Building Blocks escrita por Bia


Capítulo 4
Bloco 1: Individualidade




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/786541/chapter/4

Bloco 1: Individualidade

Eram oito horas da noite.

O expediente terminava às seis horas, mas Hermione Granger continuava sentada em sua poltrona de veludo vermelho, de frente para a mesa de carvalho lendo e assinando papéis. Os óculos de leitura na ponta do nariz.

A mulher não ergueu os olhos, nem parou de escrever mesmo quando a porta do escritório se abriu e se fechou com lentidão; ouviu os passos de seu predador, leves e cautelosos. Tentando ocultar o divertimento que sentia, foi direta em cumprimentar o intruso:

— Posso ajudar, senhor Potter?

Reconheceria em qualquer lugar e em qualquer situação o andar e o cheiro pertencentes ao marido. Notou o tom brincalhão em sua voz em sua resposta:

— Não é nada, chefe. Eu só queria dizer que vou sair para beber com Rony.

Ergueu a cabeça, por fim, encarando-o pela primeira vez. A sobrancelha arqueada.

Hoje? Quinta?

— Sim, senhora. — O Potter respondeu apoiando-se na mesa da ministra, as pernas cruzadas e seu baixo ventre em frente a ela. — Ele me disse que quer continuar nossa conversa sobre relacionamentos e que amanhã não seria possível, pois estará em um encontro.

Ah! — fez a castanha interessada, sorrindo com superioridade enquanto soltava a pena. Retirou os óculos e colocou-os em cima da mesa. — Então a minha ideia deu certo?

— Mais que certo. — Harry admitiu com sinceridade. — Estamos conversando bastante.

— E você nem me contou nada!

— E nem contarei. Eu prometi.

Hermione abriu a boca para retrucar. Não conseguindo encontrar as palavras adequadas se conformou em fazer uma careta indignada enquanto Harry ria. Convicta demais para desistir, a mulher permitiu que um sorriso travesso deslizasse por seus lábios ao alcançar o corpo masculino e deslizar as mãos pelos bolsos da calça escura. Harry estremeceu, parou de rir e descruzou as pernas instantaneamente.

— Não vai me contar... Mesmo se eu pedir com gentileza? — perguntou depositando um leve beijo no cinto do marido.

O gemido que ele soltou fez seu coração começar a bater entre as pernas.

— Mesmo assim. — respondeu rouco.

Hermione ergueu o corpo devagar, esfregando os seios contra o largo peito masculino.

— E se eu for muito, muito gentil? — sussurrou.

Harry espalmou uma das mãos em sua bunda e apertou fechando os olhos na mais evidente expressão de prazer.

— Se você for muito, muito gentil talvez eu solte uma palavra ou duas.

Hermione segurou o maxilar do marido e estava aproximando os lábios dos dele quando o som de alguém limpando a garganta se fez presente. Constrangida, encarou com olhos arregalados um Rony Weasley enojado e parado bem no meio do escritório, os braços cruzados. Tentou se afastar, mas a mão de Harry em seu corpo a impediu. Imperturbável, ficou de perfil para encarar sério o ruivo.

— Vocês sabem onde estamos, não é? — o amigo questionou.

Hermione sentiu o rosto arder tamanha a força com que estava corando. Harry apenas ignorou. Virou-se para mulher, depositando um beijo em sua bochecha antes de se afastar:

— Te vejo em casa, amor.

Quando eles saíram, a ministra deixou-se cair na poltrona, ofegante.

 

 

— Cara, vocês são nojentos. — Rony disse já no bar, os copos na mesa. — Sinto pena dos meninos.

— Não se preocupe, eles vão superar. — respondeu o Potter divertido.

— Um brinde a isso.

O Weasley ergueu seu copo e amigo o imitou. Beberam contentes. No verão, o calor era forte mesmo durante a noite.

­­— Então, sobre o que quer falar? — Harry perguntou, enchendo a mão direita com amendoins.

Mexendo-se desconfortável na cadeira e visivelmente encabulado, apesar de ter sido ele a propor aquela conversa, Rony deixou a voz sair em um sibilo:

— O que eu queria saber é como... — parou, pensando.

Harry ergueu a sobrancelha, confuso. O ruivo bebeu mais e prosseguiu:

— Como você consegue ser você mesmo?

A expressão do Potter ficou mais perturbada.

— Desculpe, acho que não entendi.

Nervoso, o Weasley coçou a nuca. Por que diabos tudo com Harry tinha que ser tão explícito?

Suspirou, impaciente.

— Eu quero dizer... No meu relacionamento com Lilá... Quando estávamos juntos... Bom, algumas vezes eu sentia que não era eu mesmo... nem que ela era ela mesma, entende?.... Parecia até que tínhamos uma única coisa, sabe?... Sem individualidade. É, é isso, sem individualidade, estávamos dependentes um do outro. Veja, vou lhe dar um exemplo. Você lembra que costumávamos jogar quadribol na Toca nos fins de semana?

— Lembro.

— Lilá odiava, Harry! Ela odiava, mas, ainda assim, ia toda vez. No começo eu achei o máximo, mas depois... Eu comecei a fazer o mesmo por ela e logo não existia um espaço do Rony e um espaço da Lilá, apenas um espaço Ronilá.

Harry gargalhou, levando amendoins à boca enquanto o amigo balançava a cabeça e continuava a beber. Batendo as mãos para limpá-las, o Potter disse:

— Entendo muito bem o que quer dizer. Eu acho, honestamente, que essa é uma das coisas mais difíceis de um relacionamento. No começo é tudo lindo, você quer ficar com a pessoa vinte e quatro horas por dia, descobrir absolutamente tudo sobre ela... Até perceber que os seus espaços e os espaços da pessoa estão se misturando.

Rony bateu na mesa.

— Sim! Exato! É disso que estou falando!

— Serei honesto com você e admitir que Hermione e eu demoramos um bom tempo para aprendermos como.

— Como? ­— o ruivo questionou, curvando-se sobre a mesa.

— Bom, quando estávamos livres e podíamos ficar juntos queríamos aproveitar todo o tempo perdido... Acho que você deve se lembrar. — Harry completou sorrindo com maldade.

O Weasley estremeceu:

— Eu não quero me lembrar. Era horrível demais ver vocês completando as frases um do outro... Perdi meus dois melhores amigos nessa época.

Rindo, Harry continuou:

— Enfim, Hermione e eu também passamos por isso; exatamente pela mesma coisa que você passou com Lilá... Minha esposa também não é tão fanática por quadribol e, mesmo assim, eu insistia em explicar tudo e leva-la em todos os jogos possíveis.... E eu sei que ela ia porque queria me fazer feliz... No fundo, eu queria que ela também gostasse de quadribol. Então, para compensar, comecei a ler seus livros...

— Essa foi uma fase assustadora! — comentou Rony baixinho.

— ... E isso foi crescendo. Até chegar o momento em que não fazíamos mais nada separados... E, sim, no começo era bom, era ótimo. Lembranças criadas, sexo em vários lugares diferentes... — o ruivo fez uma careta. — Mas... era igualmente desgastante porque estávamos fazendo algo que não queríamos só para agradar o outro. Quando percebi...Eu já não queria mais passar tempo com Hermione e nem ela comigo e nos separamos.

Vocês se separaram? — Rony perguntou exasperado, vendo o amigo soltar uma bomba tão naturalmente quanto quem fala sobre o clima. — Quando?

— Não foi bem uma separação, foi mais um tempo. E foi só por um mês.

— Um minuto! Espera, eu lembro disso. Vocês já estavam casados e aí Hermione teve que viajar para França para ficar com a mãe, não é? — fez aspas com os dedos. — Uma história estranha. Foi durante esse tempo?

Harry concordou com a cabeça. A surpresa nos olhos do Weasley só foi ocultada pelo seu sorriso enquanto batia novamente na mesa, afirmando:

— Eu sabia que tinha algo muito suspeito nessa história! Sabia! Lilá e eu sempre ficamos nos perguntando como vocês tinham conseguido ficar separados todo esse tempo e ela me dizia que... — parou repentinamente, admirado. Ah! Enxergava com clareza agora.

O silêncio maciço que se fez contribuiu para que ambos os amigos esvaziassem um pouco mais os copos.

— Eu só tinha uma certeza quando Hermione voltou.

— E qual era?

Harry encarou Rony profundamente.

— Que não queria me separar dela. Apesar de todos os meus desejos, no seu primeiro dia de volta só conversamos. Conversamos sobre o que queríamos e o que deveríamos mudar e, assim, decidimos estabelecer alguns limites.

— Como quais? — Rony perguntou curioso.

— Não é só porque somos um casal que temos que fazer tudo juntos, menos ainda as coisas que não queremos. Eu continuo indo aos meus jogos de quadribol e Hermione em seus clubes do livro e, ao chegar em casa, temos diferentes experiências para compartilhar. Vez ou outra, ela me acompanha em algum jogo ou lemos o mesmo livro, mas só fazemos isso porque queremos... Sabe, é meio estranho no começo, admito. — Harry suspirou, sorrindo. — Temos a tendência a nos ofender se a pessoa que amamos não quer passar todo o seu tempo conosco... O que eu penso hoje, no entanto, é que nos apaixonamos por essa pessoa justamente por ser quem é e fazer e gostar das coisas que fazem e gostam e não as que gostaríamos que elas fizessem e gostassem.

— Eu entendo agora. — Rony admitiu, desviando os olhos dos de Harry. Preferiu brincar com o restante da cerveja.

A expressão infeliz de Rony fez Harry refletir sobre a própria sorte. Despediu-se brevemente do amigo e aparatou para casa. Chegou a tempo de encontrar os filhos acordados, abraçou-os com força e colocou-os para dormir contando histórias de Beedle, o bardo. Depois, abraçou a esposa e não permitiu que ela dormisse.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Building Blocks" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.