A Herdeira escrita por Nany Nogueira
Dora, Felipe, Jorge, Victor, Açucena e Jesuíno embarcaram num navio rumo ao Brasil no dia seguinte à conversa com os novos reis.
Anita e Heitor despediram-se com a convicção de não se tratar de um adeus, mas de um até logo.
Os pais advetiram os filhos que mesmo à distância dariam suporte para o momento da fuga.
Tão logo despediram-se dos pais, os jovens já foram chamados para a primeira reunião com Rei Augusto, a qual durou o dia inteiro, pois eram muitos os assuntos dos reino dos quais os novos reis deveriam tomar conhecimento.
Ao final da reunião, Anita e Heitor se sentiam tontos e despreparados, mas Rei Augusto garantiu que iria auxiliá-los em tudo. Por isso, os jovens resolveram nomeá-lo conselheiro real e secretário para assuntos gerais do reino.
Saíram do gabinete real ao anoitecer, jantaram, famintos que estavam e foram se recolher.
Heitor tirou a camisa na frente de Anita, desesperado para colocar o pijama e dormir. A moça ralhou:
— Não deveria se desnudar na frente de uma dama.
— Eu só tirei a camisa, não foi a calça.
Anita corou ao comentário dele.
— Mas, se te incomoda, não tornarei a fazer - vestindo rapidamente a parte de cima do pijama.
— Não me incomoda, só não acho certo, já que não somos marido e mulher de verdade.
— Como queira - pegando a calça de pijama e indo se trocar no quarto de vestir.
Anita deu um tempo e depois bateu na porta do quarto de vestir, dizendo:
— Eu posso entrar? Preciso vestir a minha camisola.
Heitor saiu já trajando o pijama completo:
— Vou ao banheiro enquanto se troca.
Anita se trocou rapidamente e voltava para o quarto quando esbarrou em Heitor, que não deixou de reparar no traje sumário dela.
— Esse quarto às vezes parece muito pequeno - comentou ela.
— Posso dormir em outro quarto, são tantos por aqui.
— Não há necessidade... Poderiam desconfiar...
— Você que sabe. Boa noite! - pegando as cobertas e o travesseiro sobre a cama e dirigindo-se ao quarto de vestir.
— Boa noite - respondeu ela, e se deitou.
Anita ainda dormia profundamente quando foi acordada por Heitor nos primeiros raios de sol. Ela murmurou:
— Me deixa dormir, mãe. Tá cedo.
— Eu não me pareço nem um pouco com a sua mãe, Anita - falou Heitor, enquanto a sacudia, rindo.
Ela acordou e se sentou na cama, assustada:
— Por que me acorda desse jeito, seu chato! - pegando o travesseiro e batendo nele.
— Você não vai sossegar enquanto não estourar esse travesseiro de penas de ganso em mim, né? - rindo.
— Não vou - concordou ela, séria.
— Anita, levanta e se arruma logo.
— Quem é você para me dar ordens? Tenho sono e ainda é muito cedo!
— Dois jovens reis de Serafia têm muito trabalho a fazer e se não começarem bem cedo não darão conta.
— Rei Augusto dará conta, sempre deu. Somos reis de mentirinha, lembra?
— Tudo é muito de mentirinha nessa história. Mas, o povo de Seráfia é de verdade e eles precisam de nós. A guerra fez estragos e nós podemos ajudar.
— Podemos, mas não queremos.
— Sério que você é tão egoísta assim? Eu tinha uma imagem completamente diferente de você, mas estava enganado. Fique dormindo, eu vou sozinho.
— Espere! - disse Anita, segurando firme o braço de Heitor, que se arrepiou ao toque da jovem - Eu estou cansada, com sono, nosso dia ontem foi exaustivo. Mas, tudo bem, eu te acompanho, também quero ajudar o povo de Seráfia no pós guerra.
— Ótimo! Eu te espero na mesa do desjejum.
Anita assentiu com a cabeça.
Mais tarde, os dois estavam no gabinete mapeando a população de Seráfia, estudando cada região, a produção de riqueza e as áreas em maior necessidade.
Almoçaram e partiram para a pesquisa em campo. Foram pessoalmente aos bairros mais carentes da Capital serafiana.
Os dois jovens ficaram estarrecidos com o que viram. Acostumados à pobreza e à seca do sertão nordestino, não imaginavam presenciar o mesmo num rico Pais Europeu, porém devastado por anos de guerra.
A população necessitava recebia seus reis com grande cortesia, se desvelando para fazer boa figura nas suas modestas casas.
Os dois voltaram mudos ao Palácio, perdidos nos próprios pensamentos. O silêncio só foi quebrado no jantar, quando Rei Augusto deu maiores explicações da real situação do reino, deixando os jovens ainda mais preocupados.
No quarto, Anita comentou com Heitor:
— Eu fiquei mexida com o que vi hoje.
— Eu também e muito! Aqui parece pior que o nosso Sertão. Pensei que o desejo de um reino unificado fosse capricho dos revoltosos, hoje eu vi a importância disso para o povo, que não suportava mais a divisão e a guerra.
— Eu senti o mesmo e me compadeci. Senti vergonha do nosso luxo e fartura enquanto o nosso povo passa fome. Tive vontade de doar tudo que temos a eles.
— Não resolveria, são muitos pelo País. Vimos uma ínfima quantia. Além disso, a riqueza do Palácio é importante para a política interna e externa, sem contar que precisamos fortalecer com recursos nossas forças armadas e demais instituições.
— Como você é bom político, Heitor! Parece o meu pai falando. Aprendeu tudo isso enquanto plantava batatas? - provocou ela.
— Eu ajudo na Fazenda da tia Antônia as famílias necessitadas que ali plantam para gerar renda, aplicando os meus conhecimentos do curso de agronomia. Mas, eu estudo muito mais que a terra se você quer saber.
Anita caiu na gargalhada:
— Te ofendi, foi?
— Nem um pouco, não me ofendo com criança.
Anita subiu a camisola, deixando as coxas a mostra, provocando, perguntou:
— Quer dizer que você me vê como uma criança é?
Heitor deixou o olhar escorregar para as coxas da moça por um minuto, mas se conteve, desviou o olhar e disse:
— Vou dormir, boa noite!
Ela percebeu o desconforto dele e sorriu.
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