Poeira cósmica que te habita escrita por Nim


Capítulo 1
Taehyung queria permanecer na terra




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Você sempre quis se aventurar pelas galáxias. Sim, ultrapassar a Via Láctea e mergulhar nas partículas de poeira do universo. Eu nunca o entendi quando nos deitávamos em nossa casa na árvore e víamos o longínquo céu se expandir em um véu negro; entretanto, descobri que você abraçava o mundo com seus pequeninos braços e com seus olhinhos pingados de estrelas.

Precisei afundar minha mente em livros de astrofísica para surpreendê-lo com curiosidades que você já sabia. Mesmo conhecendo cada teoria, cada ínfimo detalhe, você fingia uma aparente surpresa e sorria para mim com seus olhinhos que refletiam os sonhos de um astronauta. E, isso, era uma incógnita para mim: por que diabos alguém gostaria de sair da Terra e andar por aí sem oxigênio? Mas eu descobri: você era feito de galáxia. Suas ambições e seus desejos eram grandes demais para o nosso mundo, sua cor jamais poderia ser compreendida por nós, meros humanos de pés na terra. Contudo, eu pressentia que deveria possibilitar que sua poeira de estrela fosse confundida por entre as nuvens. Não as da Terra; mas, sim, aquelas massas coloridas que parecem tinta derramada sobre o cavalete.

Uma curiosidade que você já deve saber, que, no entanto, surpreendeu-me quando me vi cochilando por entre as páginas de física: estrelas são só um monte de poeira e hidrogênio congelados — em termos chulos —. Em um primeiro momento, fiz um esgar de desgosto, como você, Park Ji Min, poderia amar uma montanha de gás? Por dias e por noites, permaneci em um constante estupor em uma tentativa capturar o brilho de seus olhos e transferir para mim. Droga, Jimin, eu queria compreendê-lo.

Eu queria amar as coisas que você ama, porque o amo.

Mas, eu também amo o chão, o solo terroso e meus pés sujos poeira da nossa terra.

Você me beijou e eu pude compreender sua magnitude. Dentre as galáxias que você conheceu pelos livros, a sua era a mais bela, a mais colorida e a que fazia meu coração descompassar sob o peito. Então, permiti-me desentrelaçar nossos dedos enquanto corríamos pela rua e misturávamos nossa risada em uma canção espacial.

E você flutuou.

Eu me desesperei, quis agarrá-lo e abraçá-lo; porém, vi-o sorrir como nunca. Era o sorriso mais lindo que eu já vi e arrisco-me a dizer que as galáxias eram insignificantes perante o seu riso aprazível. Então, eu parei de correr, parei de esticar meus bracinhos para segurar seus dedinhos. Eu parei de tentar me desprender e sorri quando você se sentou sobre a lua e a abraçou como uma velha amiga. 

“Taehyung, eu o amo, mas amo ser pó interestelar”, você disse ao acenar de longe para mim. Suas lágrimas respingavam em minhas bochechas e as minhas atravessavam a terra marrom em uma despedida muda, somente com risos entremeados por um adeus. “Jimin, seja galáxia”, sussurrei de volta, baixinho, à medida que meu choro se confundia com a cortina de chuva.

Ainda conservo aquele nosso antigo costume de criança: passo horas da manhã rondando a casa na árvore, recuperando memórias que um dia compartilhamos e espero o crepúsculo no horizonte — momento que eu me sento na beirada e me debruço sobre um galho —. Em um piscar de olhos, o mundo se transforma em pólvora e tento encontrá-lo cintilando por entre as estrelas, com aquela sua roupa toda confusa de um vermelho, verde e rosa.

Permeado pela Via Láctea, sei que não posso enxergá-lo, mas, não se engane, pois, ainda posso sentir o calor de seus dedos quando fecho os olhos e o lembro nadando por entre as poeiras cósmicas, em busca de expandir a sua galáxia.

Se um dia — no caso, noite — puder, apareça por entre os véus coloridos e me conte como são as estrelas de perto.

Jimin, continue sendo galáxia que eu continuarei me aventurando em terra.


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