— Como se eu fosse dar a você o gostinho de ganhar, Lene... – respondeu Sirius em uma expressão quase neutra. – Cinco minutos para uma água? Eu escolho a música agora...

— O que você decidir, Black... o que você decidir. – disse ela ofegando um pouco, recuperando o que lhe sobrava de dignidade após ter sensualizado na frente de tanta gente.

— Se você não atiçasse tanto o meu lado competitivo, eu estaria disposto a acabar com isso e agarrar você de tantas formas, Marlene... seria tão fácil.

Com todo um visível autocontrole, Marlene não pulou no pescoço de Sirius, limitando-se a dar um sorrisinho malicioso de canto de lábios. Havia hormônios demais ali, e o cabelo comprido de Sirius amarrado em um coque no topo da cabeça não o deixava nem um pouco menos atraente, ao contrário. Oh, céus, por que tudo entre os dois precisava dessa tensão sexual dramática e competitiva?

— Admita que eu ganhei, Sirius. Admita e eu até reconsidero aquela história do pole dance. – provocou Marlene, sabendo que ele jamais cederia.

— Nem por todo o pole dance do mundo, Lene... depois que eu ganhar nós resolvemos isso.

Sirius deu uma piscadinha e então saiu, deixando Marlene muito mais agitada do que apenas por ter dançado. Lily e Emmeline não estavam ali próximo, e não havia muito tempo até que recomeçassem a dançar, mas, de fato, Lene só queria lavar o rosto e achar um jeito de diminuir aquele calor absurdo que parecia vir de dentro dela, quase incontrolável.

Sua cabeça estava mergulhada embaixo da torneira quando Dorcas apareceu, esbaforida, perguntando por todo mundo.

— Cadê a Lene? Cadê as meninas? Elas já dançaram? Sirius!

— Oi! Oi, estou aqui! – disse Marlene secando o rosto com batidinhas da toalha. – Dançamos a primeira música, vamos recomeçar agora...

— Nós ganhamos? Ou...

— Nós arrasamos! – disse Lily, aparecendo de repente, com um copo de refrigerante em mãos. – James disse que se eu tomar açúcar vou estar muito agitada e não vou passar mal de nervoso. O que aconteceu, Doe, você tinha sumido...

— Longa história, mas basicamente meu pai é um careta workaholic e quer que eu seja também... eu fugi de casa, aliás. E vou precisar dormir na casa de alguém, aparentemente.

Lily e Marlene caíram o queixo, Dorcas sempre fora razoavelmente tranquila, e tudo que aprontara fora bem leve. Mas fugir de casa numa sexta-feira à noite para dançar entre amigas na casa de Sirius era algo que nenhuma delas esperava que aconteceria.

— Ah, parem com essas caras! Estou aqui, não estou? Agora a gente tem que ganhar essa coisa! Você disse que arrasamos, Lily?

— Marlene foi incrível! Acredita que ela rebolou na cara do Sirius? Ele faltou babar!

— E eu perdi isso?!

Marlene corou violentamente e achou que não queria ouvir mais daquilo. Já era suficientemente constrangedor que as pessoas estivessem ouvindo todas as provocações quase sexuais (na verdade, completamente sexuais) que ela e Sirius estavam trocando, para ainda ter que ouvir as amigas falando de sua dança sensual em público.

Não demorou para que Sirius, Peter e James se organizassem em frente à aparelhagem de som, escolhendo sua música. Remo estava sentado ao lado, em uma cadeira, com um dos pés apoiados em um banquinho, e Emmeline segurava um saco de gelo no tornozelo dele.

— Mas o que aconteceu? – perguntou Marlene arregalando os olhos.

— Caí de mal jeito e acho que virei o pé.. – disse Remo dando de ombros.

— Meu Deus! Não seria melhor você, não sei, ir ao hospital?

— Ih, relaxa, Lene! Não vou morrer por isso... Emmeline está me ajudando com o gelo.

Emmeline parecia gostar daquele afazer muito mais do que de dançar com as amigas naquela competição, pois estava enroscada em Remo, fazendo carinho nos cabelos cor de areia dele, e muito empenhada em tirar e colocar a compressa sobre o tornozelo dele de tempos em tempos.

— Aluado não vai morrer, Lene, ele está ótimo! Mas é claro que se você quiser admitir que perdeu para conceder a vitória à ele, eu não vou ficar chateado... – disse Sirius com um sorriso maldoso e quase falso.

Marlene ponderou. Não admitiria nunca que perdera, e jamais deixaria Sirius sair com a vitória, ganhando também em seu argumento machista, no entanto, Remo não parecia assim tão ótimo. O tornozelo dele estava inchando mais a cada segundo, e já parecia muito mais uma batata roxa do que um pé, e mesmo que não demostrasse, Lene imaginava que Remo estava sentindo bastante dor.

Em compensação, Emmeline estava cuidando dele, e Lily tinha experiência em lesões esportivas e podia ajudar, não era possível que isso não fosse suficiente!

— Certo, certo, vamos fazer assim, então. Eu ganho de você primeiro, e então levamos Remo ao hospital, okay? – sorriu, se afastando para fora da pista.

Sirius não pareceu tão satisfeito, mas também não voltou atrás. Ele, James e Peter se alinharam em uma das pontas da pista de dança que Monstro criara. Dorcas e Lily ficaram ao lado de Marlene no outro oposto do espaço, enquanto Emmeline pediu para não dançar e ficar ajudando Remo.

Sem a presença do maroto bailarino havia muito mais chances reais de as meninas ganharem, e Marlene começou a murmurar palavras motivadoras para as amigas, com ganas de vencer e um pouco mais de agressividade do que o normal.

— Ah, Lene, por favor, relaxa! Vamos tentar nos divertir com isso!

— Divertir? Lily, você acha que Sirius quer se divertir? Só se for com a minha cara!

— É que a gente entrou nessa pelo divertimento, Lene... essa discussão boba sua e do Sirius...

— Boba?! BOBA?! Você não era feminista, Dorcas?!

— E eu sou! E por isso entendo que é ridículo você transformar essa batalhinha de dança em uma luta feminista... luta feminista é outra coisa! Isso aqui é uma brincadeira entre a gente! Admita Lene, você e Sirius querem se pegar e só são orgulhosos demais para admitir isso, e ficam arranjando desculpas para aumentar essa tensão sexual!

Mas por mais irritada que Marlene estivesse com a completa insensibilidade de Dorcas ao seu protesto contra o machismo de Sirius, não houve chance de um comentário para retrucar, pois logo se ouviu os acordes de Toxic, de Beyoncé, e James andou com pose até mais da metade da pista, parando na frente de Lily.

Quando a cantora começou com a letra da música, James simplesmente agachou-se, dando o sorriso mais sacana que pode, levantando-se e andando de volta o caminho que fizera, agora andando de costas, fazendo alguns gestos com os braços e lançando um beijo para Lily, que enrubesceu violentamente. Peter assumiu a segunda estrofe, entrando na pista com um bailarino de Grease e dando passinhos tímidos enquanto agitava os braços, parecendo vermelho de vergonha. Ele e James fizeram uma espécie de parzinho, rebolando até o chão um apoiado na força do braço do outro, depois levantaram-se e deram giros para fora da pista. Marlene não sabia explicar, mas era... Sexy?

Os colegas ao menos pareciam achar, pois davam assobios e gritinhos empolgados, e Lily parecia hipnotizada por James.

Então, para superar tudo que ela tinha visto até ali, Sirius assumiu a pista de dança no refrão, entrando no espaço marcado no chão já cheio de marra e pose. Andava com um rebolado, segurando a barra da camisa, a qual ele logo tirou e rodou sobre a cabeça, encarando Lene com um sorriso muito malicioso, levando o público à loucura!

Céus, Sirius tinha um tanquinho nada dispensável, e Marlene sentia-se mais irritada porque além de querer ganhar aquela competição, agora, ela queria também dar uns amassos nada inocentes no rapaz!

Ele continuou com outros passos, girando e rebolando, dando sorrisos muito sedutores e, pouco antes de sair da pista, soltou os cabelos e atrapalhou-os, sacudindo a cabeça, ficando supreendentemente ainda mais gostoso. Estava difícil manter a concentração daquele jeito.

Por isso quando a segunda parte da música iniciou todos ficaram chocados que Lily Evans tivesse invadido a pista, andando de um jeito quase felino pelo espaço, agitando os volumosos cabelos cor de fogo. Marlene não acreditou quando viu Lily rebolando até o chão, virada de costas para James, com toda cara de menina má. Que droga tinham colocado no refrigerante dela?

Então antes de deixar Dorcas brilhar, Lily puxou James, deu um selinho e saiu da pista em pulinhos nada parecidos com a dança que tinha acabado de fazer. Certo, ali todos tinham dado berros eufóricos e maliciosos, e James estava um boboca em estado catatônico.

Marlene ainda estava se recuperando do choque que fora ver Lily protagonizando um momento de dança sensual quando Dorcas entrou na pista, com uma gravata (que Lene não tinha a MENOR ideia de onde viera) amarrada na testa dando giros e passinhos em torno do próprio eixo, rebolando e gargalhando, achando a maior graça da situação.

Não pareceu que tinha passado tão rápido, mas ali estava o segundo refrão e Marlene estava completamente extasiada com o que acontecera. Primeiro James, depois Sirius, então Lily e Dorcas... ela estava muito ferrada para manter o nível de dança e ganhar aquilo, ainda mais porque Sirius poderia dançar uma última vez.

Não soube bem o que fazer, então basicamente entrou dando um salto daqueles que Remo dera, claramente não sendo capaz de abrir a perna em 180º graus, mas ainda assim arrancando gritinhos animados. Certo, estava tudo bem, ela ainda podia ganhar.

Deu alguns giros, rebolando e andando pelo espaço meio perdida. Ela nem mesmo percebeu quando sua parte tinha acabado, e quando Sirius entrou na pista, Marlene não estava entendendo o que acontecia. Sirius particularmente não parecia nada abalado.

Agarrou a cintura dela como quem sabia exatamente o que fazer e começou a marcar uma espécie desajeitada de tango, porque Lene estava dura e tensa, e queria desesperadamente se soltar dele para poder dançar e ganhar aquilo, por mais que a pressão que ele fizesse em sua cintura fosse particularmente maravilhosa.

Quando Marlene se soltou, deu um giro para fora, evitando se incomodar com o cabelo solto batendo no rosto, e então Sirius deu um puxão em seu braço, trazendo-a para perto, colada em seu peito, um sorriso debochado no rosto.

— Eu já ganhei então?

— Nem sonhando!

Como um disjuntor recém ligado em seu cérebro, Marlene pensou que, se Sirius a afetava dançando de maneira sensual e provocativa, bem... ela podia fazer o mesmo! Agachou-se até o chão, girou sobre os calcanhares e fez uma transição estranha para um dos passos de jazz que Emmeline a ensinara, dando sorrisinhos maliciosos. Sirius pareceu meio aturdido, o que era excelente.

As pessoas estavam tendo alguma reação? Porque seu ouvido zumbia, quente, e ela não ouvia nada mesmo!

De repente a coisa tinha virado uma batalha pessoal e Sirius e ela se rondavam, de lados opostos da pista, se encarando com intensidade, como dois felinos prestes a se atacarem, então Lene andou até ele com um rebolado atraente, e Sirius não perdeu tempo em segurá-la em uma das pernas, apoiando uma das mãos em sua cintura, fazendo Marlene jogar a coluna para trás, numa versão  muito mal feita e escabrosa daqueles passos de shows de dança de salão. Ele logo a soltou e eles continuaram naquela espécie sexy de luta corpo a corpo.

A música acabou e os dois estavam se encarando com tanta intensidade que Lene teve certeza de que sabia o que estava prestes a acontecer.

Sirius levou as duas mãos à sua nuca e a beijou de jeitos que ela nunca tinha experimentado, e, por todas as divindades da sensualidade e da luxúria, Marlene jurava que tinha visto estrelas com a maciez dos lábios e da língua de Sirius na sua. Havia uma fome boa naquele beijo, um desejo de se grudarem mais e mais e mais... Dorcas estava certa, ambos queriam muito se pegarem!

Aquilo tudo durou mais do que Lene imaginara que duraria, e ela havia esquecido completamente que estivera sendo observada por alguns colegas, enrubescendo de vergonha ao se soltar de Sirius. Havia assobios e berros, e o maroto precisou levantar a voz, ainda segurando Marlene.

— Ei, ei, ei... chega, chega! A gente empatou, beleza? Botem uma música aí, o show acabou!

Ninguém quis contrariar e os olhares curiosos logo foram sumindo. Os olhos de Sirius faiscavam de um jeito malicioso, e Marlene sentia-se queimando, agoniada e desejosa de mais dele.

— Cadê todo mundo? – perguntou ela, olhando ao redor e vendo o espaço meio disperso.

As pessoas pareciam, em geral, ter voltado a curtir a festa quando Sirius e Marlene começaram a protagonizar aquela cena de amasso em público, ignorando a batalha de dança inacabada.

 Dorcas e Héstia estavam enroscadas ali ao lado da pista, Peter estava na piscina com mais alguns colegas, e Lily e James tinham sumido completamente. Ela estivera mesmo dançando sozinha?

— Arrasou, Lene! – ouviu Emmeline berrar, sentada ao lado de Remo, ainda segurando o gelo.

Lene corou bastante e mostrou o dedo do meio, sentindo Sirius puxar sua mão com alguma pressão.

— Agora que eu sou um machista confesso, podemos, por favor, ir para algum lugar mais reservado? - havia alguma urgência na voz dele.

— Como? - Marlene não estava acreditando, ele estava admitindo que perdera?

— Eu perdi, eu perdi de você, mulheres são melhores em tudo mesmo, somos cachorrinhos de vocês, você é uma dançarina maravilhosamente sexy... agora, por favor, vamos voltar ao que estávamos fazendo?  – disse ele, com um sorriso malicioso e debochado, além daquele desespero contido para agarrá-la.

— Eu devia esmurrar essa sua cara por causa dessa sua arrogância, sabia?

— E aí você beijaria quem mesmo?

Marlene pareceu pensativa um segundo, dando um sorriso malicioso e caindo na risada logo em seguida.

— Mas então, vai rolar mesmo aquele Pole Dance no seu quarto?