Sociedade Mestiça escrita por Nynna Days


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Depois de anos, vim cumprir minha promessa e postar o fechamento da série. Espero que ainda queiram saber como acaba.

Sinto falta de vocês.



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            Dezessete anos. Fazia exatamente dezessete anos que o coração de Rose não batia daquela maneira descompassada. Dezessete anos que não pulava os muros da Sociedade Carmim e se aventurava em uma corrida pela rua com sorriso nos lábios e adrenalina pulsando em seus pulsos. Dezessete anos que aceitou seu destino e foi reverenciada como uma nova Rainha, abrindo mão de própria filha.

            Dezessete anos que Rose não era mais de Christian.

            Não que com as mudanças que ocorreram nos últimos meses, ela fosse voltar a ser dele, mas ela não podia fingir que não estava ansiosa para encontrá-lo depois de todo esse tempo. Demorou a se arrumar, vendo as rugas da idade no canto de seus olhos. Esticou a pele com os olhos e cogitou pedir para um de seus empregados que a curasse. Não. Christian a conheceu em todos os seus momentos mais íntimos. Sua desastrosa festa de aniversário, sua primeira vez, seu parto. Sua despedida. Ela não podia reencontrá-lo com uma mentira, fingindo que sua pele não tinha marcas das consequências das suas escolhas.

Passou as mãos por suas roupas, estranhando o fato de não estar com seu usual vestido longo. Mas tinha que se misturar aos Normais. Por isso estava com um suéter vermelho e calça jeans. Seus cabelos escuros tinham sido presos em uma longa trança por conta do calor e mexia os dedos dos pés adaptando-se ao tênis. Ainda estava observando seu reflexo quando escutou alguém batendo e Joan, sua dama de companhia, abriu a porta.

“Alteza, está na hora.”, informou.

Assentiu forçando um sorriso, não querendo aparentar o seu nervosismo. Tinha debatido com muitos influenciadores Carmim para consegui aquele encontro, por mais que fosse necessário. Não, não apenas necessário. Urgente. Ela não podia deixar passar um dia a mais sequer. Estava com um relógio invisível soando em sua cabeça com cliques cruéis.

No carro manteve-se em silêncio enquanto seus quatro guardiões debatiam entre si o seu plano para garantir sua segurança. Apenas Tobias lhe lançava olhares sutis e agradeceu por nenhum dos Carmim serem capazes de ler pensamentos. Se eles soubessem o quanto ela estava com medo e apreensiva, faria o retorno naquele instante. Passou as mãos suadas pelo pano áspero do jeans e lamentou por não ter convidado Joan para acompanha-la. Teria alguém para conversar e se concentrar.

Lilian lhe fazia falta em todos esses anos. Elas possuíam pouco contato desde que sua antiga guardiã decidiu viver sua vida além dos muros medievais da Sociedade Carmim. Sentia inveja da liberdade de sua antiga amiga. De ir e vir, de poder amar quem queria.

Se Rose fosse esperta, teria usado seu poder para ver como esse encontro acabaria. Porém ela não queria. Parecia trapacear. Queria vê-lo pessoalmente. Ter as reações em tempo real sem nenhum artifício. Quando percebeu que seus guardiões se calaram e que a velocidade do carro diminuiu, seu coração acelerou. Pararam em frente a uma sorveteria e ela soube sem mesmo ter se mexido: Christian estava lá dentro, a esperando.

Esperou que sua guardiã, Tracy, abrisse a porta e saiu elegantemente, assumindo uma segurança fingida. Tobias saiu em seguida, porém apenas se encostou ao carro junto com outro guardião e puxou um cigarro do bolso. Estavam começando seus disfarces. Ofereceu o cigarro ao outro guardião que aceitou, mas nenhum deles acendeu de primeiro. Esperaram o último guardião, Gregory, sair do carro e dar a mão a Tracy, como se fossem namorados.

Esse era o plano então? Fingir estar em um encontro duplo? Rose reprimiu um sorriso pensando que não tinha mais idade para esse tipo de programa.

“Vamos, Rainha”, Tracy disse ajeitando seus curtos cabelos loiros. Abriu a porta e passou primeiro, soltando a mão de Gregory para que ele cobrisse a sua retaguarda. “Ele está ali, Rainha Rosemary.”, informou de maneira discreta, como se fosse uma conversa entre amigas. “Vamos ficar na mesa ao lado. Se acontecer qualquer coisa que lhe desagrade, pode levantar os dois dedos.”, fez o sinal para a Rainha que assentiu.

Tracy e Gregory voltaram a dar as mãos e se sentaram-se à mesa da sorveteria um de frente ao outro. Rose hesitou antes de arrastar para o local que sua guardiã tinha indicado, por mais que seu corpo inteiro vibrasse, ansiando por isso. Parecia uma adolescente. Repreendeu-se por isso e erguer a cabeça, estufando o peito como uma verdadeira rainha. Ignorou os olhares de seus guardiões – e dos outros dois guardiões que estavam sentados em uma mesa paralela a nossa. Dark, com certeza – caminhando até o antigo dono de seu coração.

Christian estava olhando para baixo, forçando-se a prestar a atenção no cardápio a sua frente. Esses últimos dias tinha sido um misto de emoções que ele nem teve tempo de domar. Reencontrar Rose, poder abraçar sua filha. Eram muitas coisas. E o Rei Dark ansiava por cada uma delas. Sobressaltou-se quando escutou a cadeira a sua frente sendo arrastada e o peso de seus ombros sumiu no instante que seus olhos se fixaram no espelho de sua alma que eram os olhos de Rose. Ela se manteve séria, por mais que mexesse suas mãos de maneira nervosa. O tempo tinha sido caridoso com ela, acentuando todas as coisas que ele mais amava, desde o calor que seus olhos castanhos irradiavam, até os cabelos escuros como cortinhas noturnas.

Rose não quis parecer surpresa com o quanto Christian estava bonito. A barba por fazer enfeitava o rosto envelhecido e os olhos cinzas brilhavam como se nenhum ano tivesse passado. Os cabelos loiros estava bem cortados, diferenciando daquele misto rebelde de quando eram jovens, mas continuava bonito.

Odeio ter que fingir que não quero te tocar.

Christian sorriu com esse pensamento antes de estender a mão e pegar na dela. Rose relaxou imediatamente e suspirou saudosa. Não podiam demonstrar muito, por mais que ela soubesse que ele não seria burro de levar outro leitor de mentes com ele para aquele encontro. Tinha quase certeza que todos eram Dark Lutadores. Sabia que se estivessem sozinhos, ela estaria mais perto dele, o abraçando e sentindo seu cheiro. Mas eram coisas demais para lidar.

“Seus guardiões ficaram surpresos também?”, Christian questionou.

Rose riu.

“Não é todo o dia que a Rainha revela que tem uma filha perdida. Muito menos com o Rei Dark.”, ela respondeu arrepiada como a voz de Christian ainda soava forte. “Estou feliz que a encontramos a tempo, Christian. Mas ainda é perigoso demais.”

Christian apertou os dedos dela suavemente, lhe dando forças.

“Não podemos mais esconder, Rose.”, disse de maneira incisiva. “Em breve ela fará dezoito anos e nem sequer sabe do legado que carrega. Ela terá que escolher futuramente, mas temos que lhe mostrar do que nossos mundos são feitos.”, virou a mão dela, virando a palma para cima. “Nós não conseguimos juntar nossos mundos, mas ela pode.”

Rose respirou fundo.

“Estou conversando com alguns Renegados que não aparentam sem do mesmo grupo que a atacou.”, informou. “Quero mantê-la segura de todas as maneiras.”

“Percebemos que longe de nós não é a resposta certa.”

Perdemos tanto tempo...

“Sim.”, Christian lamentou.

Essa é a nossa chance de acabar com essa guerra. Eu quero tanto vê-la, Christian. Não tem um dia que não pense na dor que foi abandonar Jordana... E a você.

Christian fechou os olhos, assentindo e se recordando da dor que foi entregar a sua filha para uma estranha. Em seguida, teve que assumir suas funções como Rei depois do falecimento subido de seu pai com infarto. Nunca contou a ninguém que chegou a bater boca com seu pai, já que o antigo rei descobriu para onde seu filho fugia. Não quis um motim ou que lhe culpassem. Isso ele fazia sozinho.

Abriu os olhos, obstinado.

“Vamos buscar nossa filha, Rose.”


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