— Muito bem senhores, mantenham os pés firmes – o instrutor de esgrima dizia enquanto circulava o local observando seus alunos – Não se deixem ser surpreendidos por seu adversário. Ficar atacando a torto e direito não funciona com excelência senhor Lahiffe – pontuou.

Adrien Agreste não podia ver, mas tinha certeza que o amigo estava revirando os olhos atrás da mascara de proteção que usava. Praticar esportes nunca fora algo que agradou o amigo pelo que lembrava, pelo menos desde o ensino médio quando se conheceram. Nino Lahiffe e esportes na mesma frase não funcionava bem.

— Eu sou meio pacifista irmão, não tem como eu manjar bem de luta, ainda mais às 7 horas da manha numa maldita segunda-feira – Nino resmungou brevemente.

Se o instrutor ouviu as palavras do homem optou por ignora-las. Adrien mais do que tudo agradeceu a isso se focando no treino pelos minutos mais longos do dia na opinião de seu amigo Nino que o acompanhava em um duelo para lá de amador.

O loiro tinha certeza que o amigo jamais levaria esgrima a serio nessa vida.

— Não precisava fazer isso – Adrien disse quando estavam dentro do vestiário, o amigo de pele morena bufou vestindo a jaqueta preta com detalhes em prata por cima da camisa branca e calçando os tênis de marca pretos.

— Agora é tarde – Nino bufou colocando o headphone ao redor do pescoço para completar seu look básico.

Um dos alunos se aproximou da dupla pedindo um autografo ao DJ e compositor que o deu de bom grado junto a uma coleção de fotos, algo que Adrien sabia que o amigo adorava fazer.

Enquanto Adrien fugia de seus fãs na adolescência e algumas vezes nos próprios dias atuais, Nino os abraçava com fervor se derretendo com o amor que lhe era dado por desconhecidos que o conheciam. “depois da Alya, eu sou todo deles” ele sempre dizia. Não é a toa que era tão amado com a reputação de ser um ídolo incrivelmente humilde.

— É um cara maneiro – o DJ comentou quando o rapaz ia embora.

— Todo mundo é maneiro para você.

— Aquele instrutor não é maneiro.

 Adrien deu de ombros pegando a bolsa e passando a seguir o amigo para fora.

— Preciso da sua ajuda – começou quando adentraram o estacionamento da academia.

— Pode mandar.

— Conhece alguma cantora ou atriz da sua agencia que seja asiática para firmar um contrato na Gabriel? Preciso de uma modelo nova.

— Você tem a Kyoko.

— Ela esta na Espanha desfilando para a Blue Rose. Nem se quer atende minhas ligações. As coisas não acabaram muito bem, lembra...?

O moreno maneou a cabeça como se recordasse o fato.

— Você deve ter outras modelos asiáticas.

— Eu tenho e não tenho – o loiro riu sem humor colocando as mãos nos bolsos do terno azul escuro com listras que usava – Kyoko levou Anne com ela para a Blue, Yuna esta de licença maternidade e a novata que havíamos contratado se afastou para fazer tratamento psicológico ou psiquiátrico, eu não tenho certeza. Só sei que preciso de uma nova modelo rápido.

Os dois paparam em frente à moto estacionada do moreno e o carro do loiro.

— Não me lembro de ninguém no momento, mas vou pedir pro meu agente dar uma averiguada na agencia pra você e te aviso o que conseguir.

— Eu agradeço.

O DJ maneou a cabeça colocando o capacete e montando na moto com um ultimo aceno, partindo pelas ruas de Paris. O motorista se aproximou do loiro abrindo a porta e a fechando depois do patrão entrar deixando a bolsa esportiva do lado.

~&~

— Senhor Agreste – a moça saudou logo após as portas do elevador abrirem e o loiro sair.

— Onde esta Rose?

— A senhorita Rose esta de atestado pelos próximos três dias – ela explicou seguindo o homem pelo corredor.

— Avise que se ela não voltar em dois esta demitida. Algum recado?

— Duas ligações da senhorita Chloé Bourgeois e o senhor Agreste deseja vê-lo o mais rápido possível.

— Ele sempre quer algo – resmungou abrindo a porta de sua sala e entrando sendo prontamente seguido pela mulher. – Ignore os dois por enquanto.  Resolvo esses problemas depois.

Todavia, o Agreste mal tivera tempo de se sentar na cadeira antes de ver por sua porta passar o homem citado pela substituta acompanhado de sua fiel secretaria a passos rápidos e pesados.

Irritado.

— Por que não me atendeu quando te liguei hoje de manha?

— Eu acabei de chegar – resmungou vendo o pai bufar – E ontem a noite estava ocupado, se é que me entende, pai.

O homem loiro tornou a bufar ajeitando os óculos se sentando no sofá de dois lugares branco que havia na sala com a secretaria em pé ao lado.

— Esta sendo descuidado.

— Estou fazendo o que posso.

— Se não tivesse dormido e dispensado Kyoko ela estaria aqui agora e faria um trabalho excelente – o homem cutucou e foi a vez de Adrien bufar, encarando pela primeira vez o pai que apenas esperava ouvir algo para retrucar e desvaloriza-lo, ele sabia como o pai agia quando as coisas não estavam em seu completo controle. – Ela era alguém verdadeiramente boa em se investir.

— Se esta aqui só para dizer isso, eu irei indo porque tenho uma reunião em 9 minutos e atrasos não são tolerados aqui, não é?...

O homem fizera menção de dizer algo em resposta as palavras do filho, porem antes que pudesse o fazer Adrien já estava deixando sua mesa e saindo da sala as pressas deixando o pai e a assistente para trás sendo seguido pela assistente substituta meio confusa.

A felicidade de Gabriel Agreste era algo facilmente superestimada e a paciência não era uma virtude que possuía. Não demoraria para o homem surgir novamente seja em sua sala, nos corredores ou em sua casa querendo soltar os cachorros por causa dos capricho de alguém tão ou mais impaciente que ele próprio, Dong-Wook Kang se tornara um problema antes mesmo de pisar os pés em Paris propriamente.

Gabriel dizia que criar roupas era uma arte importante como a arte da pintura em tela ou dança e como tal era comum de se esperar que alguns possuíssem excentricidades sobre seus trabalhos. Dong-Wook Kang era um exemplo disso com suas modelos.

~&~

— Senhor Agreste – a assistente chamou-o se aproximando com uma pasta escura nas mãos – Os papeis que você pediu. Precisará de mais alguma coisa?

Fitou o relógio no pulso apenas para comprovar que o horário estava mais avançado do que esperava e a pergunta da moça em pé em sua frente era uma clara duvida de quanto tempo deveria ficar a mais que seu turno consistia. Rose sempre fica até tarde assim como Natalie que até possuía um quarto para dormir na mansão da família quando as coisas se estendiam ainda mais que o convencional e sua presença se tornava necessária.

Muitas pessoas teriam dificuldade em compreender isso às vezes se soubessem.

— Não, você já pode ir embora.

A moça maneou a cabeça girando sobre os calcanhares e saindo da sala a passos rápidos como se estivesse com medo do chefe mudar de ideia e chama-la de volta.

Ele já fizera isso com Rose algumas vezes.

Ele poderia mudar de ideia.

O celular vibrou sobre a mesa, o loiro visualizou por alto as folhas da pasta antes de se ater ao aparelho. Uma mensagem de Rick com um conjunto de pastas anexadas estava ali para que olhasse, e ele o fez, lentamente só para se sentir mais inquieto do que já estava pela manha com o pai o atormentando porque não importava o quanto olhasse aquelas fotos e informações bem escritas para enganar e convence-lo a escolher pelo menos uma daquelas moças.

Eram bonitas, sim com certeza. Mas não pareciam ser o tipo de garotas que chamaria a atenção de Kang dado o histórico do homem que fizera questão de estudar, ou mesmo os desfiles que assistira em que peças do homem foram expostas.

— O que eu vou fazer? – questionou a si mesmo bagunçando os cabelos.

O celular tornou a vibrar. Uma mensagem de Nino.

[Espero ter conseguido te ajudar, cara]

Suspirou, se levantando e recolhendo a pasta e mais algumas coisas em sua bolsa deixando o escritório para trás.

Gorila o esperava na frente do prédio pronto para abrir a porta como fazia todos os dias com um manear de cabeça como sempre fizera desde o dia em que fora contratado pelo pai para ser o responsável pela segurança do filho que na época necessitava para se proteger do amor de algumas fãs.

— Me leve para casa, Gorila – o motorista/segurança o fitou pelo espelho retangular do veiculo em silencio, ouvir a voz do homem era algo que quase nunca acontecia – Ignore a ordem do meu pai de me levar para a casa dele, por favor. Ligarei para ele depois.

O homem grandalhão no banco da frente ligou o carro maneando uma vez a cabeça lentamente em concordância começando a dirigir o veiculo pelas ruas de Paris. O sol já havia se posto do lado de fora quase que completamente e as ruas entravam em seu auge de pico. Adrien odiava isso. Pequenos pingos de chuva começavam a cair sortidos.

O celular vibrou no bolso do blazer, o pescou rapidamente vendo uma foto com o nome do amigo na tela fazendo-o atender sem pensar.

— O Rick me disse que mandou os portfólios para você – o homem do outro lado comentou entre respiradas forçadas que fizeram Adrien supor que o amigo estivesse na academia talvez. – Achou alguma interessante?

— ...Nada, não é o que estou procurando.

— E o que você esta procurando exatamente? Por favor, não me diga que é uma nova Kyoko.

O homem ficou em silencio por alguns minutos.

Talvez fosse. Mas ele jamais admitiria em voz alta para qualquer um que fosse.

— Algo especial.

Uma risada soou do outro lado por pelo menos 3 minutos inteiros.

— Tem certeza que quer só uma modelo nova?

— Sim – a resposta sairá rápida de sua boca – Eu preciso dela logo.

— “Algo especial” é uma definição bem vaga e subjetiva, não sei como te ajudar assim, irmão.

Ele não estava errado.

Bagunçando os cabelos ainda mais o loiro fito-o a rua à frente, ou melhor, a traseira de um conversível esportivo amarelo que estava à frente enquanto o carro era parado no sinaleiro, os pingos de chuva aumentavam gradativamente. Seria uma noite agradável para dormir com o som dela.

Olhou para o lado de sua janela no banco de trás para contemplar a cafeteria “Jules’s Coffe” de onde seu café era comprado todas as manhas por Rose. Algumas mesas estavam ocupadas por fregueses e uma delas era atendida por uma moça que julgou como a proprietária por se encaixar na descrição de Rose quando comentara do local. Era uma mulher bonita com um estilo gótico bem marcado, mas não fora o que realmente chamara sua atenção ali.

Não.

A moça que era atendida por ela sim.

— Não mova o carro, Gorila – exclamou quando o carro fez menção de se mover, o sinal havia aberto. Uma buzina soou atrás, mas Adrien não se importou, os olhos continuaram presos na figura sentada sozinha na mesa quadrada.

— O que esta acontecendo, Adrien? – ouviu Nino perguntar do outro lado, alarmado.

A moça sentada na cadeira sorriu para a atendente balançando a cabeça freneticamente após dizer algo que ele não tinha a menor ideia do que fosse, mas o fez querer sorrir também.

Era ela.

Ouviu Nino repetir a pergunta e ate Gorila o encarar pelo retrovisor do veiculo com o cenho franzido em confusão.

— Eu a encontrei, Nino.

Um minuto de silencio do outro se seguiu antes da voz do amigo soar novamente.

— Encontrou quem?

— Algo especial.

— Ta’ de sacanagem – fora a última coisa que conseguira ouvir do amigo antes que desligasse o telefone na cara do mesmo fitando o motorista ainda confuso na frente tentando entender de verdade o que estava acontecendo com o chefe.

— Estacione em algum lugar.

Sem esperar qualquer confirmação abriu a porta do carro deixando o veiculo e correndo para dentro da cafeteria.

Seria ela sem sombra de duvidas.

O mais perto do que poderia desejar.

Se não fosse ele a transformaria.

Ela era especial.