Alexia escrita por ohstony, Chapéu Seletor


Capítulo 2
Capítulo Dois - O mercado dos bruxos.


Notas iniciais do capítulo

olá olá
eu não demorei muito para entregar esse capítulo, né? k
eu estava meio empacada no meio dele, e depois que terminei, fiquei com preguiça de revisar. mas ontem tomei vergonha na cara e revisei tudo e acabei adicionando quase 700 palavras a mais. HEHE
então, esse vai ser um capítulo meio grandinho, espero que não se importem!
Beijos e boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/786534/chapter/2

 

Depois que que Burbage foi embora, Naná levou a garota para o quarto e explicou tudo que podia sobre o mundo mágico e a escola de Magia que logo Alexia iria frequentar. Foi uma tarde e noite longa, com a menina curiosa sobre tudo o que tinha a se saber sobre aquele novo universo que se abria à sua frente. 

Alexia era uma pessoa deveras cética, mas diante de todas as provas que a professora de Hogwarts e sua babá deram, não tinha como se manter descrente sobre o mundo bruxo. Elas abriram a carta, juntas, e revisaram todos os materiais que precisariam para o primeiro ano letivo de Alexia. Naná, em especial, estava emocionada com tudo aquilo – e Alexia pôde entender melhor o porquê, quando ela explicou que abortos eram pessoas nascidas sem magia, mas que faziam parte da sociedade bruxa.

Naná fora a única que nascera assim em sua família e, por este motivo, tinha se distanciado de todos ao longo dos anos. Casou-se com um bom homem trouxa, teve filhos e estes cresceram e tiveram filhos, também. Viu seu marido morrer e, tempo depois, se dedicou totalmente a criação da pequena Manson, como uma forma de se distrair. 

Passou-se quase um mês da visita de Caridade e Naná já tinha tido uma conversa com o pai, e responsável legal, de Alexia, expondo o convite que a menina recebera e guardando para si que tipo de escola era aquela. No fim das contas, o homem apenas lhe entregou um cheque de valor alto e falou para que a governanta sacasse o dinheiro para a compra do material escolar e uniforme que Alexia precisaria. 

Alexia ficara possessa com o descaso do pai, e não era para menos. Richard Manson havia se enfiado em trabalho desde a morte da esposa e vivia seu luto da pior forma possível, esquecendo que ele não fora o único que perdera alguém no acidente de carro há dois anos. Da mesma forma que ele perdeu o amor de sua vida, Alexia perdeu sua mãe. 

Quando ouviu a porta da casa se abrir às 01h da manhã, Alexia se levantou do sofá da sala - onde estivera sentada por horas esperando seu progenitor - e foi para a entrada da casa, vendo o pai deixar as chaves do carro no pequeno compartimento ali. 

— Boa noite. — Ela falou, assustando o homem, que levantou as vistas arregaladas para a garota em sua frente. Alexia já estava de pijama e os longos cabelos negros estavam soltos, totalmente bagunçados, como era de costume. 

— Alexia? — Richard perguntou, alheio, parecendo surpreso por vê-la ali. — O que faz acordada essa hora? 

— Eu estava te esperando. Preciso conversando com você, sobre Hogwarts. 

— Olha, Alexia, eu estou cansado. Eu só quero um bom banho e cama agora. — Ele passou pela menina, seguindo em direção as escadas. — Eu conversei com Naná sobre essa escola e já está tudo encaminhado, não precisa se preocupar.

Alexia bufou, seguindo o pai.

— Eu vou ficar fora de casa por um ano letivo inteiro, e você só me diz isso? "Está tudo encaminhado não precisa se preocupar", pra porra! Eu esperaria uma outra reação do meu PAI. 

Alexia estava alterada aquela altura do campeonato. Eles tinham sorte que a casa dos empregados era separada da casa principal e, portanto, a discussão não seria ouvida por terceiros. O homem parou na escada, assim que ouviu a explosão da filha.

— O que você disse? — Richard se virou, parecendo estupefato, olhando para a garota como se fosse a primeira vez que realmente a via.

— Eu disse um monte de coisa, mas, em resumo, você é um pai de merda.

— Quem você é para falar assim comigo? Ponha-se no seu lugar, Alexia! Sou seu pai, quero que me trate como tal! — O homem falou alto, deixando sua maleta na escada e indo a passos longos até a garota, apontando-lhe o dedo.

O que Richard não sabia, era que aquele simples ato não a intimidaria. Qualquer garota ficaria encolhida de medo se o pai lhe apontasse o dedo, mas Alexia não o considerava uma figura de respeito há muito, muito tempo.

— Prometo te tratar como tal, quando começar a me tratar como sua filha. — Ela murmurou entredentes, o peito estufado. — Eu estou agradecendo aos céus por ir para essa escola e me livrar de você, pelo menos por um tempo. Por mim, eu já tinha dado o pé dessa…

Alexia não conseguiu concluir a fala. Ela nem viu chegando, só sentiu o impacto da mão em seu rosto num belo tapa que ecoou pelas paredes frias da mansão Manson. Doeu, doeu como o inferno, fazendo os olhos da garota se encherem de lágrimas, mas ela apenas riu. 

Riu, olhando o rosto pálido de seu pai, os olhos arregalados e a boca aberta, em surpresa, enquanto balbuciava uma frase qualquer que Alexia não deu ouvidos.

Quando viu que estava em seu limite, ela disse o seu maior desejo. Que habitava no fundo de seu coração, que saiu com alívio de sua boca mas que atingiu Richard como um tiro direto no peito.

— Eu queria que fosse você naquele acidente. Queria que tivesse morrido no lugar da mamãe.

E subiu as escadas para seu quarto, quando o choro já começava a dar sinais e as lágrimas grossas caíam por sua bochecha.

O que ela não ouviu, foi a resposta de Richard, que ainda parecendo fora de si, chorou junto da filha, também falando seu desejo mais profundo.

Eu também queria.

Na manhã seguinte, Naná acordou Alexia com leves sacudidas. O sol adentrava pelas grossas cortinas do quarto da menina, ainda que seus raios estivessem pálidos pois, em Londres, era muito difícil um dia de sol realmente quente.

— Ande menina! Temos que passar no banco e depois ir comprar seu material! Vamos, vamos!

Alexia não estava muito animada. Depois da conversa com o pai durante a madrugada, seu humor estava péssimo para falar a verdade. Mas, com a insistência de Naná, não teve como ela não se levantar e ir direto para o chuveiro tomar um banho rápido.

Depois de colocar uma roupa apresentável - jeans e camiseta de banda -, Alexia prendeu seus longos cabelos pretos em um rabo de cavalo quase solto. Cortaria aquela porcaria na primeira oportunidade, falou para si mesma.

Depois de um café da manhã reforçado, a babá e a menina foram levadas pelo motorista até o banco da família, onde Naná, com a autorização prévia de Richard, sacou uma quantia considerável da poupança da menina. Depois, a mulher deu um endereço para Paul e se recostou no banco, esperando que chegassem.

— Esse lugar tem uma entrada normal para pessoas normais? — Alexia perguntou, falando baixo para que Paul não escutasse.

— Pessoas normais? — A mulher falou confusa e, depois que entendeu, riu discreta. — Oh, não não, criança. Não é um lugar bem visto aos olhos trouxas, na verdade, por fora, ele tem uma aparência muito maltrapilha.

Maltrapilha era pouco, Alexia pensou quando viu a fachada do barzinho. Era um lugar sujo e nada amistoso como a livraria ao lado direito e a loja de disco do lado esquerdo. Na verdade, se estivesse sozinha, passaria reto pelo lugar e nem teria olhado. 

— Obrigada, Paul, mas pode ir. Tomaremos um táxi quando formos para casa. — Naná falou para o motorista que assentiu, tomando o caminho pela rua. — Vamos, menina, ainda temos que passar em Gringotes, o banco dos bruxos, para trocar seu dinheiro.

Por dentro o lugar não era muito mais amistoso que por fora, Alexia gemeu quando percebeu. Na verdade, parecia muito mais um botequinho. Tinha muita gente idosa ali. Bebendo e fumando, enquanto conversavam. Também tinham pessoas lendo jornais e livros, parecendo muito concentrados no conteúdo que liam.

Naná a pegou pela mão, puxando a garota até o balcão do lugar, onde um homem careca batia papo com outro homem sentado ali.

— Tom! Como vai? — Naná falou, animada, chamando a atenção do cara do balcão, que ergueu a cabeça para a mulher sorrindo entusiasmado.

Eles pareciam velhos colegas que há muito não se viam. 

— Natalie! Como é bom te ver, depois te tanto tempo! Como vai a família?

— Muito bem, muito bem. — Naná puxou Alexia pelos ombros, para apresentá-la a Tom. — Esta é Alexia, ela recebeu a carta para Hogwarts! Viemos comprar seus materiais mas não posso abrir a passagem, como bem sabe. Poderia fazer isso por mim, querido?

— Como eu poderia negar isso? — Riu, as bochechas adquirindo um tom rosado. — Alexia, hein? Você vai gostar de Hogwarts, garota! Meus melhores anos foram naquele lugar. Uma experiência inesquecível, eu te garanto! Inesquecível! — Ele dizia, enquanto jogava para o lado o pano de prato que estava em seu ombro e contornava o balcão.

Acenou para o garoto que enxugava alguns pratos, dizendo para ele cuidar das coisas por enquanto, já que tinha que se ausentar por alguns minutos. 

Tom as levou para os fundos do lugar, conversando sobre os tempos da escola com Naná e jogando conversa fora. Alexia não estava nenhum pouco interessada no fato deles terem sido da mesma casa, Em Hogwarts, muito menos no fato de que eram companheiros no time de Quadribol. Para falar a verdade, não estava interessada em muitas coisas, mas, principalmente, no lugar que estavam. Não havia nada lá além de uma parede velha de tijolos e algumas lixeiras, o que fez Alexia franzir as sobrancelhas em frustração.

— Vocês deviam passar aqui depois das compras, hein, Natalie? — Tom falou sorrindo para a mulher mais velha, enquanto retirava de suas vestes sua varinha. — Tomar uma boa caneca de cerveja amanteigada e colocar o assunto em dia. Como vai o seu esposo? 

— Morreu. — Alexia falou, curta e grossa, já sacando a do homem. — Naná está solteira e desimpedida, agora o senhor pode, por favor, fazer seu Bibidi- Bobidi-Bu e nos levar no mercado bruxo? 

Naná soltou uma exclamação abafada, surpresa com a ousadia da menina e apertou seu ombro em repreensão. Talvez por ser filha única e por ter mais dinheiro que a maioria das crianças de sua idade, Alexia era deveras sem educação e mimada, o que fazia sua personalidade ser motivo de vergonhas para a mulher. 

— Tom, me desculpe por isso. Alexia não sabe quando manter a língua dentro da boca, não é, menina? — Olhou para a garota com os olhos cerrados, porém Alexia só deu de ombros. 

O homem riu, dizendo que crianças eram assim mesmo e, por fim, deixou de enrolar. Ele bateu nos tijolos gastos – três para cima e dois para o lado – e, então, diante dos olhos de seus olhos, Alexia viu a mágica acontecer. 

O muro foi se abrindo numa passagem perfeita, o portal dando de cara para um movimentado beco bruxo, com ruelas e lojas antigas e estranhas, que vendiam de roupas até vassouras e caldeirões. A boca da Manson se escancarou, dando seus primeiros passos em direção ao lugar. Estava apinhado de gente, com diversas roupas estranhas e coloridas, e havia muita falação. Ela pôde ouvir uma mulher reclamando sobre luvas de couro de Dragão serem muito caras, e logo depois um menino reclamar de seu elfo doméstico. 

Dragões, elfos… Deuses, ela tinha entrado no mundo de O Senhor dos Anéis? 

Naná veio logo atrás, se despedindo de Tom com um sorriso apertado e bochechas coradas. Ela colocou as mãos nos ombros da garota, observando o fascínio nos olhos dela e toda aquela surpresa que nascidos trouxas tinham quando eram inseridos na sociedade bruxa pela primeira vez.

— Vamos querida? — Chamou delicadamente, dando um aperto reconfortante nos ombros da mais nova. — Ainda temos que passar no banco para trocar seu dinheiro. 

Alexia não conseguiu dizer nada então apenas assentiu, seguindo os passos da mulher entre os bruxos e indo até um enorme prédio branco e majestoso. Olhou com atenção, subindo a cabeça para poder decorar cada pedacinho daquela estrutura, quando acabou olhando algo curioso. Parado em frente ao lugar, tinha uma criaturinha baixa e feia que fez Alexia torcer os lábios com a aparência e em curiosidade. 

Tentou segurar, mas o palavrão foi mais forte que ela, pois nada poderia expressar melhor sua curiosidade e incredulidade do que um belo… 

— Que porra é aquela? 

— Alexia! — Naná exclamou, já irritada. — Olha a boca! Você tem que maneirar nesse seu vocabulário, tem mesmo! E aquilo é um duende, garota. São eles quem gerenciam Gringotes, o banco dos bruxos. Não os chame de… porra. — A última palavra foi dita com desgosto. — São criaturinhas de ego muito frágil, não vai gostar de irritá-los. 

— Ego frágil, hein? Richard iria gostar deles. — Riu zombeteira, mas com uma nota de desânimo. Naná não sabia o que havia acontecido na noite anterior e, se dependesse da menina, nem saberia. 

— Não fale assim do seu pai, querida. — Suspirou, puxando-a pela mão em direção ao banco. — Vamos, você tem que comprar os seus materiais e a lista não é pequena, hein? 

Naná era esperta o bastante para saber que o assunto deixava Alexia brava, por isso tratou logo de mudar o rumo da conversa. O duende as cumprimentou com uma reverência quando entraram, fazendo Alexia achar graça dos modos e da seriedade deles. Em seguida, havia um segundo par de portas de prata, com um texto bastante amigável para quem quisesse ler:

Entrem, estranhos, mas prestem atenção

Ao que espera o pecado da ambição,

Porque os que tiram o que não ganharam

Terão é que pagar muito caro,

Assim, se procuram sob o nosso chão

Um tesouro que nunca enterraram,

Ladrão, você foi avisado, cuidado,

pois vai encontrar mais do que procurou.

— Tão simpáticos… — Zombou, mas ficou surpresa com aquilo. Gringotes parecia ser um banco enorme e difícil de se roubar, mas com aquela inscrição na parede, fazia os pelinhos da garota se arrepiar só de pensar em tentar entrar ali sem permissão. 

Elas entraram e logo Naná a puxou para o lugar onde faziam a troca de dinheiro. Alexia não deu muita atenção, apenas viu que se tratava de moedas e não dinheiro impresso como no mundo trouxa. Sua total curiosidade estava nos duendes sérios em seus uniformes, tão baixos que podiam ser comparados a hobbits mas tão mal humorados que poderiam ser anões e tão feios que poderiam, facilmente, serem chamados de Smeagol. Ela riu com o pensamento, atraindo o olhar de uma daquelas criaturas. O riso morreu no mesmo instante. 

Depois de ter o dinheiro trocado, elas saíram do banco. Alexia deu graças, não aguentava mais aquele silêncio incômodo e quebrado apenas com a carimbada dos duendes em documentos e o tilintar do contar de moedas. 

— Onde vamos primeiro? — Naná perguntou para a garota, animada. 

— Varinha. — Alexia nem precisou pensar duas vezes para responder. — Estou curiosa com como os bruxos fazem um graveto fazer magia. 

Naná riu, pegando a mão da garota e se dirigindo ao melhor fabricante de varinhas de toda a Grã-Bretanha. 

— Não é a varinha que faz mágica, querida, e sim você. A varinha é apenas um canalizador de toda a magia que há no corpo e facilita na hora de fazer os feitiços, mas, há bruxos que são capazes de fazer magia sem varinha. Uma tribo indígena no Brasil é muito conhecida por isso, se não me engano. 

A loja de varinhas, assim como quase todas as outras do Beco Diagonal, não era lá muito atraente. Parecia antiga e abandonada, e se não fosse Naná dizendo que ela sempre fora assim, Alexia teria achado que a loja estava fechada há muito tempo. 

Elas entraram e logo foram atendidas por um senhorzinho muito estranho, mas Alexia não se importou com isso – pelo jeito, todos os bruxos eram meio estranhos ou pelo menos os que ela conheceu até agora. Depois de medir o comprimento do seu braço direito, e de falar sobre como as varinhas eram feitas há muito tempo pelos Olivaras, o homem lhe entregou algumas varinhas para teste.

— Como a senhorita não é nascida bruxa, — ele explicou, trazendo cinco caixas compridas e empoeiradas — isso pode demorar um pouco. Normalmente, os pais vêm aqui ainda na infância da criança e separam algumas varinhas. Porém, é claro, a varinha escolhe o bruxo e muitas vezes nenhuma das que os pais separaram são as eleitas. 

Ele estava sendo muito gentil quando disse demorar, Alexia percebeu depois, enquanto colocava a sétima varinha em cima do balcão com um suspiro frustrado e mais da metade da loja bagunçada com as tentativas anteriores. 

O Sr. Olivaras, entretanto, estava esfuziante. Parecia criança na manhã de Natal, ao perceber que Alexia era uma cliente difícil – os melhores, na opinião do homem. 

Na nona tentativa, enfim, Alexia achou a eleita. Era uma varinha comprida, 32 centímetros pelo que o senhor falara. Carvalho, núcleo de cerda de coração de dragão e flexível. Ela era bonita, de um tom escuro e meio avermelhado de madeira, e tinha algumas inscrições no punho. Arabescos muito bem talhados, o que fez Alexia ficar surpresa com o trabalho delicado. 

Depois de pagar ao homem pela varinha, elas foram enfim comprar o resto do material. Compraram as vestes, o chapéu, as luvas e a capa na Madame Malkin – Roupas para Todas as Ocasiões, e depois, na Floreios e Borrões Alexia comprou todos os livros que precisava e alguns outros que achou interessante – dois livros de azarações e feitiços de pegadinha, Hogwarts Uma História e também um outro livro sobre a história bruxa. 

Compraram o caldeirão que pedia na lista, os frascos, o conjunto básico de ingredientes para poções, a balança, o Telescópio, e quando já se passava das quatro da tarde, depois de tomarem sorvete na Florean Fortescue, a babá lembrou de uma coisa bastante importante. 

Lotadas de sacolas e embrulhos, Naná lembrou Alexia do último item da lista, que era opcional. Um animal de estimação – coruja, gato ou sapo. A babá esperou do lado de fora, ainda tomando seu sorvete e cuidando das compras, quando Alexia entrou na loja Animais Mágicos. O lugar era barulhento, com animais piando e rosnando e chiando, assim como também fedia um pouco. Lembrou a garota de um zoológico que fora na infância com os pais. 

Olhando com atenção, Alexia notou os diversos tipos de animais que haviam ali. Ia de ratos até criaturinhas estranhas que ela nunca tinha visto na vida. Porém, o que chamou a atenção dela foi um bonito gato no fundo da loja. A pelagem preta e espessa, e os olhos dourados que lhe encaravam no fundo da alma atraíram a curiosidade da Manson. 

— Que clichê, uma bruxa com um gato preto. — Ela revirou os olhos, disposta a olhar os outros animais. Porém, o gato ainda a encarava com tédio e isso a incomodou. 

No fim, Alexia saiu da loja segurando o gato em seus braços, com um pacote de ração na mão e alguns utensílios para o animal. 

— Que gato bonito, combina com você. — Naná sorriu para a garota, quando estavam indo em direção a saída do beco. Diferente da entrada, havia um moço que ficava ali para abrir a passagem justamente para os nascidos trouxas e seus acompanhantes. — Qual é o nome dele? 

— Set. O deus egípcio do caos. — Ela comentou, enquanto acariciava a cabeça do animal. — Eu ia chamar ele de Anúbis, mas não faz muito sentido já que Anúbis tem a cabeça de um cachorro. 

A mulher riu, mesmo sem entender nada. Alexia era uma garota muito curiosa com mitologias desde pequena. Seu quarto era lotado de livros sobre civilizações e divindades antigas, mas o favorito de todos era, com toda a certeza, o Egito. 

Quando foram novamente para o Caldeirão Furado, Natalie e Naná não conseguiram escapar de Tom. Não que a mulher estivesse disposta a escapar, Alexia pensou com zombaria, encarando a babá corada enquanto conversava com o dono do bar. Eles tinham engatado numa conversa que apenas eles podiam entender – algo como um fim de semana em Hogsmeade? Alexia não entendeu direito, e nem prestou atenção, curiosa na bebida a sua frente. 

Cerveja amanteigada, Tom falou. Não tinha álcool, então ela podia beber a vontade. O gosto era surpreendentemente bom, constatou quando bicou os lábios na espuma. 

Depois de quase uma hora conversando, finalmente Naná se despediu de Tom, prometendo lhe enviar uma carta. Elas saíram do local, segurando com cuidado todas as compras e andando até uma rua de mais acesso para que pudessem chamar um táxi.

Disposta a fazer o que pensara mais cedo, Alexia pediu para a babá aproveitar a viagem e levar a ao cabeleireiro. Queria dar um jeito naquele cabelo longo que tanto a irritava. Elas tomaram o táxi e foram direto para o salão, onde Alexia explicou como queria que seu cabelo fosse cortado. 

Depois de tirar todo o comprimento do cabelo e raspar com a máquina na lâmina três do lados, Alexia se sentiu liberta olhando no espelho. O cabelo escuro estava curto, muito curto, em um corte completamente masculino. Em cima havia mais cabelo, e dos lados estava mais rente ao couro cabeludo. 

Naná nunca a vira sorrir tanto quanto naquele dia. 

Quando chegaram em casa, Naná levou tudo para o quarto da menina e a ajudou a guardar com cuidado dentro de um malão que antes fora da babá. Era grande, e cabia tudo bem arrumado e, pelo que Naná dissera, era enfeitiçado para que não pesasse tanto. 

— Mamãe enfeitiçou pensando que eu iria para Hogwarts. — Ela falou, enquanto dobrava o uniforme reserva da garota, e colocava dentro do objeto. — Mas, quando minha carta não chegou, ela apenas me deu para que eu guardasse o que quisesse. 

Naná sempre ficava pensativa quando começava a lembrar das coisas de sua infância. Alexia não poderia imaginar a dor que a mulher sentira quando era pequena, já que fora a única da família que nascera sem magia alguma. Parecia cruel. 

Depois de um banho e de jantar, Alexia foi para a cama e ficou imaginando, enquanto olhava para o pôster do Queen no teto do seu quarto, como seriam os anos dela na escola. Todos diziam maravilhas do lugar e ela esperava, do fundo do coração, que aquilo também fosse bom para ela. 

Ela estava precisando de algo bom em sua vida. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Alexia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.