Sweet and bitter love escrita por Ka Howiks


Capítulo 17
Filhos


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Como estão? Bom, vamos lá. Primeiramente, gostaria de agradecer a quantidade exorbitante de acessos, realmente levei um susto quando vi a quantidade de pessoas kkk. Segundamente, perdão pelo atraso, confesso que no último mês eu não estava no meu melhor momento( aconteceram algumas coisas que me desanimaram, mas já estou bem) e isso acabou me atrapalhando um pouco, sem contar com os meus outros deveres, então peço minhas sinceras desculpas pelo sumiço. A parte boa é que já tenho muitas ideias pro próximo capítulo( que conterá coisas bem importantes, como a introdução de um novo personagem que eu estava louca para começar a escrever ).
Sobre o capítulo: No passado as coisas começam a se desenvolver, e no presente, os arcos principais serão entre Ray, Laurel e o nosso casal principal, além de uma revelação :)
Boa leitura ♥



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Star City 2015

 

Uma semana depois 

 

O FBI estava uma verdadeira confusão.

 

O incidente envolvendo o projeto Archer foi abafado por Watson, que escolheu pessoas a dedo para continuarem a investigação. Agora mais do que nunca, a atenção estava voltada para dentro da própria agência, afinal,  havia um intruso, qual até o momento continuava sem identificação. A equipe também se encontrava mais tensa, Palmer lamentava o ocorrido, entretanto, parecia aliviado com o fato de que a raiz do programa estava com Felicity em casa, Watson concordou que mantê-lo lá seria a mais viável opção no momento. Felicity caminhava até o estacionamento, exausta. Destravou o carro e no momento em que se preparava para entrar o toque do telefone a distraiu. Continuou em pé, se encostando na porta traseira enquanto vasculhava seus pertences até encontrá-lo. Suas sobrancelhas se juntaram, desconfiadas ao ler o visor.

 

“ Número privado”

 

Ótimo.

 

Mais essa.

 

 Suspirou fundo quando atendeu, aguardando a voz. Se irritou com sua demora.

 

“ - Eu escuto você.- informou sem paciência.- Quem é?”

 

“- Agente Smoak.- pronunciou a voz feminina com prazer.- Até que enfim conversamos.”

 

“ - Quem é você?”

 

“- Digamos que uma amiga.- falou calma, Felicity bufou.- Quero ajudá-la.”

 

“ - Não confio em estranhos.”

 

“- Confia nas pessoas erradas.- contrapôs. Felicity entreabriu os lábios.- E é exatamente por isso que precisa de mim, sei de coisas, informações que mudariam totalmente o rumo de sua investigação sobre China White, abriria seus olhos para muita coisa.”

 

“- Como tem conhecimento da nossa operação?”

 

“- Tenho conhecimento de muita coisa, inclusive informações privilegiadas que precisam.- suspirou.- Escute bem agente Smoak, há situações acontecendo, situações que podem colocar não só as pessoas desta cidade em risco, mas do mundo inteiro. Você sabe melhor que ninguém que China White é perigosa, e que sua operação não é tão simples. Há pessoas tentando derrubá-la, destruí-la, teve a prova disso na última semana.

 

“- Como sabe…

“ - O que eu quero dizer Felicity, é que se quiser mudar as coisas precisa confiar em mim.- enfatizou.- E não poderá contar dessa nossa conversa a ninguém. Você está dentro ou não?”

 

Felicity suspirou, pensativa. Era estranho se sentir tentada a confiar em uma voz misteriosa, que certamente poderia ser uma armadilha. Porém, sua conversa com Watson clareou sua mente, alguém queria derrubar Watson e estava a usando por isso.

 

Então por que não aceitar?

 

Ela tinha informações privilegiadas, e por mais que odiasse admitir, seu ciclo de confiança estava diminuindo.

 

Precisava arriscar.

 

“- Essa voz deve ter um nome.- comentou, a mulher pareceu aliviada.”

 

“- No momento me chame de T.- respondeu simpática.- Devo considerar isso como um “sim”?

 

“- Deve.- suspirou.- Quando vamos nos encontrar?”

 

“-Aguarde, no momento certo entrarei em contato. Boa noite agente.”

 

“- Boa noite.”

 

Se sentou no banco atônita, ao que parecia, suas apostas estavam sendo feitas em uma pessoa qual o nome era nada menos que apenas uma letra.

 

Ótima informação.

 

Tentou se concentrar na estrada, batendo as unhas no volante. Subiu no elevador, se encostando nas paredes na tentativa de sustentar seu peso, já que se encontrava exausta. No momento em que abriu a porta teve um choque ao sentir braços a abraçando. Olhou confusa para William, que sorria animado com sua chegada. Ergueu o olhar até Oliver, que os observava de longe, sorrindo, Fechou os olhos com força. Era seu final de semana com William.

 

Havia esquecido completamente.

 

— Oi!- o abraçou.- Como você está? Pela energia seu pai deve ter dado muito doce pra você, não é?

 

— Claro que não.- mentiu, seu olhar caiu no pai, que riu com sua tentativa falha de piscar.- Talvez um pouco.

 

— Tá.- concordou descrente, o dando um beijo na cabeça, caminhou até o balcão, colocando sua bolsa.- Juraria que Thea estaria aqui.

— Thea teve um problema.- respondeu Oliver em tom baixo, Felicity se aproximou, preocupada.- Quase foi assaltada.

— O quê?- quase gritou, abaixou a voz.- Ela está bem?

— Sim.- suspirou aliviado, Felicity passou seus braços até o pescoço do esposo, o trazendo para perto. - Um cara a salvou, ela não explicou bem

 

— Esse cara tem um nome?

 

— Tem, mas Thea não sabe, típico clichê.- revirou os olhos, passou seus braços ao redor de sua cintura.- Não era policial.

 

— Temos um vigilante então?- perguntou com graça. Oliver deu de ombros.- Devemos agradecer a ele de qualquer forma, um dia.

 

— Um dia.- concordou, a analisou com atenção.- Parece cansada.

 

— Muita coisa vem acontecendo.- suspirou, encostou seu rosto no peito de Oliver.- Esqueci que William vinha hoje, desculpe.

 

— Tudo bem.- sorriu levando sua mão até os fios loiros, os acariciando.- Ele estava animado pra te ver.

 

— Vou ficar com ele.

 

— E eu vou terminar o jantar.

 

Partilharam um sorriso de canto, os encostando em um beijo breve. Oliver os assistiu jogar, rindo de suas travessuras ao tentar sabotar um ao outro. Terminava de mexer o seu nhoque, um dos pratos favoritos da esposa desde sua viagem à Itália, a bela e charmosa Positano. A menção do lugar que havia sido palco de sua lua de mel era o bastante para fazer seu corpo arder. Fechou os olhos, se policiando, seu filho estava bem ali, não era bom ter pensamentos impróprios. Um barulho chamou atenção. Desligou o fogo e caminhou até a sala, encontrando Felicity e William parados, olhando para a varanda, não teve tempo para reagir pois no momento seguinte, pedaços de vidro se espatifaram pelo chão, dando visão a três encapuzados e bem armados homens. Oliver ergueu os braços, os encarando friamente.

 

— No chão os três, agora!

 

Oliver se agachou com calma, olhando para Felicity e William que faziam o mesmo. Barulho de objetos sendo quebrados os assustaram. Um dos homens se aproximou, parando em frente a Felicity, que continha os olhos baixos.

 

— Agente Smoak.- a chamou.- Onde está?

— O quê?

 Que – Alguém parece que está se fazendo de surda.- comentou com humor, Seu corpo se curvou, segurando com força seus cabelos em um rabo de cavalo.

 

— Se machucar ela é um homem morto.

 

A voz de Oliver ecoou como um alerta aos outros dois, seus rostos poderiam estar cobertos porém os olhos, ainda visíveis pelos panos, transmitiam tensão. Um dos homens fez um sinal discreto, puxando a blusa, revelando um nome.

 

A.R.G.U.S

 

Não teve tempo para absorver, pois seus olhos foram atraídos pelo grito da esposa, que continha os olhos fechados, sentindo o metal gélido encostar em sua bochecha. O ódio que sentiu, ao assisti-la chorar nas mãos do agente quase o fizeram se levantar. Seria fácil detê-los, o agarraria por trás, usando seu corpo como forma de escudo para os outros disparos. Pegaria sua arma e como um lampejo, os outros dois teriam seus corpos caídos, com sangue jorrando às suas voltas. Oliver parecia se contentar com isso.

 

Sentiria prazer.

 

Entretanto, ao encontrar o olhar de súplica do filho, em um claro socorro, acordou para a realidade. Não poderia fazer aquilo ali.

 

Pelo menos não agora.

 

O homem se afastou de Felicity, mirando em William, sua ação a deixou histérica.

 

— A loirinha precisa de um incentivo.- falou com humor.- Onde está a porcaria do projeto agente Smoak?

 

— Felicity, fale.- pediu, desesperado para que o pesadelo chegasse ao fim.- Lis…

 

— Tire a arma dele!- berrou, William respirou fundo, abafando um soluço.

 

— É sua escolha agente, ou o projeto, ou…

 

— Primeiro quarto à esquerda. Agora tire essa porcaria dele!

 

— Subam, e sem gracinha.- a advertiu.- Não está em negociação.

— Vai pro inferno.

 

O homem deu um passo, mas no momento em que olhou para trás, encontrando o olhar gélido, quase mortífero que Oliver o lançava, recuou, sentindo o aviso que o agente o mandava. Mais objetos foram quebrados no andar superior quando passos foram ouvidos na escada novamente. Um dos agentes, mais baixo, carregava o notebook de Felicity consigo, fazendo sinal para o que deveria ser o chefe, certificando de que estava certo. O homem voltou a olhá-la, satisfeito.

 

— Tenham uma boa noite família Queen.

 

Oliver trincou o maxilar com provocação, o examinando cautelosamente. Seguiram até a varanda, onde com a ajuda de cordas desapareceram, era claro que não estavam sozinhos. O soluço de William captou sua atenção para dentro do cômodo, que se encontrava devastado. Felicity o abraçava fortemente, assustada. Oliver se aproximou, os apertando firmemente, como se finalmente conseguisse respirar.

 

— Eles vão voltar?- perguntou William com a voz embargada, Oliver negou, o dando um beijo na testa. Felicity ergueu o rosto, revelando seus olhos vermelhos, parecia querer sua certificação. 

 

— Eles não vão voltar.- garantiu, com o outro braço a trouxe para seu peito, assim como William.- Eu prometo.

 

***

 

Oliver segurava o volante com força, respirando com dificuldade. Felicity e William estavam com sua mãe, abalados, enquanto a polícia interditava seu apartamento. Não soube bem qual desculpa usou, mas quando se deu conta, já cortava sinais de trânsito, possesso, queria encontrá-los.

 

O que segurou Felicity era seu alvo número um.

 

Invadiu a cancela, escutando os xingamentos do guarda, que se calou no instante em que seu olhar caiu em Oliver. Seu olhar frio, dentes cerrados e mãos em punho o amedrontavam, dando passagem para que o agente realizasse seu percurso. A reação não foi divergente no interior, alguns se desviaram de seu caminho, acanhados, Oliver não ligava a mínima.

 

Seu foco estava concentrado em uma coisa.

 

Encontrou dois, ainda com suas roupas do ato ocorrido a horas atrás. Agarrou o primeiro pelo pescoço, o jogando na parede. O homem parecia surpreso, porém bastou notar quem era para engolir em seco. O terror ultrapassou seu rosto.

 

— Quem de vocês apontou uma arma pra minha esposa?- murmurou em tom baixo, seus dentes se cerraram.- Quem foi?

 

— Eu.

 

A voz vinda por trás o atraiu. O outro agente parecia aliviado, já que o foco de Oliver agora não era mais o mesmo, e sim o outro agente.

 

Que o desafiava.

      - Fui eu.- repetiu, cruzando os braços.- O que vai fazer?

 

— Péssima escolha de palavras.

 

Seu punho o acertou em cheio, o fazendo recuar. Não houve muito tempo para um contragolpe, pois no momento seguinte Oliver já o jogava contra a parede, o socando mais uma vez.

 

— Você a tocou.- a cena, tão vívida em sua mente, como um disco arranhado, o fazia encarar o homem à sua frente com desgosto.

 

     Repulsa.

 

     Nojo.

 

Apertou seu pescoço com força.

 

— Acha engraçado agora?- gritou.- Acha engraçado fazê-la gritar?- ergueu seu corpo do chão, e deixando se debater.- Chorar?

 

— Só cumpro ordens.- respondeu com a voz falhada, seu rosto estava pálido, manchado pelo sangue que escorria de seu nariz.

 

— Ordens.- riu com desprezo, seu olhar cintilava em satisfação ao enxergá-lo tão frágil.- Sua ordem era pegar a porra do projeto!- o homem segurou sua mão, em uma tentativa falha de se libertar.- Mas não, você quis ter seu momento de “diversão”.

 

— Me… desculpe.

 

— Tarde demais pra isso.

 

Oliver o soltou, o jogando no chão no momento. Os outros dois agentes continuavam parados, inertes, presenciando a cena de horrores. Oliver sentia seus punhos arderem com o atrito de seus ossos ao acertar o rosto a sua frente, no entanto, ao lembrar que o mesmo estaria sentindo uma dor dez mil vezes pior o fez sorrir, como um psicopata, ele sentia dor.

 

Nada comparado ao que havia feito William e Felicity passar.

 

Executou mais um soco.

 

Oliver se concentrava na própria respiração, descompassada. No momento em que erguia o braço sentiu duas mãos o puxarem, impedindo que terminasse o que pretendia. Seu corpo foi levado para a parede oposta de onde o agente estava. Se debateu, mas ao notar que as pessoas que o seguravam era Tommy e John voltou a ter foco outra vez, escutando a confusão formada. Seu olhar caiu pelo chão, notando o homem ensanguentado que respirava com dificuldade ser puxado com pressa para a área hospitalar. Olhou suas mãos, também manchadas, sentindo a ardência ignorada voltar com força.

 

— Você precisa se acalmar!- falou Tommy que ainda o segurava.- Ficou louco? Você ia matar o cara.

 

— Ele apontou uma arma pra ela, pro meu filho!- esbravejou, John o impediu de sair.

 

— Ele fez o necessário.- escutou a voz calma de Waller, que observava as manchas de sangue espalhadas pelo chão.- Felicity Smoak estava perto demais de obter respostas. Você e Sara estão envolvidos demais, um agente de fora teria uma visão melhor da situação.

 

— Invadiram minha casa Amanda.- comentou exausto.- Com a minha família.

 

— Foi necessário.- repetiu com firmeza.- Vá para casa e descanse, teremos um encontro daqui uns dias com a Tríade, preciso que mantenha o foco.- pediu.- Infelizmente para protegermos quem amamos devemos fazer coisas extremas, e eu espero que agora você entenda isso.

 

Waller saiu, o deixando desolado. Tommy e John o ajudaram a lavar as mãos, se livrando do sangue. Oliver suspirou, se encostando em uma das paredes. Havia falhado, e se por meio segundo a mais, tivesse de fato examinado o notebook de Felicity teria evitado essa situação.

 

Não iria falhar mais.

 

Não os colocaria em risco outra vez.

 

***

 

Atualmente 



   - Direita e um passo pra frente, ok? Como combinamos.

 

    - Certo.

 

   Curtis e Felicity estavam parados no tatame, suados devido à quantidade de exercícios praticados pela manhã. Os treinos continuavam, e  Curtis havia melhorado muito. Recuou um passo, para em seguida se defender da sequência de socos realizados. Curtis se aproveitou de sua concentração para a chutar no joelho, a desequilibrando. Felicity cambaleou para trás, conseguindo equilibrar seu corpo, ao voltar o lançou um sorriso orgulhoso.

 

   - Meus parabéns Holts, você quase me pegou.

 

   - Ainda te derrubo.- brincou se sentando no chão, exausto, Felicity se sentou a uma pouca distância de sua frente.- Céus, eu estou morto.

 

   - Fizemos bastante coisa hoje.- suspirou a loira, enxugando a testa, respirando fundo.- Me sinto um pouco relaxada.

 

    - Relaxada?- repetiu incrédulo.- Sabe que há outras formas de relaxar, né?

 

   - Tipo...?

 

   - Sexo.- respondeu. Felicity arqueou as sobrancelhas.- Uma coisa que você pode fazer e suar ao mesmo tempo.

 

   - Engraçadinho.- falou se espreguiçando.- Mas parando pra pensar não seria uma má ideia.

 

   - Pelo menos você tem alguém disponível, já eu...- lamentou.

 

   - Eu não tenho alguém disponível.

 

   - Aham.- concordou descrente.- Pensa comigo. Você e o Queen, trancados em um quarto, o que aconteceria? A: Ficariam conversando. B: Conversariam e depois fariam sexo?

 

   - A...?

 

   - Claro que não Felicity!- a deu um empurrãozinho no ombro.- Sexo com Oliver deve ser fenomenal.

 

   - Nem me fale- suspirou nostalgica, recordando os momentos em que haviam tido um contato mais...íntimo.

 

    Inclusive um recente.

 

    Engoliu em seco, na tentativa de espantar seus pensamentos. Seus lábios formaram uma linha reta ao observar o chão.

 

  - As coisas não são tão simples assim.

 

   - Eu sei.- sorriu triste.- Eu quase casei, sabia? Então entendo como é o matrimônio.

 

   - Seu ex também levava uma vida dupla?

 

   - Sim, com outro, que por coincidência é o cara com quem ele trocou os votos.- falou amargo.- Agora devem estar vivendo uma vida perfeita em Coast City.

 

   - Seu ex parece um verdadeiro filho da...

 

   - Eu sei.- concordou os fazendo rir.- Mas eu estou bem, só com sequelas, claro.

 

   - Todos temos. E ele não merece você, se precisar de ajuda pra algum dia hackear o celular dele e deixar público as conversas que ele tem com outros caras...

 

   - Que cruel Lis!- a olhou incrédulo.- Eu amei! Somos perigosos juntos.

 

   - Somos sim.

 

   Passos ecoaram pela escada, indicando que alguém descia. Oliver apareceu, com olhos surpresos aos observar sentados no chão.

 

   - O que estão fazendo?

 

   - Falando sobre posições.- respondeu Curtis, Felicity o lançou um olhar alarmado.- Posições de treinamento

 

   O duplo sentido de sua frase estava tão enfatizado que Felicity cobriu a boca, na tentativa de abafar a risada. Suas bochechas queimavam e ao erguer o olhar, notou que Curtis também se segurava para não rir.

 

   - Tá.- concordou Oliver, os observando com atenção.- Parece que já terminaram a aula de "posições'' .- fez aspas, Curtis gargalhou.

 

   - Vocês dois são chefes maravilhosos, sabia?- falou risonho se pondo de pé.- Uma dupla e tanto, e nessa aula...

 

   - Curtis? Sai daqui.- ordenou Felicity, sabendo qual direção suas palavras iriam seguir.- Agora.

 

   - Tô indo, calma.- ergueu as mãos em sinal de redenção.- Vou deixar o tatame só pra vocês, assim podem “treinar”.

 

   - Sai daqui!

 

   Oliver abafou a risada com a postura de Felicity, notando suas bochechas rosadas. Falou a Curtis para ir direto para a sala de reuniões, ao que parecia as informações da nova missão haviam chegado.

 

   - Pedi para John reuni-los.- falou se sentando ao seu lado, a entregando o tablet.- Acabaram de chegar.

 

  - John quer ir mesmo?- perguntou cautelosa.- Achei que fosse querer ficar mais um pouco com Lyla, para se resolverem.

 

   - Lyla já está bem, e pelo o que entendi vai resolver alguns casos locais nos Estados Unidos mesmo. Ao que parece os dois estão caminhando, trabalho a distância é complicado.

 

   - Imagino.- suspirou.- Mas eles vão dar um jeito, se amam tanto.

 

   - John ficou bem feliz por ter cuidado dela.- sorriu.- Mas agora vamos ao caso, dei uma olhada antes.

 

   - Traidor.- brincou, voltando a se concentrar.- Narcóticos é? 

 

    - Pois é.- se aproximou, indicando a linha abaixo.- Esses caras vão começar a encrencar com a gente.

 

   - É a terceira vez que nos intrometemos em um caso deles?

 

   - Por aí.

 

   - Alguém vai ficar bem bravo.- murmurou.- Bom, vamos subir e comunicar as crianças.- brincou, Oliver se levantou.- Pode me ajudar?

 

   - Me parece cada vez mais fácil ganhar de você, com uma aula já está pedindo ajuda.- segurou suas mãos, a puxando para que ficasse em pé.- Por que não desiste logo, Smoak?

 

   - Nem nos seus sonhos.

 

  Partilharam um sorriso, diante das provocações e subiram as escadas, quietos. Ambos estavam mais próximos, mesmo com todas as incógnitas e invasivas. O assunto de Beverly Hills não havia sido mais mencionado, o que foi um alívio, e em certa parte a deixou muito alegre, principalmente por saber o trabalho que Curtis e Oliver tiveram para acobertar seu “incidente” na luxuosa cidade de Los Angeles. Sobre Dardo, no entanto, ainda restavam dúvidas de sua conversa com a caçadora. Ela queria que a agente encontrasse Diaz? Sim. Queria que o matasse?

 

    Aparentemente.

 

   Mas o que tão grave um mafioso estaria aprontando para provocar a ira de um dos caçadores?

 

   Seus pensamentos mudaram de direção assim que puseram os pés na sala de reuniões. Tommy provocava John, como de costume, o fazendo soltar um olhar aliviado ao notar a presença dos chefes na sala.

 

   - Bom, vamos lá. Não sei se o agente Queen adiantou mais alguma coisa pra vocês.- o olhou de esguelha, fingindo chateação. Oliver piscou.- Mas nossa missão se envolverá com a narcóticos.

 

   - De novo?- perguntou Tommy.- Em Star City trabalhei um pouco com eles, e digamos que eles não gostem de intrometidos em seus casos.

 

   - Foi passado pra gente, não tem o que fazer.- falou Felicity dando de ombros.- Principalmente quando se trata de fentanil.

 

   - Fentanil?- perguntou Curtis com as sobrancelhas arqueadas.- Nossa, isso definitivamente parece importante.

 

   - Como sabem, nosso país vem sofrendo uma crise de opioides. Cada vez mais somos notificamos por mortes precoces que sofreram algum tipo de overdose, sendo o principal componente o não tão novo fentanil.

 

   - Uma grama usada com irresponsabilidade pode ser considerada mortal ao usuário, que digamos não tem muita noção de quantidade, principalmente se estiver chapado.- continuou Oliver.- E por passar a heroína e ainda, a morfina, as autoridades começaram a se preocupar com o rumo que as coisas estavam tomando. Agentes da narcóticos vêem analisando o mercado de drogas recriadas, que abastece principalmente o México e a China, gerando um lucro de mais de 1 milhão de dólares. Descobriram recentemente que um desses “laboratórios” fica em Washington, perto das cidades de Seattle e Tacoma.

 

   - Essa droga que é feita lá, passa por outras séries de processos até chegar à mão dos fornecedores, mas sabemos agora sua origem. Semana passada, um membro desse grupo, chamado Rene Ramirez.- visualizou a foto. Um homem que aparentava ter seus trinta anos, branco, cabelos escuros e uma cicatriz em forma de risco, entre o olho esquerdo foi mostrada aos outros agentes.- Foi capturado, mas se recusa a falar. Nossa missão é convencer o senhor Ramirez a cooperar, descobrir quem é a pessoa por trás deste esquema e capturá-lo.

 

   - Informações mais detalhadas serão passadas assim que chegarmos lá, por segurança.- disse Oliver os fazendo assentir.- Arrumem suas malas, saímos pela manhã.

 

   ***

  A equipe aterrissou no chuvoso estado de Washington quase perto do horário do almoço. Suas malas foram encaminhadas para a casa qual ficariam na cidade de Tacoma, há 50 quilômetros da conhecida Seattle. Seu céu estava nublado, avisando que o temporal poderia vir a cair a qualquer momento. Sua grande quantidade de chuva se dava por conta da localização, Tacoma, assim como Seattle, eram banhadas nos dois extremos pelo oceano, o que ajudava na formação de chuvas. 

  Se dividiram em dois carros como de costume, e partiram para o prédio onde o senhor Ramirez estava. As ruas eram sinuosas. Conseguiram ter uma visão do Porto, e no fundo, o Monte Rainier se deixava em evidência, já que era a montanha mais alta do estado de Washington. A natureza continua seu charme em certas partes da cidade, porém, sua falta era perceptível no centro. Felicity e Oliver reliam mais uma vez as informações passadas. Ao que tudo indicava, Rene Ramirez havia se tornado um alvo ativo no mercado de drogas recriadas nos últimos três anos, e uma dessas suas “atividades” ocorreu no aeroporto de Tacoma, onde uma quantidade considerável de fentanil fora apreendida. Não havia aberto a boca desde então, sua ficha de antecedentes não continha registros, para a surpresa de todos, o que acarretou em uma dúvida, por que um homem até então de “bem” se envolveria tão profundamente a um grupo mafioso?

 

   Era de se pensar.

 

  O chefe por trás deste sistema era desconhecido, e as únicas pistas viáveis eram que o laboratório de recriamento estava localizado em algum lugar no estado de Washington, o que tornava cada vez mais importante ter a palavra de Rene como ajuda.  Subiram até o quinto andar do prédio do FBI, encontrando uma mulher alta, de cabelos negros e pele morena os aguardando, trajando um terninho. Oliver fez as apresentações.

 

   - Agente Queen.- estendeu a mão.- É um prazer trabalhar com vocês.

   - Nicolle Durand, narcóticos.- sorriu de forma educada, aceitando o cumprimento.- Vocês são então os queridinhos de Watson? Responsáveis por roubar nossos casos.

 

   - Não queremos roubar nada de ninguém, só ajudar.- explicou Felicity, preocupada.- Nós...

 

   - É brincadeira.- sorriu Nicolle, divertida.- Piadinha da narcóticos.

 

   - Viramos piada pra vocês? Que maravilha.- falou Tommy em tom irônico, Caitlin o cutucou.

 

  - Mas talvez seja interessante ter vocês aqui.- falou a agente sorrindo para Sara.- Pro caso, claro.

 

   - “ Pro caso''— repetiu Tommy divertido.- Sei.

 

   - Me acompanhem.

 

   Um sorriso cúmplice os contagiou enquanto a seguiam, ao que parecia, o papel de diplomacia ficaria com Sara dessa vez.

 

   A loira não pareceu se incomodar nenhum pouco,

 

   Entraram na sala de interrogatórios, familiar pelo uso de vidros que impediam que o preso conseguisse os enxergar. Rene estava sentado, com as mãos algemadas à mesa, parecendo entediado. Durand suspirou.

 

   - Trouxemos ele pra cá na última semana, não falou muito, aparentemente parece que fez a lição de casa direitinho, se é que me entendem.

 

   - Já posso entrar?- perguntou Laurel.

 

   - A vontade.

 

  A assistiram adentrar o cômodo com uma ficha nas mãos. Rene arqueou as sobrancelhas, interessado no que teria a dizer.

 

  - Já oferecemos redução de pena e um valor considerável, se sua amiga continuar a seguir essa linha não vai conseguir nada.

 

   - Ele tem família?- perguntou Caitlin.- Alguém com quem se preocupe.

 

   - Na realidade sim, o nome dela é Zoe, está morando, a nosso pedido, com uma assistente social.

 

   - E a mãe?- insistiu.- Onde está?

 

   - Morta.- suspirou.- Houve um assalto na residência Ramirez há três anos, ela foi uma vítima.

 

   - Que tragédia.- murmurou Felicity, olhando o homem com pena.

 

   - Talvez seja isso.- falou Ray.- Talvez ele queira proteção.

 

   - Um bom ponto.- concordou John.- Avise Laurel.

 

   A agente olhou seu aparelho, recebendo a notificação. Virou a cabeça para o vidro, como se pudesse enxergá-los e mais segura, se voltou para Rene.

 

   - Está perdendo seu tempo moça.- comentou entediado.- Eu não vou falar.

 

   - Nem por sua filha?

 

  Sua pergunta o deixou mudo. Seus traços endureceram assim como seus ombros. Arrumou a postura, analisando cada traço da agente à sua frente. Um sorriso irônico tomou conta de seus lábios.

 

   - É justamente por ela que eu não falo. Ou acha que eu preferi estar aqui do que com ela?

 

   - Suas ações...

 

  - Você não entenderia.- a cortou.- Assim como a porcaria do juiz que vai me julgar. Pra vocês é tudo simples, preto no branco, não se perguntam os motivos que me fizeram parar aqui. Eu não vou falar, porque da última vez que eu ousei abrir a boca eu perdi a minha esposa!- rugiu.- Você não sabe o que é ter sua invadida por caras armados matarem a sua esposa na frente da sua filha, e você não poder fazer nada porque se não pioraria as coisas. Ter sua casa revirada e tudo o que vieram construindo nos últimos anos estilhaçado no chão.- seu olhar desesperado fizera Laurel recuar um passo quando tentou se erguer, sendo contido pelas algemas.- E o pior de tudo, ouvir o choro inconsolável de sua filha em seus braços, sabendo que a mãe dela não acordaria outra vez!

 

   O silêncio se fez presente nos quatro cantos da sala. Felicity olhou para Oliver, preocupada com sua reação. O loiro parecia preso em um filme de terror, seus olhos, gélidos, observavam o rosto do criminoso a frente, sentindo uma familiaridade dolorosa. Felicity segurou sua mão, o despertando. O mesmo a recolheu e não a olhou.

 

   - Eu sinto muito pelo o que teve que passar.- comentou Laurel, também pega de surpresa por seu relato.- Mas se quer ser um pai bom pra ela, e impedir que a mesma siga seus passos tem que fazer o certo.

 

   - Que garantia que eu vou ter de que ela ficará bem?

 

   - A nossa. Cuidados de sua filha, você nos dá as pistas necessárias, conseguimos provas de quem é esse homem e ele vai parar atrás das grades, e você terá uma pena reduzida. O que diz?

 

   Rene ponderou por alguns segundos, dando surgimento a um sorriso que deixou Laurel desconfiada.

 

  - Eu aceito, mas ela ficará sobre os cuidados da sua equipe, e não da  narcóticos.- a pegou de surpresa.- O que foi? Não consegue cuidar de uma pré adolescente?

 

  - É...

 

  “- Aceite Laurel.- falou Felicity pelo comunicador.- É nossa única chance.”

 

   - Aceitamos.- suspirou.- Mas se prepare, é bom começar a falar.

 

   - Com prazer.

 

   ***

 As exigências feitas por Rene foram prontamente atendidas, e os responsáveis por realizá-las seriam Laurel e Ray. Os mesmos dirigiram em silêncio até a casa em que a menina se encontrava. Haviam lido seu perfil, até então calmo, e pelo o que a assistência social contará andava bem quieta. Avistaram a mulher de pele escura e cabelos longos ao longe, à sua espera. O bairro qual estavam “escondidas era bem arborizado, com casas padronizadas de dois andares. Descerem juntos e foram ao seu encontro, encontrando olhos gentis.

 

   - Laurel Lance e Ray Palmer.- confirmou os observando, tendo certeza que a informação passada pela agente da narcóticos estava certa.- Sou Lisa Long, assistente social que vem cuidando dela nos últimos meses.- os informou enquanto entravam. Era uma casa organizada, não que pudesse chamar aquilo de lar, definitivamente não era.- Tenho dado duro para seguir à risca as informações passadas, mas é complicado.

 

   - Você é responsável por achar um lar a eles, não a dar um.- comentou Laurel compreensiva, Lisa sorriu.

 

   - Exatamente. Ela é uma garota tímida, mas pode ser bem falante às vezes.- riu parando no pé da escada.- Avisei que vinham.

 

   - Alguma indicação?- perguntou Ray, claramente nervoso.

 

   - Sejam amigáveis.

 

  O moreno assentiu, e segurando na mão de Laurel subiram as escadas. Não sabiam bem porque seus corações aceleram, mas assim que a viram, sentada na ponta da cama olhando os tênis um arrepio os percorreu. Ignoraram a sensação e deram três toques na porta, avisando que havia companhia. A menina de cabelos castanhos claro, liso até pouco abaixo dos ombros ergueu a cabeça, com um olhar assustado. Laurel e Ray acenaram, entrando com passos cautelosos.

 

   - Oi Zoe, eu sou a agente Lance, Laurel Lance.- sorriu.

 

  - E eu sou o agente Palmer, Ray Palmer. Sabe por que estamos aqui, não é?- não obteve resposta, Zoe abraçou os joelhos.- Por que ela não fala?- sussurrou aflito para Laurel.- Eu não sei como lidar com crianças.

 

   - Talvez ela esteja com medo.- cochichou.- Se você não sabe cuidar eu então sou um desastre.- murmurou.- Será...

 

   - Estamos em um quarto silencioso, mesmo vocês cochichando eu consigo ouvir.- comentou a menina, erguendo o olhar.

 

   - Sabe falar então, menos mal.- sorriu Ray.- Por um momento achei que não.

 

   - Eu não quero ir com vocês, eu quero ver o meu pai.- pediu aborrecida.

 

   - Você vai.- falou Laurel, a deixando surpresa.- Mas antes de irmos quero fazer um combinado, podemos?

 

   - Vai negociar com uma criança? Sério?- sussurrou Ray.

 

   - Tem alguma ideia melhor? Porque eu não tenho.- rebateu. Limpou a garganta.- Seu pai pediu para que cuidássemos de você Zoe, então espero que coopere, a situação é complicada agora e ele precisa do seu apoio, pode fazer isso?- perguntou a vendo assentir.- Bom. Agora vamos, seu pai vai ficar muito feliz ao saber que já estamos com você.

 

***

A tarde se tornou corriqueira assim que Laurel e Ray saíram para buscar Zoe, o que duraria algumas horas por conta da distância. O interrogatório com Rene continuou, e assim que obteve certificação de que sua filha já estava sob os cuidados dos dois agentes, soltou uma frase, na realidade um nome. 

   

  Spencer Bell.

 

  Seu parceiro.

 

  Que se encontrava em conflito se deveria continuar a seguir cegamente as ordens do chefe ou não.

 

  A equipe então seguiu para o bairro onde ficariam hospedados. Era uma casa boa, dois andares, com quatro quartos, mais uma sala e cozinha espaçosas. O bairro em que estavam localizados era bem arborizado, com postes de luz que iam se acendendo com o cair do Crepúsculo. Oliver se encontrava encostado no batente da cozinha, com os olhos vidrados na ficha à frente. Um arranhar de garganta  o fez erguer o queixo,

encontrando John com um sorriso solidário, o observando.

 

   - Laurel e Ray estão pra chegar a qualquer minuto.- informou, o loiro assentiu.- Você tá bem, cara? Desde o interrogatório...

 

  - Pensei em dar uma olhada a mais na ficha do Rene.- comentou pegando os papéis espalhados em cima da mesa. Passou duas páginas até se deparar com a foto de uma menina de olhos contentes.- Sabe quantos anos ela tem?- perguntou.- Treze, que nem o Will.

 

   - Esse caso mexeu mesmo com você, não é?- falou preocupado.

 

   - É como se eu tivesse voltado no tempo, preso naquele pesadelo de novo.- murmurou com olhar perdido.- Vendo o meu filho e ela sentados naquele chão. E eu não fiz nada, como um covarde.- esbravejou.- Deve ser por isso que ele mal fala comigo hoje.

 

   - Oliver, você não podia fazer nada naquela época, e o bom de lembrarmos isso é que sabemos que passou.- o assegurou.

 

— Pros outros talvez, pra mim continua aqui..

 

John entreabriu a boca quando murmúrios  animados vindo da sala os fizeram quebrar o momento, seguindo para o outro cômodo. Ao chegarem, Zoe continha um olhar tímido aos demais agentes, que a faziam uma enxurrada de perguntas.

 

   - Quer comer alguma coisa?- perguntou Caitlin.

 

   - Ou assistir? Temos uma tv enorme aqui.- sugeriu Curtis.

 

   - O quarto é lá em cima, a primeira à direita.- informou Felicity com um sorriso gentil, Zoe parecia aliviada.

 

   - Se precisar de alguma coisa é só nos chamar, ok?- falou Oliver a fazendo sorrir de canto.- Pode ir.

 

   - Obrigada.

 

   Ray entreabriu os lábios, abismado com a facilidade de Oliver e Felicity em fazerem ela falar. Ao notar que estavam livres de ouvidos curiosos, o encheu de perguntas.

 

   - Como fizeram isso?

 

   - Isso o quê?

 

   - Fazer ela falar.- gesticulou.- Ela mal trocou um oi com a gente.

 

   - Ela está em uma casa com desconhecidos, de luto sobre a mãe e com saudades do pai, poderiam oferecer a Disneylândia que ela iria recusar.- respondeu, se encostando no sofá.- Ela precisa se sentir segura, quando isso acontecer ela vai falar.

 

   - Anotem as dicas, vão precisar, já que o papel de vocês dois é manterem ela segura.- informou Felicity, escutando seus protestos.- Curtis está cuidando dos últimos registros de apreensão de fentanil na cidade com a narcóticos, Sara e John estão encarregados de ajudarem Durand enquanto Tommy e Caitlin conversaram com um informante no aeroporto, já eu e Oliver temos outro compromisso amanhã cedo, isso significa...

 

   - Eu sou péssima com crianças Felicity!- disse Laurel exasperada.- E se ela começar a chorar?

 

   - Ela não é um bebê, vocês vão se virar bem.- brincou John. Laurel bufou.- Vai ser um, sabe? Relacionamentos duradouros tendem a ter frutos, é bom vocês praticarem.

 

    - Eu vou ser tia e ninguém me contou?- perguntou Sara cobrindo a boca com as mãos, em gesto emocionado.

 

   - Eu sinceramente odeio vocês.- reclamou Laurel, os escutando rir.

 

   - Também te amamos irmãzinha

 

  ***

 

Felicity se remexeu no colchão, irritada por novamente não conseguir dormir. Revirou os olhos ao notar o horário no visor do celular, ela precisava parar de acordar de madrugada, ou daqui a pouco protegeria a cidade à noite, como o próprio Batman. Balançou a cabeça, divertida com o pensando quando se levantou, encarando Sara e Caitlin que dormiam serenamente. Ao pisar no chão, tomou cuidado para não pisar em Curtis que dormia aos pés da cama. Continuou a caminhar, acendendo a luz do corredor ao descer a breve escada, que dava para a sala. Sua mão se ergueu para ligar o interruptor, mas no mesmo instante em que obteve a ideia foi esquecida, ao notar alguém resmungando no sofá. Pegou um dos vasos, pronta para o ataque, andando para trás do móvel, no entanto, ao se deparar com aquela figura masculina, suada, com o rosto contorcido, não teve outra reação senão ficar parada. Era Oliver.

 

   Aparentemente tendo um pesadelo.

 

   Engoliu em seco, se recordando da última vez que o vira daquela maneira. Guardou o objeto, e com cuidado, contornou o sofá, parando em frente àquele corpo que travava uma batalha com si próprio. Seus resmungos, as sobrancelhas arqueadas, em tom de sofrimento a fizeram prender a respiração, tentou o acordar.

 

   Porém não funcionou.

 

   - Oliver?- sussurrou, tocando em seu braço.- Oliver? 

 

   Seu toque mais incisivo o despertou, agarrando seu pulso. Em um movimento giratório a loira se livrou de seu aperto, recuando um passo, havia esquecido o quão atordoado o mesmo ficava ao despertar de seus pesadelos. Seus olhos azul ímpio, que enfeitiçavam cada um que os observassem por um longo tempo voltavam a ter foco. Oliver se sentou, ofegante e ao enxergar Felicity sua feição foi tomada por horror.

 

   - Oliver...

 

   - Fica longe, por favor.- pediu com a voz rouca, levando a mão ao peito.- Eu não quero te machucar que nem da última vez Felicity.

 

Tentou o contradizer, mas sabia que pioraria as coisas, Oliver ficava extremamente debilitado ao ser lembrado daquela noite.  A loira esperou pacientemente, o assistindo se acalmar. Aproveitou a brecha ao vê-lo observá-la mais uma vez e se sentou ao seu lado, com um olhar preocupado.

 

   - Demora a passar?- perguntou, o mesmo assentiu em positivo.

 

   - Um tempo.- confessou, olhando para o chão. Odiava ser visto em seus momentos de fragilidade.- Não deveria estar aqui.

 

   - Eu não deveria muita coisa.- rebateu, com um sorriso de canto.- Mas aqui estou eu.

 

   - Como sempre sendo teimosa.

 

   - O que eu posso fazer? É mais forte que eu.

 

   Um sorriso o escapou ao escutá-la. Felicity o acompanhou, contente por distraí-lo, ele já havia feito isso por ela.

 

  Parecia hora de retribuir o favor.

 

   Não que precisasse haver favor algum, quando se tratava de Oliver seu instinto natural era ajudá-lo, independente da situação. Olhou para os lados, incerta se deveria trazer alguma coisa da cozinha para  acalmá-lo.

 

   - Quer água? Posso pegar.

 

   - Fica aqui.- pediu, o sofrimento nítido em sua frase a deixou com o coração apertado.- Com você eu sei o que é real ou não.

 

   - Não vou a lugar algum.

 

  De forma instintiva, o abraçou, como se quisesse protegê-lo. Oliver suspirou em seus braços, a trazendo para perto de si. Suas costas voltaram a se encostar no encosto do sofá, onde ficaram em silêncio por longos e preciosos minutos.

 

  - Seu coração ainda está acelerado.- sussurrou após um tempo, com o ouvido encostado no peito de Oliver.

 

   - Vai passar.- suspirou, fechando os olhos.-  Pode ficar aqui?

 

   - O tempo que precisar.

 

   Felicity não se moveu, apenas aconchegou-se mais. Aos poucos, o pesadelo formado por memórias antigas foi se tornando longe, como uma névoa, que se dissipou após uma grande tempestade. Permitiu-se relaxar, e quando mais calmo, ergueu com a mão o rosto de Felicity, fitando seus olhos preocupados.

 

   - Obrigado.

 

   - Nunca precisa me agradecer.- sorriu de forma tímida, nenhum pouco incomodada com sua proximidade.- Contente por que irá finalmente realizar seu sonho de me fazer caminhar amanhã?

 

    - Estou ansiando por isso.- brincou, a fazendo soltar um riso baixo. Felicity bocejou, dobrando as pernas para que pudessem ficar repousadas no móvel.- Está com sono?

 

  - Não.- mentiu, fechando os olhos, Oliver balançou a cabeça.- Não preciso estar de olhos abertos pra saber que você não acreditou nenhum pouco em mim.

 

   - Você é uma péssima mentirosa.- respondeu, a vendo sorrir de canto.- Eu estou bem, pode ir.

 

   - Vou ficar aqui até que você durma também, assim posso ir.

 

   - Você é impossível.

 

   - Eu sei.

 

  Oliver sorriu com sua fala, a notando de forma vergonhosa lutar contra suas pálpebras pesadas. Não se soube quanto tempo havia se passado, porém, ao tentar se mover, sentiu o peso do corpo de Felicity em seu ombro, imóvel.

 

  - Tão linda...- sussurrou, acariciando com a ponta dos dedos seu rosto.- E ao mesmo tempo tão pesada.

 

   Com dificuldade, moveu seus corpos para que deitassem, assim ficando mais confortáveis. Felicity resmungou, como o de costume, arrebitando os lábios. Entrelaçou suas pernas com a de Oliver, e após alguns minutos, seus traços se suavizaram. Oliver a observava, atento, sentindo a paz que muito tempo lhe faltará que significava dormir em seus braços. Respirou fundo, inalando seu cheiro, e quando mais sonolento, a deu um beijo breve na testa, encostando a ponta de seu queixo em sua cabeça.

 

   - Boa noite Lis.

 

   ***

   Felicity entreabriu os olhos, sentindo o incômodo que a luz causava. Se remexeu, sentindo algo pesado a segurando pela cintura. Confusa, abriu os olhos, entreabrindo os lábios surpresa ao notar que havia caído no sono.

 

   Ao que parecia, Oliver também.

 

   O mesmo parecia confortável demais em um sofá tão pequeno, o que era irônico, já que um homem daquele tamanho requer muito mais espaço. Sorriu com o fato, mas ao notar o olhar curioso de sete agentes, que faziam um círculo ao observá-los, todo seu bom humor fora por água abaixo. Cutucou Oliver, que suspirou, ignorando seu toque.

 

   - Oliver?- o chamou.- Oliver acorda.

 

  - Por quê?- resmungou.

 

   - Acorda, agora.

 

   - Alguém morreu?- murmurou.- Tommy colocou fogo na casa?- levou outra negativa.- Então não há com o que se preocupar.

 

  - Acorda Queen!- elevou a voz.- Temos plateia.

 

   - Temos o quê?

 

  A curiosidade o fez abrir os olhos, se deparando com os sorrisos maliciosos dos amigos. Trocou um leve olhar com Felicity, entendendo sua urgência. Retirou seu braço que a contornava, a deixando se levantar primeiro para que assim pudesse fazer o mesmo.

 

   - Temos criança na casa, sabe?- provocou Tommy.- Não podem simplesmente se pegar em qualquer lugar, não que eu me importe, adoraria presenciar.

 

   - A gente não... Vocês sabem.- respondeu Felicity se espreguiçando.

 

   - Sabemos.- concordou Sara.- Sabemos muito.

 

   - Eu vou tomar banho.- falou Oliver seguindo para a escada.

 

   - Eu também.- disse Felicity, congelando no primeiro degrau.- Não juntos. Quer dizer...

 

   - Só não façam muito barulho.- continuou Tommy, recebendo o olhar mortal de Oliver em resposta.

 

  - Precisamos manter um ambiente de respeito por conta da Zoe.- comentou Ray.- Então cuidado.

 

   - Mas aproveitem.- sorriu Caitlin.

 

   - Com moderação!- sugeriu Laurel.

 

   - Vão pro inferno todos vocês.

 

   Gargalhadas explodiram no cômodo inferior. Diggle balançou a cabeça, incrédulo com os agentes.

 

   - Depois não reclamem que Oliver pega pesado com vocês nos treinamentos.

 

   - Ele sempre pega pesado comigo.- disse Curtis com pesar.- Mas ter a oportunidade de fazer nosso chefinho surtar é maravilhosa.

 

   - Bem-vindo ao clube meu amigo.- falou Tommy orgulhoso, colocando sua mão sobre seu ombro.- E aproveite as infinitas possibilidades de irritar Oliver, é minha atividade favorita.

 

   ***

  Ray terminava de colocar panquecas em um prato quando ouviu passos descendo a escada. Laurel ergueu o olhar, encontrando Zoe olhando para o chão. Se sentou em uma das cadeiras ao redor da mesa, ainda sem encará-los. Ray e Laurel trocaram um olhar significativo, em busca de tentar ajudá-la de alguma maneira. O moreno suspirou e puxou outra cadeira, se sentando de frente a Zoe.

 

   - Eu sei que sua situação não é fácil.- começou sem jeito.- E nós não queremos tornar isso pior, só queremos ajudar, mas pra isso você vai ter que confiar na gente princesa.- sorriu de canto.- Pode fazer isso?

 

   Zoe ponderou por alguns segundos, quando assentiu, sorrindo de canto.

 

   - Ufa.- suspirou Laurel, aliviada.- Você quer comer alguma coisa? Tem panquecas ótimas.

 

    - Parecem boas mesmo.- sorriu de canto.- Você que fez?

 

   - Ela?- riu Ray.- Digamos que Laurel não seja do tipo...

 

   - Do tipo o que Raymond Palmer?- cruzou os braços.

 

   - Do que estamos falando mesmo amor?- sorriu amarelo, fazendo Zoe rir.

 

   - Vocês são engraçados.

 

   - E só um detalhe, quem fez as panquecas foi eu.- sussurrou Ray, piscando em sua direção.- Come e depois vemos o que fazemos no resto do dia.

 

   - Podemos assistir se quiser.- sugeriu Laurel.- O que você gosta de ver?

 

   - Jogos de hóquei. Era o preferido da minha mãe, e do meu pai também, sempre assistíamos juntos.- sorriu de forma triste. Laurel a olhou com pesar.

 

   - Podemos fazer outra coisa se quiser.

 

   - Vocês são agentes mesmo, né? Estilo os da tv?- perguntou curiosa.

 

   - É, quase isso.- sorriu Ray.- Sabemos uns golpes bem legais.

 

   - Podem me ensinar?- seus olhos brilharam.- Por favor...

 

   - Tá.- concordou Laurel.- Mas come primeiro, e aí começamos seu treinamento mocinha.

 

   - Combinado, e a propósito, tá uma delícia.- murmurou voltando a comer.

 

   - Sabia que ia ser legal ficar com ela.- sorriu Ray, ganhando o olhar incrédulo de Laurel.

 

   - Você não vale nada.

 

   - Também te amo meu amor.

 

   ***

 

  Fazia uma hora que Felicity e Oliver estavam na estrada. As coordenadas passadas pela fonte de Rene levavam a um lugar pouco movimentado. As árvores iam aumentando de quantidades, assim como a vegetação rasteira. A estrada sinuosa se tornou mais estreita, e ao notarem um segundo carro sabiam que haviam chegado no ponto certo. Estacionaram ao lado, de uma maneira que não prejudicasse quem precisasse se locomover. Ambos desceram, sendo Oliver o primeiro a se aproximar, não parecia muito contente com a situação.

 

   - Spencer Bell?- perguntou Felicity ao homem encostada na lateral do carro vinho.- Tipo Tinker Bell?

 

   - Ele tem uma arma, não é bom fazer piadas com o nome dele Felicity.- cochichou Oliver.

 

   - Bom ponto.- concordou em tom baixo.- Senhor Bell? Pronto para conversar?

 

   - Não aqui moça.- respondeu o homem loiro, magro de estatura alta.- Lá.

 

   - Lá?- apontou Felicity para a floresta- Não pode ser aqui?

 

   - Tudo o que precisam está lá. Vocês vem ou não?

 

   Oliver a contragosto assentiu, o seguindo. A trilha qual usaram continha subidas e descidas, e os galhos caídos no chão ressoavam a cada passada que realizavam. As árvores, de maioria antigas davam pouca luminosidade a luz solar, que perfurava com dificuldade as copas. O chão, úmido por conta das constantes chuvas da península Olympic estava coberto por musgo verde e marrom. Felicity se arranhou duas vezes, com galhos pontudos caídos, mas continuou firme. A caminhada durava pouco mais de meia hora quando pararam de repente, Spencer parecia checar se haviam sido seguidos.

 

   -  Se queria um lugar reservado poderia ter nos dito, não nos trazer pra dentro da floresta.- resmungou Oliver.

 

  - Vocês são engomadinhos mesmo.- disse Spencer, revirando os olhos.- Estamos dentro do parque nacional Olympic, porém usamos um caminho menos convencional.

 

   - E por que nos trouxe aqui?- perguntou Felicity esfregando os braços por conta do frio.

 

   - Estou fazendo isso pela Zoe, ela, assim como Laura não merece ter um final infeliz.- comentou, suspirando.- Há dez metros ao noroeste, seguindo essa reta.- apontou para o caminho.- É onde funciona o laboratório de drogas recriadas.

 

   - Por que aqui?- questionou Oliver.

 

   - Vocês pensaram que era aqui?- arqueou as sobrancelhas, sorrindo convencido.- Há áreas nesse parque não exploradas, que abrange três ecossistemas, é muito mais fácil desmatar do que alugar um galpão no centro, não é?

 

   - E quem é ele?- continuou Felicity.- O homem por trás disso tudo.

 

   - Conklin.- respondeu.- Ele não era daqui, veio de Nova York. Trabalhava na área farmacêutica quando decidiu começar a investir em pequenos negócios.- fez aspas.- Ele explodiu, e decidiu abrir um laboratório só dele, e cá estamos.

 

   - Trouxe alguma foto?- perguntou Oliver, o loiro assentiu, pegando o celular.

 

   - Esse é Conklin.

 

  A foto de um homem branco, de cabelos castanhos claros ganhou destaque. Seu cavanhaque bem feito, e roupas de primeira mão mostravam o quão bem vinha ganhando com seu trabalho.

 

     - Obrigada Spencer, por tudo.- sorriu Felicity.- Está fazendo um grande feito pro seu país.

 

  - A mãe da Zoe, Laura, éramos bons amigos, ela não merecia morrer daquele jeito. Conklin merece pagar.

 

   - Ele vai.- garantiu Oliver, apertando sua mão.

 

Spencer sorriu, e no momento em que retribui o comprimento tiros foram escutados. O mesmo empurrou Oliver, o livrando de um tiro que o acertou de raspão. Felicity o olhou em desespero se abaixando atrás de uma árvore enquanto Oliver a protegia com os braços.

 

   - Saiam daqui.- gritou Spencer que também estava abaixado.- Agora.

 

   - Mas e você?- perguntou Felicity olhando para os lados.- Nós que te colocamos nessa situação, não é justo...

 

   - Essa vida não é justa agente.- sorriu de forma triste.- Não tem outra saída pra mim, eu escolhi isso, vocês não, agora me escutem bem. Desçam em direção ao lago, vai demorar mais, porém vai os levar de forma segura até onde deixaram o carro. Achem Rene e digam o que aconteceu. Agora vão.

 

   - Mas...

 

  - Eu falei pra irem!- berrou, angustiado, trocando um último olhar com os agentes. Oliver e Felicity assentiram com pesar.- Vão!

 

   ***

 

   - Quais são as áreas vulneráveis do corpo?- perguntou Ray para Zoe que bufou.

 

  - Nariz, virilha, joelhos, olhos, garganta e plexo solar.- repetiu impaciente.- Será que agora podemos voltar a praticar?

 

   - Podemos.- sorriu Laurel arrumando a postura.- Ataque lateral, eu vou contar até três e você ataca e eu seguro com a mão, ok?

 

   - Ok.

 

  A menina se posicionou, nervosa. Laurel terminou a contagem e tentou segurá-la por trás, desviando por pouco da cotovelada no pescoço, sendo direcionada na barriga.

 

   - Perfeito.- sorriu orgulhosa.- Uma lutadora nata.

 

   - Obrigada.- sorriu convencida, os fazendo rir. - Faz tempo que não me divirto assim.

 

   - O que acham de tomarmos um sorvete?- perguntou Ray.- Pela Zoe, claro.- justificou seu desejo.

 

   - Pela Zoe, sei.- concordou Laurel descrente, os vendo trocar um olhar cúmplice.- Estão de segredinhos demais.

 

   - Eu sou o favorito dela, não é pestinha?- perguntou fazendo um toca aqui.- Temos até um comprimento.

 

   - Pois fique sabendo que o meu e o da Zoe vai ser melhor.- o desafiou, a fazendo rir.- Vamos?

 

   - Vamos.

 

  Laurel pegou sua bolsa e no momento em que saiam deram de cara com Tommy e Caitlin, que conversavam animadamente. Arrumaram suas posturas assim que viram os três os observando.

 

   - Não conseguimos absolutamente nada.- comentou Caitlin frustrada.- Foi um desastre.

 

   - Espero que o restante do pessoal consiga alguma coisa.- suspirou Tommy.- Aonde vão?- perguntou, notando que estavam de saída.

 

   - Tomar sorvete.- sorriu Zoe.

 

   - Olha, ela fala.- brincou, a deixando tímida.- Não queremos atrapalhar vocês, bom passeio.

 

   Tommy trancou a porta enquanto Caitlin caminhava até a cozinha. Retirou seu casaco, o deixando apoiado na cadeira, abrindo um dos armários em busca de um copo. Tommy estava encostado na parede, a observando com um sorriso de canto quando a mesma se virou, encontrando seu olhar. Arqueou as sobrancelhas, confusa, o fazendo dar de ombros e caminhar em sua direção.

 

   - Tenho uma oferta pra você.

 

   - Que tipo de oferta?- perguntou curiosa, encarando Tommy.

 

   - Estamos em casa, sozinhos. Literalmente sozinhos.- gesticulou, a fazendo rir.- A família feliz parece que vai demorar, e nossos amigos estão ocupados, o que significa...

 

   - Que finalmente vamos ter um tempo sozinhos.- suspirou aliviada, deslizando suas mãos até as cruzar em torno de seu pescoço.- O que é tentador.- sussurrou, encostando seus lábios.- Mas na realidade eu estou morrendo de fome.

 

   - Seu desejo é uma ordem.- piscou se afastando, a deixando confusa por xeretar os armários.

 

   - O quê...

 

   - Quer panquecas ou Waffles? Acho mais fácil panquecas.- respondeu a si próprio, pegando o saco de farinha de trigo.

 

   - Desde quando Thomas Merlyn sabe cozinhar?- perguntou curiosa.

 

   - Eu andei tendo umas aulas.- respondeu convencido.- E parte foi por sua causa, eu queria tentar fazer alguma coisa diferente, que não envolvesse o meu eu antigo, como restaurantes extravagantes.- sorriu tímido diante de seu olhar.- Ideia ruim?

 

   - Você aprendeu cozinhar por minha causa?- repetiu, o deixando sem graça.

 

   - É. Você não gostou?- perguntou preocupado, a escutando soltar um riso baixo.

 

   - É claro que eu gostei Tommy.- respondeu, o deixando aliviado.- Só fiquei surpresa. É fofo.- sorriu, emocionada.

 

   - E o que mais?- perguntou arqueando as sobrancelhas, sorrindo de canto. Caitlin se aproximou e o abraçou.- Não vai querer comer?

 

  - Agora não.- murmurou, encostando seus lábios em sua orelha.- Tem uma coisa que temos que fazer antes.

 

   Seus lábios macios foram ao seu encontro, o fazendo se curvar. Tommy apertou sua cintura, e em um gesto rápido, a puxou para seu colo, a sentindo entrelaçar as pernas no entorno de sua cintura. Seus corpos acabaram esbarrando em uma das panelas na pia, que ecoou pelo chão da casa.

 

   - Ignora.- sussurrou Tommy, voltando a colar seus lábios.- Temos coisas bem mais importantes para se preocupar.

 

   - Temos sim.

 

  ***

 

   Oliver e Felicity seguiam a trilha direcionada por Spencer havia quase uma hora. Encontraram o riacho, indicado pelo loiro quando Oliver se sentou, levando a mão à cintura que latejava. Felicity ergueu sua blusa, notando o ferimento ensanguentado do lado esquerdo. Levou suas mãos até a mochila, puxando o kit de primeiros socorros.

 

   - Precisamos ir.

 

   - Você não vai andar muito com isso assim.- rebateu, virando a água oxigenada em um algodão.- Vai arder um pouco.

 

   - Pode fazer.

 

  O loiro trincou os dentes, abafando um gemido de dor. Se contentou em olhar as árvores, na tentativa de se distrair. 

 

   - Eu queria te agradecer, por ontem à noite.- comentou em tom baixo, Felicity ergueu o olhar.

 

   - Não precisa agradecer.- sorriu solidária, quando um aperto surgiu sobre seu peito.- Posso te fazer uma pergunta?

 

   - Claro.

 

  - Com o que estava sonhando?

 

   Oliver suspirou, observando a correnteza da água que seguia um curso único entre as pedras. Felicity voltou a se concentrar, entendo seu silêncio como resposta.

 

   - William.- respondeu após um tempo.- E você.

 

  Seus lábios se entreabriram, incertos de como se comunicar. Oliver parecia distante, frio, como na maioria das vezes ficava ao mostrar uma fraqueza.

 

   - Foi pelo relato de Rene, né?- perguntou preocupada.- Eu vi como você ficou.

 

   - Era como se eu estivesse assistindo tudo de novo. Você e ele no chão, os gritos.- a fez engolir em seco.- Eu sou um péssimo pai.

 

   - Você pode ser muitas coisas Ollie, muitas.- o encarou firmemente, se recordando de como o tratou ao descobrir sua vida dupla.- Pai ruim não é uma delas.

 

   Um sorriso brincou em seus lábios, quando o loiro assentiu, desviando o olhar. Felicity terminou de colocar o esparadrapo e se sentou, cansada, observando a natureza e o barulho do interior da floresta.

 

   - É realmente lindo aqui, né?- perguntou Felicity.-  Sempre gostei de florestas, não que eu quisesse caminhar como fizemos hoje, mas gosto delas.

 

   - Realmente, há muito beleza aqui.- respondeu a fitando, Felicity abaixou o olhar, sem graça.- E é uma floresta bem úmida.

 

   - Estamos no estado de Washington, o mais chuvoso dos Estados Unidos. Se não chovesse aqui eu ficaria chateada com os livros que li sobre Crepúsculo.

 

   - Como esquecer sua fascinação por Robert Pattinson.- revirou os olhos, a escutando rir.- Tempos sombrios.

 

   - Em minha defesa, o primeiro filme é ruim, mas os outros são maravilhosos, assim como os livros.- suspirou.- Nem acredito que estamos tão perto de Forks, queria ver a casa dos Cullen.

 

  - Sei que seu mundo vai cair, mas a casa dos Cullen não fica em Forks.- seu queixo caiu, o fazendo rir.- Fica em Portland.

 

  - Pra quem não era fã você sabe mais do que eu.- o provocou.

 

   - Teve um tempo em que eu procurei quanto era o aluguel pra um final de semana.- respondeu, evitando encará-la.- Você gostava tanto.

 

  - Estava planejando uma viagem pra lá?- perguntou surpresa.

 

  - É, mas coisas aconteceram, e bom, não passou de um plano.

 

   - É.

 

  O barulho das cigarras se fez presente, enquanto os mesmos permaneciam mudos. Felicity observou os pés, incomodada com o silêncio constrangedor, até que suspirou, voltando a olhar para Oliver.

 

   - Consegue ir assim?- perguntou, indicando o machucado.

 

   - Consigo.- se levantou, no momento em que se puseram de pé um tiro ressoou ao longe.

 

   - Ele...

 

   - Temos que ir agora.- segurou em sua mão.- Se não vamos acabar que nem ele.

 

   - Tá.

 

  Felicity o seguiu, um pouco desanimada com o fato de terem perdido uma testemunha. A caminhada se prolongou por mais vinte minutos, até encontrarem o morro em que havia descido. Oliver subiu, com a ajuda de Felicity, avistando finalmente a estrada. O loiro se aconchegou no banco do passageiro, fechando os olhos enquanto Felicity dava partida, fazendo uma manobra perigosa para que finalmente saíssem dali.

 

   - Descansa um pouco.- sugeriu, o lançando um sorriso de canto.- Quando chegarmos eu aviso.

 

  - Não vai correr muito, hein Smoak?

 

   - Só porque você pediu com jeitinho.

 

   Oliver sorriu, voltando a se encostar no banco. Suas pálpebras pesaram, e pouco menos de dez minutos depois se encontrava imerso a um sono profundo. Felicity o observou rapidamente, lembrando de seu pesadelo. Oliver já havia falhado, muito, mas uma coisa era certa.

 

   Ele não era um pai ruim.

 

   ***

 

 Caitlin trocava o curativo de Oliver, que segundo a mesma havia sido muito bem feito. Durand ficou extremamente irritada que um de seus mais importantes informantes havia “desaparecido”( para não falar algo pior), entretanto, após uma longa conversa a agente constatou que não acabaria de outra forma. Curtis procurava por mínima que fosse, pistas de onde Conklin poderia estar. Agora o chefe por trás da linha de fentanil continha um nome,  ou melhor.

 

Um rosto

 

  Laurel desligou o telefone, recebendo as últimas informações sobre Rene.

 

— Rene parece ter ideia de onde Conklin pode estar.- comentou cruzando os braços, todos faziam uma pequena reunião na sala, Zoe estava no quarto.- Está preocupado.- falou em tom baixo.- Vocês foram vistos.

 

— Spencer não deve ter falado nada, mas com certeza ficaram em alerta.- suspirou Felicity.- Tudo certo para invadir o laboratório amanhã?

 

— Tudo.- confirmou Sara.- Passei a tarde com Durand, estávamos cuidando desses detalhes.

 

— Só dos detalhes?- provocou Curtis.

 

— Ela é legal, sexy, mas bem brava.- sorriu de canto.- Não está nada feliz com as interferências que o FBI anda fazendo.

 

— Quem suporta federais.- comentou Tommy revirando os olhos, ganhando um beliscão de Caitlin.- Aí Snow!– De qualquer forma.- continuou Ray.- Rene quer ver Zoe amanhã. Está um pouco preocupado como Laurel disse, por Conklin saber seu envolvimento.

 

— Capaz dele aprontar alguma coisa.- pontuou John.- Temos que ficar atentos.

 

— Vamos ficar.

 

A pequena reunião se finalizou, os deixando livres. Felicity caminhou até a cozinha, onde encontrou Caitlin e Tommy ao lado da pia, com sorrisinhos cúmplices um para o outro.

 

— Vocês estão estranhos.- franziu o cenho, ganhando atenção.- Estão dormindo juntos?- riu, ao notar a palidez de seus rostos ficou confusa mais uma vez.- Estão dormindo juntos?

 

— Sim...Quer dizer, às vezes...Não, definitivamente não.- se corrigia Tommy enquanto Caitlin o repreendia.

 

— Aí meu Deus!

 

O grito de Felicity fez Oliver aparecer em alerta, em busca de um agressor. Felicity cobria a boca com as mãos, em estado de euforia, enquanto Caitlin e Tommy continuavam parados, sem reação.

 

— Vocês...Ah!- abraçou Tommy pelo pescoço, que de forma desengonçada retribuiu.- E você sabia!- olhou para Oliver, entendendo finalmente a situação.- É claro, era isso!

 

— Oliver sabia?- questionou Caitlin de braços cruzados.- Thomas?

 

— Isso realmente importa?- sorriu amarelo.

 

— Estava realmente muito estranho você ficar tanto tempo de boca fechada.

 

— O que aconteceu?- perguntou John, seguido de Ray, Laurel, Sara e Curtis.- Alguma notícia?

 

— Sim.- sorriu Felicity.- Temos um novo casal.

 

— Você e Oliver?- sorriu Curtis, a fazendo fechar a cara.- Pelo visto não.

    - Tommy e Caitlin.

 

    - Não brinca.- riu Sara.

 

   - Aí meu Deus.- falou Curtis pausadamente.- Estamos em uma realidade paralela?

 

   - Caitlin Snow!- repreendeu Laurel.- Você não nos contou!

 

   - Isso é realmente algo que não se vê todo dia.- sorriu Palmer.- Nem parece a mulher que dizia “ dessa água não bebereis”.

 

   - Bebeu até demais.- falou Felicity os fazendo rir.- Estamos vingados.- sussurrou a Oliver, que a olhou descrente.

 

   - Você é uma pessoa terrível.

 

   - Eu sei.- piscou, voltando a prestar atenção na conversa.

 

  - Há quanto tempo estão juntos?- perguntou John.- Caitlin, meus parabéns, você ganhou um pedaço no céu.

 

   - Obrigada, eu acho.- falou confusa.- Estamos juntos há pouco tempo.

 

   - Uns meses.- respondeu Tommy.

 

   - Isso explica os barulhos nos quartos.- comentou Curtis fazendo careta.

 

   - Não era a gente não.- riu Tommy, deixando Ray e Laurel sem graça.- Todos sabem que nossos quartos não dão muita privacidade por serem um do lado do outro, mas a sala de reuniões...

 

   - Transaram no sofá?- perguntou Sara fazendo careta.- Ai meu Deus!

 

   - Você pode ficar quieto?- pediu Caitlin envergonhada.

 

   - Já somos piada meu amor.- sorriu, a trazendo para perto.- O que basta fazermos é dar o que o público quer. O beijo.

 

  Assobios e palmas foram ouvidos, fazendo Caitlin se esconder em seu pescoço. Agradeceram as felicitações e saíram, ouvindo o restante das piadinhas que pelo o que conheciam os amigos, duraria um bom tempo.

 

***

O dia amanheceu em tom cinzento e nuvens carregadas. Uma brisa gelada percorria a cidade, o que os fez se agasalhar. Terminavam de tomar café( ainda ouvindo piadinhas em relação ao novo casal) quando Laurel apareceu com as feições pálidas, Ray se levantou, preocupado.

 

— Amor?

 

— Ela sumiu.- disse exasperada, com a mão na cabeça.- Zoe sumiu.

 

— Quê?- perguntou Ray, ficando fora de órbita.- Como…

 

— Eu não sei!- o cortou, trêmula.- Ela não estava no quarto. 

 

— Fiquem calmos.- pediu John, se pondo de pé.- Talvez ela esteja em algum lugar da casa.

 

— Vamos procurar.

 

  As meninas subiram para o andar de cima, enquanto o restante procurava no cômodo abaixo. Oliver se atentou a um papel branco na estante, e ao ler, suas feições se fecharam

 

— Ela fugiu.- entregou o papel a Ray, que lia e relia sem acreditar.

— Nada lá em cima.- comentou Felicity, notando a tensão.- O que foi?

— Zoe fugiu.

— Como fugiu?- perguntou Laurel, pegando o papel.- “ Sinto muito por sair sem me despedir, gostaria de agradecer a tarde de ontem, foi maravilhosa, mas eu preciso proteger o meu pai, me desculpem. Com amor Zoe.— engoliu em seco, olhando para Ray.

— Precisamos avisar a narcóticos agora.- falou Oliver, pegando o telefone, ligando para Durand que o atendeu pouco tempo depois.

— Mas por que ela iria fugir de uma hora pra outra?- perguntou Curtis.

 

—  Talvez ela não quisesse.- supôs Caitlin.- Alguém a convenceu.

 

— Quem?- perguntou Ray.

 

— Conklin.- respondeu Oliver, encerrando a ligação.- Ele sabe que o que Rene mais ama no mundo é ela, é capaz de voltar atrás com tudo o que disse para protegê-la.

 

— Isso, ou o pior dos casos.- falou John.- Vingança. 

  

— Não vamos deixar nada acontecer a ela.- assegurou Felicity a Ray e Laurel, que pareciam estátuas.

 

— Pedi para Durand interromper a operação do laboratório. Zoe só está viva porque Conklin acredita que o senhor Ramirez não deu pistas concretas.- falou Oliver.- Conklin entrou em contato com Rene por um celular antigo,  qual usava para se comunicar com Zoe. Fez uma proposta e seja qual for, vamos dar um jeito.

 

***

 

O clima se tornava cada vez mais pesado com o passar das horas. Conklin não havia deixado muitas informações desde a primeira vez que ligou, mas a resposta era clara.

 

Abra a boca e ela morre.

 

O mesmo se encontrava em estado nervoso, sendo amparado por Ray e Laurel que tentavam acalmá-lo. O telefone tocou mais uma vez, o deixando em alerta. Rene atendeu.

 

“- Conklin?”

 

“-  Senhor Ramirez.- respondeu a voz masculina com humor.- Como tem passado o tempo?”

 

“- Se encostar um dedo nela…”

 

“- Tenho uma proposta, mas vai ter que se virar com seus amigos de preto.- começou.- Hoje a noite, no porto, você aparece e eu a deixo livre, mas você vem comigo. Sem testemunhas, sem provas. Pegue o exemplo do seu amigo, não durou muito tempo.”

 

Rene ficou mudo, enquanto pensava. A sala estava em silêncio mútuo, mas ao levar o olhar, recebeu o aceno positivo de Oliver, indicando que aceitasse.

 

“- Onde ela vai ficar?”

 

“- Você vem comigo, temos uma carga importante- suspirou.- E ela, bom, ela eu posso deixar perto das docas.”

 

“- Que garantia vou ter de que ela estará lá?”

 

“- Sua garantia é eu não enfiar uma bala na cabeça dela.- rebateu irritado.- Ás 20:00 em ponto, caso não apareça, você vai ter a localização dela amanhã, mas do corpo.- Rene engoliu em seco.- Não me decepcione.”

 

A ligação foi encerrada, o fazendo se sentar na cadeira novamente.Um brilho surgiu no canto de seus olhos,que  logo se revelaram lágrimas. Ray colocou a mão em seu braço, em uma tentativa de consolo.

 

— Eu já perdi Laura, não posso perdê-la também.- comentou com a voz embargada.

 

— Eu prometo que vamos trazê-la de volta.- garantiu com o olhar firme, o fazendo assentir.- Temos que nos preparar.

 

— Vou colocar um pessoas meu nas docas.- respondeu Durand.- Você vai aparecer sozinho, mas qualquer coisa errada estaremos com você.

 

— Só tragam minha filha de volta.- pediu, devastado.- É o que realmente me importa.

 

***

Rene batia a ponta dos pés um no outro, ansioso com o que estava por vir. Haviam equipes espalhadas nas docas( que continham John e Sara), além de outras extremidades do porto. A falta de visibilidade os favorecia, já que ficavam camuflados. Faltavam dez minutos para o tão importante encontro acontecer. Oliver estava de frente para Rene  na pequena van, assim como, Ray, Felicity, Curtis,Caitlin e Tommy.

 

— Eu entrei nessa confusão por conta de minha esposa.- comentou em tom baixo, chamando atenção dos agentes.- Ela acabou se viciando nessa porcaria. Acabamos nos envolvendo em dívidas, e pra ela não morrer eu entrei no negócio.- suspirou.- Achei que ia ficar tudo bem, comecei a vender lotes pequenos, quando um policial me parou, dizendo que eu poderia ajudar em um bem maior,- sorriu sarcástico.- Aquela época eu não estava tão envolvido, o que me deu esperança de ser absolvido, mas então, em uma noite…- suas feições endureceram.- Quando acertarem uma bala na cabeça dela, por conta do que eu fiz.- levou as mãos ao rosto, em tom cansado.- Zoe não pode passar por isso.

 

— Ela não vai, cara.- falou Oliver, colocando a mão sobre seu ombro.- Eu tenho um filho também, da idade da sua.- sorriu– São complicados, não são?- perguntou os fazendo soltar um riso baixo.- Teve um tempo que ela mal queria falar comigo, quando pedi para buscá-la. Eu só queria protegê-la..-.Fazemos qualquer coisa por eles, não é?- perguntou Oliver, Rene assentiu.- Mesmo que eles não enxerguem assim.

 

— Vocês não são tão engomados como eu pensava.- o provocou, sorrindo de canto.- Seu filho tem sorte de ter alguém como você, pelo menos está do lado certo, né?

 

— Você também está, de um jeito torto, mas está.

Felicity sorriu com seu comentário, quando foram informados de que Conklin havia chegado. Um comunicador foi posto na orelha de Rene, que foi liberado. Seus passos ecoavam pelas pilhas de contêineres espalhados pelo porto. Seu olhar se focalizou em uma figura masculina, bem arrumada, o aguardando com um sorriso presunçoso. Quando mais perto, três homens o revistaram, recolhendo sua arma.

 

— Senhor Ramirez, o nosso novo problema- sorriu Conklin, com a postura confiante.- Como fugiu?

 

— Não é o único com contatos.- mentiu.- E claro que sempre há corrupção, não foi difícil.- deu de ombros.- Eu já estou aqui, onde Zoe está?- perguntou sem rodeios.

 

— “ Nenhum sinal ainda nas docas.- informou Curtis.”

 

— Foi um pouco fácil convencê-la a vir comigo.- o ignorou.- Ela só queria o melhor pra você, e definitivamente este é o seu melhor dos cenários.- comentou, acariciando sua barba.- Mas…

 

— Não havia “mas” no nosso trato Conklin, onde ela está?- perguntou raivoso.

 

— Não haviam muitas coisas no nosso trato senhor Ramirez.- o lançou um olhar de desdém.- E essa é a segunda vez que não cumpre com o que fala, então por que eu deveria cumprir com a minha?

O clima tornou-se tenso tanto na van como no iluminado porto. Os agentes se entreolharam, esperando a atualização de Curtis. O moreno balançou a cabeça em negativa.

 

— Acabaram a varredura, John informou que ela não está lá.

 

— Aquele filho da puta.- resmungou Laurel, irritada.- Nós precisamos acha-lá.

 

— Laurel.- chamou Felicity, segurando suas mãos.- Não é surpresa pra nenhum de nós aqui que vocês dois se apegaram demais a menina, e isso é normal, mas precisam agir usando a razão, ok?- perguntou aos dois amigos.- Nós vamos sair por essa porta.- apontou para a van.- E eu preciso saber se estão com condições para fazerem isso. O que me dizem?

 

Ray e Laurel se entreolharam, deixando claro sua fragilidade em relação ao assunto. Suas mãos se entrelaçaram em um aperto firme, onde mais confiantes assentiram.

 

— Formação.- falou Oliver.- Eu vou na frente e vocês atrás, precisamos ser silenciosos.

 

— Certo.

 

Os cinco saíram, sendo guiados por Curtis até um local que os davam vantagem. Oliver os observava ao longe, quando notou dois pontos saindo das sombras. Olhou para Felicity que assentiu, entendendo a situação.

 

Zoe.

 

Ela estava ali.

 

Rene trincou o maxilar ao assisti-la ser arrastada pelo braço, com uma arma apontada para sua cabeça.´Seus olhares se cruzaram, e o encontro há tanto aguardado por ambos foi interrompido por sua ira.

 

— Soltem ela! Ela não tem culpa de nada, assim como...

 

—  Laura?- Questionou Conklin. Zoe o olhou, confusa.- Pobre criança, não sabe a família que tem.

 

— Minha mãe era uma pessoa maravilhosa!

— 

— Uma viciada.- rebateu, sem paciência.- E seu pai não passa de um bandidinho, que preferiu vender drogas e se afogar em álcool do que estar com você.

 

— Isso não é verdade filha.- falou Rene, desesperado ao sentir seu olhar magoado.- Eu pedi que a levassem para que vivesse bem.

 

— E por isso ficou três meses sem falar comigo?- perguntou com os olhos vermelhos.- E só depois decidiu me dar aquele telefone? Onde conversavamos por menos de cinco minutos?

 

— Eu não tinha escolha.

 

— Sempre temos escolha!

 

Seus humores estavam à flor da pele, principalmente pela mágoa sentida do pai, que quase um ano depois apareceu em uma situação totalmente equivocada. Rene deu um passo em sua direção, sendo impedido de continuar.

 

— Vocês parecem ter se despedido bem.- comentou o homem, observando Zoe.- Realmente uma pena, um grande desperdício, mas é a única maneira de seu pai aprender. 

 

— Conklin, por favor.- clamou Rene estagnado, Zoe fechou os olhos em repulsa ao sentir o cano frio em sua testa.- Por favor.

 

— Tarde demais.

 

O segundo homem, que segurava Zoe, engatilhou a arma, entretanto, o disparo não havia saído de seu revólver. O mesmo grunhiu de dor ao sentir a ardência surgir em seu ombro esquerdo. Conklin agarrou Zoe, a usando de escudo enquanto assistia seus comparsas caírem no chão. Os agentes se puseram ao lado de Rene, apontando para Conklin que também estava armado, os Agentes de Durand também se revelaram, o deixando sem saída.

 

— Se aproximem e ela morre!- gritou nervoso, agarrando Zoe pela cintura, a impedindo de sair.- Eu falei parados!

 

— Todo mundo, quietos.- ordenou Oliver com a voz grave.- Vamos negociar Conklin.

 

— Eu falei pra não se aproximar!- berrou, dando um passo pra trás.

 

— Você está nervoso, não queremos que isso acabe ruim, pra nenhum de nós.- continuou Oliver, calmo.- O que você quer?

 

— Pensa bem.- comentou Ray, chamando sua atenção.- O que você ganhará matando uma inocente? Mais anos na cadeia? Misturados por seus crimes de formação de quadrilha?- indagou, sentindo seu olhar furioso.- Já sabemos quem você é e o que faz, pode se entregar do jeito fácil, que facilitará sua pena, ou a dificultará.

— Não se aproxime.- repetiu ao ver Ray arrumar sua postura.

— Zoe?- a chamou, encontrando seu olhar assustado.- Sua peste.- brincou, a fazendo soltar um riso aliviado entre lágrimas.- Vai ficar tudo bem, ok?

— Mais um passo e eu atiro em você!- esbravejou, retirando o foco de Zoe.

— Lembra do que te ensinamos?- perguntou, ignorando a reação de Conklin. Zoe assentiu, notando pela primeira vez a forma como havia sido pega. Voltou a olhar para Ray, que piscou, entendendo o recado.- Conklin, abaixe a arma.

— Eu falei pra não se aproximar!- repetiu, ao ver Ray dar um passo à frente.- Eu vou…

— Zoe agora!

Zoe o acertou com uma cotovelada na barriga, seguida por mais uma no pescoço. Se desvencilhou do homem que cambaleou para trás, ficando livre para abraçar fortemente o pai. Os agentes se aproximaram, quando Conklin se pôs de pé.

 

— Zoe, atrás de mim.- pediu Laurel, a puxando do pai.- Já estamos indo embora.

 

    - Eu vou preso, mas você vai pro inferno!

 

— Rene pra trás!

 

O aviso de Oliver foi em vão, pois na metade de suas palavras dois disparos foram efetuados com precisão. Tommy conseguiu desarmá-lo, enquanto Caitlin corria para fazer os primeiros socorros. Se ajoelhou no chão, abrindo o casaco e levantando a camisa do homem deitado no chão.

 

— Pai!- gritou Zoe, se sentando ao seu lado– Eu sinto muito meu amor.- pediu, levantando uma de suas mãos até seu rosto, acariciando sua bochecha.- Por tudo, queria que tivéssemos mais tempo.

 

— Você vai ficar bem.- respondeu Zoe, seus olhos se encheram de lágrimas.- Nós vamos ficar bem, você prometeu que iríamos morar juntos, lembra?- disse esperançosa.- E nós vamos.

 

— Me dê sua camisa Tommy.- pediu Caitlin.- Precisamos tentar estancar isso aqui. Lis? Pressione aqui.- pediu para amiga, pegando mais uma camisa seca, já que a de Tommy já se encontrava ensanguentada.- Eles está perdendo muito sangue, temos que ir ao hospital agora!

 

— O hospital mais próximo daqui é 30 minutos.- informou Curtis, trazendo consigo o kit primeiro socorros.

 

— Durand?- perguntou desesperada, a agente assentiu pesadamente.

 

— É o mais perto.

 

— Ele não tem esse tempo.

Zoe engoliu em seco, voltando a olhar pro pai. Notou que seus olhos pendiam, e sua mão, que ainda a acariciava, ia perdendo força.

 

— Pai?- prendeu a respiração.- Pai?

 

— Cuidem dela pra mim, ok?- pediu a Laurel e Ray, suspirando com dificuldade.- Eu te amo Zoe.

 

Sua mão despendeu, caindo no chão. Zoe se debruçou sobre o pai, aos prantos, enquanto Laurel e Ray tentavam com dificuldade a retirar do local. Seu choro, seguido de seus gritos ainda eram ouvidos ao longe. Caitlin tentou uma massagem cardíaca, mas foi em vão. Após o terceiro impulso, Tommy a puxou, balançando a cabeça.

 

— Tudo bem.- a deu um beijo na bochecha.- Fizemos tudo o que pudemos.

 

***

 

O restante da noite foi calorosa. Os três comparsas de Conklin se encontravam bem, já que seus ferimentos foram localizados em áreas consideradas fora de risco. Já Rene não obteve tanta sorte, quando o restante dos agentes da narcóticos, seguida pela polícia florence chegou seu corpo estava coberto por um pano. Conklin, que foi levado em flagrante, foi um dos assuntos que explodiram na mídia, principalmente após o arrombamento de seu laboratório clandestino, chamando atenção mais uma vez para os perigos escondidos nas reservas florestais, que não se encontravam tão protegidas assim. Zoe, que por dois dias ficou em estado de choque, se encontrava melhor, principalmente com as presenças de Ray e Laurel. Ambos conseguiram que a agência desse suporte a menina, que se encaminharia a um novo lar provisório, até que achassem alguém de fato responsável que pudesse a manter em um lar seguro e feliz. A última fase da missão não estava sendo nada fácil. Haviam combinado com Durand que a levariam a nova casa no estado de Seattle. O dia se encontrava mais abafado, com nuvens cinzas. A casa aparentava ser boa, espaçosa  e com um bom quintal. Uma mulher que segurava uma prancheta apareceu, com um sorriso educado, olhando para Zoe.

 

— Zoe Ramirez?- chamou, a menina assentiu, escondida entre Laurel  Ray.- Eu sou Isabelle Lewis, vamos conviver muito no próximo tempo, e eu garanto a você que fará muitos amigos aqui. Vamos?

A mesma assentiu, porém antes, puxou Laurel e Ray em um abraço apertado, soltando um soluço.

— Se você chorar eu vou chorar também pestinha.- murmurou Laurel, a fazendo sorrir de canto.- Prometa que vai ser obediente, e nada de fugir.

 

— Prometo.- suspirou desgostosa, um sorriso brincou em seus lábios.- Mas e se…

 

— Nada de “se” mocinha.- repreendeu Ray, a dando um beijo na testa.- Qualquer coisa que precisar, seja uma conversar ou se quiser que ameacemos algum garoto.- a fez rir.- Não hesite em ligar.- a entregou um cartão, logo em seguida plantou um beijo em sua testa.- Tchau Zoe.– Vocês foram bem legais comigo, todos vocês.- olhou para o restante dos agentes, que a lançaram um sorriso.- Foi bom, mesmo que por somente por dois dias  ter uma vida normal.- seus olhos se encheram de lágrimas outra vez.- Obrigada.

 

A menina hesitou, dando mais outro abraço apertado em Laurel e Ray. A assistiram ser guiada pela senhorita Lewis, os lançando um  último olhar. Laurel cobriu os lábios, abafando o choro, se apoiando em Ray.

 

— Sinto que falhamos com ela.- comentou com a voz embargada, sendo amparada pela irmã.

 

— Fizeram o que puderam.- sorriu Felicity, dando um beijo no ombro de Ray.

 

— Queria ter feito mais.

A equipe os confortou, dizendo palavras doces até que se sentissem melhor. Quando mais calmos, retornaram ao prédio onde suas malas já prontas foram pegadas. Seja qual fosse o próximo destino, Laurel e Ray tinham seus corações presos em um lugar, lugar que passariam a ter um cantinho especial em seus corações por um bom tempo.





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Notas finais do capítulo

Essa cena do passado estava planejada desde quando comecei essa história, e estou realmente feliz que finalmente vocês possam ter o conhecimento dela kkk. E sim, foi a partir desse acontecimento no passado em que o Oliver começou a desenvolver seus problemas para dormir :(
As coisas irão acelerar agora, então fiquem preparados kkk. Como disse no início, o foco do capítulo ficou dividido, esse arco da Laurel e Ray será abordado mais a frente, então não o esqueça. Já sobre nosso casal, momentos divertidos( principalmente pela introdução de um novo personagem) virão, estou ansiosa para escrever logo.
Espero que tenham gostado, comentem e até a próxima atualização ♥



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