It's a Match! escrita por mandy


Capítulo 2
It's a Match


Notas iniciais do capítulo

Oiê. Bem vindos, navegantes! Espero que gostem do novo capítulo!



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— Eu preciso de uma foto.

Rapidamente os olhos de Sirius se voltaram para mim. As sobrancelhas se arquearam com ares surpresos, mas eu podia ver o brilho vitorioso em seus olhos. Falso. Sirius sempre tinha o que queria, no final das contas, por mais que eu tentasse lutar contra o fato. Logo eu tinha mais três cabeças junto a minha, as pernas jogadas umas por sobre as outras, o espaço ainda menor na cama de solteiro.

— Que tipo de garotas será que o Reggie gostaria de se envolver? – Sirius questionava, pegando o próprio celular e acessando a sua própria galeria de fotos.

— Se for igual a você é simples – James fazia a mesma coisa, seguido por Peter então – Qualquer uma.

— A maioria dos garotos burgueses têm um padrão: loiras com peitos grandes – usava do senso comum, lembrando-me do quanto os garotos do colégio exibiam as fotos de suas namoradas imaginárias, perfeitas.

— Não é esse o meu padrão – James se defendia, encolhendo os ombros na sequência.

— É claro que não – Peter intervinha – O seu padrão é ruivo…

— Nerd – Sirius completava.

— Marrenta – dava a minha contribuição.

Desde a nossa terceira série James era apaixonado por Lily Evans. E, por um tempo, todos nós levávamos na brincadeira. Ríamos de cada fora que ele tomava da garota ruiva, mas então, as coisas começavam a ficar sérias demais. Enquanto James se aproximava, a irritação de Lily se tornava latente, e isso não passava despercebido por nenhum de nós. Nem por ele. Achávamos que aquilo, talvez, tivesse alguma relação com as brincadeiras com Severus Snape que era, ainda, o melhor amigo dela. Justo. Eu também ficaria puto se mexessem com os amigos, mas James oscilava entre estar bravo e chateado. Bravo porque, pela primeira vez na vida, ele não era o escolhido. E chateado porque, realmente, estava apaixonado por ela.

— A questão é que eu não acho que Reggie curta padrões – o irmão mais velho tomava a voz, bloqueando a tela do celular num ato sensato. Nenhuma das garotas de Sirius Black agradariam a Regulus, na minha opinião - e eu nem o conhecia bem assim – Quero dizer, olhem para o Crouch. Ele é todo… esquisito. Às vezes, quando ele olha pra você, parece que os olhos vão saltar de dentro das orbes.

Eram olhos curiosos, os de Bartemius. Às vezes medonhos, de fato, mas não era como se eu passasse o meu tempo olhando para ele ou, como Sirius fazia, tentando descobrir que tipo de relação o rapaz tinha com o mais novo dos Black.

— O que acham dessa daqui? – o celular de Peter se voltava para os nossos rostos um momento depois.

— Cara, essa é a Megan Fox.

E por um tempo ficamos em absoluto silêncio. Era triste pensar que os nossos cérebros poderiam estar sendo aproveitados para coisas mais úteis, mas que estávamos empenhados, deveras, em encontrar uma garota para criar um perfil fake num aplicativo medíocre.

Buscava imagens no pinterest, começando por tags óbvias demais - girls, models, teen girls— que me davam opções tão óbvias quanto, para depois me deixar levar por links, que me levavam a outros links e mais outros, até que eu não soubesse mais pelo que estava procurando exatamente, enquanto os meus amigos me mostravam uma foto ou outra, todas elas que claramente delatariam um perfil fake.

Talvez Regulus gostasse de garotas cultas. Quando imaginava o irmão mais novo de Sirius ao lado de uma garota, ela geralmente era um pouco mais baixa do que ele. Tinha os cabelos negros, claro, não poderia manchar a imagem da família Black. Usava roupas comportadas, talvez um cardigã amarelo como o de Peter, na versão feminina, com a gola da camisa social para fora, ou um vestido não muito justo, nem muito comprido ou muito curto, as roupas variavam. Mas ela, sempre estava de óculos.

Então foi a linha que segui.

A maioria delas, no entanto, pareciam modelos famosas, perfeitas demais, irreais. Olhando para as garotas que nos rodeavam, eu dificilmente acreditaria que uma Angel da Victoria Secret’s me daria um like num perfil do Tinder. A garota que mais se encaixava nos padrões de perfeição era Narcissa Black, a prima de ambos, com seus cabelos loiros e compridos, com um sorriso sedutor no rosto que me fazia perder o ar somente por olhar para ela. Eu tinha de pensar no tipo de garota de Regulus, no entanto.

Mas, me deixando influenciar pelo meu gosto pessoal, eu inclinava a tela do meu celular para os meus amigos.

— Olha.

Na foto em questão, a garota tinha os cabelos curtos coloridos de roxo, meio desbotado, cobrindo parte do rosto. Era possível, ainda assim, identificar traços orientais. Era completamente diferente do que eu havia imaginado ser o estilo de namorada para Regulus Black. O riso e a negação de Sirius eram compreensíveis, visto que ela vestia uma jaqueta maior do que o seu corpo e, na foto, comia alguma coisa, pipoca talvez, sem pose cerimoniosa.

Mas estava de óculos.

— Esse é o seu gosto, Remus. Se o Reggie gostar de garotas, não será esse tipo de garota – balançou a cabeça negativamente então – Eu acho que minha mãe preferiria que ele namorasse Crouch a namorar com ela.

— Eu não tenho um tipo de garota…— disse, o rosto se contorcendo numa careta automática.

— Tem sim. Ramona Flowers…

Hit-Girl…

— Aquela garota emo que você gosta, do Paramore…

E os meus amigos poderiam passar horas nomeando garotas que eu era apaixonado quando mais novo. A maioria delas tinham alguma coisa em comum: os cabelos coloridos, a personalidade fodidamente forte, os óculos...

— Garotas nerds que batem nos caras na cama...

— Remus gosta de apanhar de mulher bonita!

— A Doe Meadowes – Peter finalizava, ao que eu revirava os olhos, não querendo pensar na minha antiga namorada.

— Dá pra calar a boca? – Dizia com a voz brevemente alterada. E depois, emendava num muxoxo – É mais real do que as que vocês sugeriram. Olha o efeito da foto: não parece que foi feita em estúdio, tem cara de edição de aplicativos para Android. E não tem o nome dela aqui, o que significa que ela não é famosa e, consequentemente, que ele não vai ligar a televisão e dar de cara com a garota que encontrou no aplicativo.

— Isso se ele gostar de garotas.

Revirei os olhos.

— O Six meio que tem razão – James intervinha.

— Eu gosto. Acho descolada… – no momento seguinte, Peter tirava o celular da minha mão para analisar mais de perto.

— Mas o Regulus… 

E quando Sirius começava a falar novamente, eu precisava interromper.

— Sou eu quem estou fazendo o perfil, não?! Me deixa fazer do meu jeito. E além do mais, o trato não é só procurar o garoto no meio dos outros pra você saber se ele curte ou não meninas? O plano não é fazer ele se apaixonar não...

Sirius fez careta enquanto dava de ombros, feito o menino mimado que às vezes parecia ser. Em resposta eu revirei os olhos, tomando de volta o celular da mão de Peter e salvando na galeria as imagens que havia encontrado, logando no aplicativo no momento seguinte. Novamente três cabeças com olhares expectativos, dando palpites quanto ao nome, idade, perfil e qualquer outro detalhe que achavam pertinente opinar. Entramos num consenso quanto a distância e a idade: os perfis tinham de estar num raio pequeno de aproximação e, entre dezoito e vinte anos - já que dezoito era o mínimo que o Tinder permitia - seria mais fácil de encontrar Regulus. O resto foi uma longa discussão.

Mas o perfil estava criado, enfim.

 

Luci, 18

menos de um quilômetro de distância

 

“há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia”.

 

E, para quem não pretendia iniciar conversa nenhuma, citar Hamlet já estava de bom tamanho.

Ficamos o tempo que nos restava passando para a esquerda alguns rapazes que encontrávamos. Alguns mais interessantes do que outros, mas nenhum de nós gostávamos de homens, em tese, então, independente de serem caras bonitos, na minha opinião, aquele não era o objetivo. A maioria dos perfis eram de adolescentes no ensino médio, porque ninguém se importa de fato com regras de redes sociais e o sistema não era de fato muito eficiênte. O perfil de Luci era uma prova concreta.

— Para, para! Esse é o Snape??? – James tirou o celular de minha mão de forma brusca, diante da imagem de perfil de Severus no aplicativo.

— Me deixa ver!!! – era Sirius quem arrancava o celular agora. Pigarreou e leu o perfil, com uma voz exageradamente grossa – “Não existem razões certas para me prender aqui. A superficialidade humana tem nos levado ao apocalipse e eu, um tolo, tento me agarrar a esperanças vãs”, mas que porra é essa?

O riso foi inevitável. O pior era que eu podia imaginar Severus Snape numa palestra, falando sobre a superficialidade e o apocalipse do mundo. Meu devaneio ia além quando imaginava um monte de burgueses zumbis, metidos em suas roupas de marca, aplaudindo aquela coisa pomposa demais que não fazia sentido nenhum.

Like!

— Sirius, não! – tomava de volta o celular de sua mão, mas tarde demais.

Não havia mais perfil de Severus Snape.

Mas também não havia match, o que era um alívio.

Então continuei a negar todos os outros perfis, categoricamente, até que não houvesse mais nenhum outro. O que nos restou foram rostos decepcionados e a prova de que a ideia de Peter não servia de nada.

— Ele pode não estar logado aqui, no acampamento… – como se prevesse o que se passava em nossas cabeças, Peter argumentou.

— Ele pode não ter um perfil no aplicativo – intervinha eu em seguida.

— Ele pode estar namorando com o Crouch… – Sirius continuava com a sua teoria ao que James, já também cansado do jogo, se levantava e saía da cama, nos deixando respirar um pouco melhor.

— Ah, pelo amor de Deus. Já está na hora do almoço e, por coincidência, eu já estou morrendo de fome.

Antes de sair, nos livramos da roupa suada de viagem. Tínhamos diferenças corporais consideráveis, mas cedia a Peter e lhe emprestava uma das minhas bermudas. Precisava confessar que ficava melhor nele do que em mim, já que era mais como um short curto nas minhas pernas compridas e, para ele, tinha o tamanho minimamente adequado.

Seguimos para o refeitório onde a maioria dos alunos já estavam reunidos. Não pude deixar de notar as caretas. Também pudera. Não havia suco industrializado, não havia refrigerante e os lanches eram algumas variedades de sanduíches de ervas, biscoitos e bolo, desses caseiros. Para a sobremesa, salada de frutas. Pra mim estava tudo ótimo, mas eu dispensava os sanduíches com ervas. Me servia de bolo, biscoito e suco de laranja, seguindo para uma mesa vazia, acompanhada de meus amigos.

E, depois de comermos, os instrutores do acampamento nos passaram a lista de atividades. Tínhamos atividades todos os dias, com exceção aos finais de semana que, supostamente, éramos livres para fazermos o que quiséssemos. Teríamos que formar equipes de competição no dia seguinte e cada vitória nos valeria pontos. A recompensa final era, além de um troféu, escolhermos o tema da festa final no acampamento.

— E, os demais grupos, ficam encarregados em ajudar na organização – finalizava a instrutora e gerava uma comoção quase geral dos alunos.

Ninguém queria trabalhar nas férias, afinal de contas.

E enquanto se iniciava uma discussão entre alunos mesquinhos que não aceitavam ordens daqueles que chamavam de subordinados, eu me peguei com os olhos sobre Regulus Black. Ele se mantinha quieto ao lado do amigo Bartemius, sem parecer interessado na discussão. Tinha os olhos voltados para qualquer lugar vago, a expressão séria de todos os dias. Novamente me peguei imaginando se Luci, o fake do Tinder, faria o estilo dele de alguma forma, já que pareciam tão diferentes. O que um garoto como ele escreveria na biografia do Tinder? Era difícil ler as suas expressões. Estaria ele buscando uma namorada que pudesse apresentar aos pais, se casar com ela, ter filhos? Ninguém buscava aquele tipo de coisas num aplicativo de relacionamentos, no final das contas. Mas ele também não parecia buscar alguém como Luci. Porque Luci era o meu estilo, não dele.

Mas talvez ele buscasse alguém como Barty.

Por um momento olhei o garoto ao lado, que prestava atenção na discussão apenas para concordar e discordar em silêncio. Às vezes dava em Regulus uma cotovelada, que somente assentia sem realmente prestar atenção. Bartemius Crouch Jr, filho de político de renome, tinha muito dinheiro. Tinha, além dos olhos curiosos, uma fala eloquente e aparentava ser deveras inteligente. Tinha os cabelos loiros bem alinhados, usava uma roupa casual que estava mais nova do que a minha melhor e mais cara peça, tipicamente. Muito provavelmente era do agrado da família Black. Então, seriam eles namorados, como Sirius intuía?

— Hoje vocês tem o resto do dia de folga – o outro instrutor, depois de acalmar a algazarra, nos dava as coordenadas daquele dia – Aproveitem para descansar, não se atrasem para as refeições e durmam cedo. O horário de recolher é às dez da noite. Pela manhã vocês receberão o calendário completo das atividades da semana.

O dia passou rápido até. Deu tempo de dormir a hora do jantar, comer do banquete diverso servido no refeitório e aproveitar um pouco da noite, sentados do lado de fora do quarto, e para isso precisamos abusar do repelente. Após o horário de recolher as luzes externas se apagavam. Algumas, advindas das cabanas, ainda se mantinham acesas, como era o nosso caso ali, ao menos enquanto fumávamos um cigarro para finalizar a noite e, depois da ligação da srta. Pettigrew para saber como estava a estadia do filho, resolvemos acender mais outro. James e Sirius tiraram par ou ímpar para saber quem é que ficava com a cama de cima da beliche e, com a derrota de Sirius, Peter acabou por ser enxotado da outra beliche superior, acima da minha, se acomodando abaixo da de James.

Relia, pela segunda vez, o Apanhador no Campo de Centeio, buscando em cada página o que a leitura de minha infância me havia feito sentir. Ao invés disso me sentia estranhamente diferente. Inovado. Era ainda melhor do que a primeira vez. Então, aquele certamente voltava a ser o meu livro preferido naquela noite. Mas eu sabia que, no momento em que abrisse outro, este outro se tornaria o meu mais novo preferido e assim sucessivamente. Dependia sempre do momento..

Mas James, um tempo depois, questionava se poderia apagar a luz.

— É que eu não consigo dormir com a luz acesa.

Os outros dois já estavam dormindo, então, justo.

Me cobri e peguei o celular para matar o tempo até sentir sono. Eu não gostava de Facebook e o Twitter aparentemente não tinha muita novidade, apesar que eu sempre perdia tempo ali. Lembrei-me, de súbito, que ainda não havia respondido a mensagem de boa noite de minha mãe e tratei de fazer isso com alguma rapidez, lhe contando que o acampamento era legal e que estava me divertindo de verdade, mesmo que nada de interessante houvesse acontecido ainda. As pessoas eram as mesmas, mas irritantes num grau maior por não estarem em Paris, Itália, Nova York ou qualquer cidade dos sonhos.

E, mesmo depois de tudo isso, eu ainda estava sem sono. Então, somente por curiosidade, acessei o Tinder. Haviam mais pessoas disponíveis ao redor. Eu não entendia muito bem como funcionava, mas comecei por ignorar todos os rostos que via pela frente. Por brincadeira, me deixei dar like em um rapaz de vinte anos, de cabelos e barbas compridos. Nenhuma resposta, então continuei. Foi quando o vi.

 

Regulus, 18

menos de um quilômetro de distância

 

Eu não estou aqui com a esperança de encontrar alguém, de fato. Mas estou aqui. Não espere por respostas imediatas, eu prefiro um bom livro à tecnologia. Uma inverdade: a minha idade. Uma verdade: eu não acredito na paz mundial. Mas se eu puder viver em paz comigo mesmo, já é o suficiente.

 

— Sirius! – chamei, exasperado, me sentando na cama de forma brusca e, enfiando a mão entre a parede e a madeira da beliche, lhe apertei o braço – Sirius, acorda, vem aqui!

— Sai, Remus… – resmungou.

— Eu encontrei o Regulus!

Num salto Sirius estava de pé. Se metia em minha cama então, tomando o celular da minha mão e analisando o perfil, como quem quer acreditar que é de verdade. Passa de uma foto para a outra - são três no total -, relê o perfil, balança a cabeça em negativa.

— Era a prova que você queria. Não era? O seu irmão é hétero.

— Não tem como ter certeza em um aplicativo…

E, antes que eu pudesse retrucar, ele deslizou a tela para a direita. Senti o coração disparar no mesmo momento, mas foi ainda pior quando a mensagem apareceu na tela:

 

It’s a match.


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Notas finais do capítulo

Oi, pessoas. Como estão? O que acharam? Críticas construtivas, observações, dicas, são sempre bem vindas!

Ah! Eu resolvi ilustrar algumas interações no aplicativo, as caras dos personagens, coisas do tipo. Caso alguém queira ver, está no twitter, deixo o link aqui: https://twitter.com/mandyravenclaw/status/1222652984527593472?s=20

No mais, espero que tenham gostado deveras!
Até o próximo!



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