O Mágico e os Ladrões de Som escrita por André Tornado
Acumularam-se assustados junto à porta da TARDIS. Uma voz feminina e calma, idêntica a muitos processadores de voz de computadores centrais que se conheciam de filmes e histórias de ficção científica, deixava o aviso de vinte em vinte segundos de que eles deveriam encontrar uma cápsula de fuga para escaparem à iminente destruição da nave condenada. Tinham menos de cinco minutos para abandonarem o local.
Dave e Brad suavam copiosamente e os seus braços tremiam devido ao esforço de carregarem com a caixa do fungo. Chester saltitava no mesmo lugar e espreitava o fundo do corredor, contando cada passo que o Mike dava e que o aproximava deles e que pareciam demasiado lentos para a urgência da situação. Rob mordia os lábios apreensivo e ansioso, o que não era nada normal. Clara balançava sobre os seus próprios calcanhares, a marcar os passos, mas do seu Doutor que se acercava de forma indolente e até satisfeita, a carregar a guitarra e o amplificador, ignorando como estavam prestes a serem todos obliterados por uma detonação gigantesca. Joe resmungava insistentemente sobre a falta da sua máquina fotográfica, agitava um punho e observava o cenário entre o espanto e a pena.
O Doutor abriu a porta da TARDIS com um gesto teatral, rodando a chave.
Os primeiros a entrar, tropeçando na entrada, foram Dave e Brad que se atiraram para o chão da cabina telefónica, onde pousaram a caixa com um baque brusco.
— Não partiram isso? – perguntou Rob que entrou a seguir.
— Espero bem que não! Não estive a ter esta trabalheira toda para, no fim, não ter servido para nada – ofegou Brad. – Phoenix? Está tudo bem com o fungo?
— Sim… acho que sim – resfolegou Dave. Tossiu e respirou fundo para oxigenar os pulmões. – Que caixa pesada! Mas porque era tão pesada? Não faz sentido!
— Para que vocês desistissem de a trazer convosco. Outro meio de proteção do fungo – explicou o Doutor que entrava e se encaminhava diretamente para a consola, passando por cima deles. – Querem, por favor, levar a caixa para o deque inferior? Não a deixem a atrapalhar a entrada da nave, interfere com os procedimentos de segurança.
— Joe… Rob… estão dentro da TARDIS e estarão mais seguros. Estiveram doentes e já não irão ficar, neste estágio final. Carreguem agora a caixa, por favor – implorou Brad, esfregando o esterno.
— Sim, façam lá essa boa ação – choramingou Dave.
O disc jockey entrou na nave e ia para fazer o que lhe estava a ser pedido, pois o trajeto era muito mais curto do que aquele que lhe fora exigido do viveiro até ali, não se importaria de suportar o peso da caixa do fungo, mas paralisou ao verificar que o interior era maior do que o exterior absurdo que se assemelhava a uma caixa de madeira azul.
— A nave… a nave…
— Sim, é maior por dentro – desvalorizou Rob, impaciente. – Anda cá ajudar-me e já te contamos tudo durante a viagem.
Foi a vez de a Clara entrar e chamou:
— Chester! Mike! Depressa! Faltam menos de trinta segundos!
— Mike!! Corre, meu!
Os dois entraram na TARDIS abraçados pelos ombros, quando a voz feminina anunciava que faltavam dez segundos e começava a contagem regressiva imparável e inevitável, do nove até ao zero, até à explosão, até ao fim. Clara fechou a porta. O Doutor baixou a alavanca. A geringonça vibrou e estavam em viagem.
Chester atirou-se para os braços de Mike e apertou-o contra si.
— Chazy, está tudo bem. Estamos salvos. Estamos todos salvos.
— Foste tu, não foste? Foste tu que sabotaste a nave?
— Fui, Chazy. Fui eu.
— Que cena, Spike! A adrenalina disto tudo. Melhor do que a montanha-russa de um parque de diversões!
Encararam-se e riram-se um para o outro.
Regressando à ala principal da TARDIS, depois de ter ido com Rob largar a caixa do fungo na plataforma inferior, o grito do Joe quebrou as suas risadas.
— Eu quero a minha máquina fotográfica! Esta cena é brutal! Que nave é esta? De certeza que isto é uma nave? Não é uma cena de efeitos especiais e continuamos dentro da nave que vai explodir? Vamos morrer? Não gostava nada de morrer agora.
Dave puxou-o para um canto e começou a explicar-lhe o que se estava a passar. A história toda, desde que ele tinha surgido como um morto-vivo ao pé de Mike, no camarim, o aparecimento do Doutor, todas as peripécias para saberem como eliminar o fungo, até ao momento em que ele tinha despertado após um concerto épico de música clássica em guitarra elétrica, dado pelo Doutor e pelo Brad. Rob também escutou o relato, pois tinha estado ausente durante a parte final da aventura.
A Clara juntou-se ao Doutor na consola e sorria-lhe, satisfeita por tudo ter terminado bem. Algures, no espaço, jazia a nave buondabuonda e o comando dalek, desfeitos em destroços e poeira espacial.
Chester pediu:
— Já lhe podes devolver os óculos.
O Doutor guardou os óculos escuros no bolso interior do seu casaco.
— Não será possível, rapazinho. Não pretendo partilhar o meu histórico com o teu amigo Mike.
— Histórico?
— Deixa que ele fique com os óculos, Chazy. Arranjo outros.
— São os teus óculos, Mike – teimou Chester, de braços cruzados.
— Tenho uma ideia. Vais oferecer-me uns óculos. Hum? O que achas? Tens um excelente gosto para acessórios, de certeza que serão mais bonitos e estilosos do que aqueles que deixo com o Doutor.
Brad sorria. Chester não resistia quando lhe apelavam à vaidade.
— Eh… Está bem, Mike. Eu compro-te uns óculos – concordou.
Mike deu-lhe um soco amigável no peito.
— Obrigado.
Regressaram a Milton Keynes. Junho de 2008, fim da tarde do dia dedicado a São Pedro. A TARDIS, daquela vez, estacionou nos bastidores do anfiteatro que fervilhava num ambiente típico de festival musical de verão. A assistência fazia um barulho ensurdecedor enquanto aguardava pelos próximos artistas, que eram os mais desejados para aquele dia. O Doutor espreitou brevemente o exterior e depois regressou para o interior da nave.
— Esperem… Só mais um minuto.
— Porquê?
— Porque para que os teus queridos Linkin Park não cheguem atrasados ao seu espetáculo, que já devia ter começado, Clara Oswald… a TARDIS escolheu uma hora em que nós ainda aqui estamos. Não quero criar um paradoxo impossível e teremos outra crise. Os daleks costumam aproveitar estas fendas no tecido do universo.
— Ah! Esperamos que eu e tu entremos no camarim onde eles estão trancados.
— Precisamente!
— Existem outros de nós, também? – perguntou Mike.
— Sim. Estão todos trancados no camarim, em pânico porque o vosso amigo está infetado.
— Nós também não nos devemos encontrar, certo? – indagou Dave.
— Certo, certo.
— E o que faremos, entretanto? – inquiriu Chester.
— O trabalho que falta fazer, rapazinho.
O vocalista suspirou e revirou os olhos. Joe disse:
— Eu gostaria de me ver infetado.
— Continuaste feio. Não houve melhorias assinaláveis – contou Brad.
— E tens um capacete verde nojento na cabeça – completou Rob. – O fungo não te beneficiou, efetivamente.
— Ninguém vai estranhar esta cabina telefónica nos bastidores? – perguntou Mike.
— Nunca ninguém estranhou a minha TARDIS – rebateu o Doutor, aborrecido. – É uma cabina telefónica da polícia perfeitamente inglesa e estamos em Inglaterra. O que há para estranhar?
— Nada…
A um sinal do Doutor, saíram todos da TARDIS e foram os oito, em fila, até ao camarim do Joe. Aí, recolocando os óculos escuros que agora eram sónicos, o Doutor matou o fungo que se alojava, mancha verde insuspeita, junto a uma mesa.
Tudo voltava ao normal.
Faltavam, contudo, alguns pormenores…
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Próximo capítulo:
Vestígios.