Sangue de Arthur II escrita por MT


Capítulo 5
5- Capítulo, E aqui começa a queda e a ascensão


Notas iniciais do capítulo

Que titulo suspeito, dá até um frio na barriga. Espero que goste do capítulo! E lembre que o enredo fica um pouco complicado e nebuloso a partir daqui. CUIDADO.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/786514/chapter/5

A face dele estava ainda mais pálida do que algumas semanas atrás quando era só um mago esquisito tentando invocar um servo. Uma pele branca e frágil, lembrava. Pouca carne sobre os ossos e uma saliência começando a moldar a camisa na região do estômago.

Agora parece só um saco de ossos embalado em papel.

  O lençol o cobria até a cintura e, sob a luz amarelada que invadia o recinto pelas janelas, pôde vislumbrar as manchas negras e vermelhas que extendiam-se sobre a pele do garoto. 

Não quero ver isso, mas suas íris percorreram cada uma delas. Notou, com um nó formando-se nas tripas, que possuíam finas fendas de onde pedaços rosados de carne e sangue seco eram visíveis. E também um pouco do vivido e líquido, mesmo tendo sido limpo ontem...

Mordred sentiu-se um pouco grata por terem lavado o pus na noite anterior. Aquilo estando longe diminuía a impressão de inevitável morte.

Arthuria e Emiya haviam vindo juntos. Eli fora deixada com uma mulher qualquer, a cavaleira lembrava de terem chamado-a de Taiga. 

— Isso é um saco. - falou encarando as pálpebras fechadas de Tatsuo Koji. - Vai mesmo ficar dormindo? Não reclame se eu usar seu desejo também. Vou poder pedir duas coisas ao graal e ver sua cara de chorão lamentando por não ter levantado logo.

Ela forçou uma risada. Mas esta logo virou um ranger de dentes, um apertar de punhos e tencionar de pálpebras. 

Ergueu a mão fechada, um soco pronto para ser usado, na direção do rosto pálido no leito.

 — Só acorde, merda! 

Arthuria parou seu punho e Emiya a ergueu pela cintura, afastando-a dali. 

Mordred acertou um pontapé na virilha dele e soltou-se da mão do pai tomando um pouco de distância de ambos. 

— Eu sei! Não precisam dizer nada! - gritou. - Ele não vai sair dessa, pelo menos não assim. É só que...

Não quero isso! Não quero que morra! Não quero! As palavras amontoavam-se em sua garganta, inchando-a, machucando-lhe o tecido do pescoço.

A enfermeira mantinha o olhar afastado deles. Inicialmente até tentara ser solidária e gentil, mas a cavaleira esbravejera sobre a inutilidade da moça agressivamente o suficiente para mantê-la quieta.

— Eu vou ver se o doutor Yuki terminou, q-qualquer coisa pode chamar apertando aquele botão. - e se foi, atravessando a sala como uma brisa.

— A mãe desse idiota não vem. - conseguiu  soltar passando pelas frases que reuniam-se como gritos de tristeza furiosa de uma garotinha. - Eu entendo que ele é patético e fraco… mas por quê? 

Shirou se ergueu desajeitadamente, ainda aparentando dor na genitália, e a abraçou, após pronunciar o nome dela cheio de piedade. A roupa que usava era quente e macia e a rigidez por trás daquilo de algum modo também era bom. Por alguns segundos vacilou diante a vontade de ficar ali, sendo confortada, e o que fez.

O punho dela enfiou-se nas costelas dele fazendo-o cambalear para trás.

— Mordred, já chega! - seu pai pôs-se entre eles. - Entendo que esteja irritada, mas essa atitude não trará nada de bom. Se a mãe dele não vem, não importa, eu e Shirou podemos revezar para ficar aqui de olho. Iremos dar todo apoio possível.

A cavaleira encarou as íris verdes do rei dos cavaleiros, pronta para iniciar uma nova briga entre pai e filho, mas um lampejo de umidade quente aproximando-se dos olhos a fez hesitar. 

— Faça o que quiser. - disse após se virar em direção a varanda.

Foi até a extremidade dela e pôs as mãos sobre a pequena parede que a separava de uma queda do quarto andar e ficou ali pensando por um tempo. Ainda haviam horas e horas antes que a lua viesse. E o que faria então?

Chorar? Não, já chorei mais nessa pseudo-encarnação do que em toda minha vida. Preciso agir. Dois já foram, mato mais quatro, pego o cálice, curo o idiota e ainda fico com um desejo. 

Girou usando os calcanhares e voltou a pisar no quarto. Ir pegar o santo graal, transformara naqueles poucos minutos aquilo na única razão para existir e o combustível… bastava lembrar do garoto fraco e patético que fora estranho a felicidade por tanto tempo. Aquele que de algum modo conseguira fazê-la sentir-se bem apenas por estar por perto.

  Arthuria saíra do aposento e sobrara ao Emiya o dever de encará-la. A cavaleira não pôde ver raiva pelos golpes, nem compaixão pela situação. Ele olhou sua face e pareceu perceber tudo que mudara nos pensamentos dela naquele pouco tempo.

— Não devia fazer isso.

Mordred o ignorou e continuou em direção a saída.

— Não é apenas suicídio, mas, mesmo na impossibilidade de vitória, inútil. Ela vai pegar este cálice também, para manter sua fábula. Ou torná-la real, quem sabe. Torná-lo real seria a melhor coisa para todos nós.

A cavaleira voltou ao Emiya um fitar com canto de olho. Estava parada a dois passos do batente da porta.

Ele não soava a alguém falando por falar. Não era simples vento que fizera pairar sobre o quarto do hospital.

— Alguns dos outros se reuniram, mesmo sabendo que é inútil. Soube que até perderam o receptáculo.

Mordred virou a face para observar o rosto dele. Ainda era o Emiya Shirou que a dava aulas sobre corte de vegetais, o pai de Eli e o sujeito que desposara o rei Arthur.

Então o que é isso? Que diabos significa?

— O que você está falando? 

Recuou em direção ao banco onde Emiya se sentava. O corpo dela começou a ficar agitado, com pressa por respostas. Algumas gotas de suor até começaram a surgir e sua carne a esquentar. 

Precisava entender, precisava desesperadamente entender. O que aquelas palavras significam e o que aquilo muda sobre Emiya Shirou, sobre Eli e sobre meu pai!? Me diga! Me diga!

— Shirou, trouxe uma compressa de gelo e uma enfermeira. - Arthuria irrompeu pela porta e uma mulher com ela e logo o espaço até o marido do pai viu-se fechado. 

Mordred ergueu a mão, para tirá-las da frente. Mas conteve-se antes de tocar no ombro da funcionária do hospital. A intromissão a fizera inspirar e expirar profundamente. 

Ele disse ´´inútil`` e citou uma ´´ela``. Lutar não serviria, vencendo ou perdendo. Alguém estava acima de tudo aquilo e pegaria o espólio no fim.

Meu rabo que vou aceitar isso.

— Pai, vou sair, proteja-o. - Arthuria fitou-lhe a face.

— Prometa que não fará nada idiota.

Mordred mordeu o canto inferior do lábio. Aquele Beserker acabou facilmente comigo, ainda há quatro cujos poderes desconheço e estou indo matá-los.

— Proteja-o. - repetiu teimosamente.

O rei dos cavaleiros se aproximou mais dela. Tinha um olhar duro espreitando na face.

— Mordred, se você morrer o que pensa que será dele? Acha que Tatsuo vai de algum modo sentir-se grato por estar vivo? 

Se fosse qualquer outro, qualquer estranho ou qualquer outra pessoa que conhecera, poderia dizer: ´´Vai ficar triste e amaldiçoar meu nome, mas em algum momento agradecerá e seguirá com a vida.``.

Mas esse cara é o maior idiota que já conheci.

— Faça com que seja, dê a esse mané uma razão para sorrir. Ensine ele a ser feliz nem que tenha que enfiar-lhe isso na base da porrada. 

Arthuria suspirou derrotada e deu uma olhada de relance a enfermeira que fingia estar alheia àquilo.

— Só prometa que não irá insistir caso a derrota esteja muito certa.

A cavaleira tirou um sorriso do fundo do seu ser.

— Uma derrota só é tão certa quando se é empalado na cabeça por uma lâmina. Enquanto não acontecer, ainda se pode vencer. - conseguiu rir. - Vou voltar. Se ele acordar e forem para casa, não o deixe ver aquela série antes de mim. Diga que o mato de verdade se fizer.

Recebeu um aceno positivo de cabeça e partiu.

 

Kirei, Kotomine

Uma peça caíra em mãos inimigas. Não, duas

Precisava virar o jogo, encontrar a base inimiga seria um começo, mas e depois? Sem o apoio de Gilgamesh e com a derrota de Cu Chulainn só teria chance se mobilizasse  toda força que restava em Fuyuki ou esperasse o Beserker da Einzbeern retornar. Mas nem mesmo ela ficaria quieta diante de toda essa comoção. Devo arriscar?

Era seu plano eliminar a mulher que invocara o novo Beserker em algum momento. Um ataque furtivo com ajuda da Caster pode funcionar. Ou simplesmente plantar explosivos em sua base.

Perseguir-la atrás de abertura para um assassinato fácil. 

Considerando que era uma maga, porém, trazia a luz a perigosa possibilidade de haver rachaduras em qualquer uma dessas ideias. Há dezenas de feitiços para se precaver de ataques silenciosos e, acima destes, os selos de comando. Considerando o desfecho no porto, encarar seu servo seria problemático demais. E ela foi capaz de manter-se oculta todo esse tempo.

O padre suspirou e fechou a bíblia. Pôs o celular para fazer uma chamada.

 — Caster, quero a localização dela, sem tempo para falhas dessa vez.

Do outro lado da linha a maga afirmou que entregaria até o fim daquele dia.

Kirei desligou enquanto se perguntava quanto de informação conseguiria do Beserker inimigo pondo-o a lutar seriamente com a Saber. 

E as ovelhas que o papa enviou para procurar pelo cálice, balançou a cabeça, não, mesmo que achassem não teriam força para tomá-lo de volta. No melhor dos casos me ligarão informando a localização e pedindo reforços. Alarmando seu possuidor e tornando mais difícil armar um ataque surpresa. 

Será a garota cavaleira e a chance que ela abrirá para matar a mestra do Berserker. Decidiu Kirei indo para o hospital onde Tatsuo Koji fora internado.

 

Emiya, Shirou

Depois que o médico deu o parecer e mando-os para fora com intuito de iniciar alguns tratamentos, Shirou e Arthuria foram a cafeteria do hospital.

Havia uma falta de palavras entre eles. Ninguém parecia conseguir pensar num assunto para quebrar a melancolia. 

Mas talvez esse seja o momento.

— Deveria intervir logo, há essa altura imagino que não hajam muitos sobrando. 

Os olhos verdes encararam-no.

— Não deveria me meter nisso. É a batalha dela e dos outros participantes, mesmo que signifique acabar descobrindo que pereceu em combate, não devo. Já fiz demais. E não posso arriscar perder minha família. Não quero morrer e não poder estar mais com você e a Eli.

Shirou sentiu um nó formar-se no estômago. Preferia que as coisas mantivessem-se como estavam, mas também não sabia quanto mais aguentaria. 

Irei te contar e espero que faça a coisa certa. Espero que mate todos nós.

— Arthuria, eu não… - as palavras sumiram antes da frase ser dita.

Uma lâmina projetava sua ponta de seu pomo de Adão.

— Não devia falar tanto, guarde um pouco de saliva, jovem. 

Arthuria gritou. Raiva, tristeza, desespero? Enquanto seu personagem afogava-se, voltando aos pecados e maldições humanas, aquele ser tentou compreender. 

Ela segurava seus ombros e clamava um nome. O nome que dera-o, o nome que era e o nome de quem quis ser. Viu que a mulher chorava e suas feições tornavam-se mais infelizes.

Como a amo, mesmo tendo me feito consciente para sentir o peso do mal, amo-a com cada particula escura e maligna, cada traço do homem que quis que 

eu fosse e toda existência emergida de ambos.

— Não… - foi o último som que ouviu antes de sua mente desaparecer.

 

Pendragon, Arthuria

— Você. - ergueu as íris até o padre. - Sua morte não será rápida.

— Não deveria ficar tão irritada, eu na verdade a poupei.

Arthuria soltou o corpo do homem que amou e removeu a faca que o empalara. Trinta centímetros de metal branco maculado por sangue. E logo o tornaria inteiramente carmim.

— Ele destruiria sua amada família. A pequena Eli, a si mesmo e a você de agora. Com apenas algumas palavras esta tentativa de homem arruinaria sua utopia. Eu salvei você e a criança, sinta-se livre para agradecer. 

O desmembraria, o faria gritar pedindo pela morte, o mostraria a pior face da dor.

Ela moveu-se na direção de Kirei Kotomine brandido a faca suja pelo sangue de seu marido. Àquela altura só alguns poucos curiosos haviam ficado e a polícia provavelmente não tardava a chegar.

O padre empunhou suas próprias lâminas e encarou-lhe os golpes.

— Impedi a queda e a ascensão do rei Arthur, mantive sua peça para você. - Outra das facas do padre quebrou e um dos dedos da mão esquerda caiu com um jato de sangue. - Mas temo que não entenda a essa altura.

Ele recuou, usando as armas como projéteis para que ela não o acompanhasse. Arhuria destroçou-as no ar. Já havia entendido o que tinha em mãos, uma ferramenta cuja forma e tamanho da lâmina dependiam do quanto de mana era posto nela, e a fizera ter o molde similar a sua espada.

— Ainda não é o fim, ainda há um jeito de trazê-lo de volta. Talvez até de verdade dessa vez.

O antigo rei Arthur parou, ignorando os pedaços quebrados de cadeiras e aço sob seus calçados. Refletiu por um segundo acerca daquelas palavras junto a uma respiração profunda.

Sim, há um jeito, concluiu, mas você morre aqui.

Pôs-se novamente em movimento, a espada na lateral do corpo e os olhos fixos no padre. Primeiro usaria uma finta de baixo para cima e, então, ao invés de seguir com isso, abriria um enorme talho no abdômen do padre.

— Eu tenho o receptáculo do graal. - pela segunda vez, as palavras de Kotomine Kirei a fizeram congelar no lugar. - E tenho informações de que restam apenas dois servos, os quais nossa antiga companheira Medeia nesse momento trata de fazerem se encontrar. Quando acabar a luta, basta eliminar o vencedor e o milagre estará em minhas mãos.

Então como o trarei de volta?

  — Mas o Berserker inimigo é terrivelmente forte e mesmo após o confronto acho que daria uma batalha mais dura do que posso esperar vencer. Eu teria enorme gratidão a qualquer auxilio, poderia até mesmo incluir mais alguém na lista de reencarnados.

Arthuria baixou a espada. Sentia raiva e desgosto fervilhando sob a pele. Estava diante do homem que matara quem amava com toda força. 

E não ia fazê-lo pagar por isso.

 

Pendragon, Mordred

A encontrou onde a bruxa vestida de roxo disse que estaria. No caminho ao lado do rio, perto da ponte que conectava uma margem a outra.

Não estava só, a criança albina fazia-lhe companhia num piquenique sobre a grama do aclive que conectava a via onde pisava a estrada superior. A luz fazia-as parecerem um quadro de Ying Yang, com o negro de um cabelo e o branco do outro ressaltados pela iluminação e por terem sido postos lado a lado.

Mordred respirou fundo, sentindo toda energia mágica que acumulara passear libertina pela carne. Podia percebê-la vazar como água extra em um copo. 

Se isso não for o bastante, ao menos saberei que era inevitável.

Mas o pensamento a fez rir. Aquele idiota discordaria e ia me forçar a alguma estratégia de covarde.

Não demorou para que suas íris encontrassem as de Elisa. Ela tinha belos olhos cinzentos que faziam-na soar sábia. E melancólica também não fosse seu sorriso confiante dando-a um aspecto de forte e trocista.

— Sua filha? - perguntou a cavaleira, da primeira vez que se encontraram ouvira-a dizer que fora mãe.

A mulher negou com a cabeça.

— Essa é Cali, uma Einzbern. Uma boa menina que como você teve que aguentar muita coisa. - respondeu casualmente e afagou a cabeça da pequena. - Então você se resolveu com seu pai e aquele garoto? Não tive oportunidade de perguntar naquela noite quando roubou minha presa. Como tem sido?

Os punhos dela fecharam-se com força. 

— Ele vai morrer em breve.

A mulher baixou as pálpebras e declinou um pouco o queixo.

Mordred a viu suspirar.

— Entendo, veio por sua donzela. - falou e deu uma breve e triste risada. - Adianta dizer que ainda conhecerá muitos outros?

A armadura cobriu o corpo da cavaleira e a espada surgiu em suas mãos.

— É, suspeitei que não.

O manto verde, pálido e desgastado ergueu-se ao lado dela como se a sombra o houvesse composto. Abaixo daquilo escuridão, trevas e o servo da classe Berserker que a derrotara facilmente.

Dessa vez não acontecerá.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Uou, ´´não acontecerá`` até parece. Aposto vintão no Berserker botando para dormir no primeiro round. E esse Kirei é um filha da... mesmo! Mato o cara no seco.

Espero que tenha gostado, até o próximo cap!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sangue de Arthur II" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.