surpreender.

― Ah, oi, Elizabeth – Ginmaru cumprimentou o fiel escudeiro de Katsura. – Quais as novidades?

A criatura mostrou uma placa:

“Eles bloquearam a entrada principal.”

― Tava demorando. – o Yorozuya encarava a placa enquanto limpava o ouvido com o dedo mindinho. – Mais alguma novidade?

“Os cabos de internet foram cortados, e as torres de telefonia pararam de funcionar.”

O mais jovem desbloqueou a tela do smartphone, confirmando a informação:

― É... Estamos sem sinal. – sorriu sinistramente. – Como planejado.

O mais velho deu um pescotapa no filho:

― Ei, para de sorrir assim! Você não é o Kira! – em seguida, voltou a encarar Elizabeth. – E tem mais alguma coisa pra falar?

Nesse momento, houve um blecaute. Todas as luzes de postes, painéis luminosos, janelas e varandas das casas e qualquer outra fonte de luz elétrica se apagaram. Ginmaru acendeu a lanterna do seu telefone para iluminar a nova placa exibida pela criatura branca.

“Eu ia dizer que o fornecimento de energia elétrica também seria cortado.”

 

*

 

Sobre o terraço de um dos prédios do distrito, começava a ocorrer uma reunião permeada por sussurros e cochichos. Eram quatro pessoas que buscavam se fundir às sombras, mesmo em uma noite sem lua e sem energia elétrica, cortada naquele exato momento. O grupo era composto por Katsura, Sacchan, Hattori e Yamazaki, que compartilhavam entre si o que haviam visto e ouvido durante a silenciosa ronda.

O líder Joui, após compartilhar e receber as informações sobre o cerco, já havia liberado Elizabeth para avisar Gintoki e os demais sobre o que ocorria. Ele se encarregaria de transmitir as informações à sua facção e à parte do Kaientai que estava junto com Sakamoto. A Sarutobi fora designada para ir até Yoshiwara, informar Tsukuyo, Hinowa, Takasugi e Mutsu, para que eles decidissem o que seria feito em relação ao distrito. Yamazaki fora buscar informações para que o Shinsengumi tomasse todas as atitudes necessárias até que houvesse uma reunião mais geral durante o dia. Já Zenzou precisaria se valer de suas melhores artes ninja para sua missão: as informações deveriam ser entregues em algum ponto cego do cerco.

Assim que deram a reunião por encerrada, os quatro saíram da forma mais discreta possível. Katsura, com seu traje amarelo de Ninja Curry, iria encontrar Elizabeth, enquanto o espião do Shinsengumi voltaria ao QG e Hattori iria encontrar seu contato.

Ayame seguiu seu caminho a Yoshiwara, passaria junto com Zenzou pelo ponto cego que haviam detectado anteriormente. Cada um percorreu um caminho diferente por Kabuki, com ela incluindo em seu trajeto a rua onde ficava a Yorozuya Gin-chan. Por mais que quisesse stalkear Gintoki, sabia que havia coisas mais urgentes a se fazer, e se quisesse continuar alimentando seu lado stalker, masoquista e apaixonado, deveria ir encontrar sua rival no amor.

Aliás, ela e Tsukuyo eram duas rivais que se respeitavam em certa medida. Mas bem que poderia dividir Gin-san com ela.

O tal ponto cego era um pequeno host club que acabara de fechar por falta de energia. Era um local do qual Zenzou era um cliente assíduo, e o dono era um velho amigo. Os dois ninjas se encontraram e adentraram um alçapão, cuja tampa se camuflava perfeitamente com o piso. Percorreram um túnel, que terminava em um bueiro a certa distância das entradas do Distrito Kabuki e longe o suficiente das vistas dos encarregados do cerco.

Ambos trocaram um breve aceno de cabeça ente si e cada um tomou seu caminho.

Ayame se deslocou furtivamente no trajeto entre Kabuki e Yoshiwara, mantendo a mesma cautela que tivera ao sair. Já no outro distrito, ela seguiu até o local combinado, no qual estavam reunidos Tsukuyo, Hinowa, Seita, Takasugi e Mutsu. Eles aguardavam informações para poderem começar a agir.

Enquanto Sacchan contava de forma detalhada os últimos acontecimentos referentes ao cerco, os demais absorviam cada informação e começavam a pensar nos próximos passos, não só para proteger Yoshiwara como também para prestar algum eventual suporte a Kabuki. Em seguida, debateram cada estratégia, chegando ao consenso de que deveriam reforçar ainda mais a proteção que já possuíam.

― Então está decidido. – a Cortesã da Morte declarou. – Fecharemos as claraboias de Yoshiwara e, enquanto isso, investigaremos se há infiltrados no distrito. Também ficaremos em alerta total para caso o Distrito Kabuki precise de nossa ajuda.


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