A Herdeira escrita por Nany Nogueira


Capítulo 13
Seráfia do Sul




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No Brasil, Doralice tentava conversar com Jorge à mesa do café da manhã:

— Como foi a sua semana na faculdade, filho?

— Boa – respondeu monossilábico como já era costumeiro nos últimos tempos.

— Jorge, o que está acontecendo?

Ele apenas olhou duro para a mãe e nada respondeu, dando um gole na sua xícara de café com leite.

Felipe interveio:

— Jorge, sua mãe fez uma pergunta. Responda! – enérgico.

— Se eu responder não vai prestar.

— Sua mãe não fez nada para ser tratada desse jeito, pelo contrário, ela é uma ótima mãe! – defendeu Jorge.

Victor se manifestou:

— Isso é verdade, a mamãe é a melhor do mundo!

Doralice sorriu para o filho menor, que retribuiu.

— Ela destrata a mulher que eu amo! – justificou-se Jorge – Acaso ela não te contou a grosseria que fez a Verena? Ela não quer mais pisar aqui, ameaçou até terminar comigo!

— Ela me contou e dou razão a ela – rebateu Felipe.

— Claro, o senhor sempre dá razão a ela. Mamãe é que deveria usar calças nessa casa!

Felipe levantou bravo e deu um soco na mesa, assustando Victor, que correu para o colo da mãe.

— Eu exijo respeito, moleque! Tudo o que você aprendeu dentro dessa casa até hoje foi sobre respeito! Eu respeito a minha esposa, a mãe dos meus filhos, minha amiga e companheira. Não vou permitir que nenhum de nossos filhos falte ao respeito com aquela que tanto se dedicou na criação e educação deles!

— Não vou mais faltar ao respeito com ninguém, mas sou adulto e também tenho uma companheira a quem defender. Com licença – levantando-se da mesa e se retirando.

Dora indagou ao marido:

— O que ele quis dizer com isso?

— Sandices de garoto mimado, eu sempre te falei que esses meninos precisavam de mais limites.

— Agora a culpa é minha, Felipe? Quem mais mimou as crianças, eu ou você?

Victor falou choramingando:

— Vocês também não vão brigar, não é mesmo?

— Claro que não, querido – disse Dora, dando um beijo na cabeça do filho sentado em seu colo – estamos só conversando.

Terminaram o café da manhã, quietos.

Enquanto isso, Anita e Heitor, dentro de um confortável carro, dirigiam-se para Seráfia do Sul. O rei ia cochilando, pois haviam saído muito cedo do norte. Anita estava atenta a todo o percurso, querendo absorver tudo sobre Seráfia, conhecer cada canto dela.

Um solavanco num buraco da estrada e Heitor acordou:

— Estamos chegando? – perguntou sonolento.

— Acredito que sim, já está na hora do almoço – respondeu e olhou para o motorista, indagando – Senhor, falta muito para chegarmos?

— Não, majestade, já estamos bem perto – respondeu o motorista de meia idade.

— Que bom, estou faminto! – expôs Heitor.

— Eu tenho fome e sono – relatou Anita.

— Por que não dormiu como eu?

— A curiosidade falou mais alto. Seus olhos fechados perderam belos cenários. Cada dia me encanto mais por Seráfia.

— Tanto a ponto de não querer mais ir embora?

— O que quer dizer?

— Nada, esquece. É a fome falando por mim.

Os dois avistaram o Palácio do Sul e se sentiram contentes.

Rainha Helena esperava a dupla na porta. Abraçou carinhosamente a neta e repetiu o gesto com Heitor:

— Entrem, fiquem à vontade. Imagino que estejam com fome...

— A senhora nem imagina o quanto! – informou Heitor.

Anita deu uma cotovelada nele e disse:

— Olha a educação!

Rainha Helena riu e falou:

— Não tem problema, vamos nos sentar à mesa.

Enquanto almoçavam, Rainha Helena indagou:

— Fiquei feliz com a visita, Anita, ou melhor, Rainha Anita...

— Pare com isso, vovó, a senhora não precisa me chamar de rainha.

— São as formalidades, minha querida.

— São formalidades demais e sem sentido para o meu gosto.

— Eu também acho – concordou Heitor, falando de boca cheia.

— Ai, esse garoto só me faz passar vergonha – disse Anita, tampando o rosto com o guardanapo.

Helena riu e explicou:

— Heitor, meu querido, é melhor que termine de comer antes de falar.

— Desculpe.

Helena prosseguiu:

— Como eu dizia, a visita me felicitou, mas imagino que não veio apenas matar a saudade de sua velha avó...

— Não mesmo, quero dizer, sempre é bom rever a senhora e, sim, sinto saudade, mas, o que me traz aqui são assuntos do reino.

— Eu já imaginava.

— Quero conhecer melhor o sul de Seráfia, saber suas particularidades, entender suas carências, como fiz com o norte.

— Fizemos – corrigiu Heitor, agora sem a boca cheia.

— Terei o maior prazer de mostrar tudo para vocês – alegrou-se Helena.

— A senhora vai ficar definitivamente aqui agora? Não estou expulsando, só perguntando. Desculpe se me expressei mal – encabulou-se Anita.

— Saber se expressar é fundamental para um bom regente, mas eu não me ofendi, querida. Não tenho mais muito o que fazer no sertão. Estava lá por não me permitirem a volta à Seráfia, mas a revolta acabou graças a vocês! Batoré se foi há muitos anos, meus filhos não precisam mais de mim faz tempo e eu quero morrer onde nasci, em Seráfia do Sul.

— Credo, vovó, a senhora ainda está nova e já fica falando de morte.

— Um dia todos nós vamos, querida.

— Que esse dia demore!

Helena pegou a mão da neta e a apertou:

— Estarei por perto até quando precisar de mim.

— Obrigada, vovó.

Naquela tarde, Helena acompanhou os jovens reis numa visita guiada pela capital do sul e arredores. Voltaram à noite, exaustos. Foram jantar e Helena indagou:

— O que lhes pareceu a visita de hoje?

— Seráfia do sul está em piores condições que o norte e nem imaginei que isso fosse possível – respondeu Heitor.

— Eu imaginei, até porque as revoltas se concentraram no sul – rebateu Anita.

— A revolta castigou demais o sul e isso me entristece demais – observou Helena.

— Vamos dar um jeito nisso, vovó – prometeu Anita.

— Eu sei que fará o seu melhor, querida, ou melhor, os dois jovens reis o farão. Mas, se preparem, porque não será nada fácil. E contem comigo para o que precisarem.

— Vamos precisar da sua ajuda e experiência, rainha Helena – disse Heitor.

— Como disse Anita, sem formalidades, apenas Helena, agora sou praticamente sua avó, Heitor.

— Está bem, Helena – corrigiu-se ele.

— Imagino que devam estar cansados, preparei uma ótima suíte para vocês, a criada pode levá-los quando quiserem.

Anita estranhou:

— Apenas uma suíte?

— Sim, vocês preferem quartos separados?

Heitor se adiantou:

— Não, uma suíte está perfeita! Até já vou me deitar – bocejando – você vem, Anita?

— Não, vou conversar mais um pouco com a minha avó.

Anita e Helena foram ao gabinete e, com as portas fechadas, a neta relatou à avó:

— Eu e Heitor não vivemos maritalmente, pensei que a senhora soubesse disso.

— Eu pensei saber disso, mas não entendi o lençol com sangue na sacada principal do palácio do norte.

— Foi uma armação nossa – contou Anita, rindo.

Depois do relato da neta, Helena perguntou:

— E você não sente a menor vontade de tornar o seu casamento real?

— Já é um casamento real... de reis. Entendeu? – rindo.

— Falando sério, Anita. Seria bom para todo mundo se você e Heitor se tornassem marido e mulher de verdade, reis de verdade, unificando e trazendo paz para as Seráfias de verdade, gerando uma prole que levasse o sangue da dinastia das duas Seráfias. Eu não sei o que pode acontecer quando vocês fugirem daqui.

— A senhora vem junto, não vamos deixá-la.

— Eu amo essa terra e, como te disse, quero morrer aqui.

— Vovó, não seja tão dramática.

— Não é drama, Anita, é como me sinto. Já é tarde, vá se deitar. Amanhã temos trabalho em Seráfia do Sul logo cedo.

— Eu vou, mas antes, gostaria de fazer uma pergunta.

— Faça.

— A senhora se casou com o meu avô Teobaldo por amor ou porque era bom para o reino.

— Eu me casei porque era bom para o reino e, então, descobri o amor. Você pode descobri-lo também. Boa noite – beijando a testa da neta e se retirando do gabinete.

Anita encontrou Heitor acordado, sentado em uma poltrona. Ele perguntou:

— Quer que eu durma no chão?

— Não, a cama é bem grande, podemos dividi-la, a menos que você não queira a minha companhia.

— Sua companhia sempre me é agradável, milady.

— Que vocabulário é esse?

— Estou aprendendo a falar como um rei.

— Também tenho aprendido muitas coisas como rainha.

Os dois se deitaram e ela pensou: “pena que não vai durar para sempre”.


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