It's a Match! escrita por mandy


Capítulo 11
Sete minutos no paraíso


Notas iniciais do capítulo

Então, título sugestivo.
Ou não.



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Porque ele estava ali?

Regulus adentrou o quarto de cabeça baixa, cumprimentando os que já estavam no quarto com um aceno. Os cabelos, que quase sempre estavam bem penteados, caíam na testa desta vez, como quem não levava a sério deveras o evento “festa na cabana”. Não que a nossa fosse uma festa de verdade: a música estava baixa para não levantar alarde, as janelas estavam fechadas assim como a porta, os convidados eram poucos. Mas ele estava ali, afinal. Por quê?

— Reggie! – Sirius se aproximava, envolvendo os ombros do irmão mais novo com um dos braços, bagunçando os seus cabelos com a mão livre – Que bom que veio. E trouxe companhia, olha!

Por conta da minha comoção pessoal, eu nem havia notado a presença de Narcissa. E de repente todas as minhas inseguranças estavam ali. Lily e sua certeza sobre o machismo inerente ao homem, Narcissa e seus peitos grandes, Regulus e sua bissexualidade… Respirei fundo uma vez, terminando assim o conteúdo em meu copo.

No final das contas éramos nove, socados dentro de uma cabana não muito grande, ouvindo música pop, conversando com vozes consideravelmente baixas até que as luzes se apagassem lá fora. Boa parte do tempo eu permaneci sentado na minha cama, cedendo à vodca desta vez, observando as pessoas ao redor. Amarrando as pontas, imaginava que Sirius deveria ter convidado Regulus e que Lily muito provavelmente havia insistido para que ele fosse junto, fazer companhia um para o outro já que eram amigos. Narcissa deveria ter sido coagida por Regulus e, no grupo dos três, ela era a única que bebia. Me perguntava onde estaria Bartemius, já que nunca parecia desgrudar do Black mais novo. Não era um lamento, em todo caso.

Mais de uma vez me pegava olhando para Regulus. E, quando ele distraidamente mexia no celular eu, automaticamente, mexia no meu, sem receber nenhuma nova mensagem, no entanto. Talvez fosse por conta da bebida, mas me sentia enjoado, um redemoinho de pensamentos fazendo bagunça na minha cabeça somente porque eu o olhava, então por um tempo eu tentava me concentrar em qualquer outra coisa - em Lily, que começava a ceder e beber um pouco do copo de Narcissa, em Sirius, James e Lene, entrosados como velhos amigos, em Peter que tinha a cabeça no colo de Mary enquanto ela lhe apertava e cutucava as bochechas…

Até que Sirius se sentasse do meu lado. Nenhum de nós disse nada por um tempo, sequer nos olhávamos e a tensão começava a ser quase palpável. Sem dizer nada ainda, Sirius tirou o maço de cigarros do bolso, levando um à boca antes de passar para mim, que logo fiz o mesmo, ainda sem olhá-lo.

— Você não pode me ignorar pra sempre – puxou assunto – Sabia?

— Na verdade, eu posso sim… – respondi com a voz baixa, ouvindo a sua risada anasalada em seguida – Você já tá bêbado?

— Eu sou como um touro, difícil de derrubar.

— Se começar a berrar agora, eu juro que acabou a amizade mesmo, pra sempre.

Novamente ele ria, e eu acabava acompanhando, de modo contido.

James tinha razão, no final das contas. Eu sabia que poderia conversar com Sirius. Articular o meu ponto de vista, ouvir o que tinha a dizer quando mais calma, conversar como duas pessoas civilizadas. Mas de repente eu me via tão assustado com o rumo que poderia tomar aquela conversa, com a forma como ele poderia interpretar o meu ponto de vista que me senti incomodado. Eu não queria que Sirius pensasse que, por defender homossexuais, eu também era um. Mas eu realmente não sabia mais e olhar para Regulus, mesmo que de esguelha, me deixava ainda mais perdido.

— A gente… Conversa amanhã. Hum?

Acenando com a cabeça, ele concordava. Se levantava da cama em seguida então, seguindo para o conector do iPad e baixando ainda mais a música por um instante, atraindo a atenção de todos. Teatralmente, levava ambas as mãos na cintura, fazendo uma mesura menestrel em meio a um sorriso breve.

— Sentem-se em roda, vamos jogar um jogo!

Regulus revirou os olhos, Lily Evans balançou a cabeça numa negativa. Os demais deram palco, não era uma surpresa. Permanecendo sentado na cama, observei os olhos do meu amigo recaírem sobre mim e, bufando uma vez, eu cedia ao dedo que me chamava e indicava a roda que se formava no chão. E Sirius esperou até que todos estivessem sentados ao seu bel prazer, caminhando ao redor das pessoas depois de pegar uma garrafa quase vazia que estava sobre o frigobar, terminando o líquido dentro dela.

— Chama-se sete minutos no paraíso. Todos conhecem as regras?

— Meu deus, a gente tem o que, doze anos? – Lily resmungou.

— Não sei você, mas eu estou com dezesseis, quase dezessete, culpe os hormônios e a biologia toda se quiser – Sirius rebatia, encolhendo os ombros em seguida antes de balançar a cabeça numa negativa – Qual é, a gente precisa de alguma coisa pra animar, nós perdemos um jogo, obrigado aos envolvidos.

Narcissa sorriu com uma breve reverência enquanto agradecia ao “elogio”, enquanto Regulus apenas balançava a cabeça numa negativa. Sirius logo abria espaço na rodinha, colocando a garrafa no centro. E antes que o irmão mais novo pudesse se levantar, Lily o segurava pelo braço, o obrigando a ficar sentado. E, enquanto discutiam qualquer coisa que eu não podia entender, Sirius girava a garrafa.

As primeiras vítimas foram Peter Pettigrew e Narcissa Black. Olhando para o sorriso no rosto do meu amigo eu entendi que ele não tinha noção de como funcionava a brincadeira. Mary, por outro lado, ficou com o rosto vermelho, agarrando o braço do namorado.

— Ah não, eu e o Peter não vamos brincar – justificou-se, sorrindo sem graça.

— Porque não? – Ele questionou, arqueando as sobrancelhas com ares inocentes.

— Porque, Peter, nós estamos namorando! – Mary arqueava as sobrancelhas igualmente, encarando-o – Ou você quer beijar a Narcissa?

E então, era o rosto de Peter que se avermelhava.

— Tem que beijar? Eu… não sei jogar.

Há meses atrás o meu amigo estaria eufórico, mas desta vez não podia nem mesmo erguer os olhos.

— Bem, se não vão jogar, precisam deixar a roda – James especificava – Podem se beijar durante sete, dezessete, setenta e sete minutos no paraíso que quiserem. Aqui é a roda dos virgens!

— Diga por você, bonitão! – Marlene ria, agarrando uma nova garrafa de vodca, desta vez. A última do estoque de Sirius.

Peter, rapidamente, arrastava-se para trás, acompanhado da namorada. E assim, fechávamos a roda. Desde o lugar em que eu estava sentado, no sentido horário, era Sirius, Narcissa, Regulus, Lily, Marlene, James e novamente eu, quase de frente para Lily e Marlene. Aquele era o tipo de jogo que eu definitivamente preferia não participar, mas as minhas pernas não me obedeciam. Olhando para todos ali, eu não queria beijar ninguém! A não ser…

— Okay, para que não restem mais dúvidas… – Sirius interrompia o meu fluxo de pensamentos – Eu vou girar a garrafa. Cada lado da garrafa vai apontar para uma pessoa. Essas pessoas precisam se beijar por sete minutos, ou o quanto aguentarem, nem todo mundo é bonito como eu… – passou a mão nos cabelos, com um sorriso exibicionista no rosto – Como “paraíso” temos o nosso banheiro, que tem porta e tal, caso alguém precise de mais privacidade!

— Tá, eu acho que vou… passar dessa vez – disse, me colocando de pé quase num salto, o que fez tudo ao redor girar. Estava na hora de parar de beber, com certeza.

— Remus – Sirius se levantava em seguida então, levando uma das mãos ao meu ombro – Quantos anos faz que você não beija na boca?

— Não me faz brigar com você de novo… – disse com voz baixa, sentindo o rosto queimar.

— Você não precisa beijar ninguém se não quiser – Lily fez a objeção, sorrindo de canto para mim – Afinal, paraíso é o banheiro, portas fechadas, ninguém tem olho mágico para saber o que se passa lá dentro!

— Mas o trato é beijar, Lily Evans! – era Marlene agora quem falava.

— Você nunca vai saber o que acontece no paraíso, McKinnon – dava uma piscadela para a amiga assim.

E, sentindo a pressão de ambas as mãos do meu amigo agora, eu voltava a me sentar, respirando fundo. Onde estava a Lily que eu achava que poderia me acompanhar nos protestos? Lily Evans queria beijar alguém, era isso? Os meus olhos rapidamente correram para o rosto de um James mudo, inquieto. E logo, para a garrafa no chão, calculando as chances que haviam de se beijarem. Poderia acontecer…

Novamente, então, Sirius girou a garrafa, contrariando o meu primeiro pensamento. A ponta mais fina da garrafa apontava para Lily Evans, de fato, mas havia rolado um pouco para fora do eixo central, então a segunda apontou para Narcissa Black. E a comoção foi geral com exceção somente de James, que entreabria os lábios, surpreso.

As garotas, apesar de se entreolharem por um tempo, não fizeram grandes alardes. Narcissa foi a primeira a se levantar, tomando de Marlene a garrafa e bebendo um pouco mais da vodca, direto do gargalo, antes de estender a mão à Lily assim. A última, balançando a cabeça numa negativa e esboçando um breve sorriso nos lábios, aceitou a ajuda e se colocou em pé em seguida. Era impossível que Lily estivesse bêbada. E estranho pensar, enquanto ambas seguiam para o banheiro, que elas poderiam se beijar ou mesmo conversar, já que nunca as havia visto interagir.

Lily era completamente diferente de Narcissa. Livros e militância, num primeiro momento, não pareciam combinar com saltos e decotes, mas quem era eu para julgar?! Era estranho, ao mesmo tempo que engraçado, pensar nas duas pessoas mais improváveis do colégio, trancadas no banheiro.

— Tá tudo bem cara? – Peter se aproximava de James quando ouvíamos o trinco da porta do banheiro.

— Tá, ué… – James riu, encolhendo os ombros.

Não estava. Por mais que James tentasse nos convencer de que estava superando Lily Evans, não estava de fato. E, por um momento, todos permanecemos em silêncio, Mary cochichando com Peter para entender o que estava acontecendo, Marlene mentalmente juntando as peças em sua cabeça, Regulus respirando fundo com expressão entediada, sem Narcissa e Lily ao seu lado.

— Eu acho que vou aproveitar para voltar para a minha cabana… – disse o último, ajoelhando-se, pronto para se levantar.

— Ah, Reggie, mas a gente só tá começando! – Sirius intervinha, engatinhando para o lado do irmão assim – Vamos, você nunca passa um tempo comigo.

— É porque você é insuportável, Sirius.

Ponto para Regulus.

— A sua namorada da internet não vai precisar saber de nada… – Sirius pegava a garrafa que Narcissa havia deixado no chão, estendendo a ele em seguida.

Senti falta de ar por alguns segundos  

— Eu não tenho uma namorada da internet… – resmungou o mais novo, afastando a garrafa de si e, novamente, o incômodo em meu estômago.

— Qual nome dela?

— Ai, cala a boca, Sirius! – Marlene intervinha, ao que eu mentalmente agradecia.

Ela, então, seguia na ponta dos pés para a porta do banheiro. Colava a orelha ali, tentando identificar alguma coisa e não demorou até que Sirius e Peter a acompanhassem. Eu não podia ouvir nada sentado onde estava, mas suas expressões me deixavam curiosos. Afinal, elas estavam realmente se beijando? Contive a vontade que tinha de segui-los, tentar ouvir alguma coisa, afinal, se estavam mesmo se beijando, eu não queria invadir privacidade de ninguém. Além do mais, não queria parecer o amigo traidor, deixando James sozinho com a garrafa de vodca que havia tomado para si desta vez.

E, quando elas saíram enfim, os dois garotos e Marlene explodiram em risada.

Elas, definitivamente, estavam se beijando.

— Meu deus, vocês estão no jardim de infância? – Lily revirou os olhos então, voltando ao seu lugar.

— Eu não sei, mas como foi no paraíso? — Marlene a acompanhou, passando um dos braços em seu ombro esfregava a bochecha contra a dela.

— Cala a boca, Marlene!

E então, a garrafa era girada novamente.

Quando parou apontando para Sirius e Regulus, todos, sem exceção, reviramos os olhos. Não havia discussão para o quanto aquilo era inválido.

— E mesmo se não fosse o meu irmão, eu preferiria a morte! – Regulus fez questão de deixar claro, e eu não pude deixar de pensar: e se fosse Bartemius?

Engoli em seco, tomando da garrafa que, depois de passar de mão e mão, havia chegado até mim.

E então os lados apontavam para Sirius, uma vez mais, e Marlene Mckinnon. Foi somente nesse momento que entendi o objetivo do jogo proposto pelo meu amigo. Sirius estava perdendo o jeito, afinal, desde quando ele e seus cabelos charmosos precisavam de uma brincadeira de criança para beijar uma garota? A química entre os dois era palpável desde a primeira interação. Eles, diferentes de Lily e Narcissa, eram iguais. Sr. e Sra. Smith, sem dúvida alguma.

Trancaram-se no banheiro e, como ninguém parecia muito surpreso ou empolgado, Cissa tratou de aumentar um pouco mais a música. Já não era mais um pop tão animado, a playlist de Marlene variava um pouco, mas tinha um ritmo gostoso. Halsey definitivamente era a combinação perfeita para garotos bêbados, mas tão logo eu imaginava que aquela brincadeira não duraria muito mais. Flop. E eu estava ansioso para que flopasse de uma vez, para que todos ficassem extremamente entediados aguardando os sete minutos protagonizados por qualquer pessoa dentro de um banheiro enquanto bebiam.

Sete minutos esses que, depois de um tempo, se transformavam em oito, nove, dez.

— Há quanto tempo eles estão lá dentro? – Peter fazia o questionamento inconveniente que refletia o pensamento de todos nós.

— Espera só mais três minutos, é o tempo! – riu-se James, se deitando sobre o carpete da cabana.

Até que eles, enfim, saíssem de lá, entre risos. Sirius tinha os cabelos levemente bagunçados. Não cantava vitória, não nos olhava diretamente, apenas continha o riso nos lábios antes de voltar para o lugar. Porque Sirius era metido a sedutor - e realmente fazia jus à fama - mas já havia passado do período de expor as garotas com que ficava. E não era vantajoso para ele envergonhar Marlene na frente dos demais naquele momento, porque Sirius estava interessado. E Lene agia com tanta naturalidade que eu quase me comovia e dava tapinhas nas costas do meu amigo porque ela fazia parecer que beijar Sirius era uma coisa banal.

Eu estava tão entretido em observar a dinâmica do casal mais provável dentro do quarto que não percebi quando James girou a garrafa, ou quando ela parou ou mesmo para quem apontava.

— Ah não, isso também não conta como incesto? – ouvia a voz de Sirius e, só então, olhava para a garrafa.

A primeira ponta era minha.

A segunda, apontada para Regulus.

Senti o coração falhar uma batida. Não conseguia prestar atenção na discussão sobre incesto - porque eu era irmão de Sirius e ele irmão do Regulus, e não deveria ser certo eu ficar com o irmão do meu bro— ou no porquê diabos estavam tentando decidir a minha vida naquela hora. Eu só sentia o meu corpo leve demais e a respiração mais lenta. Quando, devagar, tomei coragem para erguer os olhos para Regulus, ele igualmente me encarava.

E desta vez nenhum de nós desviou os olhos. Ele tinha o rosto baixo, parte da franja acabava por cobrir um dos olhos, mas eu ainda podia vê-los focados nos meus. Conversávamos sem palavras, e a única coisa que eu conseguia ouvir era o meu coração batendo forte demais, soando em meus ouvidos. Até que ele se levantasse primeiro, e eu quase saltava para me levantar também, temendo por um instante que ele fosse embora. Eu era tão repulsivo assim?!

Diante dos olhos dos demais, ele atravessava a roda. Ao invés de seguir para a porta de saída, seguiu para o banheiro e o meu coração bateu ainda mais forte.

— Oh, Remus, Remus!

Ignorei a voz de Sirius e, sem pensar muito, o seguia, fechando a porta atrás de mim. Precisei me segurar na maçaneta para não desequilibrar. Quanto havia bebido? Eu não achei que fosse tanto, mas agora eu temia tropeçar, cair, ou qualquer coisa que me fizesse mais patético do que já era. No escuro, eu voltava a erguer os olhos para Regulus, que se sentava sob a tampa do vaso sanitário, em silêncio.

E então, como era o roteiro? Ficaríamos ali, em silêncio, sem olhar direito um para o outro? Nos beijaríamos, no final das contas? E, se eu beijasse o Regulus, o que aquilo queria dizer sobre a minha sexualidade, de fato? Lily Evans não era lésbica por beijar Narcissa. Era?! Respirei fundo então, comprimindo os lábios, voltando a olhar para ele, ainda sentado no mesmo lugar. Parecia ter se passado uma eternidade.

— E então? – Regulus perguntava, ao que novamente eu me sobressaltava – Como é que está o nariz?

Ele havia me acertado o nariz, certo, em tese era o único assunto que tínhamos em comum. O meu repertório, no entanto, era muito mais vasto, mas eu não poderia falar sobre absolutamente nada. Não sem entregar Luci. Neste caso, encolhia os ombros, assentindo com a cabeça, enquanto com passos vacilantes, eu me aproximava da pia no banheiro, apoiando ambas as mãos no mármore de modo a estar de frente para ele.

De longe, Regulus era parecido com Sirius. Os mesmo fios negros, o mesmo nariz comprido. Mas algumas peculiaridades, que não somente tinha a ver com o comprimento dos cabelos, os diferenciava. As pintas que Regulus tinha na região do nariz e bochecha, por exemplo, sardas que só o olhando de perto eu podia notar, mesmo no escuro. O tom acinzentado dos olhos. Os lábios avermelhados. Respirei fundo uma vez, tentando não demonstrar o meu nervosismo, mordendo a parte interna do lábio inferior.

— Onde é que está o seu amigo? Aquele que anda sempre com você? – Perguntei, a voz mansa, mole.

Regulus encolheu os ombros em seguida, sem dar uma resposta a minha curiosidade. Era uma péssima pergunta, nós não éramos íntimos ou coisa assim, por mais que eu tivesse a sensação de que podia fazer tudo naquele momento.

— Você está bêbado? – Questionou ao invés disso.

Estava. Não estava caindo de bêbado, por mais que temesse o acontecimento, mas o meu estado não era de absoluta sobriedade. O fluxo de pensamentos era intenso, a imaginação avançava os sinais lógicos. E se eu somente me aproximasse e o beijasse? Não, eu não era corajoso o suficiente. Mas o álcool me fazia imaginar que sim. No entanto eu continuava ali, parado, olhando para ele, sem lhe dar uma resposta de fato.

— Você não bebe? – Perguntava ao invés disso.

— Eu prefiro me manter sóbrio. Ter controle sobre as minhas ações, não fazer grandes besteiras.

E eu estava prestes a fazer uma.

Me aproximar, beijá-lo, jogar tudo para o alto.

Um passo para frente. Os olhos de Regulus sobre os meus, me faria me perder por alguns segundos, as nossas respirações pesadas até que pudesse tomar os seus lábios de uma vez. Mérito da cachaça ter sua língua enroscada na minha, mas sentia o coração bater tão forte que parecia que poderia explodir no peito. Seria aquela a sensação de beijar um garoto? Não me importaria. Somente queria beijá-lo, apertar o seu corpo contra o meu, aproveitar o que nos restava dos sete minutos no paraíso.

— Ei!

Pisquei algumas vezes, observando a mão que abanava diante do meu rosto.

Porque, claro, eu não tinha coragem de me aproximar nem mais um passo. Me mantinha ainda colado no mármore da pia, as mãos apertando as bordas com força enquanto encarava, agora, os seus olhos confusos. Tive a impressão de que havia perdido alguma parte importante de sua fala, mas não tinha como ter certeza.

— Desculpa, eu… – fechei os olhos então, a cabeça pendendo para frente.

Batidas fortes na porta. Do lado de fora, a voz abafada de Sirius. “Remus Lupin, se você tiver abusando do meu irmão eu mato você!”, podia ouvi-lo dizer ao que sentia o meu rosto queimar violentamente. Erguendo os olhos para Regulus, no escuro, via suas bochechas corarem também, o que só aumentava o frio em minha barriga.

— Já se passaram sete minutos? – Perguntei baixo, a fim de descontrair, ainda sem erguer a minha cabeça.

— Eu não tenho a mínima ideia… – respondia, coçando a nuca. E, depois de um tempo mais em silêncio, Regulus voltava os olhos para mim – A gente devia dar alguma coisa pra eles?

— C-como assim?

Regulus encolheu os ombros. Eu comprimi os lábios. E assim, ele se levantava e dava um passo à frente e eu precisava me concentrar de verdade, entender se aquele passo era mesmo real. A palma de sua mão que cobriu a minha boca no momento seguinte foi a confirmação que eu precisava. E, com os olhos fechados, Regulus beijou o dorso da própria mão. Era o mais próximo que eu havia me aproximado da boca de um garoto, mas a proximidade era tão vívida que me fez prender a respiração, enquanto a dele, quente, rebatia sobre o meu rosto. E quando Regulus abriu os olhos assim, eu soube que estava louco. Perdido. Foda-se gay, bissexual, hétero. Em menos de uma semana eu estava na dele e aquele era um fato inegável, que duvidava ser somente o delírio de um cachaceiro.

Ele se afastou, enfim. Sorriu de canto para mim e acenou com a cabeça.

— Vamos? – Seguia para a porta, abrindo-a e saindo com naturalidade, me deixando ali parado por um tempo que me pareceu infindável.


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Notas finais do capítulo

Este é um dos capítulos que eu amo com força. Espero que vocês gostem também. Obrigada aos que estão me acompanhando até aqui e, junto comigo, torcendo para um desenrolar. Até o próximo, ♥



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