It's a Match! escrita por mandy


Capítulo 9
Levemente Irritado


Notas iniciais do capítulo

E aí, companheiros e companheiras de barco, tudo certo?! Vim aqui desenrolar mais um capítulo desa slow fuc***g burn que eu tanto gosto. Espero que curtam também.



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Jantamos assim que chegamos ao acampamento. Era ruim jantar sozinho, mas definitivamente era pior ainda jantar diante da careta de Severus Snape. E não era uma opção simplesmente dar o braço a torcer e me sentar com os meus amigos. Então, calculadamente, eu colocava pouca comida no prato, me sentando próximo a Lily e comendo com alguma rapidez. E, enquanto o fazia, sentia o celular vibrar no bolso. Erguia os olhos a tempo de ver Regulus ainda digitando no aparelho e, quando voltava a vibrar no meu bolso eu precisava respirar fundo. Ele somente guardava quando Crouch se acomodava ao lado. Assim, eu comia ainda mais rápido.

Discretamente eu me despedia das duas garotas com quem tinha algum contato de fato, buscando na cozinha a bolsa de gelo para o nariz e seguindo para o dormitório, a fim de fazer de uma vez a compressa e aliviar a pressão na área entre os olhos. Um tempo mais tarde eu buscava, como um excelente cara de pau, os cigarros de Sirius na gaveta, acendendo um e me refugiando no livro, buscando me concentrar nas páginas interessantes da autora. Em momento nenhum peguei o celular.

E foi assim que passei o resto da noite, ignorando os meus amigos também quando chegaram, até que as luzes fossem apagadas e eu não conseguisse enxergar muita coisa. Esperei até que pudesse acender outro cigarro e aproveitei para ver as notificações no celular. Os olhos por um tempo ficaram focados no Tinder, mas eu não abri. Não era nada de importante.

 

Quando acordei no dia seguinte, os rapazes já estavam de pé. Fiquei por um tempo encarando o estrado da cama, enquanto eles conversavam algo sobre a ida para a cidade no final de semana e a possibilidade de comprar alguma bebida alcoólica mais, como se as três garrafas no armário não fossem suficientes. Então me sentava, preguiçosamente, massageando o nariz devagar com a ponta dos dedos quando Peter, saltitando, se aproximou da minha cama e me estendeu a bolsa de gelos.

— Peguei pra você no refeitório – me dizia com um sorriso na cara – Assim você não precisa ficar com cara de tonto enquanto todo mundo come e você tenta consertar o nariz.

— Pegou porque é um baita puxa saco! – James intervinha com um riso.

Reconhecia naquelas palavras uma estratégia comum entre eles: fingir demência. Dormir e acordar como se a noite pudesse varrer os problemas passados, como se mimos pudessem me amansar. Claro, Peter não tinha muito a ver com a discussão, estava com Mary durante a maior parte do tempo. Mas James ficava do lado de Sirius - e era sempre assim, independente de certo e errado. Mas calar, no mais verdadeiro dos clichês, era consentir.

— Obrigado – agradecia educadamente logo depois de pegar a bolsa, recostando a cabeça na parede e não me importando em contar os minutos daquela vez.

Sirius não era a pessoa que dava o braço a torcer facilmente. Não estava calado, agia com naturalidade junto aos outros, mas mesmo quando dirigia os olhos a mim, não dizia nada. Eu não seria o primeiro a falar daquela vez. Então, assim que terminava a compressa no nariz machucado, me levantava da cama e vestia uma camiseta decente, sem os buracos da que eu usava como pijama, seguindo para a porta.

— Eu tô indo pro café. A gente se vê mais tarde…

Não havia me dado ao trabalho de ver a hora no celular, apenas seguia para o refeitório com ele no bolso. Cedo demais, quem sabe. Não havia muitas pessoas ali, então me sentava numa mesa vazia depois de me servir e, logo, me via acompanhado de Lily e Marlene.

— Marlene acha que você e os meninos brigaram, o que faz algum sentido já que os seus amigos às vezes podem ser um grande porre – Lily introduzia o assunto diretamente, sendo seguida por Marlene na sequência.

— Claro, faz sentido, mas Lily diz que eu também sou um porre e continua me amando. Porque você não ama mais os meninos?

Argh! — resmunguei, tomando um pouco do suco de manga do copo. Estava tão gelado que fazia doer a minha cabeça, mesmo depois de uma compressa de gelo – Não é nada demais. Logo a gente tá bem.

— Hum… – mas Lily não parecia muito convencida da minha desculpa.

Comemos os três juntos enquanto eu observava o refeitório encher. Numa mesa afastada, via Severus se sentando com Regulus e Bartemius. Me lembrava que tinha uma mensagem no Tinder para responder, mas continuei a comer como quem não se importa.

— Porque é que o Snape não está grudado em você hoje? – Questionava, da mesma forma intrometida com que elas haviam se aproximado de mim.

— Porque ele é o rei dos porres! – Marlene respondia por Lily.

— Não diga muito alto, ou Sirius vai querer roubar a coroa…

— Aparentemente a escola é dominada por pessoas insuportáveis e o acampamento só anda ressaltando a característica… – a garota ruiva revirava os olhos, tomando do seu suco – Quero dizer, onde é que estão os vínculos se fortalecendo, as grandes histórias de amor?

— Snape tentou te oferecer uma dessas, mas você negou… – Marlene falava num muxoxo ao que eu arqueava as sobrancelhas.

— Como é que é? – indagava.

Eu nem havia reparado na presença dos meus amigos, até que se aproximassem. Eu poderia apostar que aquela era uma ideia de Peter, que novamente estava junto de Mary, amiga das outras duas garotas na mesa, assim como ele era o meu amigo. Definitivamente não era a ideia de James que, diferente do seu comportamento habitual, tinha os olhos baixos e mexia nos cabelos mais do que o normal, não para manter a aparência rebelde dos fios, mas como quando está nervoso. Não me surpreenderia, porém, se fosse uma ideia de Sirius. Afinal, ele ainda continuava agindo como se nada de importante houvesse acontecido e nada mais natural do que sentar naquela mesa, onde eu estava. E minha pergunta para Lily ficava sem resposta.

Depois de morder um pedaço de torrada, os olhos radiantes de Mary se voltaram a todos na mesa.

— E então, preparados para o jogo de hoje?

O dia da revanche na Queimada. Eu havia me esquecido completamente.

Somente Mary parecia animada com aquilo.

Éramos sete na mesa. Os sete integrantes da equipe da Grifinória. A maioria estava entretida no assunto, sobre o jogo, sobre uma possível comemoração clandestina após a vitória - sediada pelo nosso quarto, e ninguém se importa com a sua opinião, Remus, obrigado— e eu me sentia completamente deslocado. Isso porque ainda me negava a dar o braço a torcer e deixar que a história de homossexuais promíscuos morresse com uma visão preconceituosa. E, ainda que em silêncio, me sentia culpado. Quero dizer, porque eu não podia simplesmente me divertir, como todo mundo?

Me sentir culpado me deixava irritado. E foi irritado que me levantei da mesa sem esperar que os demais terminassem o café, levando o meu prato para a cozinha e seguindo para o pátio central. Como era possível, num assunto que eu certamente tinha razão, eu me sentir culpado? Sentei num dos bancos, sacando do bolso o celular e, automaticamente, abrindo a mensagem de Regulus, de muitas horas atrás. Naquele momento, eu sinceramente não tive olhos para o que ele havia me mandado, apenas digitei sem pensar:

 

LUCI: Você já ficou com garotos?

 

E, inquieto, eu dava tudo por um cigarro naquele momento. Segurei o celular com ambas as mãos enquanto observava primeiro os portões que nos levavam a parte externa do acampamento, trancados, depois, os alunos que começavam a deixar o refeitório, se amontoando no campo já dividido para a Queimada. Minerva McGonagall passou, acompanhada dos demais monitores, apontando o dedo para mim sem deixar de percorrer seu caminho.

— Você, suspenso do jogo! – Disse e eu só pude agradecer, mentalmente, ainda prestando atenção enquanto ela se voltava ao monitor da Sonserina – Slughorn, trate de ver com a sua equipe qual dos meninos deixará de jogar hoje.

Era justo.

Um tempo depois, o celular vibrava em minha mão. Duas, três vezes.

 

REGULUS: Bom dia?

REGULUS: Que tipo de pergunta é essa?

REGULUS: Porque quer saber?

 

E uma quarta vez, depois de considerável demora na resposta.

 

REGULUS: Luci?

 

Olhei ao redor, buscando pelo irmão mais novo dos Black, mas via somente o meu grupo de amigos aglomerado, ainda conversando de forma entretida. Alguns membros da Sonserina já estavam em campo, se exercitando com ares confiantes, mas nenhum sinal de Regulus, Snape ou mesmo Bartemius. Mordi a bochecha, levemente arrependido de jogar o assunto de forma tão direta, mas não existia um jeito de excluir a mensagem, principalmente depois das respostas do destinatário. Eu só não sabia como explicar no momento, então guardei o aparelho, de novo estando inquieto.

Logo os bancos estavam cheios. Regulus foi um dos últimos da equipe da Sonserina a chegar e, assim, McGonagall explicava como funcionaria a dinâmica daquele dia, por mais que todos já soubessem. Primeiro, o jogo decisivo entre Grifinória e Sonserina. E, como a quarta-feira estava planejada para a final dos jogos de Queimada, o time vitorioso enfrentaria a Lufa-Lufa depois do almoço. Antes de começar, a monitora perguntava se o time adversário ao que eu estava já havia tomado uma decisão sobre qual dos jogadores abriria mão da partida e Narcissa, dando de ombros, saiu de campo. Sentou-se ao meu lado.

— Lembrem-se: devem acertar o adversário com a bola, mas não são necessárias jogadas violentas – mesmo quando McGonagall não olhava para Regulus, a indireta o fazia ficar vermelho até as orelhas – Queremos um jogo limpo e tranquilo. Não hesitaremos em punir o primeiro brutamontes que transformar o campo numa área de batalha!

E então, a monitora da Lufa-Lufa apitou.

Sonserina saiu com a bola, passando de um membro para outro. Sirius, James e Marlene estavam tão preocupados com Severus e Regulus que a jogada de eliminação de Peter, do meu time, fez a arquibancada explodir em risos. Fora Zabini, o mais alto da equipe adversária, a erguer a bola acima da cabeça do meu amigo e, de forma inesperada, somente a soltou. E naquele momento eu percebi que somente focar naqueles que eles consideravam inimigos era um erro. O time da Sonserina inteiro era o inimigo. Mas os meus amigos, cheios de adrenalina, eram burros demais para compreender e não foi uma surpresa quando, entre deboches e piadas, fomos massacrados.

Lily, Mary, Greengrass, Snape, James. Um por um fora deixando o campo, restando nos últimos minutos apenas Avery, Zabini, Evans e Regulus Black, da Sonserina, e Marlene e Sirius da Grifinória. E quando Regulus eliminou Marlene, eu pude ver as veias saltadas na testa de Sirius. E, se Regulus nunca sorria, daquela vez os lábios se abriram de ponta a ponta.

Quando os amigos lhe entregaram a bola eu me levantei, aflito. Observei Regulus se aproximar, quicando a bola no chão e o riso sarcástico de Sirius dançando no rosto. Abriu os braços. Quis sair por cima no final, claro, mas isso não impedia a derrota da Grifinória. Quando Regulus somente encostou a bola no peito do irmão, o apito soou.

Vitória da Sonserina.

No momento em que Sirius deixou o campo ainda tinha a expressão de desdém na cara, mas seguia direto para a cabana que dividíamos. Regulus, que cumprimentava os companheiros, com o rosto avermelhado e cabelos grudados na testa, sorria muito discretamente desta vez. Ele deveria estar feliz, no final das contas, havia conseguido a sua pequena vingança pessoal. E, naquele momento, eu não conseguia sentir nenhum pouco de pena.

Não somente os sonserinos estavam eufóricos. Agitados, os lufanos se amontoavam numa conversa baixa, com exceção, claro, a Bartemius. Junto de Regulus eles se batiam as mãos, se empurravam, se desafiavam entre risos para a próxima partida. E a maioria dos outros alunos, depois, se dispersava pelas áreas abertas do acampamento.

Eu somente deixava a arquibancada porque o sol já começava a ficar um pouco mais forte no céu, procurando a sombra de uma árvore para me sentar embaixo. Ainda cogitava buscar o livro, mas não faltava muito para o almoço, e desta forma, sem me importar com as notificações nas redes sociais, eu me voltava ao Tinder, encarando as mensagens sem resposta de Regulus. Eu, definitivamente, não sabia como responder e só restava, para mim, improvisar.

 

LUCI: Esquece kkk

LUCI: Como está sendo o seu dia?

 

Eu esperava que ele comprasse a mudança de assunto, mas Regulus devia estar animado demais para visualizar naquele momento. Ainda mais na companhia de Barty. Então esperei, até que as portas do refeitório fossem reabertas, me abrigando lá dentro mesmo quando não tinha muita fome. Meus amigos se juntaram uma vez mais à mesa um tempo mais tarde, desta vez sem Mary estar presente, ou sem a influência de Lily e eu continuei a guardar silêncio. Não era muito diferente deles, daquela vez, frustrados.

— A gente devia investir na festa de comemoração… – Peter foi o primeiro a dizer, enchendo a boca de purê de batatas em seguida – Mas… No caso, uma festa de não comemoração. Descomemoramos.

— Essa palavra nem existe… – Sirius implicou, suspirando um tempo mais tarde – Mas a festa está de pé.

Revirando os olhos uma vez, eu precisei me meter, quebrando o voto de silêncio.

— Eu não acho uma boa ideia…

— Você é voto perdido, Remus – era James quem me interrompia agora – Até a Evans concordou com a festa, relaxa. Está tudo sob controle.

— Claro, foda-se – e voltava a ficar quieto, afastando o prato de comida e me voltando uma vez mais ao celular.

Regulus havia respondido.

 

REGULUS: Sem chances. Me explica porque de repente você me fez essa pergunta.

 

Olhei ao redor, buscando-o no refeitório, mas ele ainda não estava ali. E, como faltavam algumas horas para a partida final da Queimada, voltava junto dos garotos à cabana, ainda sem tê-lo visto. Com o fone de ouvido, deitado em minha cama, era mais fácil de ignorá-los. Mais fácil também de responder Regulus no aplicativo, explicar para ele o real motivo da minha pergunta - omitindo nomes e situações - e, sem obter uma resposta imediata, me concentrava novamente na história de Simon.

Quando a resposta veio, os meus amigos cochilavam nas devidas camas.

 

REGULUS: Então você brigou com os seus amigos e resolveu perguntar, aleatoriamente, se eu já beijei algum garoto?

 

LUCI: Sim. E então fiquei pensando um pouco.

LUCI: Tipo, qual problema de gostar de alguém do mesmo sexo? A sua sexualidade não constrói a sua personalidade.

LUCI: Não é?!

 

REGULUS: Definitivamente não.

 

LUCI: O que você acha disso?

LUCI: Digo, sobre gays.

LUCI: Vocês não os acha promíscuos ou coisa do tipo?

 

Regulus e Sirius haviam sido criados sob o mesmo teto, as mesmas regras, os mesmos pais, mas a vida já havia provado, com eficiência, que eles não tinha nada a ver um com o outro. Eu, que até alguns dias atrás relacionava Regulus aos demais rapazes mimados e mesquinhos do colégio, com ideias retrógradas típicas de adolescentes moralistas, agora me sentia nervoso, porque a qualquer momento ele poderia só me provar que Sirius estava certo, que era realmente uma miniatura do Sr. Orion Black. Afinal, se Sirius Black, o meu melhor amigo, a quem eu poderia confiar a minha vida, tinha uma ideia tão ignorante acerca de homossexuais, o que eu deveria esperar de Regulus, quem havia acabado de “conhecer”?

 

REGULUS: Foi o que os seus amigos disseram?

REGULUS: Bem, o conceito de promiscuidade é meio… complicado. Se significa ficar com bastante gente e, não sei, fazer “coisas”, bom… eu conheço heteros que são. E que se orgulham de ser. Então, no final, eu não acho nada.

 

O alívio foi incontido já que, mesmo não achar nada poderia significar muita coisa. Poderia significar, principalmente, não se deixar levar por um senso comum antes de analisar uma situação.

— A gente vai perder o jogo… – me sobressaltava com a voz preguiçosa de James e só então percebia que os meus amigos já estavam acordados, se preparando para levantar.

Lá fora eu podia ouvir a voz dos outros que provavelmente se dirigiam para a área central do acampamento. Suspirando uma vez, fechei o livro, me mantendo deitado, no entanto, voltado para o celular.

 

REGULUS: Eu não conheço ninguém que seja gay, na verdade.

 

— Você não vai, Remus? – Ouvia a voz de Peter, me chamando animada, enquanto os outros dois se dirigiam para a porta.

— Eu encontro vocês lá.

E, depois da saída deles, eu insistia na pergunta inicial.

 

LUCI: E você já ficou com garotos?

 

REGULUS: E você já ficou com garotas?

 

LUCI: Já.

 

REGULUS: Já.


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Notas finais do capítulo

Pois então, postado. O que acharam? Estando eu de quarentena como todo mundo, devo terminar em breve de escrever a fanfic...
PS: Remus Lupin pistola: TUDO PRA MIM
Beijos e até o próximo!!



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