Sweet and bitter love escrita por Ka Howiks


Capítulo 23
Trabalhar juntos nem sempre é uma tarefa fácil


Notas iniciais do capítulo

Olá meus leitores favoritos! Muita coisa acabou acontecendo em minha vida nesses últimos meses. Houveram momentos felizes, tristes e desesperados, e devido a isso, acabei me enrolando aqui. Gosto de escrever quando realmente estou inspirada, pois assim, consigo passar verdadeiramente oque esta acontecendo na história para vocês.

Ainda bem que essa inspiração voltou, não é? KKKK

Desde já agradeço os comentário, que por falar nisso...SÃO QUASE 200 AAAA! Muito obrigada a cada pessoa que tire um tempinho para falar aqui, isso me motiva muito.

Sobre a história: o passado finalmente chega a sua conclusão, sendo assim, a última vez que escrevo sobre esse período. Já no presente, nosso casal enfrenta as dificuldades de uma vida a dois, não sendo os únicos nisso.

Boa leitura❤️



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Star City 2015

 

Thea estava preocupada com o irmão. Após descobrir( por fontes externas, que são conhecidas como Tommy e John) que Felicity fora embora e o mandou o pedido de divorcio fora imediatamente a seu encontro. Oliver não estava bem, isso era perceptível. Não estava comendo, não falava, e principalmente, não parecia sentir vontade de absolutamente nada. Em geral, quando se encontravam, o tempo se resumia a fazê-lo comer algo preparado por Raisa e assistir um filme no sofá. Além disso, sabia que ele estava planejando alguma coisa, mas o assunto em questão era um completo mistério.

 

Até hoje.

 

Dia que ele a chamou para conversar.

 

Se sentou no sofá, apertando os joelhos, ansiosa.

— O que foi?

— Interessante como você não se contém por um minuto, não é mesmo?- o viu sorrir, algo que a alegrou.

— Desculpe, desde que descobri que você é um agente secreto nunca sei o que esperar. É alguma missão? Você vai se disfarçar?

— Não.

— Então é uma missão?- continuou, animada.- Pode me levar junto? Por favooooor!- pediu como criança.

— Não, não é uma missão. E eu jamais seria tão irresponsável ao colocá-la em perigo dessa maneira, Speedy.- disse em tom protetor, levemente irritado.

— Tá.- revirou os olhos.- Se não é a missão, então o que é?

 

Notou a mudança no irmão. Os ombros se arquearam, e o maxilar trincado, acentuando suas linhas, indicava que estava tenso. Oliver não falou em primeiro momento. Pensou e repassou tudo o que havia ensaiado, mas a emoção tomou conta pois, ao finalmente dizer aquela frase, seria um decreto do que realmente iria fazer.

 

Suspirou fundo, e encarou os olhos verdes de Thea.

— Speedy…- tentou encaixar as palavras. A irmã o encarava fixamente, curiosa.- Preciso lhe contar uma coisa.

— Eu percebi.- murmurou.- O que é?

— Eu…- engoliu em seco.- Eu tenho pensado muito nesses últimos dias, e tomei uma decisão.- a olhou profundamente.- E decidi que, pelo o bem de todos, e de certa forma, pelo o meu bem…- fez uma pausa, apertando as mãos.- Decidi me mudar.

 

Thea, com as sobrancelhas franzidas, arrumou a postura.

— Bom...Eu meio que já esperava.- deu de ombros. Oliver soltou o ar, aliviado.- Até porque não tem condições de você permanecer nesse apartamento. Qual casa você vai morar agora? A amiga da mamãe trabalha em uma construtora, lembra? Podemos dar uma olhadinha…- Oliver perdeu o chão. Ela não havia entendido sua frase, o que o deixou ainda mais nervoso.

— Speedy...O lugar que eu vou é um pouco longe.- comentou com dificuldade.

— Central City? Lá ficaria perto de William, seria uma boa. Ou National City? Gotham eu não sei não, você é policial, e nós sabemos que o crime comando aquela metrópole. Se descobrirem de você seria perigoso. Certo, vamos riscar Gotham.- pensou consigo mesma. Oliver, mais uma vez, precisou ser claro.

— O lugar que eu vou é um pouco mais longe que isso.- a interrompeu em sua lista de cidades vizinhas. Pela primeira vez Thea ficou quieta, muito quieta.

— O quão longe?- perguntou em tom baixo, quase infantil. Oliver apertou as mãos.

— Pedi para que me transferissem. Vou para a área de missões internacionais agora.- o rosto da irmã se retraiu.- E no primeiro momento, vou para a Rússia.

 

Assistiu seus lábios se entreabrirem, chocados, e fecharem novamente. Se encararam em silêncio por longos minutos, até notar um brilho estranho no olhar da irmã. Thea virou o rosto, tentando esconder, além de jogar seus longos cabelos castanhos para a frente. O coração de Oliver se apertou, e ele sabia que tinha que abraçá-la. Se aproximou um pouco mais, levando a mão até as costas da irmã quando ouviu um soluço baixinho.

 

Ela estava chorando.

 

E aquilo quebrou Oliver.

— Thea…- começou, sem saber como prosseguir.- Olhe pra mim.- pediu.- Vamos. Olhe pra mim.

 

Seus olhinhos verdes lacrimejados se ergueram. Oliver a abraçou forte, enterrando seu rosto em seus cabelos, enquanto Thea terminava de chorar. A deu um beijo na testa, e logo em seguida se afastou  por alguns centímetros, lançando um sorriso gentil.

— Melhor?

— Me desculpe.- Oliver balançou a cabeça em tom negativo.

— Não tem porquê se desculpar.- deu de ombros. Sua boca estava seca, e começou a notar que faltava pouco para se derramar em lágrimas também.- Sabe que…

— Eu sei.- concordou, limpando o rosto.- Claro que tem que ir. Você não está bem aqui. E ainda tem essa coisa com o FBI…

— Eles não vão me prender.- tentou tranquilizá-la.

— Por pouco. Não é seguro.- disse preocupada.- E não é só isso.- suspirou, encarando o irmão profundamente.- O que você andou fazendo nos últimos meses, Ollie?- Oliver franziu as sobrancelhas.

— É...Nada?- perguntou confuso.

— Exatamente. Nada. Você fica jogado nesse sofá, e quando vai trabalhar é sem vontade alguma.- Oliver engoliu em seco.- A única coisa que te alegra são os telefonemas com William, porque o restante você apenas vegeta. Eu não quero isso pra você.

 

Oliver esfregou o rosto, pensativo. Era claro que não estava feliz, mas jamais imaginou que estivesse tão ruim. Sua decisão foi tomada, mas escutar da própria irmã que deveria ir tornava tudo ainda mais real. Oliver estava apavorado.

 

Assustado.

 

E sem saber o que fazer.

 

A ardência em seus olhos piorou, e um suspiro choroso foi ouvido. Thea o observou, preocupada.

— Não sei se isso é certo. Mas ficar…- suspirou.- Eu sinto o cheiro dela em cada pedaço desse apartamento, em cada esquina dessa cidade. E sabe o pior de tudo?- perguntou em tom baixo.- Ela não vai voltar.

 

Thea tentou o abraçar, mas Oliver se levantou irritado, com a mão na testa.

— Ficar aqui é um lembrete diário da pessoa horrível que eu me tornei.- sorriu amargo.- Sabe aquela varanda ali?- apontou para a porta de vidro, trocada recentemente.- Três agentes da A.R.G.U.S nos fizeram uma visitinha meses atrás.

— Ollie…

— E perto desse sofá aí. Esse mesmo que você está. Foi onde um deles apontou uma arma pro meu filho, e fez minha esposa chorar. Eu poderia ter evitado. Mas o que eu fiz? Nada.- trincou o maxilar.- Porque eu foquei na porra da missão.

— Você queria protegê-los.- Thea se ergueu.- E sabe disso.

— Eu sou um pai de merda pro William. Samantha me disse que ele ainda tem medo de ficar sozinho. Por minha culpa. Eu…- engoliu em seco.- Eu não consigo aguentar mais isso.

 

E sem que percebesse, os braços pequenos de Thea o envolveram, e embora mais baixa, conseguiu abraçá-lo perfeitamente. Oliver se curvou, deitando o rosto em seu ombro, onde desabou por alguns minutos. 

— Você é uma boa pessoa. Uma boa pessoa que tentou fazer uma coisa boa por um caminho torto.- sussurrou Thea.- Mas precisa ver isso em si mesmo.

— Não sei se sou bom. E se existir um céu e um inferno, já sei o meu lugar.- Thea segurou seu rosto com as mãos.

— Você está arrependido. E caso exista, eu duvido muito que vá para o inferno.- Oliver riu, sem humor.

— Eu te amo. Sabe disso, não sabe?

—É inevitável. Mas eu sei sim.- brincou.- Eu também amo você. E vou sentir muita a sua falta.

— Eu também vou sentir sua falta, Speedy.- a abraçou mais uma vez.- Vamos conversar por telefone.

— Vai estar no meu aniversário de 19 anos?- sorriu, animada.

— 19 anos? Céus, como você está velha.- brincou.- Mas veremos.

— O que vai fazer agora?- Oliver suspirou.

— Arrumar as malas, e depois…- seu coração acelerou.- Depois vou me despedir de William.

 

***

Ser pai fora, e ainda era, uma das melhores e maiores realizações que Oliver teve em sua vida. Claro que, no instante que soube sobre William, seu mundo girou. Ele tinha um filho, uma criança que, no futuro, o veria como um exemplo, uma inspiração. Ou ao menos deveria ver. Oliver não se via como um bom exemplo.

 

Nem mesmo como um bom pai.

 

William não merecia crescer com um pai ruim. O seu fora presente, e apesar disso, Oliver acabou sofrendo muito com as exigências de Robert. Sabia o peso e o sofrimento ao descobrir que seu herói, na realidade, não se passava de um mero vilão. O desapontamento, a sensação de coração partido, e de ao finalmente ver seus pais como realmente são era algo que Oliver não suportaria que William passasse. Ele iria odiá-lo, mas preferia que o odiasse a que sofresse novamente por conta de seu trabalho. Oliver mexerá com o FBI, ajudando a desmantelar um grande e perigoso grupo de mafiosos. Alguém viria atrás dele, querendo respostas, vingança. 

 

Havia Amanda.

 

Que não pensou duas vezes ao machucá-lo.

 

Se, talvez, alguém deixasse escapar a informação de que estivesse fora do país, as atenções sairiam de Star City e Central City, deixando assim, Samantha e William seguros. 

 

Isso era o que reconfortava.

 

Mas não tornava nada mais fácil.

 

Pois no instante em pusesse os pés em Central City, e bater naquela porta, estaria deixando para trás um de seus sonhos mais fervorosos e amáveis.

 

Estaria deixando seu filho.

 

Estaria deixando de ser pai.

 

E como doía, ah, doía muito. Doía saber que era nocivo para William, e que sua mera presença o colocava em risco. Doía saber tudo o que o causou. E ele o amava tanto, que a cada segundo sentia seu coração se apertar mais. Suspirou fundo ao finalmente cruzar o limite entre as cidades. Comparado aos outros dias, Central City não se encontrava radiante, mas sim cinzenta. Havia uma quantidade considerável de nuvens por todos os cantos, indicando que choveria mais tarde.  Passou pelo o centro, se recordando da primeira vez( quando ainda omitia de Felicity suas idas misteriosas até a cidade) que levou William até aquela praça, onde tomaram sorvetes juntos.

  Fora um daqueles momentos que, ao vivermos, sabemos que irá se tornar uma de nossas lembranças favoritas, e uma das mais saudosas. Fora a primeira vez que havia saído com seu filho, mesmo que um passeio simples, mas de extrema importância. Seus olhos marejaram, e Oliver acelerou, tentando ocupar a mente. Estremeceu ao finalmente chegar onde pretendia.

 

Estava na hora de cumprir mais uma missão.

 

Vestiu sua máscara e saiu do carro, sorridente enquanto pegava uma sacola com alguns objetos. Ao tocar a campainha, levou apenas segundos para que Samantha a abrisse.

— Já não conversamos que a pessoa deve se identificar antes de entrar?- provocou 

 

 Após o “incidente” em seu apartamento, o mesmo havia conversado com Samantha, e ambos concordaram em serem mais cautelosos. Nunca abrir a porta sem identificação, instalar alarmes de segurança modernos e ficar de olho nos vizinhos foram as primeiras coisas da lista. Mas Oliver sabia que Samantha odiava tudo aquilo.

 

E não perdia a chance de provocá-la, a fim de causar uma discussão saudável, para aliviá-la do estresse e diminuir o receio do porquê aquelas medidas eram realmente necessárias. A viu lançar um olhar rabugento, e colocar as mãos na cintura.

— Sinto o cheiro de ex playboys arrogantes de longe.- o cutucou, fazendo Oliver sorrir.- Era óbvio que era você.

— Não sei se considero isso um elogio ou não.- fingiu pensar. Ambos riram, aliviando a tensão.- Como você está, Samantha?

— Ótima. Estou saindo com um cara.- sorriu tímida.- Ele parece legal.

— É melhor mesmo, você merece uma pessoa boa.- disse sincero. Não importava o passado dos dois, ambos formaram com o tempo, entre altos e baixos, uma relação saudável. Oliver se preocupava com ela.

 

E com William.

 

Seu coração acelerou ao lembrar do filho.

 

Samantha notou sua mudança de humor. O deu passagem para entrar enquanto fechava a porta. Oliver olhou para os arredores, o procurando.

— Will está lá em cima.- sussurrou.- Quer que eu chame ele?

— Eu vou.- suspirou, apertando as mãos. Seus olhares se encontraram.- Samantha…

— Eu sei.- sorriu, compreensiva.- É melhor assim, mais seguro.- Oliver assentiu, sentindo seus olhos arderem.

— Acha…- hesitou.-Acha que ele vai entender isso? Quando estiver mais velho?

— Eu vou fazer de tudo para que sim.- segurou em sua mão.- Mas isso é uma coisa que só o tempo vai nos dizer.

— “Tempo”.- repetiu com certo desgosto.- Ultimamente minha vida tem dependido disso. Esperar.

— É o melhor que podemos fazer.

 

Oliver olhou para as escadas. Respirou fundo e segurou com firmeza o corrimão, puxando com o braço o restante de seu corpo, que se negava a subir. Ao passar pelo o pequeno corredor silencioso, empurrou com cautela a porta entreaberta. Oliver sorriu ao vê-lo deitado na cama, lendo uma das revistas em quadrinho que Felicity havia lhe dado. E então, parou ali, e o assistiu em silêncio por preciosos minutos.

 

Minutos que ele jamais esqueceria.

 

Havia uma pequena certeza em sua mente enquanto o via, escondido atrás da porta. Era mais um dos sagrados momentos, que só temos consciência da importância ao sentirmos falta.

 

Oliver já tinha consciência da falta que iria sentir.

 

Sua garganta fechou, e o mesmo prendeu os lábios, segurando o choro. Seu suspiro choroso deve ter soado alto demais, já que William se virou ao abaixar a revista. Um sorriso banguela preencheu seu rosto.

— Pai!- gritou animado.

— Oi, filho.

 

Abriu os braços para recebê-lo, o apertando contra si. A forma carinhosa como o recebeu…

 

Oliver temia que fosse a última vez.

— Achei que vinhesse só mais tarde.- falou, o guiando até sua cama. Ambos sentaram na cama.

— Eu ia, mas…-limpou a garganta.- Decidi que queria passar mais tempo com você.

— Legal.- sorriu.- O que quer fazer? Podemos jogar futebol, ou videogame…- falou pensativo. Oliver sorriu mais uma vez.

— Qual dos dois quer fazer?

— Videogame.- respondeu prontamente.

— Então vamos jogar videogame.

— Vou pegar os controles na sala.

 

William saiu correndo pela porta. Oliver o reprenderia, já que correr em escadas não era uma combinação boa, mas ele apenas “riu”. Se ergueu, encarando cada detalhe ao redor. Desde a cama azul de William, os detalhes de carrinhos do papel de parede e as fotos emolduradas na estante. Uma delas era William ainda pequeno, nos braços da mãe. Imaginou como sua vida poderia ter sido diferente se houvesse descoberto antes. Quantos anos perdeu.

 

E quantos perderia agora

 

O bolo em sua garganta se intensificou. Seguiu olhando as outras fotos. Uma dele e Samantha em uma espécie de viagem, outra na escola de natação…Se deparou com as duas últimas, que o desmontou por inteiro. A primeira era em uma de suas primeiras visitas a William, onde saíram para tomar um sorvete, e a segunda…Ah, a segunda eram três pessoas. William estava entre os dois e sorria alegremente ao seu lado.

 

E de Felicity.

 

Oliver pegou o quadro nas mãos, e analisou o preço que pagou por sua missão. Aquela era sua família, sempre seria, mas devido a suas escolhas, ele não poderia ficar junto deles.Não era seguro.

 

Não era saudável.

 

E constatar o que estava prestes a fazer o angustiava ainda mais.

 

Uma pequena lágrima escorreu por sua bochecha, mas tratou de limpá-la ao escutar os passos de Will. Ambos se sentaram na cama e jogaram por horas, rindo quando um dos dois trapaceava, ou perdiam para o vilão principal. Oliver apreciou aqueles momentos da maneira mais pura e terna que alguém poderia sentir.

 

***

 

Já era noite, e Oliver ainda estava em Central City. Após jogarem mais de dez partidas, decidiram jogar futebol, depois pega-pega, e até mesmo tiro com arco e flecha. William ficava impressionado com a mira excelente do pai, e o implorou que o ensinasse. Esse ensinamento perdurava até agora.

— Isso. Muito bem. Agora eu vou colocar a latinha aqui.- a colocou no móvel.- E no três você atira, combinado?- William assentiu, concentrado.- 1 ... 2 ... 3!

 

William disparou a flecha de plástico, e comemorou ao ver a latinha de refrigerante ser arremessada pela sala. Correu até Oliver, que o pegou no colo, onde ambos comemoravam entre risos. Samantha os observava de longe, sorrindo com a brincadeira.

— Acho que está na hora dos dois mocinhos se aprontarem para jantar.- advertiu. William resmungou.

— Sua mãe está certa. Podemos treinar mais um pouquinho depois que comermos.- disse de forma gentil, o que pareceu animá-lo.- Pode ser?

— Pode.- concordou. Oliver o colocou no chão.

— Vai lavar as mãos.

— Sim senhora.

 

Oliver riu ao vê-lo bater continência, e ganhou um olhar rabugento de Samantha, que se segurou para não sorrir. Ao se certificar que estavam realmente sozinhos, seu rosto se transformou em preocupação.

— Contou pra ele?- sussurrou.

— Ainda não.- confessou, angustiado.- Vou fazer isso depois do jantar.

— Não vai ser fácil.

— Sei que não.- sorriu de forma triste.- Quando ele souber que não vou voltar…

Você não vai voltar?

 

A voz infantil o estilhaçou. Sentiu sua garganta secar. As mãos suavam, e o rosto de preocupação do filho, esperando uma negativa…Ele não conseguia falar.

 

Simplesmente não conseguia.

 

Tentou se aproximar, mas William deu um passo para trás, em negação.

— Filho…- Samantha tentou apaziguar.- O seu pai…

— Eu…- Oliver tentou falar.- Eu…

— Vai me deixar também. Isso não é justo!

 

Escutou seu soluço, seguido de passos pesados que seguiram para o quarto. Fechou os olhos ao escutar o baque violento da porta ao ser fechada.

— Eu vou falar com ele.

— Não. Eu vou.- Oliver segurou no braço de Samantha.- Vou ter que fazer isso uma hora ou outra, não é?

 

Oliver pegou a sacola que havia trazido consigo mais cedo e seguiu o caminho a pouco percorrido por William Parou em frente a porta, erguendo a mão em punho, mas a parou no ar.

 

Ele não podia adiar mais.

 

Não tinha como adiar mais.

 

Inferno! Era normal ele se sentir com medo. Era normal ele sentir seus olhos marejarem, e além disso, era extremamente normal estar apavorado.

 

Oliver não queria deixar William. No entanto, sabia que no momento, era o melhor a se fazer. Por mais que a decisão doesse, por mais que a decisão o dilacerasse, ele faria de tudo para proteger William.

 

Sempre e para sempre.

 

Custe o que custar.

 

Mesmo que isso significasse que não poderia estar presente.

 

Deu toques, avisando que entraria. Ao colocar a mão na maçaneta, no entanto, notou que estava trancada. Suspirou, encostando as costas na porta enquanto deslizava até o chão. Era noite, e ao olhar pela pequena fresta, a sombra de alguém, exatamente ali do outro lado, estava presente entre a luz.

— Will?- chamou. Um suspiro choroso, de partir o coração, o escapou.- Posso entrar?

— Não.

 

Oliver assentiu, e com cuidado, abriu a sacola, retirando uma foto dos dois no apartamento, enquanto assistiam as estrelas. Se recordava bem daquele dia. Ao chegar em casa, se deparou com Felicity e William procurando constelações.

 

Foi a primeira vez que ele o chamou de pai.

 

Com os olhos marejados, passou a foto pela fresta, onde rapidamente uma mão a puxou. 

— Lembra desse dia?- perguntou. Sem resposta.-É um dos meus favoritos.- sorriu consigo mesmo.- Ouvir você me chamar de pai pela primeira vez foi algo…Mágico.- seu sorriso se alargou.- Algo se acendeu dentro de mim naquele dia, e eu soube ali, o quanto eu amava você.

 

A sombra se aproximou mais. Estava de pé aparentemente, porém em seguida se sentou também.

— Você é uma das pessoas que me fazem querer ser melhor. Seja jogando futebol ou uma partida boba de video-game.- riu,em uma voz trêmula. 

 

Um soluço escapou. Fechou os olhos, tentando ser forte diante do filho que estava praticamente colado a si. Precisava falar. Mesmo que sua garganta ardesse de tanto segurar as lágrimas. Mesmo que seu coração doesse com a despedida próxima.

— Está bravo comigo?- Tudo bem se estiver bravo. Eu entendo Não sou o pai que você merece.- sorriu de forma triste. Doía constatar aquilo, mas era verdade.- E não sei se um dia vou chegar perto do pai ideal pra você. Mas eu prometo, enquanto eu puder, que sempre, sempre- sua voz falhou. Tomou um tempo para respirar.- vou te proteger. Você é o meu filho.- não escondeu as lágrimas dessa vez.- E não importa o que aconteça, não importa onde eu estiver, vou estar sempre com você. Isso é uma promessa.

 

Não havia mentiras em seu juramento, tampouco palavras vazias. Oliver não sabia onde estaria dali três, quatro ou cinco anos, mas de uma coisa tinha certeza. Não importava o que acontecesse nesse meio tempo, não haveria nada nesse mundo que o impediria de proteger o filho, ou de estar com ele. Não fisicamente, mas em seus pensamentos ou em ligações,caso assim William quisesse. E se não quisesse, ele respeitaria.

 

Por mais que o quebrasse por dentro.

 

O barulho da chave girando o fez olhar para cima. A porta abriu, e William, agora em pé, o encarou com os olhinhos vermelhos.

— Eu não estou bravo com você.Só não queria que fossem embora. Não é justo.

 

O menino se agarrou em seu pescoço, e chorou audivelmente. Oliver o apertou contra si, e ambos no chão permaneceram em silêncio enquanto cuidavam um do outro. Oliver o sentou em seu colo, balançando uma vez ou outra para o acalmar.

— Tem mesmo que ir embora?- o ouviu murmurar.

— Tenho.- William ergueu o rosto para observá-lo.- Mas não queria.

— Então fica.- pediu. Oliver sorriu.

— Não é tão fácil. Quando você for adulto vai entender que nem sempre podemos fazer o que queremos.

— Isso parece muito chato.- sua reclamação o fez rir, um pouco mais leve.

—É sim. Muito chato.- sorriu. Pegou a sacola novamente, e o entregou.- Quero que fique com isso.

— O que é?

— Tem aí minha primeira bola de beisebol. E as luvas.- o incentivou a olhar.

— Que coisa é essa?- suas sobrancelhas se franziram ao observar uma pedra, parecida com a ponta de uma flecha, com letras de outro idioma entalhadas.

— Isso é um Hozen. Significa reconexão. Meu pai me deu quando cheguei de uma das minhas primeiras missões como soldado, e agora…- sorriu.- Agora quero que fique com você. Assim, de onde eu estiver, vou estar com você.

— Não queria que fosse embora.- seus olhos se encheram d'água outra vez.

— Eu sei que não, filho.

— Não queria que a Lis tivesse ido embora também.

 

Sua frase o deixou confuso. Não havia contado sobre a separação dos dois, nem mesmo, que Felicity havia ido embora.

 

Então como ele sabia?

 

Ah não ser…Claro.

 

Ela o viu também.

 

Não ousou perguntar mais nada, e apenas focou no abraço apertado que o filho deu. Não demorou muito, talvez pelo choro e fortes emoções, e William dormiu. Oliver o colocou na cama, e ao olhá-lo da porta uma última vez, saiu, desolado. Samantha estava no pé da escada, o aguardando ansiosa.

— Ele dormiu.- comentou, enquanto descia.

— Deve ter ficado cansado. Sua visita foi cheia de emoções.

— É. E me parece que não foi a primeira.- Oliver não sorria, e Samantha, ao notar sobre o que ele se referia, abriu os lábios.

— Oliver…

— Não pensou em me contar que ela veio aqui?- perguntou, ríspido.- Claro que não.

— Ela me pediu…

— Chegou a considerar que por um minuto, que eu gostaria de saber?- continuou afiado.- Que talvez, eu pudesse tê-la visto? Chegou a pensar em alguma dessas coisas, Samantha?

— Olha só, eu não tenho culpa do que aconteceu entre vocês. Felicity é minha amiga, e me pediu para não contar. Se há alguém com quem você está bravo nessa história toda, não é com nenhuma de nós duas.

 

Ele mereceu, de fato, ser tratado com grosseria. Respirou fundo, a fim de se acalmar, e assentiu com a cabeça.

— Desculpe.- Samantha sorriu.

— Tudo bem. Você está passando por muita coisa.- falou compreensiva.- Vem cá.

 

Samantha o abraçou, e Oliver a apertou. Pediu desculpas mais uma vez pelo o que a mãe havia a feito no passado, pediu desculpas por não ter estado presente e pediu desculpas por não poder estar presente de novo.

— O que você precisar, é só ligar. Não vai faltar nada pra vocês dois. É o único jeito de eu me redimir com tudo isso.

— Você é uma boa pessoa.- Oliver balançou a cabeça, descrente.- Só falta ver isso em si mesmo.- Ao vê-lo abrir os lábios para criticá-la, pediu que se calasse. Oliver se deu por vencido.- Se cuida, hein?

— Você também. Sam.— a fez rir devido ao apelido de faculdade.- Cuida dele pra mim, tá bom?- sua voz falhou.- Tenta…Tenta explicar o porquê…

— Eu vou.- o assegurou.- Boa sorte, Oliver.



Se despediram, e com o coração despedaçado, seguiu para o carro. Olhou a casa mais uma vez, e diante de mais um soluço, agora que tinha completa liberdade, chorou. Acelerou o carro, cortando a estrada sem ao menos prestar atenção nos sinais, e ao se dar conta, havia parado em frente a mansão Queen. Trocou palavras rápidas com Raisa, e seguiu para o quarto, onde retirou a pequena caixinha de veludo, que em outro momento, havia sido testemunha de um de seus dias mais felizes. Moira tocou na porta, e sorriu.

— Mãe. Eu sinto muito…- a abraçou, sentindo seus pulmões queimarem de tanto chorar.- Tudo isso é culpa minha. E ainda a coloquei no meio dessa minha bagunça.

— Eu faria de novo.- sorriu, chorosa, segurando a ponta de seu queixo, para que a olhasse diretamente.- Fazemos de tudo para proteger nossos filhos, e você mais do nunca, agora entende isso.

— Espero que um dia ele me perdoe por isso. Eu fiz tudo errado. Perdi minha casa, meu filho, o amor da minha vida…E tudo pra quê?

— Um dia vai entender.- o tranquilizou.- Momentos ruins nos tornam fortes, melhores. E só lá na frente entendemos o motivo real de termos passado por tudo aquilo.

— Obrigado por ter estado do meu lado. Eu te amo.

— Eu também te amo, filho.

 

Continuaram abraçados, até que Oliver pediu para que ficasse sozinho. Foi até uma das caixas de seu antigo guarda-roupa e guardou tanto a sua, como a aliança de Felicity na caixinha, as deixando seguras. Então era isso. Partiria para a Rússia, sem saber ao certo quem era, ou quem se tornaria.

 

Oliver tinha medo disso.

 

Mas algo o dizia, bem no fundo, não importava o tempo que levasse, um dia, ele resolveria suas pendências.

 

E sem sequer conseguir se olhar no espelho, com uma mágoa tremenda, dormiu. Talvez as coisas se resolveriam mesmo. Mas para essas e outras respostas, tudo o que ele teria que fazer era esperar uma coisa.

 

O tempo.

 

***

 

Atualmente

 

A missão nos arredores da cidade do jazz, por mais que surpreendesse a todos, não havia sido o fiasco como pensaram. Claro que houveram contratempos. O estado de Oliver assustou e muito a equipe, tanto que o co-líder teve que ficar um tempinho sem fazer grandes esforços. Felicity também recebeu a recomendação de descansar, deixando assim, ações mais agressivas e que requerem energia nas mãos de Dig.

 

O que quase o tirou do sério.

 

Não pelas atividades, mas sim por Tommy. O moreno, de forma inacreditável, havia ficado ainda mais irritante após Oliver e Felicity assumirem o relacionamento. Os infernizava o tempo inteiro, saia dos treinos apenas para cutucar o amigo, que jogou um livro em sua cara em uma de suas visitas nada bem-vindas ao seu quarto. Felicity, assim como os demais, apenas ria com a implicância dos dois. Não que às vezes ele não a tirasse o juízo, mas sabia que essa era uma das formas de apoio que Tommy dava a Oliver. Ambos se conheciam como ninguém, e se aquela era forma que Tommy sabia que iria ajudar Oliver a relaxar, então assim ele faria. Mesmo que, por duas vezes, quase levou, além de um  livro, um livro bem pesado( segundo seu relato dramático na cozinha, onde fez questão de mencionar seus reflexos excelentes ao se desviar da arma mortal), também se desviou de dois pares de sapatos. Ele não era o único aos infernizar.Cada membro do time parecia tirar uma hora especial do dia para a tarefa.

 

E todos faziam com muito prazer.

 

Isso estava enlouquecendo Oliver e Felicity.

 

 A situação em Nova Orleans foi resolvida. Após Felicity e Oliver ficarem no hospital, a equipe se dividiu, e seguiu o grupo de ladrões de obras de arte até o esconderijo, recuperando peças de muito, muito valor. Algo que os irritou profundamente foi descobrir, através de Curtis, Ray e Tommy, que a sala só havia sido trancada devido ao dispositivo que os próprios haviam utilizado.

— Perai, peraí…- Roy os parou em uma das explicações.- Quer dizer que o dispositivo que pegamos deles- enfatizou- foi a quase morte da Lis e do Oliver? E quer dizer também- interrompeu Laurel, que começava a falar- que se eles tivessem usado no lugar da gente, eles teriam se ferrado?

— Algo assim.- Falou Caitlin.

— Mas que merda!

 

O período para descanso foi curto. Agora com Oliver devidamente recuperado, estavam a um passo de serem informados sobre a nova missão. Seu relacionamento com Felicity andava a passos lentos. Não queria, em hipótese alguma, fazer besteira.

 

Não de novo.

 

Faria tudo diferente agora.

 

A contragosto, permaneceu no quarto deitado. Felicity queria que o mesmo se recuperasse por inteiro.

 

E ele só queria a porcaria de cinco minutos sozinho com ela.

 

O que estava se tornando uma missão impossível.

 

A porcaria de uma missão…

 

Dois toques leves na porta o tiraram de seu momento de revolta interno. Felicity apareceu, e toda sua ira se transformou no mais puro dos sentimentos. Sorrindo como um bobo, afastou as pernas, dando lugar para se sentar.

— Veio me liberar do castigo?

— Isso não é um castigo.- Felicity rebateu, tomando um lugar na beira da cama, os deixando de frente um para o outro.- É para sua saúde.

— Você também deveria estar repousando.- apontou.- Estava naquela sala comigo.

— Não fui eu que desmaiei duas vezes.- lembrou.

— Mas desmaiou uma.

 

Felicity tentou permanecer séria para repreendê-lo, mas ao encontrar aquele sorriso brincalhão, e o brilho de provocação em seu olhar, tudo o que fez foi se aproximar. Era um alívio vê-lo assim.

 

Bem.

 

Claro que ainda estavam se adaptando. Foram um casal cinco anos antes. Passaram a ser desconhecidos, que viraram amigos, a apaixonados outra vez. Percorreriam um longo caminho até que tudo se adaptasse.

 

Essa era uma das maiores razões que faziam Oliver clamar por um tempo a sós.

 

Apenas os dois.

 

Precisavam disso.

 

Oliver se arrumou, a colocando sentada em seu colo. Pegou sua mão esquerda e a ergueu, a beijando levemente, sem desviar o olhar. Ficaram assim por cinco, seis, sete minutos.

 

Talvez mais…

 

Nenhum dos dois ligava.

 

Felicity acariciou sua barba e suspirou, o trazendo para perto pela ponta do queixo. Já havia beijado alguns homens depois de Oliver, mas nenhum, nenhum deles jamais conseguiu chegar aos pés da sensação que era ser beijada por aquele homem. Era sexy e quente, como o fogo de seus olhos, e ao mesmo tempo, carinhoso, com o macio de seus lábios, que espertos, não se contentavam apenas com sua boca. Desciam por sua pele, mordiam seu pescoço.

 

Desciam um pouco mais…

 

Felicity arfou.

 

Oliver, com delicadeza, a deitou. Seu sorriso pretensioso, misturado a suas mãos provocantes diziam para Felicity exatamente o que queria.

— Não deveria fazer esforço.- murmurou, de olhos fechados, sem saber ao certo se era aquelas palavras que queria dizer. Entendeu que não ao usar suas pernas para puxá-lo mais para perto.

— Isso sim é tortura.- sussurrou em seu ouvido, a fazendo rir.- Você não faz ideia.

— Faço sim. Muita.- mordeu os lábios ao imaginar. Oliver encontrou seu olhar, e sentiu, por seu corpo inteiro, o desejo que queimava ali.

— Posso ir devagar. Posso ir como você quiser.- mordeu seu lóbulo..- Do jeito que quiser.- a frase suja, carregada de segundas intenções sussurradas no pé de seu ouvido a arrepiaram.- Só me diga, Lis.

 

Era óbvio que ela o queria. O queria ali, ou em qualquer parte da maldita casa.Mas eles eram os chefes.

 

Precisam ser responsáveis.

 

Mas estava ficando difícil ser responsável.

 

Muito difícil

 

Largou qualquer razão ao senti-lo apertar seu peito. E largou ainda mais qualquer pensamento coerente quando o puxou, e sem soltar seus lábios, desceu sua mão até sua calça. Oliver grunhiu, e inspirou fundo. Faltava tão pouco para senti-lo…

 

Já podia imaginar…Ah…

 

Mas a vida não colaborou.

 

Duas batidas na porta os paralisaram. Felicity apertou os lábios, evitando uma risada, assim como Oliver, que encostou suas testas e sorriu.

— Quem será?

— Para nos interromper exatamente agora, só pode ser uma pessoa.- cochichou Oliver, revirando os olhos, o que a fez rir. A deu um selinho, e Felicity, que ainda o segurava, foi levantada com o loiro que se sentou.- Mas vamos fingir surpresa. Quem é?- perguntou sem vontade alguma.

 

A porta foi aberta, e um Tommy, com um sorriso de orelha a orelha apareceu, com as mãos na cintura, e as sobrancelhas arqueadas.

— O que quer?

— Sem “bom dia Tommy. Como vai?”. Mas que mal humor, Ollie.- desdenhou.- Como vai cunhadinha?

— Bem desde a última vez que falei com você. Não deveria estar treinando Roy?

— Ele está treinando com Sara e Laurel.

— Apanhando você quis dizer.- Tommy sorriu, e Felicity balançou a cabeça negativamente.- Você não tem jeito

— Já ouvi essa frase muitas vezes.- deu de ombros. Um sorriso malicioso brotou em seus lábios ao observá-los.- Mas que cama desarrumada.

 

Felicity sentiu seu rosto queimar, e Oliver sentiu que o chutaria escadaria abaixo.

— Veio aqui pra falar da bagunça do meu quarto?- perguntou Oliver.- Ou falar algo realmente importante?

— Por que não posso fazer os dois? É tão maravilhoso vê-lo irritado. Principalmente quando seu maxilar fica apertado, exatamente como está fazendo agora.- indicou com a cabeça a cara amarrada do amigo.- Pessoas dizem que café da manhã dá energia, mas isso…Ah- inspirou o ar, gesticulando com as mãos, como se sentisse uma brisa fresca em uma floresta.- Isso é definitivamente renovador.

— Tommy. Sabe que vai treinar com Oliver, não é?- lembrou Felicity.- E quando isso acontecer, se continuar aqui— enfatizou- não vou pedir para que ele pegue leve com você.

— Excelente ponto.- fez bico enquanto pensava.- De qualquer forma, vim apenas dar o recado de Curtis. Waller mandou uma mensagem. Aparentemente é algo sobre a missão nova.

 

Ambos assentiram, mas Tommy não se moveu. Felicity franziu as sobrancelhas para Oliver, que apenas suspirou.

— Era só isso?

— Era.

— Então por que você ainda está aqui?- perguntou, irritado.

— Gosto daqui.- deu de ombros, se encostando no batente da porta.- E sabe do que mais gosto?

— O que, Tommy?

— Além de te ver claramente puto- seus lábios se levantaram em um sorriso satisfeito.- que na minha opinião é a melhor parte. Gosto de vê-los juntos. Principalmente com essas carinhas…

 

Foi a vez de Felicity arremessar o travesseiro.

 

Tommy foi atingido, parando seu discurso. Seus lábios estavam entreabertos, chocados, chocados mesmo, que havia sido atingido novamente no meio do rosto.

Saí daqui.- mandou Felicity.- Ou vou fazer que nem o Oliver e pegar o livro.

 

Risadas explodiram no corredor.

 

Laurel e Sara apareceram, acompanhadas por Roy, que se contorcia de tanto rir. Os três pararam em frente a porta, enquanto Tommy resmungava e retirava alguma coisa de seu bolso.

— Eu disse que seria ela.- falou Roy entre risos.- Agora me dê o que deve.- Tommy, a contragosto, o entregou uma nota de cem dólares.- Muito bom fazer negócios com você.

— Alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui?- perguntou Felicity ao se levantar.

— Apostamos com Tommy lá embaixo sobre quem arremessaria algo nele por perturbar vocês.- explicou Laurel.- Todos apostaram no Oliver, mas Roy defendeu fortemente que seria você. E como pode ver…- indicou.- Ele ganhou.

— Vocês não prestam.

— Sabemos disso.- sorriu Sara.- Bom, vamos descer. Ao que parece teremos novidades hoje, não é?

 

Os quatro desceram e Felicity fechou a porta. Encarou Oliver, balançando a cabeça negativamente.

— Temos que fazer algo com eles.

— Nós vamos, pode ter certeza.- sorriu Oliver.- A vingança é um prato que se come frio.

 

*** 

Oliver e Felicity se encontravam na famosa sala de reuniões. As informações da nova missão haviam chegado, e como de costume, os dois as estudavam para passar a frente com o time. Alguns sorrisos cúmplices eram trocados entre as tarefas, no entanto, tentavam deixar tudo o mais profissional possível. Estavam juntos agora.

 

Mas ainda eram os chefes.

 

Balancear isso nunca havia sido tão difícil.

 

Após finalmente se aprontarem, chamaram todos, notando a falta de uma pessoa. Felicity franziu as sobrancelhas ao perguntar:

— Onde está Caitlin?

— Ela me disse que tinha que resolver uma coisa.- comentou Curtis, de braços cruzados.- Saiu como um furacão. Parecia bem abalada.

— Ela comentou algo com você?- perguntou a Tommy que negou, nada satisfeito.

— Eu não sabia que ela havia saído até chegar na sala.- suspirou, preocupado.- Ela não me atendeu.

— Podemos rastrear o celular dela, caso julguem necessário.- disse John.- Também estou achando estranho. Caitlin nunca sai sem avisar.

 

Um minuto de silêncio se fez presente.

 

Felicity encarou Oliver, que estava pensativo. Seus olhares se cruzaram, e em uma conversa silenciosa, que só os dois sabiam como fazer, assentiram, arrumando as posturas.

— Vamos dar início a reunião. Caso ela demore mais, aí sim fazemos algo a respeito.- falou Felicity.- Bom, vamos lá.

 

A loira pegou o controle, sincronizando as fotos de seu tablet com a tv, para melhor visualização. Fotos de um grupo de seis pessoas, sendo três homens e três mulheres, dividiram a tela, e ao lado de cada foto havia suas descrições. “Procurado, Procurado”

 

“Procurado”

 

“ Indivíduo altamente perigoso”

 

“ Temperamental”

— Como podem ver, as pessoas com quem lidaremos dessa vez são procuradas com alta urgência pela interpol.- comentou Oliver.- O grupo parisiense, o chamam assim pois sua maior atividade é na França- explicou, devido olhares confusos- está chamando, há muito tempo, a atenção das autoridades.

— Além de se meterem com coisas ilegais, quais já conhecemos- continuou Felicity- o foco deles é roubar informações governamentais da inteligência. A última informação roubada colocou em risco o primeiro-ministro britânico.

— O ministro da segurança deve ter ficado muito feliz. Pelo o que eu me lembre aquele cara era um porre, e nos tratou super mal quando fomos a Londres.- lembrou Sara, balançando a cabeça negativamente.

— Porre? Ele não queria nossa ajuda de maneira nenhuma.- disse Ray.

— Freddie parece ter se arrependido da forma como nos tratou, pois Waller, em uma conversa agradável- Felicity sorriu azeda- nos contou que o próprio nos indicou em uma reunião privada para lidar com o problema.

— Isso…Isso é novidade.- falou Dig, surpreso.- A prisão de Max deve ter aberto os olhos dele.

— É, mas voltando ao tópico- retomou Oliver- O grupo parisiense planeja agora uma ação aqui na nossa maravilhosa cidade de Nova York. Segundo informantes, os seis estão considerando fazer um ataque cibernético no prédio federal do FBI. Nossa missão é capturá-los antes que isso aconteça…

 

O celular tocou.

 

Felicity iria silenciá-lo, mas ao ler o visor, que indicava uma chamada de vídeo, o atendeu imediatamente. Fez sinal de silêncio.

 

“-Caitlin? Onde você está?- ”

 

“- Eu estou bem,Lis.- suspirou. Seu tom não a convenceu.- Mandei um endereço por mensagem. Preciso que você e a equipe venham aqui imediatamente.

 

“- Hey. Aconteceu alguma coisa?- Tommy se intrometeu, preocupado.- Você saiu sem avisar…”

 

“- É uma longa história.- seu olhar se desviou para o lado, o que o chamou atenção.”

 

“-Quem está aí com você?Caitlin?- chamou Tommy.”

 

Era óbvio que ela não queria mostrar quem era, mas a pessoa ao seu lado não fazia nenhuma questão de se esconder, ao contrário. Tomou mais vontade de se revelar com a interrupção de Tommy. O moreno, ao finalmente ver o rapaz ao seu lado, imediatamente fechou o semblante. E Felicity…

 

Felicity reconheceu o rapaz imediatamente.

 

Encarou a amiga com os lábios entreabertos, sem conseguir entender a ligação.

 

— Caitlin…O que ele- enfatizou- está fazendo aqui?“- É uma longa história.- suspirou pesadamente. Seu rosto alegre agora era carregado de peso.- História que vou fazer questão de explicar detalhe por detalhe.- Felicity assentiu.- Bom…- seu tom de voz diminuiu ao encontrar o olhar hostil que Tommy lançava ao homem ao seu lado, também se recordando de quem se tratava.- Esse é Ronnie Raymond. Meu ex-namorado. E ele vai nos ajudar na missão.

 

 

***

 

Não demorou muito para que chegassem ao destino. O apartamento em que Caitlin se encontrava ficava localizado na região do Upper West Side. Um bairro considerado “bom”, com diversos prédios. Entraram no combinado, e ao subir pelo elevador, um silêncio assombroso se fez presente.

 

Haviam muitas perguntas.

 

Felicity se recordava bem da última vez que aquele nome apareceu. Estavam em Paris, em uma das primeiras missões da equipe, quando de repente, Caitlin, em uma das atividades, parecia congelada. Ela a contou como o conheceu. Contou que Ronnie era um criminoso, e do importante envolvimento dos dois em seu passado. Ela contou tudo.

 

Mas isso ainda não explicava o porquê dele estar ali.

 

Tommy também se lembrava do tempo. Ele e o próprio Ronnie chegaram a trocar farpas. Ele não sabia da história, não tinha conhecimento dos acontecimentos em si, mas sabia de uma coisa.

 

Ele havia sido importante pra ela.

 

E aquilo o apavorava.

 

Principalmente por saber que esse tal Ronnie não era uma pessoa boa.

 

Ao finalmente baterem na porta, um barulho de chaves balançando os tirou daquela bolha de tensão. Oliver foi o primeiro a entrar, a cumprimentando rapidamente.Tommy foi o último, e ao observá-la, Caitlin suspirou e o abraçou.

— Fiquei preocupado.- sussurrou, a apertando.

— Eu sei.- o deu um beijo rápido.- Não tive tempo de avisá-los. Foi muita coisa.

— O casal aí pode andar rápido? Temos assuntos a tratar.

 

A voz masculina, recheada de humor e um tom sarcástico fizeram Tommy erguer a cabeça. Encarou o rapaz dos pés a cabeça, que o desafiava em um sorriso cínico. A equipe se entreolhou.

 

Aquilo não era bom.

 

Quando acomodados, Caitlin começou a contar a história.

— Ronnie fez parte do grupo que vamos prender.- explicava.- Pode nos ajudar a capturá-los, mas em troca, quer uma coisa.

— Não me lembro que barganhavamos tão abertamente com criminosos.- comentou Tommy, de cara fechada. Caitlin o repreendeu pelo o olhar.- O quê? É um pensamento válido.

— Por mais que eu odeie dizer isso…- John suspirou.- Tenho que concordar com Tommy. Não o conhecemos, e não sabemos se irá realmente nos ajudar.

— Ele vai.- garantiu. Tommy bufou.

— Como sabe? Ele simplesmente falou e você acreditou?

— Ele vai nos ajudar porque o grupo parisiense sequestrou a irmã dele.

 

Oliver continuava a observá-lo. Seu olhar analítico, com um quê de recriminação, fizeram Ronnie estremecer.

— Eu falei com Watson, por isso demorei. Não faria isso se soubesse que colocaria vocês em risco.

 

Seu olhar encontrou o de Oliver, que assentiu, assim como Felicity, que pensava nos pros e contras da situação.

— Trabalhou para eles mesmo?- questionou Felicity.

— Por muito tempo. Conheço cada passo, cada pensamento que passa por aquelas mentes brilhantes.- disse Ronnie.- Eu…Eu só quero que minha irmã fique bem. Ela não merece pagar pelos meus erros. Então por favor…- implorou a equipe.- Me ajudem a trazê-la de volta.

 

Todos se entreolharam, e voltaram a Felicity e Oliver.

 

A decisão foi unânime, embora alguns rostos soassem aborrecimento.

— Certo. Vamos ajudá-lo.- disse Felicity o fazendo sorrir.

— Mas não pense em nos trair, porque se fizer isso…- ameaçou Oliver.- conseguimos te deixar em um lugar muito pior que os seus amiguinhos vão ficar.

— Por mim eles podem apodrecer no inferno. Só quero que minha irmã fique a salvo.- deu de ombros.- Quando começamos a caça às bruxas?

— Imediatamente.

 

***

 

Ronnie, em um interrogatório que perdurou horas, descreveu, em detalhes, cada membro. Os responsáveis pela maioria dos planos( Anna Smith e Simon Anderson) continham emitido em suas fichas alerta vermelho. Ronnie explicou a mortalidade de Anna, contou a sagacidade de Simon, e assim seguiu. Um a um.

 

Até chegar em sua irmã.

— Carla sabe o que aconteceu?- perguntou Caitlin, preocupada. Ronnie negou em um aceno.

— Minha mãe enlouqueceria se soubesse. Você a conheceu “Cait”,sabe como ela é.- seu comentário, misturado ao olhar nostálgico e o sorriso lançados a Caitlin fizeram Tommy revirar os olhos.

 

E a equipe se entreolhou tensa.

— Temos por hoje, Ronnie. Se precisarmos de mais alguma informação avisamos você.- interviu Felicity, a fim de acabar com o clima.- O que Watson o disse exatamente?

— Disse para eu ficar aqui escondido enquanto cooperava com vocês.- deu de ombros.- Ah- seu sorriso se ampliou- ela falou também que eu não deveria ficar sozinho. Então algum de vocês…

— Só pode ser brincadeira.- resmungou Tommy, cruzando os braços. Oliver fez um sinal discreto, para que se acalmasse.

— Vamos separar alguns de nós para tomar conta de você.- garantiu Oliver.

— Hoje pode ser eu.- Roy se ofereceu.

— Eu preferia…

— Sua preferência é não morrer enquanto nos ajuda.- cortou Roy.- Então se sinta satisfeito por eu estar aqui.

 

Mais nenhum comentário foi feito.

— Bom, nos vemos amanhã. E Roy…- Felicity o puxou.- Qualquer coisa…

— Eu ponho ele pra dormir.- piscou. Felicity bagunçou seus cabelos.

— Bom garoto.

 

Todos se ergueram, e no momento em que Caitlin pegou sua bolsa, Ronnie segurou em sua mão.

— Obrigado por me ajudar.

— Vamos trazer a Amanda de volta. Eu prometo.- garantiu, fortalecendo o aperto.- Mas me prometa que vai cooperar.

— Claro agente Snow.-sorriu.- Ainda é estranho te chamar assim.

 

Caitlin o lançou um sorriso forçado, recolhendo sua mão. O momento não passou despercebido por Tommy, que aguardava ao lado da porta, os encarando profundamente.

 

Aquilo era um pesadelo.

 

E para seu desespero apenas havia começado.

 

***

Os dias passaram rápido como os sons de um relógio. A equipe a todo momento revisava as informações dadas por Ronnie, que misturadas as que já obtinham, os davam um perfeito mapa, um mapa que os levou, com a ajuda talentosíssima( como o mesmo apontou) de Curtis a acharem um local onde os membros do grupo parisiense apareceriam. Era uma boa oportunidade para se infiltrarem, captando informações.

 

Descobrindo onde Amanda estava.

 

O paradeiro da menina em si, ainda era uma incógnita.

 

Tommy não estava em seus melhores momentos. Todos notaram seu afastamento repentino. Andava cabisbaixo, calado( o que era algo gravíssimo) e além disso, sua paciência estava longe de ser considerada “aceitável”. Se fosse em outra situação, Oliver pediria para o mesmo não se envolver, no entanto, sabia que isso pioraria tudo. Ele tinha conhecimento sobre o porquê do amigo estar assim.

 

Caitlin.

 

E seus longos períodos ao lado de Ronnie.

— Ele vai surtar uma hora ou outra.- comentou Laurel entre cochichos na cozinha.- E quando isso acontecer, não vai ser bom.

— Não podemos julgá-lo. Imagine se uma ex do Ray, qual ele claramente teve sentimentos, aparecesse de supetão na sua porta clamando por ajuda?- perguntou Curtis. Laurel fez careta, logo após estremecer.

— Não está sendo fácil pra ele.- concordou John.- E por isso, em hipótese alguma, deve sair para missões sozinho.

— Ele iria fazer besteira. Ele já faz sendo o Tommy- Sara suspirou.- Vamos mantê-lo na linha.

 

Em um aceno mútuo, os quatro tomaram seus cafés em silêncio. Oliver e Felicity apareceram de mãos dadas, ganhando sorrisinhos maliciosos enquanto pegavam suas próprias xícaras.

— Não comecem.- repreendeu Felicity, abrindo a geladeira.

— Mas não falamos nada, chefinha.— provocou Curtis.

— Quero ver se esse amor todo vai resistir a missão de hoje.- comentou Laurel. Oliver franziu as sobrancelhas.

— Como assim?

— Vocês vão trabalhar infiltrados juntos dessa vez. Realmente juntos.- explicou.- É normal que nas primeiras missões deixemos o lado emocional falar mais alto, não obedecendo o protocolo.

— Me lembro das primeiras vezes com Lyla.- John deu um suspiro desgostoso.- Foi terrível. Nenhum dos dois deixava o outro trabalhar. Nossa missão foi um desastre.

— Eu e o Oliver não somos assim.- se defendeu Felicity, um pouco aflita.- Não é?

— É. Eu...Eu acho.

 

Um longo minuto de silêncio se fez.

 

Notando o clima pesado, os deixaram sozinhos. Oliver se encostou a mesa e abriu os braços, onde Felicity se enfiou, ficando entre suas pernas. 

 

Suspiraram juntos.

— Não tinha parado pra pensar nisso.- confessou Felicity, assustada.

— Eu estava tentando não pensar. Mas…Vamos tentar fazer o possível, confiar um no outro.

— Isso. Já sabíamos que ia ser difícil começar um relacionamento. Não vamos deixar essas coisas nos abalem.- disse decidida. Ergueu seus braços, deslizando suas pequenas mãos pelos os ombros de Oliver, que fechou os olhos.- Podemos terminar o que começamos, depois.— sussurrou. Beijando seu pescoço. Oliver estremeceu.

— Eu…- engoliu em seco por sentir, agora, suas mãos invadirem sua camiseta, e desceram…- Felicity.

— O quê?- provocou, e ele sabia disso, mas tentava se segurar.- Você não gosta?

— Gosto. Gosto muito.- soltou o ar, cheio de prazer.- Mas não podemos. Não aqui.

— Eu sei…Mas está ficando cada vez mais difícil segurar…- sua voz, cheia de luxúria, fez seus olhos escurecerem. Oliver desceu sua mão por sua cintura, e a apertou.

 

Apertou firmemente.

 

Antes de flexioná-la ainda mais para frente.

 

E ao escutar o pequeno gemido agora da, finalmente, namorada, não se conteve. Tomou seus lábios em um beijo voraz, sem deixar de tocar em nenhum lugar. Apertou sua bunda, contornou sua cintura, segurou seus seios. E seu toque estava tão deleitoso…Ah

 

Felicity não queria que ele parasse.

 

Mas um murmúrio surpreso em suas costas fez Felicity arregalar os olhos. Oliver ergueu o olhar, e balançou a cabeça negativamente, em um pequeno sorriso.

— Não é possível que você tenha o time tão ruim.

— Ah, eu diria que é perfeito.— Felicity olhou para trás, encontrando Tommy, que pela primeira vez nos últimos dias sorria sarcasticamente.- Que beijo, hein? Vocês parecem famintos.

 

E estavam

 

Mas Oliver não podia dar esse gostinho a ele.

— Nem. Uma. Palavra.- Oliver o repreendeu.

— Não era minha intenção falar.- deu de ombros. Seu olhar cruzou com o de Felicity, que parecia decidir se ficava vermelha ou xingava.- Vai me bater de novo? Agora estou realmente em perigo. Há facas aqui.

— Se não quiser saber a resposta, sugiro que suma daqui.- o ameaçou, divertida. Tommy ergueu as mãos, em sinal de redenção.

— Um conselho, casal.- seu sorriso, carregado de segundas intenções, tomou conta de seus lábios.- Se quiserem fazer coisas prazerosas por aqui. Sugiro a academia ou a sala de reuniões. É discreta, e além disso…- seu sorriso se alargou.- Não dá pra escutar nada. E sim, podem me agradecer depois.

 

Se curvando como se tivesse acabado de apresentar uma grande peça de teatro, Tommy saiu calmamente. Todos já conheciam sua personalidade narcisista, e muitas vezes, se perguntavam como alguém poderia ter uma autoestima tão elevada.

 

Mas era Tommy.

 

Não havia uma explicação.

 

Felicity olhou o relógio e suspirou, antes de o dar um beijo.

— Acho que está na hora de nos arrumarmos.- Oliver assentiu.- Vamos…Vamos conseguir.

— V…Vamos.

 

A hesitação em ambas as falas deixava claro que os dois não estavam nenhum pouco prontos.

 

***

 

Upper East Side

 

20:00.

 

Era claro que tinha que ser um lugar assim- pensou Felicity.

 

Quando Curtis, através das informações dadas por Ronnie, conseguiu rastrear poucos membros do grupo parisiense, Felicity já sabia que o local não seria nada mais nada menos que luxuoso. Mafiosos gostavam de roubar, mas além disso, eles amavam ostentar, e não havia um lugar melhor para isso do que o famoso e sofisticado restaurante Atlantic Grill. Sua fachada de cinema, com tapetes vermelhos e segurança armada levavam a um lugar de pura majestosidade. A entrada não se mostrou tão difícil, já que Ray e Curtis fizeram cópias autênticas dos convites dourados, se atentando às regras.

 

*Sem celulares;

 

*Sem armas;

 

*Traje a rigor e máscaras.

 

Felicity optou por um vestido da cor grafite, longo de saia transparente com uma grande fenda lateral, que mostrava suas pernas esbeltas. Sua cintura era marcada por um cinto de pedras brilhantes, e o rosto,marcado por um batom carmim, era coberto por uma máscara da mesma cor. Oliver, que seguia atrás de si um pouco afastado, usava um terno preto e gravata borboleta, com uma máscara da cor grafite, deixando seus olhos azuis, sempre atentos, em destaque.

 Ao entrarem, avistaram Sara, que usava um vestido vermelho apertado e máscara preta ao redor do bar, juntamente com Dig, que ergueu uma taça, em um cumprimento discreto.

 

Estavam dentro.

 

Agora precisavam se misturar.

 

Mas quando Felicity olhou para a próxima área, tudo o que teve vontade de fazer foi correr com Oliver para longe. Havia um palco montado, com iluminação baixa, onde homens e mulheres dançavam em barras de metais, deslizavam…

 

E se aproximavam…

 

Felicity escondeu o desconforto ao ver uma das mulheres, praticamente seminua, sorrir para Oliver, e o puxar pela gravata.

— O que deseja, senhor?- perguntou a ruiva, em um sorriso largo.

— Confesso que estou um pouco perdido.- mentiu, em uma risada falsa.- Recebi o convite, mas os anfitriões não puseram os nomes.

— São as normas do clube.- explicou. A mulher, que ainda o segurava pela gravata, o trouxe para perto, erguendo sua perna, a fim de Oliver tocá-la.- Mas se quiser saber…- sussurrou.- Posso explicar tudinho pra você. Lá.- apontou para o segundo andar.- É onde as coisas realmente acontecem.

— Podemos seguir daqui.

 

O tom afiado de Felicity, misturados ao seu olhar, que embora coberto, não poderia se mostrar mais irritado, fizeram a mulher se afastar. A loira o segurou pelo o braço, e juntos, subiram até o segundo andar.

— Ela poderia ter me contado mais coisas.

— Ah, ela queria te contar muitas coisas.— disse em tom afiado. Oliver entreabriu os lábios.- Vamos nos separar.

— Certo.

 

Ele a assistiu sair, apressada, e pela primeira vez…

 

Pela primeira vez, desde muito tempo, se sentiu aflito.

 

Não pelas pessoas ao redor, não pela missão, mas pela possibilidade de alguém fazer algo a ela. Decidiu ficar por perto, encarando os pontos mais “escuros”, as conversas vulgares.

 

Mas nada do grupo parisiense.

 

Oliver pediu um drinque, e ao fazer mais uma varredura no local, engoliu em seco. Um homem se aproximou de Felicity, e como um predador, a puxou, sem cerimônia, para uma dança. O viu espalmar sua mão em suas costas nuas, e colar seus corpos.

 

A apertar…

 

E de repente ele não conseguia respirar.

 

Suas mãos, fechadas em punho, clamavam para arrebentá-lo. Mas haviam prometido um ao outro que seriam profissionais. Ele só agiria se visse algo de errado.

 

E nada estava errado.

 

Na realidade estava muito errado.

 

Mas Oliver tentou se conter.

 

Seu maxilar se tornou rígido à medida que os minutos passavam. Não se importou mais de checar os arredores, ou de tentar arrancar alguma informação de alguém. Só olhava para Felicity.

 

Somente para ela.

 

O desespero tomou conta ao vê-la ser conduzida até uma das áreas privadas.

 

“- Felicity?- a chamou pelo rádio. Nenhuma resposta.- Lis?- nada.”

 

Um suor percorreu sua espinha, e o medo, a angústia de que talvez ela pudesse se machucar o acertou em cheio como uma flecha. Abandonou sua posição, e seguiu até a ala em que Felicity estava. Arregaçou as mangas.

 

Se ela se machucasse…

 

Oliver entrou, e escutou um barulho. Não pensou duas vezes antes de atacar o homem por trás, principalmente ao ver que Felicity estava perto da parede, sem saída. Apertou seu pescoço, e em questão de segundos, o rapaz desmaiou. O largou no chão, e correu até Felicity, que tinha os olhos arregalados.

— Você está bem? Ele machucou você?- perguntou preocupado, a checando, em busca de algum ferimento.

— Oliver. Você enlouqueceu?- bufou, irritada.- Ele era uma testemunha!

— Enlouqueci? O cara te trás pra cá, eu a vejo sem saída em uma parede, queria que eu pensasse o quê?- aumentou o tom de voz, também aborrecido.

— Ele estava me dando informações sobre o grupo!

— A garota lá embaixo também, mas você não deixou ela terminar.

— Ela estava dando em cima de você!

— E ele estava fazendo algo diferente?

 

A linha sendo aberta os chamou atenção.

 

“- Dig falando. Eu e Sara conseguimos algumas coisas, mas sugiro que saímos daqui. Estão desconfiando que há alguém infiltrado. Escutei uma dançarina aqui embaixo falando com os guardas.- informou John.- Permissão pra sair?”

 

“- Concedia.- permitiu Felicity.

 

Ambos bufaram, e se entreolharam.

— Ferramos tudo, não é?- choramingou Felicity, levando uma mão à cabeça. Oliver suspirou e se encostou à parede, afrouxando a gravata.

— Deixamos o lado emocional interferir em nossas ações. Isso...Ah.- balançou a cabeça.- Isso não podia acontecer.

— Não, não podia.

 

Olharam o cara caído no chão.

— O que fazemos com ele?

— Vamos deitá-lo na cama ali.- sugeriu Oliver.

 

Juntos, ergueram o corpo, o colocando no colchão. Bateram as mãos, se livrando da poeira, e em mais um suspiro derrotado, foram até a saída.

 

A missão fora um desastre.

 

E eles não tinham ideia de como haviam deixado as coisas chegarem tão longe assim.

 

***

 

Tommy não era um cara muito paciente, mas nos últimos dias, o mesmo se surpreendeu com seu alto controle. Não que estivesse sendo fácil, porque não estava. Ver Caitlin todos os dias com seu ex, conversando, se tornando próximos era a pior parte de seu dia.

 

Os dois ainda não haviam tido tempo de conversar.

 

Mas isso não significava que Tommy não sabia quem Ronnie era.

 

Em uma conversa com Felicity, descobriu que, além de ex namorado, Ronnie fora uma das poucas pessoas quais Caitlin realmente havia querido algo sério. Isso explicava sua postura tão abalada na França, assustada.

 

Ela deveria ter amado Ronnie.

 

E Tommy não tinha ideia se ela o amava.

 

Nunca haviam falado isso um para o outro.

 

Ele tinha noção do que sentia. A amava havia muito tempo, mas decidirá não forçar as coisas. Caitlin pediu paciência, e se ele dissesse as três palavrinhas mágicas, poderia assustá-la.

 

Mas ele queria dizer.

 

E não saber qual seria sua resposta o deixava ainda mais deprimente.

 

Tentou soar o mais natural possível com a chegada dos amigos, que vinham de uma festa, mas por suas expressões, não havia sido nada bom.

— Que caras feias. Não conseguiram nada?

— Não havia nada. Isso que foi estranho.- disse Sara, retirando a máscara.- Parecia uma festa estilo cinquenta tons de cinza. Sim, havia muitas pessoas, mas não parecia que havia qualquer um do grupo lá.

— Foi estranho mesmo.- concordou John. Seu olhar caiu em Oliver e Felicity, ambos tensos.- Como foi no andar de cima?

— Nada.- foi tudo o que Felicity respondeu. John encarou Oliver, que desviou o olhar.- Certo. Por que não…

— Aí meu Deus!

 

A voz assustada de Caitlin fez Tommy pular do sofá. A viu descer as escadas, pálida, com a mão nos lábios.

— O que foi?

— Sabem que Ronnie está nos ajudando.

— Como sabem disso?- perguntou Oliver.

— A festa de hoje foi uma armadilha. No momento em que pegaram Amanda sabiam que Ronnie ia se vingar. E quando os deixaram entrar lá hoje…

— Sabiam que não éramos como os outros convidados.-  deduziu Felicity.- Merda.

— Ligaram para Ronnie. Ele está apavorado. Pode fazer besteira e nos colocar em risco. Preciso ir até lá.- caminhou apressada.

 

A movimentação fez Laurel, Ray e Curtis que faziam um lanche na cozinha aparecerem. 

— Espera. E se isso for uma armadilha?- argumentou Tommy, a impedindo de sair.- Ele pode usar você como moeda de troca pela irmã. Não é seguro ir até lá.

— Roy está lá.

— Então. Não tem pra que ir lá hoje.- Caitlin bufou.- Pode ser uma armadilha

— Tommy, por que diabos você está sendo tão super protetor?- perguntou, irritada.- Eu sei me defender.

— Eu sei que sabe. Eu não confio nele.- a viu bufar, o que o deixou chateado.- Mas aparentemente você confia muito nele.

— Ah, por favor.- rebateu, com o tom de voz alterado.- Não me venha com essa. Eu só estou tentando fazer o meu trabalho. Você está agindo como um idiota.- Tommy trincou o maxilar.

Como é que é?- perguntou ríspido.- Me chamou de Idiota?

— Por que você está agindo assim?- gritou.

— Porque eu sou a porra de um Idiota preocupado que ama você!

 

Um minuto de silêncio se fez presente.

 

Todos se entreolharam, chocados. As expressões, antes agressivas de Caitlin, agora estavam surpresas. Seus olhos se arregalaram, os lábios entreabertos, e a voz…

 

A voz simplesmente não saia.

 

Ele havia dito que a amava?

 

Caitlin engoliu em seco, ainda em transe e Tommy, tomado pelo silêncio, sorriu amargamente. A mesma viu a mágoa em seus olhos quando apenas assentiu, e se virou para a plateia, que também os encarava, perplexa.

— Eu vou tomar um banho.

 

E a passos pesados, seguidos por uma porta fechada com força, fizeram Caitlin estremecer. Continuou a olhar por onde Tommy havia seguido, sem saber o que fazer.

— Eu…- tentou se recompor, mas simplesmente não conseguia.

— Vá. E nos atualize.- disse Felicity.

 

Permaneceram quietos, a assistindo sair. Oliver e Felicity se entreolharam, também cansados, e subiram, cada um indo para um quarto. Laurel, que observava tudo, suspirou.

— Certo. Acho que está na hora de intervimos. Está na cara que Tommy e Caitlin não estão sabendo lidar com a situação, e Felicity e Oliver não ficam para trás.

— Quer que eu dê conselhos amorosos?- riu Curtis, com graça.- Eu? O cara que invadiu o casamento do ex? Eu, Laurel?

 

Três olhares seguiram para Sara.

— Eu troquei a mulher que eu amo por um cargo melhor.- simplesmente deu de ombros. Encarou Curtis.- Quer beber e falar sobre isso?

— Eu adoraria.

 

Laurel soltou um resmungo frustrado.

— Só...Só encham a cara logo.- mandou, balançando a cabeça negativamente ao ver os dois saírem contentes, de mãos dadas. Ergueu seu olhar a John e Ray.- Sobrou para nós três então. Eu vou falar com a Lis, e vocês dois…

— Oliver e Tommy.- completou Ray, pensativo.- Não acha melhor eu falar com ela? Sabe, você é mais brava. Não que isso seja algo ruim.- se apressou em dizer, ao vê-la arquear as sobrancelhas.- Quer saber, está ótimo. Falamos com Oliver e Tommy.- John riu, balançando a cabeça.

— Laurel é bem brava mesmo, hein?- cochichou.

— Não viu nada.- piscou Ray. Se calou quando a mesma se virou para os dois.

— Só não brigo com vocês dois porque temos uma urgência. Hora de bancar os cupidos.- os três sorriram.

— Que minha experiência com Lyla nos ajude nesse momento.

 

***

Felicity( após um banho demorado, onde se irritou enquanto retirava a maquiagem) permaneceu deitada em seu quarto. Não fora ver Oliver, tampouco ousou se mexer. Estava chateada.

 

Com ela mesma.

 

E com ele também.

 

Não podia somente culpá-lo, afinal, ela também tinha sua grande parcela de culpa no fiasco da missão. Se deixou levar pelas emoções, e quando percebeu, tardiamente, já havia puxado Oliver para bem longe de uma das dançarinas, que o comia pelos olhos.

 

Felicity não gostou nenhum pouco.

 

Sentiu seu sangue ferver, e explodir quando o próprio Oliver interrompeu seu interrogatório. Ele parecia preocupado, e da mesma forma que ela, enciumado.

 

Não conversaram sobre isso depois.

 

E era algo que não estava a deixando relaxar, até porque, não sabia como resolver.

 

Era algo...Novo.

 

Que estava a tirando do sério.

 

Dois toques na porta a fizeram erguer a cabeça. Laurel entrou com uma xícara de café, se sentando na ponta da cama. A entregou o copo em um sorriso compreensivo, e esperou que bebesse. Felicity suspirou, e ao fechar os olhos, sentiu a (que em sua opinião, logo após o vinho) bebida dos deuses descer por sua garganta.

— Melhor?- perguntou Laurel.

— Café sempre melhora tudo.- sorriu.- Oliver…- hesitou.- Onde Oliver está?

— Acredito que no quarto.- os olhos de Laurel se tornaram observadores. Limpou a garganta antes de continuar.- Missão difícil?

 

Felicity não respondeu.

— Lembra da nossa primeira equipe? Aquela em Star City.- Felicity assentiu, nostálgica.- Quando eu e Ray vivíamos flertando.

— E nenhum dos dois assumia nada.- riu, saudosa.- Bons tempos.

— Não assumíamos, e nas missões de campo sempre íamos juntos, aborrecendo um ao outro.- sorriu.- Tudo mudou quando resolvemos, finalmente, ter algo.

 

A loira se arrumou na cama, já sabendo o que a esperava. Notou o semblante da amiga, que carregava, naquele momento, uma seriedade notável. Seus olhos sábios a instigavam a fazer a temida pergunta.

 

Tomou um tempo até fazê-la.

— Como...Como lidaram com isso?- murmurou.

— Não é fácil.- sorriu.- A preocupação fica evidente. Você não consegue se concentrar. Seus pensamentos pertencem somente a…

— Ele.- completou, esfregando o rosto.- Não sei lidar com isso Laurel. A preocupação, o ciúme…- suspirou, irritada.- O que eu tenho que fazer?

— Vai ter que confiar nele, e que no final tudo vai acabar bem.

 

Confiança.

 

O que a tanto tempo os separou, se tornou, incrivelmente, algo que iria os juntar. Tomou mais um gole do café e segurou em sua mão.

— Obrigada.

— Sempre que precisar.- beijou sua testa.- Bom, eu vou…

— Ray está fazendo a mesma coisa por aí, não é?- Cruzou os braços, erguendo uma sobrancelha.

— Não tenho ideia do que está falando.

 

E entre um riso, Laurel se foi, a deixando mais leve. 

 

Confiança.

 

Será que Oliver conseguiria fazer isso também?

 

***

A situação caótica no andar abaixo não parecia os ajudar muito. Enquanto Sara e Curtis riam, com suas taças de vinho ao redor dos computadores, Oliver e Tommy pareciam ter mergulhado em um mar de desolação. O moreno, que ocupava o sofá maior da sala ao lado do bar, lançava olhares mortíferos a cada “risinho” ecoado. Já Oliver, cobria o rosto com as mãos, uma hora ou outra também se remexia.

— Acho que nunca fui um apreciador do silêncio como gostaria de ser agora.- reclamou Tommy.

— Olha quem fala.- cutucou Oliver, sem se dar ao trabalho de olhá-lo.- É pior que eles.

— Esse é seu jeito de me consolar?- Oliver afastou as mãos do rosto a tempo de ver o sorriso do amigo.

— Como pode notar, hoje não consigo consolar ninguém.

 

Um suspiro pesado escapou de seus lábios.

— Estamos na fossa, não estamos? Eu por Caitlin, você com a Lis…- murmurou.- Mas que dupla.

— Dois imbecis.

 

O comentário de John os chamou atenção. Dig empurrou as pernas de Tommy para o lado e se sentou em um movimento brusco, enquanto Ray, sempre educado e elegante, puxou a poltrona, colocando na mesinha de centro quatro garrafas de vidro.

— Por que isso está me parecendo um clube de conselhos?- perguntou Tommy.

— Não parece, é um.- respondeu Oliver, se sentando no sofá.

— Somos só amigos jogando conversa fora.- Ray sorriu cúmplice, abrindo sua cerveja.- E amigos falam sobre tudo. Desapontamentos.

Relacionamentos.— Dig também se serviu.

— Vieram aqui para falar que estamos errados, e que, quando se trata de mulheres, homens nunca sabem o que estão fazendo?- disse Tommy, aceitando a cerveja.- Não são palavras minhas, mas sim do The Rock

— Algo do tipo.- sorriu John.- Precisam ter paciência. Os dois.

— O ex dela está aqui. Quase não conversamos nos últimos dias. E quando eu finalmente digo o que sinto…

— Você não falou, gritou.- corrigiu Ray.- E o que esperava? Em uma discussão você fala uma coisa dessas?

— Sei que foi a Paris com ela. Ela deve ter lhe contado.- a voz de Tommy havia assumido um tom mórbido.- Acha que ela…

— Não, Tommy. E deveria ter mais fé nela. Vocês dois.

— O que quer dizer?- questionou Oliver.

— Relacionamentos são complicados. Pessoas são complicadas, especialmente em nosso meio.- comentou Dig.- Minhas primeiras missões com Lyla foram terríveis. Quase perdemos uma operação por uma discussão. Eu não gostava de vê-la em perigo, não gostava de vê-la se arriscando no meio de criminosos. Mas esse é o nosso trabalho.- enfatizou.- E da mesma forma que temos que lidar com isso, elas também lidam conosco.

 

Oliver parou para refletir. De fato, Felicity pareceu bem incomodada aquela noite. A forma como se intrometeu…

 

Da mesma forma que ele se intrometeu…

 

Olhou para John, cansado.

— Vocês sabem do que são capazes, sabem do que elas são capazes.- continuou Dig.- Não, não é fácil ver as pessoas que amamos em risco, mas precisam ter confiança, e como Ray disse, fé.

 

Ambos assentiram em silêncio.

— Convivo com aquelas duas há anos.- sorriu Ray.- São bravas?

— Com certeza.- responderam juntos, soltando um riso baixo.

— Mas as amamos, não é mesmo?

— É sim.- Oliver sorriu.

— E Tommy.- chamou Ray.- Sobre Ronnie...Não esquente a cabeça com isso.- o moreno assentiu.- Pense como está sendo complicado pra ela tudo isso. A dê tempo.

 

Tommy suspirou, e no momento em que abria os lábios, passos apressados descendo as escadas o calou. Laurel descia com Felicity, que continha o celular no ouvido, falando com Roy.

 

Oliver se pôs de pé imediatamente.

— Certo...O que mais disseram?- perguntou Felicity.- Gravou a ligação? Excelente Roy!- sorriu, orgulhosa.- Quero que você e Caitlin instrua ele. Vamos nos virar aqui...Também te amo.

 

Com um sorriso empolgado, a ligação foi encerrada.

— Novidades. Aparentemente nossa ida a festa de máscaras não foi tão ruim assim. Ligaram para Ronnie e marcaram um encontro.

— Os seis vão estar lá?- questionou Oliver.

— Vão sim. Inclusive Amanda. Aparentemente querem barganhar com Ronnie.

— Ele por ela?- disse Sara.

— Um de nós. E já sabemos quem vai ser. Mas de qualquer forma, precisamos nos preparar. Ou seja…

— Chega de álcool.- repreendeu Laurel.- Vocês também.- apontou para o quarteto. Ray sorriu.

— Seu desejo é uma ordem, amor.- piscou para os demais, que sorriram discretamente. Felicity notou a piada interna, pois arqueou uma das sobrancelhas para Oliver, que sorriu.

— Vamos ao trabalho.

 

***

 

À noite, carregada de atividades e conversas, logo deu lugar aos primeiros raios solares. A equipe, agora focada, montava estratégias de como é quando poderiam pegar o grupo parisiense. Eles encontrariam Ronnie, esperando em troca algum agente federal em uma forma de moeda de troca, a usando para dar início ao ataque à sede do FBI. Precisaria ser real, sem deixar para segundas interpretações a ação de Ronnie, e, devido a isso, assistiriam a cena de longe.

 

Até terem ordem para se mover.

 

Caitlin permaneceu no apartamento, ajudando Ronnie em tudo o que precisava. O moreno notou sua forma aérea desde que havia chegado, a observando uma vez ou outra.

 

Mas não descobriu nada.

 

E isso estava o irritando.

 

Estavam agora, perto de entrarem em cena, apenas aguardando o sinal.

— E pronto. Coloque isso aqui.- o entregou à escuta.

— Pode colocar em mim?- sugeriu sugestivamente. Caitlin revirou os olhos.- Desculpe. Achei que passando um tempo juntos poderíamos…

— Eu sei o que pensou.- sorriu Caitlin.- A última vez que nos vimos não acabou muito bem.

— Eu estava magoado. Você mentiu pra mim sobre quem era. E quando eu descobri que era uma agente…- suspirou.- Fui um Idiota. Perdão.

— Tudo bem.

 

Ronnie então se aproximou. Se pôs em frente a Caitlin, e quando tentou segurar seu rosto, teve suas mãos afastadas. A lançou um olhar confuso.

— Deixa eu ser mais clara. Eu perdoo você. Precisamos disso para seguir em frente, e eu quero muito seguir em frente.- Ronnie assentiu.- Tenho uma pessoa agora. Uma pessoa que…- sua voz falhou ao se lembrar dos últimos acontecimentos.- Eu tenho alguém que amo muito, e não poderia estar mais feliz. Ele só precisa saber disso

— Eu entendo.- disse pensativo.- O agente. Ele é um sortudo. Você merece uma pessoa boa.- Caitlin sorriu.- Bom…-limpou a garganta.- Deixa eu terminar de me arrumar então.

 

A linha em seu ouvido foi aberta, e Curtis a deu o sinal. Seguiu com Ronnie pelo o que parecia ser uma área industrial abandonada na cidade de Nova York, agora longe de Manhattan.

 

Estavam no Brooklin.

 

Totalmente fora da rota traçada até então, na busca do grupo parisiense.

 

Permaneceram em silêncio, até que finalmente, Ronnie retirou a arma de sua cintura, a apontando para Caitlin.

— Cala boca e anda.- rugiu, a puxando pela cintura.

— Você é um grande filho da puta, não é?- Caitlin entrou no jogo.- Depois de tudo ainda teve coragem de me trair?

— Não deu certo na França, e não daria certo aqui. Federais são pessoas nocivas no meu meio, e por mais que eu adore passar noites em claro com você…

— Olhe o que vai dizer.- o repreendeu em um suspiro, trincando os dentes.

— A escutando me chamar, e dizer que me ama.- continuou.- Há coisas que não podemos deixar de lado. E você, agente Snow, é uma delas. Eu quero minha vingança. Vingança por a porcaria de um ano ter sido completamente enganado por você, e ainda viver sob a constante ameaça de ser preso porque eu compartilhei meus segredos com uma agente do FBI. Que dormi com uma…

— Ronnie…

— Uma mentirosa que pede tempo as pessoas porque não consegue sentir nada por…

 

Uma cotovelada o fez calar a boca. Caitlin se afastou, irada e ofegante, enquanto Ronnie cuspia sangue e...Sorria?

 

 - Nada mal. Agora podemos enganá-los.- limpou o nariz, que ainda sangrava.- Queria realidade, a dei realidade.

 

“- Ele é bom.- comentou Tommy, que assim como os demais, assistia e escutava tudo. Um sorriso brotou em seus lábios antes de chamá-la.- Belo golpe Snow.”

 

De longe, a viu sorrir, e levar a mão ao peito. O moreno fez o mesmo e fechou os olhos.

 Oliver sorriu com a cena, e ao olhar para o lado, na outra ponta do teto na fábrica em que aguardavam infiltrados, viu Felicity, concentrada, com sua arma engatilhada, observando o chão.

 

Ela ficava linda como agente— pensou.

 

Mas os sentimentos tiveram que ser postos de lado. Vozes no primeiro andar os deixaram em alerta. Ronnie e Caitlin continuaram sua encenação pela rua, até finalmente entrarem na fábrica, onde o grupo parisiense estava. Os olhares de Anna Smith e Simon Anderson cintilavam ao vê-los.

— Olha só se não é nosso traidor.- debochou Anna.- Ronnie Raymond. Ainda trouxe a namoradinha?

— Contou para eles?- sussurrou Caitlin.

— Foi um tempo difícil.- foi tudo o que respondeu. A apertou mais contra si.- Onde está minha irmã?

— Amanda? Ah, por aí.

 

“- Visualização do alvo ao norte.- informou Sara em outro ponto.- Dois membros do grupo estão com ela.”

 

“- Aguarde em sua posição.- disse Felicity.- Status.”

 

“- Tenho boa visualização da ação principal.- disse John, se referindo a Caitlin.- Dois membros na mira.”

 

“- Tenho de um. Ele parece bem armado.- Comentou Curtis, empolgado.- Posso usar minhas esferas-T neles?”

 

Um não uníssono preencheu a linha.

 

—Fico com a arma então.”

 

“- Harper. Tudo certo por aqui. Aguardando com a agente Lance autorização.”

 

“- Queen na linha. Se preparem para a abordagem. Efetuação da ação em dez segundos.”

 

Se posicionaram. A contagem foi feita,e no momento em que Sara e Roy saíram de seus esconderijos e gritos foram ouvidos, a movimentação começou. Oliver e Tommy pularam os degraus da escada enquanto desciam, enquanto Felicity e Laurel desistiram dos últimos degraus e pularam o corrimão. Caitlin, que estava na linha de fogo, protegeu Ronnie, sem antes dar uma rasteira em Anne. Tommy a segurou por trás, piscando para Caitlin enquanto retirava as armas da criminosa.

— Essa já era.

 

Simon tentou correr, mas fora parado por Oliver. Felicity viu a luta corporal dos dois. Sentiu sua espinha gelar por Oliver estar tão perto do cano da arma, o coração acelerar pelo o golpe que levara, e a respiração…

 

Se concentrou na respiração.

 

Confiança. Era isso que precisava ter.

— Ele tem uma faca!

 

Seu aviso ajudou Oliver a imobilizá-lo, vendo o metal cair no chão. Seus olhares se encontraram, e o mundo parou, onde ambos apenas sorriram. Até Felicity se virar, e derrubar outra mulher, que a pouco estava com Amanda e agora fazia de tudo para fugir. Seu golpe fora certeiro, e Oliver, que também aflito, suspirou aliviado.

 

Aquela era sua Felicity, uma das melhores agentes.

 

Ela não brincava em serviço.

 

“- Falta um. Fugindo pelos fundos.- avisou Ray.”

 

“- Eu pego esse!”

 

Curtis se jogou ao criminoso, fazendo ambos caírem com brusquidão no chão de pedra frio. A dor era constante, mas ao verem seu sorriso, notarem que não poderia estar mais feliz.

— Peguei! Haha!- comemorou.

 

Amanda, uma jovem de cabelos pretos e longos correu até Ronnie, abalada, acompanhada por Laurel e Roy. Os viram dar um abraço emocionante, tentando se acalmar.

— Eles…

— São incrivelmente parecidos.- concordou Roy, com o cenho franzido.- Os cabelos curtos, altura, cor da pele…

— Cabelos curtos?- se virou Laurel, confusa.- Mas de quem diabos você está falando?

— Tommy e Ronnie.

 

E em uma análise chocante, que a deixou de queixo caído, um riso a escapou.

— Aí meu Deus. Caitlin tem um tipo.

 

***

 

A missão fora, incrivelmente, concluída com sucesso. O grupo parisiense, embora fosse interesse pessoal do FBI, teve que ser submetido, por tempo não estimado, a interrogatórios com a A.R.G.U.S. Claro que, devido a rixas entre as duas agências, Watson não aceitou o pedido de Waller de bom grado. No entanto, teve que concordar que o grupo era uma ameaça em potencial quando se tratava de ataques cibernéticos, e ambas precisavam ter conhecimento dessa tecnologia. Ronnie(mesmo sendo um criminoso) teve, aparentemente, sua ficha limpa com o FBI, o deixando assim, livre para tentar a  vida como cidadão. Sua irmã ainda se encontrava bem abalada, e agradeceu a equipe de agentes pelo resgate. Caitlin( que fora reconhecida pela mesma) foi uma das que mais recebeu agradecimentos, tanto de Amanda quanto de Ronnie.

 

Ronnie.

 

Caitlin agora falava esse nome sem preocupação.

 

Mas ainda precisava resolver as coisas.

 

Agora na base, deu dois toques leves na porta, encontrando um Tommy ainda com as roupas de campo. Terminava de tirar suas armas quando olhou para trás, e sorriu ao vê-la. Indicou a cama para que se sentasse enquanto desabotoava o colete. Caitlin esperou pacientemente. O viu retirar os equipamentos para escuta, comunicadores, e mais armas que geralmente colocavam no calcanhar. Ao finalmente terminar, se sentou ao seu lado, e olhou para o chão.

— Deu tudo certo no final.- comentou após um tempo, quebrando a tensão. Tommy ergueu o olhar e assentiu.

— Mandou muito bem lá hoje.- disse em tom baixo. Caitlin sorriu.- Foi um belo golpe que o deu.

— Você deve ter amado, não é?- brincou. Tommy sorriu de forma preguiçosa.

— Talvez.

 

Se entreolharam em silêncio.

— Tommy…- começou, sem saber como dizer.- Sobre o que você disse…

— Não quero que fale pra mim por obrigação.- a interrompeu, sério, tão sério, que Caitlin tentava se recordar quando fora a vez que o viu assim.- Que se sinta forçada de alguma forma…

— Tommy.- o cortou. Seu chamado bastou para que o deixasse calado. Agradeceu pelo olhar.- Certo. Como eu ia dizendo…- limpou a garganta.- Sobre o que você disse, eu não respondi porque fui pega completamente desprevenida. E como não? Você simplesmente jogou isso nos ares!- gesticulou, o vendo soltar um sorriso tímido.- E eu não julgo você. Sei que me aguentar com Ronnie aqui não foi fácil. Principalmente porque não expliquei a história.

— Eu…Eu sei quem ele é.-ousou comentar. Seus ombros estavam rígidos, e a voz, sempre confiante, não passava de um temeroso sussurro.- Ronnie Raymond. O cara da França. O único que fez você, um dia, quase desistir de tudo isso pra ter uma vida normal.

 

Havia medo ali. Em cada frase formada.

 

Caitlin percebeu. Se aproximou mais.

— Ele foi importante pra mim em uma época. Achei que ele era o certo. Estava apaixonada, e tudo o que eu conseguia ver era o quão felizes éramos juntos…- balançou a cabeça.- Paixão deixa as pessoas idiotas. E eu vi que era uma quando ele me chutou por ser agente, e que era a merda de um criminoso.- sorriu amarga.- Tão idiota.- se xingou. Tommy continuava a observá-la, inexpressivo.- Sim, Ronnie foi importante para mim, não vou mentir pra você.- encarou profundamente seus olhos azuis.- Mas era paixão, algo passageiro. Passou.

 

Seus dedos se entrelaçaram, conectando um ao outro.

 

Tomaram um tempo para continuar.

— Quando eu vejo nós dois…- comentou em tom baixo.- Tudo o que passamos, desde encontros com ex malucas- riu com graça, o deixando mais leve- até nosso primeiro beijo, nossa relação diária…- suspirou.- quando vejo tudo isso, eu sinto, eu sei- enfatizou- que não é algo passageiro. E sei que a cada dia eu quero viver mais desses momentos com você.- sua voz falhou.- Então sim, seu bobo, eu amo você.

 

Caitlin enfim soltou o ar, e sorriu. Tommy estava quieto, muito quieto, e parecia… Pálido? Arregalou os olhos, em pura preocupação, até notar que seus olhos estavam vermelhos.

— Thomas Merlyn…- tentou controlar o riso.- Você está chorando?

— O quê?- se apressou em limpar o rosto com a camisa.- Claro que não! Por que eu choraria? Porque a mulher da minha vida acabou de fazer a maior declaração de afeto que alguém já fez pra mim? Ou porque…- a viu arquear uma sobrancelha.- Certo eu estou chorando.- confessou.

 

Caitlin riu e o trouxe para perto, também chorosa. Tommy tomou seus lábios com voracidade, e ao mesmo tempo, cheio de paixão. Não paixão.

 

Amor

 

E ele a amava tanto.

 

Amava sua implicância, seu jeito responsável e o humor frio. Amava cada detalhe daquela mulher, que com o tempo, tomou seu coração. Era como se sentir pela primeira vez em casa. Uma forma de amor que nunca experimentara, mas agora, ao tomar o primeiro gole, havia se tornado um completo viciado.

— Eu te amo. Muito.- sussurrou em seu ouvido.- Me desculpe por ter falado daquela forma. Eu estava desesperado com seu possível romance parisiense e acabei surtando…

— Eu sei.- sorriu compreensivamente.

— O meu jeito de falar não foi romântico, e jamais chegará aos pés do seu.- a fez sorrir.- Mas quero que saiba que eu não poderia estar mais feliz. Sempre perdi as pessoas que amo. Minha mãe.- Caitlin apertou sua mão.- Meu pai.- sorriu frio.- Não queria perder você também.

— E não vai. Não vou a lugar nenhum.

 

***

 

Felicity mexia preguiçosamente um chocolate quente no fogão. Missões tendiam a ser cansativas, e nada melhor que uma bela bebida quente para acalmar os ânimos. Seus instintos, treinados para sentir o mínimo de movimentação possível a avisaram que não estava sozinha. Esticou a mão para o lado, sem deixar de manter a cabeça para frente enquanto tateava uma faca na pia. Seus amigos, até onde se recordava, haviam ido dormir. Não havia ninguém.

 

Aparentemente estava enganada.

 

Achou a faca, e disfarçou a postura tensa. Estava cozinhando, relaxada. 

 

Prendeu a respiração ao novamente notar alguém se mover.

 

Suas mãos se fecharam. Aguardou até que estivesse suficientemente perto, e ao finalmente ver a figura, se virou com agilidade. Oliver deu um passo para trás, surpreso com a ação repentina.Um sorriso orgulhoso brotou em seus lábios ao ver que Felicity deixara, a centímetros de seu pescoço, o metal afiado. Os olhares se cruzaram, antes tensos, agora relaxados.

— Mas que jeito de fazer as pazes.- provocou. Felicity sorriu e abaixou o braço.- Seus reflexos estão ótimos.

— Nunca deixaram de ser.- falou soberba, piscando.

 

Oliver riu e se encostou na mesa, a vendo ir até o fogo e desligar o leite, que agora fermentava. Se virou para o loiro, e em silêncio se observaram.

— Me desculpe pela festa.- pediu Felicity, cansada.

— Me desculpe também.- falou no mesmo tom. Oliver coçou a cabeça, angustiado.- Isso é novo pra mim também, Lis. A preocupação…

— É a pior parte.- completou.- Hoje quando te vi lutar…- um calafrio a percorreu.- Céus, parecia que eu não conseguia respirar.

— Fiquei assim na festa também. Achei que ele pudesse se aproveitar de você, te machucar.— um brilho raivoso cintilou em seus olhos.- Não suportaria ver isso.

 

Felicity o lançou um olhar cheio de compaixão. E sendo um reflexo um do outro, ambos sentiram o receio, angústia, e medo daquelas situações.

— Vamos aprender a lidar com isso.- sua frase não soou incerta dessa vez, ao contrário, havia tanta certeza que Oliver simplesmente assentiu.

— Como tem certeza?

— Porque nos completamos. E porque…- seu peito se apertou, emocionada após muito tempo poder verdadeiramente dizer aquilo.- E porque confiamos um no outro.

 

Confiança.

 

Oliver parecia ter perdido a capacidade de falar. 

 

Esperara tanto tempo por aquilo, tanto que achou que jamais passaria de mais um de seus sonhos. Engoliu em seco, e com os olhos pouco marejados, a puxou, se enterrando em seu pescoço. 

— Eu também confio em você Lis.- sussurou.- Claro que dá medo, mas sei exatamente do que a mulher que eu amo é capaz de fazer. E sei que ela é perigosa.- Felicity riu, passando sua mão por seus cabelos.- Você fica terrivelmente bela enciumada, sabia disso?- provocou.

— Continue falando isso e vai dormir sozinho hoje.- Oliver abafou a risada, e a soltou antes de mordê-la.- Já vai dormir?

— Vou só resolver umas coisas sobre a missão. Nada demais.- Felicity assentiu, pegando sua xícara.- Te vejo daqui a pouco?

— É melhor mesmo.

 

Seu aviso o deixou com um sorriso bobo. A esperou subir, e ao finalmente se certificar que o andar abaixo estava de fato vazio, seguiu para a sala de reuniões. Três olhares avaliadores o observavam da cabeça aos pés. Oliver limpou a garganta, nervoso antes de fechar a porta.

— Qual era a emergência?- Questionou Caitlin. Sentada no sofá assim como as demais.

— E por que a Lis não poderia nos ver?- disse Sara.

— Preciso da ajuda de vocês três. E preciso que sejam o mais discretas possível.- pediu.

— O que quer fazer?- perguntou Laurel, desconfiada.

— Eu e Felicity estamos precisando de um tempo sozinhos. Realmente sozinhos.- um sorriso ansioso brotou em seus lábios.- Devido a isso, quero fazer uma surpresa. E eu sabia que não haveria pessoas melhores para me ajudarem a colocar esse plano em prática do que vocês.

 

As três sorriram, animadas, e em um olhar cúmplice, assentiram em concordância. Caitlin arrumou a postura, como se estivessem realmente em uma reunião e perguntou:

— Qual é o plano?







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Notas finais do capítulo

Eu já estou tão ansiosa para escrever o próximo! Só avisando que o capítulo seguinte será focado inteiramente em Olicity, trazendo uns mimos desse nosso casal maravilhoso para vocês, já que merecem.

Comentem muitooooo! Beijos e até a próxima atualização❤️



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