A friend escrita por Lorde


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Oiiiii, people! ♥
Faz muito tempo que não passo pela categoria de KHR, embora ainda pense com carinho nesse mangá tão incrível. E justamente na minha imaginação, pensei nesse cenário, no futuro, uns anos depois (não durante o arco do futuro, mas após), com os personagens adultos e maduros, e beeeeeem, o resto vocês descobrem na história, se eu contar fica chato ♥

Não sei como está o fandom de KHR nas fanfics hoje em dia, ficarei muito feliz se tiver feedback, mas escrevi mesmo essa história para concretizar um final alternativo e feliz que acho muito fofo e só faz bem para o desenvolvimento e finalização dos personagens que tanto amamos.

Acredito que demorei umas 5 horas escrevendo essa história. Umas duas para escrever o esqueleto, mas três para descrever certinho o cenário, os personagens, definir melhor o andamento, as cenas de luta, pesquisar melhor as palavras para não ficar tão repetitivo.

É isso, boa leitura, my people ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/785884/chapter/1

Rokudou Mukuro estava na enorme e mobiliada sala do líder da prestigiada família Vongola.  Seu cabelo ainda tinha o característico corte de abacaxi com a diferença que agora Rokudou mantinha um fino rabo de cavalo caído que atravessava suas costas. Por incrível que pareça, estava mais alto e portava seu amado sobretudo com a gravata frouxa em seu torso. 

Virava a folha de um caderno de capa dura qualquer com seus dedos envoltos no tecido de  suas luvas azuis, seus olhos bicolores absorvendo cada informação ali, por mais trivial que parecesse. E quando a maçaneta dourada da porta de madeira maçica se moveu, ele mudou sua posição para uma descontraída, relaxando as costas e se encostando na beirada da grande mesa cheia de papéis e a caneta tinteiro com as siglas de Tsunayoshi Sawada, apenas para provocar quem quer que adentrasse ali. Reborn? Hibari? Ou até mesmo Dino Cavallone? 

Mas quem adentrou a sala em passos firmes e diretos, o som de seus passos ecoando por toda a arquitetura do recinto, foi Chrome Dokuro.

A doce e pequena Chrome.

Chrome estava diferente. Com o passar dos anos e o aprendizado recebido, suas feições não tinham mais o ar inocente como de costume, sendo substituído por uma face séria e inexpressiva para estranhos. Seu tapa olho era um mais resistente com caveiras e flores e seu terno impecável com o símbolo dos Vongola no torso direito brilhava orgulhosamente. Seu cabelo violeta estava crescido até os ombros e adornava seu rosto, embora ainda estivesse com a marcação característica de abacaxi. Suas mãos ostentavam o anel Vongola de Guardiã da Névoa, junto com mais outros anéis secundários, cujo poderes eram desconhecidos por Rokudou. 

O ilusionista de cabelos azuis não conseguiu esconder sua expressão de surpresa, porém nem mesmo sua reação modificou o feitio sério da mulher que estava diante de si. 

— Mukuro-sama, você não deveria estar aqui. — Ela disse em tom firme e sem indícios de emoções, com seus olhos grandes e púrpuros a encararem seus olhos monocromáticos de volta. — Creio que Reborn tenha sido claro com você neste aspecto. 

— Ora, ora, pequena Chrome, não seja tão fria comigo. — Dramatizou Rokudou, fazendo um pequeno beicinho fingindo mágoa,  seus olhos transmitindo a diversão que passava em sua mente. Um leal guardião Vongola não pode mais estar à espera do chefe? 

— Não aqui. — Respondeu Chrome de imediato, como se toda a pose do homem à sua frente nada significasse.

A resposta rápida e cortante fez o silêncio quebrar quaisquer resquícios de sons que pudesse houver na sala, com permissão apenas para o vento se manifestar através das janelas mudas. Rokudou olhou para Chrome como se encarar aqueles olhos que tinham uma imensidade maior do que o universo pudesse o levar a ver o que se passava em sua mente. Não impediu uma risada de se formar no canto de sua boca. 

— Ahh, pequena Chrome, você está tão mais firme nesses últimos tempos. O que a levou a conseguir ser assim? — Provocou Rokudou, analisando quaisquer sinais que Chrome pudesse enviar de surpresa.

Mukuro-sama ter me abandonado. 

Rokudou arregalou os olhos em espanto e suas pernas pareceram ficar duras e presas no local, e precisando de mais apoio para seu corpo, suas mãos procuraram de forma discreta se encostar na beirada da mesa esculpida. Mas assim que percebeu como seu corpo estava reagindo, tratou de disfarçar, mas antes que pudesse retrucar algo, a mulher das palavras desferidas que permanecia em uma postura impecável e sem mudanças faciais, se adiantou, nada escapando de seus olhos treinados, ainda mais sobre seu antigo mestre. 

— Não o culpo, Mukuro-sama. Apenas respondi a sua própria pergunta. Não era isso que queria? 

Rokudou deu um sorriso de desistência, em reconhecimento a própria derrota que atingira. Não havia nenhum resquício de vergonha em sua atitude, na verdade, poderia dizer que estava até orgulhoso de ver Chrome o ganhando em seu jogo. 

— Vejo que até aprendeu a ser maliciosa, não é mesmo? 

Não existe nenhum significado oculto em minhas palavras, Mukuro-sama — Respondeu Chrome, mas sua expressão se suavizou, lembrando Rokudou da face que ela costumava fazer quando algo feliz acontecia a ela quando mais jovem. A guardiã arrumou o cabelo que caia no rosto atrás da orelha, sem mais a postura rígida que emanava quando entrou no local.  — Você não muda, não é mesmo, Mukuro-sama? 

Rokudou a olhou com orgulho. A ilusionista estava com uma aura totalmente distinta do passado. Agora emanava confiança e poder apenas com sua presença. Mesmo sem precisar ver, o guardião sabia que suas habilidades de luta devem ter aumentado consideravelmente — Além de ela estar com uma faca em sua bota. Algo que atiçava a curiosidade do homem, que imaginava até onde a força e as ilusões da mulher poderiam chegar. 

Algo que ele não sabia até agora, não até este momento quando a olhava assim, recordando-se do passado, era de como sentira falta de Chrome sem saber. Desde que saíra em uma missão isolada sem avisos prévios para ela, levando consigo apenas seus companheiros de infância, Ken, Chigusa e M.M, não havia considerado como seria a recepção dela á sua chegada. Sabia que ela sofrera. Sabia que ela o admirava e daria sua vida por si. Sabia que deveria ter chorado a noite, encolhida. Seu peito parecia fechar-se ao visualizar essa cena em sua mente, mas ele não podia evitar, não queria demonstrar que estava de fato apegado a ela, como amiga, como companheira de batalhas. Durante os anos em que estivera fora, recebia informações ocasionalmente de como a guardiã estava, mas Chrome não recebia nenhuma notícia sua. 

Rokudou de fato se sentia culpado por tê-la deixado, mas queria deixá-la para trás para ela mesma poder crescer exponencialmente sem a confiança de tê-lo por perto, além de que querer fugir do companheirismo dela e do amor de um líder Vongola, que estava ficando profundo demais. 

— Não posso dizer o mesmo, pequena Chrome. — Rokudou falou com a voz mansa, mas sua postura imediatamente ficou rígida ao ver uma lança apontada para si. A lança leve como um bastão, adornada e letal, erguida pelas mãos da guardiã. Magoado, Mukuro perguntou em voz firme e com o os olhos desconfiados. — ...O que significa isto? 

— Não deveria estar aqui, Mukuro-sama. — Simplificou Chrome. Sua face era livre de qualquer emoção além da determinação em seu olhar. 

Rokudou encarou aqueles olhos e seu coração pareceu quebrar. Mas assim que veio a primeira dor da traição, Rokudou zombou dessa emoção. A culpa era dele, afinal de contas, por ter deixado ela entrar em sua vida. Justo quando achava que poderia contar com ela. Mas tudo bem. Rokudou fora uma péssima pessoa com ela, e mesmo sendo seu salvador, nada lhe dava o direito de ter se comportamento de maneira tão arrogante com a garota, sabia disso. Dóia. Mas tudo bem. Rokudou superaria isso erguendo mais barreiras. Além disso, se este era o jogo que Chrome iria jogar, ele jogaria também. 

— Pequena Chrome, não acha que está muito atrevida? — Provocou o ilusionista, mascarando sua dor e a jogando no fundo de sua mente para que ninguém localizasse, nem mesmo ele, principalmente ele. Imaginando vividamente o tridente ao seu lado, preenchendo o espaço de sua mão, sentindo o metal gélido passando por suas luvas e transmitindo a sensação á sua pele, materializou sua arma a partir do ar em questão de segundos. Ergueu o tridente e começou a andar em passos calmos, como se estivesse caminhando em um parque em direção a Chrome, que em nada mudou em sua postura. — Quem diria que  chegaria um dia que apontaria uma arma pra mim? Estou profundamente magoado. A minha partida a machucou tanto assim? — Alfinetou, tentando transformar sua tristeza em raiva. 

— Mukuro-sama, sou eternamente grata por ter me salvado naquele dia, me dado um lar, me ensinado a batalhar. Sou profundamente grata do fundo do meu coração.  — Respondeu Chrome, mudando ligeiramente sua posição para defesa, analisando os mínimos movimentos do seu agora oponente. — Mesmo quando Mukuro-sama partiu sem avisar. Não tenho nada para reclamar, Mukuro-sama não era obrigado a me levar junto. 

— Oh, então por quê?  — Rokudou instigou, avançando a passos firmes e rápidos, mirando seu tridente na lateral da mulher, que defendeu sem maiores complicações com sua lança, e quando ela tentou revidar com um ataque frontal, Rokudou defendeu com a mesma facilidade, embora estudando o novo modo de lutar da guardiã. Chrome continuava com a lança na mesma postura, e Rokudou com seu tridente, a impedindo de avançar, fazendo suas armas estarem atritando, mas suas mãos se mantinham firmes e seus rostos estavam frente a frente. Ambos analisavam as expressões um do outro, mas nada podiam adivinhar além das concepções de sua própria mente.

— Apenas cumprindo regras. E protegendo boss. 

— Protegendo Tsunayoshi? Que gracinha. De fato, o líder dos Vongola deve ter mesmo cuidado, se acabar se descuidando… — Ambos moveram as armas para baixo, livrando-se do atrito e pulando para trás pela força do impacto. Pousaram a poucos metros de distância, os dois com corpos treinados e prontos para o próximo movimento. 

— Estou protegendo boss de magoar-se com você.  — Impôs Chrome. 

— ...De que raios está falando? — Questionou Rokudou alterado, sua face em uma expressão de descontentamento e raiva. Qualquer que fosse o jogo de Chrome Dokuro, ela estava indo longe demais. O ilusionista não sabia quais eram a intenção da mulher, e isso o deixava extremamente cauteloso. A mente de Rokudou estava trabalhando rapidamente, pensando na possibilidade, mesmo que ínfima, de que ela soubesse.

— Mukuro-sama vai partir o coração de boss, não vai? — Continuou Chrome, seu rosto expressando uma forte tristeza e raiva pela primeira vez aos olhos de Rokudou desde que a avistara ali. —  Mukuro-sama passa um dia cheio de mimos com boss, para no dia seguinte sumir sem justificativas. O faz acreditar que o ama, mas desaparece quando boss quer algo mais sério. Faz o futuro juntos parecer promissor, mas escapa ao menor sinal. A dor que boss sente a cada sumiço... — E seus olhos púrpuras lacrimejados se apertaram mais em raiva, sua voz suave se levantando até chegar ao decibel do grito. — Mukuro-sama não deveria agir levianamente assim com seus sentimentos!  — A passos rápidos e hábeis, Chrome cortou a distância entre os dois como um coruja em sua caçada, em um piscar de olhos, de modo que Rokudou só pode se defender do pesado ataque sequencial da lança em sua direção. 

— Foi ele que caiu. — Negou Rokudou, mentindo para si mesmo, assimilando tudo que Chrome acabara de dizer a si,  que estava enraivecida com as lágrimas a rolarem pela sua face rechonchuda, a profunda determinação e lealdade por Sawada Tsunayoshi, o mesmo Tsunayoshi por quem Rokudou nutria um grande ardor, uma paixão, o Tsuna que estendeu a mão mesmo Rokudou não merecendo, mesmo ele tentando acabar com sua família e o mundo, o quanto Tsuna o abraçou e lhe deu aconchego, lhe deu carinho, e de como Mukuro adorava esses momentos, momentos com seu amante, o momento quando acordava pela manhã e via o rosto adorável de Tsuna dormindo e Rokudou sentia que aquele era o  lugar mais agradável e seguro no mundo. Mas ninguém deveria saber disso. Nem mesmo Tsunayoshi. — Eu não tenho culpa de nada-

— Pare de fugir, Mukuro-sama! — Berrou Chrome parando sua sequência de golpes múltiplos para segurar a lança com as duas mãos e avançar em Rokudou. O protetor recuava para trás, sua mente ocupada demais com o turbilhão de sentimentos que era sua mente para pensar em outra coisa senão defender-se. — Até quando vai fazer isso, Mukuro-sama? — Pranteou Chrome, afrouxando seu ataque, apenas para olhar nos olhos monocromáticos de Rokudou, que engoliu em seco e seu coração apertava em seu peito. Rokudou estava com raiva, raiva por Chrome Dokuro saber de sentimentos que ele tanto lutava para esconder, sentimentos que tanto o assustavam.   Tsunayoshi o ama. De verdade. Sente saudades quando Mukuro-sama desaparece, pensa em Mukuro-sama, embora seja tímido demais para confessar. E enquanto confidenciava, os olhos de Rokudou vacilavam, perdido em suas próprias lembranças de como ambos eram felizes juntos, sentindo as palavras da mulher entrando em seu coração. Se continuar assim, vai acabar o perdendo! — Chrome berrou, aproveitando que Rokudou estava divagando para impelir um golpe rápido e preciso com sua lança, jogando o tridente de Rokudou para longe, o metal caindo e raspando no chão, seu som ecoando por toda a sala. Rokudou olhou para sua arma como se só agora tivesse percebido o acontecimento, mas Chrome já apontava a lança para seu rosto, impiedosamente.  

— Eu sei que você passou por um passado difícil, Mukuro-sama. Não posso nem imaginar o sofrimento que passou. — Começou Chrome, atraindo toda a atenção de Rokudou, que a olhava sem saber como realmente reagir. — Mas Mukuro-sama, se você continuar desse jeito, vai machucar as pessoas ao seu redor. E se, — A ilusionista deslocou a lança até ficar a centímetros da garganta do homem à sua frente.. — machucar o boss, não o perdoarei. Nem mesmo você, Mukuro-sama.

Rokudou a olhou espantado. Não sabia o que pensar, como reagir a essa profunda reviravolta, como assimilar os acontecimentos, as frases que agora martelavam em seu coração, as crenças e barreiras que tanto lutara para construir e proteger a si próprio, seu passado e  dor, mas em Tsunayoshi, em seu carinho, em seu amor, em Chrome, em sua força, sua lealdade. Engoliu em seco.

— Tsunayoshi o ama, Mukuro-sama. — Repetiu Chrome, levando a lança ao lado de seu próprio corpo, encarando com pena e compaixão para Rokudou. — Seja honesto com ele, antes que seja tarde demais. 

Rokudou não sabia o que dizer, não sabia o que retrucar, pela primeira vez depois de tantos anos. Sua boca abria e fechava hesitante, seus lábios se comprimiam, e seus olhos estavam vagos e encarava o chão, apertando as próprias palmas da mão, nervoso, assustado. Seu coração batia em seus ouvidos, impedindo sua mente de pensar longamente. Rokudou engoliu em seco, empurrando o medo para longe de seu estômago. 

— Como eu posso ter certeza? — Confessou, acabrunhado, não conseguindo encarar Chrome nos olhos, nem conseguiria encarar a si mesmo neste momento. Se sentia tão patético, tão fraco, tão...vulnerável. Mesmo assim, algo dentro de si urgia para falar, para falar tudo que se passava em seu coração, céus, algo RUGIA dentro de si para contar o quão desesperado estava para se entregar para o amor de Tsunayoshi, para sua famiglia Vongola, mas estava com medo, muito medo. Como Rokudou conseguiria fazer isso? Como?! ...Como? — Como eu posso ter certeza que não vou me... machucar? A última palavra, machucar, saiu tremida, tão tremida quanto os lábios de Rokudou que se apertavam para segurar as lágrimas. Tremia como a maior confissão de Rokudou, como o maior monstro que Rokudou temia. 

Machucar era o que tinham feito a Rokudou quando ele ainda era uma criança. Machucar eram o que tinha acontecido a ele quando o torturavam naquela sala de cirurgia em prol de um mundo que ele nem sabia que existia. Machucar era o que Rokudou viu quando criança naquelas visões em seu olho ardente e infernal que ele não desejou. Machucar era uma palavra que nem chegava perto do medo que sentiu em todos aqueles anos presos numa cela fria e solitária.

Chrome aproximou-se de Rokudou. Ele não recuou. A mulher, com uma expressão carinhosa e perdida em pensamentos pegou carinhosamente em uma das mãos do ilusionista, que se retraiu devido ao contato, ainda mais um tão gentil, mas Chrome continuou a segurar e puxou a mão para a altura do coração, fazendo-o olhar para ela. 

— Não tenho como dar certeza, Mukuro-sama. — Falou Chrome, com toda a doçura e sinceridade que poderia existir, uma aura de mãe. Acariciou a mão por cima da luva de Rokudou. Mas sei de uma coisa. Vocês dois estão se machucando com medo do que pode acontecer. E isso pode nunca acontecer enquanto vocês fugirem. Sairão apenas machucados sem nunca saber se dariam certo. E se vocês se machucarem no final, não será um dor terrível e insuportável, pois vocês terão a certeza que tentaram, e que independente de tudo, passaram bons momentos juntos. Essa é uma dor que se aprende, Mukuro-sama. 

Rokudou a olhou com os olhos lacrimejados, tentando em vão segurar suas lágrimas que ardiam em seus olhos e borravam sua visão, mas quando a olhou em seus olhos, Chrome estava com um sorriso doce e gentil, dando apoio para tudo que Rokudou sofrera e suporte para todas as felicidades e possibilidades que Rokudou viria a ter. Ela estava com apenas um sorriso, o tirando da gaiola de auto-proteção que o estava asfixiando. 

Não teve nenhuma ínfima possibilidade de Rokudou não chorar frente a tanto amor e compaixão que lhe era oferecido. De ter negado suas lágrimas a Chrome, não depois de ela estar ali por ele. 

— Sinto muito, Chrome. — Rokudou desculpou-se, as lágrimas rolando pela sua face enquanto as memórias de como tratara Chrome como uma ferramenta, como fora cruel com ela, como permitira que seus companheiros a tratassem tão mal, agora pareciam sufocar seu coração e garganta. Dóia ainda mais ao constatar que Chrome não o odiava apesar de tudo.

— Está tudo bem, Mukuro-sama. Você me salvou. — Prometeu Chrome, sabendo já o motivo do abalo de Rokudou. — Eu não estaria vivendo a vida que tenho hoje se não fosse por você. Sou eternamente grata a isso.

Rokudou, de súbito e em movimentos rápidos, colou seus braços em torno do corpo de Chrome, a abraçando com força e encostando seu rosto em seu ombro. O gesto a pegara totalmente de surpresa, mas assim que começou a sentir o calor do carinho em seu coração, Chrome desmaterializou sua lança e abraçou Rokudou de volta, deixando as lágrimas de felicidade rolarem pelo seu rosto e encontrarem seu sorriso. 

É claro que ela se lembrava. Claro que doeu no começo. O desprezo e indiferença de seus companheiros, as palavras agressivas de M.M, Chigusa a insultando sempre que podia, como se ela fosse um incômodo e culpada por Rokudou não estar com eles e a frieza de Ken. Doeu e muito. Claro que doeu também isso ter sido logo após o descaso de seus pais com sua vida. E em como não tinha ninguém a quem contar. Mas ela superou. 

Ignorava esses comportamentos e focava-se em ficar mais forte. No começo para ser aceita. Mas depois porque conheceu pessoas que se importavam com ela e lutariam por ela, e ela lutaria por eles então. E foi crescendo. Se tornando mais forte. Aprendendo a encarar o futuro. A deixar o passado para trás. Focando-se apenas em um futuro melhor para si, apenas os agradecendo por terem dado moradia para ela. Mas a desculpa de Rokudou realmente aliviava um peso que não achava que ainda tinha em seu coração. 

Rokudou afrouxou o abraço apenas o suficiente para olhar nos olhos de Chrome. E ela o olhou de volta apenas com carinho e o doce sorriso nos lábios. A beijando carinhosamente no rosto, Rokudou saiu da sala, procurando pelo seu amado líder Vongola.

Chrome relaxou os ombros, sabendo que tudo iria se resolver a partir de agora. Foi pega de surpresa mais uma vez ao sentir pelos macios se esfregando em sua perna, e sabia sem nem olhar, que seu gatinho estava a fazer aquilo novamente, ronronando para chamar sua atenção. A guardiã abaixou-se para o pegar no colo e o apoio no ombro para acariciar suas costas, como um bebê.

Você continua muito sensível como sempre. — Brincou ela apreciando a calmaria que era fazer carinho no gato, assim como fazia pelos muitos anos desde que o reencontrara. 

O gato que tanto a procurara por ter salvo sua vida.

                                                                    ≬≬≬≬≬≬≬≬≬

Sawada Tsunayoshi tinha uma postura séria, e isso transparecia mesmo que estivesse sentado relaxando no banco branco de madeira do jardim da mansão Vongola. Sua franja havia crescido e pairava esvoaçando na frente de seus olhos com dois tons de laranja. Seu cabelo estava rebelde como sempre, suas mãos portando os anéis Vongola, com a luva vermelha a complementar. 

O líder estava apreciando a beleza e calmaria da natureza, até que uma voz tão familiar sussurrara em seu ouvido. 

— Você realmente ama este jardim, não é mesmo, Tsunayoshi? —  Comentou Rokudou, como se não quisesse nada, mas lidando com a ansiedade que estava dentro de si. Se atreveu a pousar a mão no ombro de seu amante e olhou a mesma paisagem que os olhos alaranjados que tanto adorava.

Não sabia que você voltava hoje. —  Suspirou Tsunayoshi, cansado, pensando em como iria lidar com Rokudou e seus sentimentos. 

—  Para ser sincero, nem eu. —  Respondeu Rokudou, sentando-se ao seu lado no banco. Sem a resposta esquiva de seu parceiro, Tsuna o olhou desconfiado. Rokudou não pode deixar de se sentir magoado com essa reação, mas sabia que era uma consequência de seus atos. Tomando coragem, se aproximou dele, o olhando nos olhos. —  Não tenho um lugar para dormir. 

—  Você tem seu quarto no prédio dos guardiões. —  Repeliu Tsuna, levemente nervoso, pensando no que Rokudou estaria tramando dessa vez. 

Mas eu quero ficar com você. —  Confessou Rokudou, sem jeito, olhando para sua própria mão e a mão de Tsunayoshi que estava a poucos centímetros da sua, o que fez Tsuna de imediato virar o rosto para olhar para Rokudou, procurando resquícios de uma travessura. Mas não encontrou nada disso, ao invés disso, Rokudou levantou os olhos, e encarou seu amado, com uma expressão suave, o olhando sem malícia ou sarcasmo. Rokudou, antes que permitisse a si mesmo a recuar, segurou a mão de Tsunayoshi com apego.  — Quero saber que você estará comigo quando eu acordar… — Tsunayoshi não entendia de fato o que estava acontecendo, estava de fato tocado pela atitude de seu parceiro, mas ainda estava desconfiado. Rokudou, para mostrar o quanto estava sério, se aproximou de Tsunayoshi. — Eu...eu…

Rokudou engoliu em seco. Tsunayoshi prendeu a respiração. Sua mente estava a mil. De alguma forma, seu cérebro procurava respostas alternativas para o que quer que Rokudou estivesse fazendo, tornando-se mais inseguro a cada possibilidade que inventava, enquanto Rokudou tentava acalmar e organizar seus pensamentos. Sabia que precisava dizer isso. Sabia. Sabia que Tsunayoshi precisava disso. Seu corpo lhe pedia para fugir, mas sua razão o fazia ficar. Estava com tanto medo.

Eu te amo. 

Tsunayoshi soltou a respiração. Não acreditava no que seus ouvidos estavam ouvindo. Não sabia o que pensar ou como reagir pois todas os cenários que sua mente criara não envolvia o que mais desejava. 

Mas olhou Rokudou nos olhos, que o  amava, e viu o quanto ele estava sério. A mão de Rokudou tremia. 

Tsuna sorriu. 

Aproximou-se de Rokudou e selou seus lábios. 

Rokudou retraiu-se devido a surpresa mas aos poucos foi relaxando e correspondeu ao beijo. Tsunayoshi, tímido, não sabia exatamente o que fazer, mas o puxou para mais perto. 

Beijaram suavemente, sem pressa nenhuma, como se apenas os dois existissem no momento e nada mais no mundo importasse. Quando se separaram, apenas o suficiente para respirar e olhar nos olhos um do outro, se beijaram de novo. Rokudou acariciava a mão de Tsuna e interrompeu o beijo para puxá-la para encostar no próprio rosto. E depois de Tsuna acariciar o rosto de Rokudou, o olhando com a expressão mais leve que fazia em muito tempo, o beijou de novo. 

—  Obrigado por me esperar por tanto tempo... —  Agradeceu Rokudou, sussurrando entre as curtas interrupções de beijos. —  Sinto muito por tudo que lhe fiz... — Outro beijo. Quero fazer você feliz, o mais feliz possível de agora em diante... —  Mais um beijo. — Quero estar ao seu lado, Tsunayoshi…

— Eu não poderia estar mais feliz agora. — Sussurrou Tsuna de volta. 

                                                                       ≬≬≬≬≬≬≬≬≬

— O que te levou a se confessar, Mukuro? — Perguntou Tsunayoshi curioso, enquanto descansavam na cama grande do líder dos Vongola, que estava sentado encostado na cabeceira da cama e tinha os braços em volta de Rokudou, passando a palma da mão nas costas do amante, sentindo o tecido macio do escuro casaco que o outro usava, que agora  descansava com o rosto encostado em seu peito, que subia e descia num ritmo relaxante, que acalmava tudo que o ilusionista sentia. 

— Uma amiga. — Respondeu Rokudou sem precisar pensar muito. 

Não estava machucado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não sei se de fato acabei facilitando as coisas para Rokudou visto que ele é um dos meus personagens favoritos da série (se não O FAVORITO), tentei deixar bem equilibrado, porque sejamos sinceros, ele foi um tremendo cuzão com a Chrome e um cuzão aqui na história até admitir seus sentimentos pelo Tsuna.

Quis deixar claro que não importa o que ele sofreu, NADA justifica ele maltratar a Chrome ou deixar a maltratarem. Ou deixar o Tsuna sofrer no relacionamento. Na verdade, não escrevi isso no texto(já deu dez páginas aqui no documentos do Drive, eita), mas se o Rokudou não se resolvesse logo, Tsuna terminaria com ele, porque ninguém merece né.

Deixem suas impressões para mim, adoraria ler ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A friend" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.