Um Amor De Natal escrita por Thay Paixão


Capítulo 1
O Príncipe


Notas iniciais do capítulo

Então meninas do meu coração! Eu estava de boas com a minha irmã e esse plot surgiu entre nós duas. Espero que gostem!

É dedicado a minha leitura Paulinha que sofreu muito no último capítulo da minha outra fic kkkk espero que goste flor! >< Bjs Boa leitura



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Eu queria apenas que meu turno acabasse. Mais uma hora e meia. 

—Belinha do meu coração! - Alice Brandon, minha melhor amiga e colega de quase todos os turnos no Hospital de Seattle, apareceu no meio do corredor. Com toda certeza tinha saído de uma sessão de "ressuscitação de ânimo". O jaleco mal arrumado e os cabelos bagunçados foram a dica.

—Não. - Falei curto tentando contornar seu corpo pequeno.

—Por favor?!

—Alice, eu estou morta! Não vou dobrar o turno para cobrir você!

—Mas o Jasper me chamou para jantar! - Ela piscou os grandes os olhos castanhos para mim. Eu odiava com todas as minhas forças não estar no mesmo turno que Alice, quando isso acontecia o Dr. Whitlock, o affair dela a chamava para sair - que senso inoportuno ele tinha - e ela vinha para mim pedindo que eu a cobrisse.

— Marque com ele na sua folga. -Cruzei os braços.

—Bella, por favor? Eu acho que ele vai me pedir em namoro!

—Você disse a mesma coisa das últimas quatro vezes esse mês!

Ela me olhou brava.

—O que você tem que fazer em casa? Sei que ama esse hospital.

—Ali, eu tenho que descansar, foi um dia corrido demais por aqui. E aqueles residentes? Eles acham que estão numa série médica! Tive que da uma lição em dois, que quase mataram um paciente hoje.

Ela assentiu em concordância, sabendo como os residentes tendiam a se sentirem superiores.

—Fora isso, o motivo óbvio de que você precisa de descanso,  o que você teria em casa? Vai assistir filmes românticos e se entupir de pipoca?

—É uma opção. - Voltei a andar.

—Meninas você não sabem o que está acontecendo na emergência! - Jessica Stanley apareceu com os olhos azuis brilhantes. Lá vinha notícia quentinha da ‘’rádio enfermeira.’’

Sem que perguntássemos ela se lançou a contar.

—Lembram do homem super gato que trouxeram hoje cedo?

—O ‘’príncipe congelado?” -Alice e eu perguntamos juntas. De manhã cedo a ambulância chegou com um homem desacordado com um ferimento que parecia sério na cabeça, muito sujo e com escoriações pelo corpo.

—Ele acordou, e não lembra nem do próprio nome! - Ela arregalou os olhos para nós.

—Acontece, ele chegou com um quadro sério de hipotermia, e ainda tem o ferimento na cabeça. - Alice disse calma, se sentindo muito acima de nós por dar uns amassos com um neurologista. Como se isso a conferisse experiência na área.

—Mas quem será ele?! De uma coisa eu sei, ele com certeza é rico! As roupas mesmo suja são de marca.

—Ou é um morador de rua que recebe doações. - Dei de ombros sem me impressionar. 

—Seja como for, estamos chamando ele de príncipe congelado ainda. - Jessica riu e eu corei. Quem o chamou assim foi eu.

—Deveria apenas colocar no prontuário dele ‘’Desconhecido’’.-  Resmunguei voltando a caminhar, eu tinha que cuidar de alguns pacientes antes do fim do meu turno.

—Príncipe combina mais com ele. - Jessica suspirou sonhadora.

—Voltando ao que importa… - Alice tentou.

—Não vou cobrir seu turno! - Quase gritei 

—Meninas. - Jasper Whitlock saiu de um dos quartos. Alice corou, ele sorriu. Que bobos apaixonados. Ou com tesão.

—Doutor. -Jessica e eu o cumprimentamos.

—Nosso paciente sem memória precisa de acompanhamento constante. O próximo turno neste andar é de… -Ele esperou que uma de nós respondemos. Teoricamente o meu turno e o de Jéssica estavam perto de acabar, entretanto Alice me olhou sugestiva e imploratica. Eu realmente precisava aprender a dizer não.

—Eu vou dobrar. - Declarei. Jessica me olhou boquiaberta, Alice controlou um gritinho.

—Ele estará em boas mãos. Ainda não apareceu nenhum parente a sua procura, ele está muito confuso por isso administrei uma medicação para ele dormir, mas ele vai precisar de vigilância constante.

—E ele não tem nenhum tipo de identificação? - Alice perguntou.

—Nada. O departamento de assistência social está trabalhando junto a polícia para identificá-lo o mais rápido possível.

—Até lá temos um príncipe congelado. -Jessica disse com ironia.

—É um milagre ele está vivo isso sim. Vou terminar minha ronda, boa noite meninas.

—Boa noite doutor. -Respondemos juntas. 

—Você é a melhor amiga do mundo! -Alice me abraçou.

—vai ficar me devendo. 

—Vou te pagar com um Meet e Greet  com o Ed Sheeran!- Ela sabia que mexer com meu cantor favorito era golpe baixo.

—Até mais! -Ela saiu saltitando pelo corredor.

—Você precisa aprender a dizer "não" para ela. -Jessica me alertou.

—Eu não tinha nada demais para fazer em casa mesmo. Posso ser útil aqui, com toda essa neve lá fora sempre ocorre acidentes a noite.

—Não é justo que você dobre seu turno para Alice se divertir com o doutor.

Dei de ombros não querendo discutir mais com Jéssica. Ela sempre pegava no meu pé sobre Alice.

—Vamos ver o príncipe, quero olhar seu rosto bonito e pálido mais uma vez antes do fim do meu turno! -Ela entrelaçou seu braço no meu e me puxou para a enfermeira.

O estado do dito "príncipe" não era de urgência, então ele estava na enfermaria, se ele tivesse sido identificado poderia já estar em um quarto mas sem saber se tinha um plano de saúde ou não, ele permaneceria ali.

Ele estava dormindo, um aparelho média sua frequência cardíaca, a expressão serena. Com o rosto limpo da fuligem que tinha chegado aqui, era possível ver sua expressão bonitas e relaxadas. O quadrado do queixo, o ângulo das maçãs do rosto. O nariz fino e angular. Os cabelos num tom entre o louro e o bronze. Ele não devia ter mais que trinta anos.

—Será que ele é casado? -Jessica sussurrou.

—Se fosse teria uma aliança pelo menos. -Cochichei de volta.

—Sem carteira, sem celular, ele não estava longe da estrada, os socorristas acharam que poderia se tratar de um acidente, mas não acharam carro algum.

—Talvez alguém fez isso com ele. -Devolvi.

—Isso explicaria porque ninguém procurou por ele ainda.

—É um novo método de cuidados? Observar o paciente dormir?! -A chefe da enfermaria, Carmen disse em alto e bom sim.

—Não senhora. -Jessica disse rápido.

—Jessica vá cuidar do paciente do quarto 23, ele precisa de um banho!

—Já vou!

—Isabella…

—O doutor Whitlock pediu que eu verificasse o paciente desconhecido. -Deixa claro.

Carmen suspirou.

—Eu sei. Encontrei com ele a pouco. Eu iria dizer que você precisa ir para casa, mas sei que não vai adiantar. Quantos plantões mais pretende assumir no lugar da Brandon?

Dei de ombros.

—Alice tem coisas importantes a fazer fora daqui.

—Você também teria, se olhasse melhor ao seu redor.

Ela disse isso olhando por sobre a minha cabeça, além de mim estava o doutor da emergência, Jacob Black.

—Eu não busco romance, Carmen. 

A contei com uma careta.

—Precisa aproveitar mais a vida, Isabella. Fugir para o sala de remédio, ou a radiografia…

Ela riu e eu a acompanhei de forma nervosa.

—Não mesmo. Estou bem sozinha.

Mas o sozinha saiu mais deprimente do que eu imaginei.

Carmen me deixou sozinha com o estranho. Verifiquei seus sinais vitais, me senti atraída por uma tatuagem de leão no seu antebraço, deixei que meus dedos vagavam por ali, sentindo uma estranha corrente elétrica passar pelas pontas dos meus dedos. Quase como estática. Que estranho.

—Quem é você, em? Por favor que não seja um maníaco ou coisa assim. -Eu ri baixo com meu comentário. - Vou te dizer, isso aqui fica uma loucura nesse período do ano. Faltam algumas dias para o Natal e o pessoal em busca de presentes e essas coisas ficam meio dispersos, aumentam os casos de acidentes… e bom, algumas… mortes. - Me controlei a tempo de usar a palavra suicídio. Eu acreditava que um paciente inconsciente poderia ouvir, e também não viria a calhar falar algo assim quando eu não sabia as circunstâncias que o haviam trazido até nós. - E claro tem todos os familiares que querem visitar seus parentes internados, e todo mundo que quer ficar bom antes do Natal para voltar para casa antes das festas. Ninguém gosta de passar o Natal num hospital. - falei como se ele estivesse acordado e por alguma razão ainda segurava a sua mão. Não parecia que alguém prestava atenção em nós, por isso era seguro falar. -Mas eu gosto de passar o Natal aqui com quem tem que ficar, principalmente com as crianças na Oncologia, e não, eu não sou uma enfermeira da oncologia, eu chorava demais lá em cima, mas sempre gosto de dar uma passadinha para ficar com as crianças e na noite de Natal trazer alguma alegria. O que lembra que preciso pedir para elas escreverem cartinhas para o papai Noel! Meu Deus, onde eu estou com a cabeça? - Senti uma leve pressão nos meus dedos, e olhei para o príncipe adormecido que acabara de acordar. 

—Parece algo nobre, passar o Natal com as crianças do hospital. - Ele disse bem baixinho, a voz rouca, ainda sim pude detectar como era linda. E seus olhos! Pareciam brilhar para mim.

—Hã… você acordou! - Falei como idiota. Onde está o seu profissional, Bella?

—Onde estou? -Perguntou tentando olhar em volta. A mão que não estava junto a minha foi em direção a cabeça se dando conta do curativo. 

Ele já tinha acordado uma vez, não deveria estar tão desorientado.

—Lembra-se como chegou aqui? - Tentei usar um tom mais profissional embora continuasse a segurar sua mão.

—O médico… disse que me acharam na estrada… estrada… - repetiu em duvido, seus olhos ficando mais apavorados, olhando em volta de forma ansiosa. - Por que estou em um hospital? O que aconteceu comigo? Quem… quem sou eu?

Ah não.

—Tudo bem, eu quero que você se acalme. - Toquei seu ombro e ele pareceu mais apavoro com meu toque, talvez tenha sentido a estática entre nós.

—Quem é você?! Por que estou aqui? Quem… quem eu sou? - Ele parecia muito apavorado agora, repetindo o mesmo questionamento, atraindo a atenção da enfermaria todos.

—Ele não estava sedado? - Carmen estava ao meu lado num instante. 

—Eu não sei… ele acordou agitado. - Justifiquei.

—Chamem a doutora Rosalie! - Rosalie Hale era a neurocirurgião plantonista. Assim como eu, ela passava a maior parte do tempo e da vida no hospital.

Foi preciso eu, Carmem e mais dois enfermeiros para contermos o príncipe, Rosalie achou melhor seda-lo de novo.

—Eu não entendo o que está acontecendo com ele. - Ela disse. - Ela já tinha recobrado a consciência uma vez, não parecia tão agitado, embora não se lembra-se do próprio nome. 

—Ele parecia estar acordando pela primeira vez. - Contei.

Ela sacudiu a cabeça. 

—Quando ele acordar me bipe, vamos fazer exames mais completos. - Ela me pediu.

—Pode já ser de madrugada!  -Ben um dos residentes reclamou.

—Bem vindo ao Seattle Hospital. Nunca dormimos querido. - Ela disse sarcástica. - Conto com você Bella.

—Sim. - Assenti. Eu ficaria de olho no desmemoriado.

                                                                    

                                                                            ***

 

Quatro dias se passaram desde a entrada do ‘’Príncipe congelado’’ e nenhum sinal de descobrirmos quem ele era. Não tinha passagem na polícia pelo menos. O problema era que ele não lembrava mesmo nem do próprio nome, e todos o estavam chamando de Príncipe, e dessa forma o seu prontuário também estava com essa identificação. Ele achou muita graça quando soube que eu o tinha apelidado assim, e eu passei a evitar o andar onde ele estava. O jeito como ele sorria para mim me deixava nervosa.

—Eu não tenho motivos para mantê-lo aqui, preciso dar alta a ele.  -Rosalie Hale estava sendo taxativa.

—Mas para onde ele vai? - Jessica perguntou preocupada.

Mordi o lábio pensando, bem eu morava sozinha… não, Bella! você não pode colocar um completo estranho dentro de casa!

—Vou acolher ele. - Ângela, nossa psicóloga disso.

—Você não estava reclamando que a sua alá estava cheia? - Rosalie se surpreendeu.

—Sim, mas é Natal. A maioria das crianças foi para um lar temporário, tenho espaço para um adulto que pode me ajudar a cuidar dos pequenos que ficaram. Até ele… melhorar. Ou encontrar alguém que o conheça.

—Ele é tão fofo! Viu o jeito que ele fala, Bella? -Jessica me perguntou.

—Sim. - respondi muito concentrada no meu café. - Ele tem uma ponta de sotaque inglês.

Três pares de olhos me olharam chocados.

—O que?

—Bella, é isso! Ele não é daqui! Vamos notificar o consulado britânico, quem sabe fica mais fácil achar a família dele!

Rosalie saiu afobada pela porta da sala de descanso.

—Bom, alguém vai passar o  Natal com a família. - Angela comemorou.

—Não me lembre, terei que viajar para ficar com a minha família. - Jessica se lamentou.

—E você, Bella? - Angela perguntou.

—Plantão. - Dei de ombros. -Quero dizer não a noite toda. Mas vou ficar para a ceia da véspera e no dia vinte e cinco plantão.

—Você passou o Natal do ano passado no hospital também. - Ela franziu a testa.

—Bella não tem família viva, e não faz questão de ter a própria. Só espero que não esteja cobrindo o turno da Alice de novo. -Jessica disse grossa.

—Não estou. Meu tempo acabou, vou voltar ao trabalho. - Me desvencilhei delas. Segui apressada para a ala de trauma, parei de súbito quando me choquei com o Príncipe.

—Desculpe. - Falamos juntos e rimos.

—Eu não tenho te visto. - Ele disse e detectei o sotaque fraco no fundo. Senti minhas bochechas corarem com seu olhar sobre mim.

—Tenho trabalhado muito do outro lado do hospital.- contei. - Como vai a cabeça? - indiquei seu curativo. Ele levou uma mão ao local.

—Quase não dói. Acho que a doutora Rosalie vai me dar alta, e não sei o que vou fazer fora daqui.

—Não se preocupe com isso, a assistência social não o deixaria sem teto. -Eu tenho certeza disso. - De qualquer forma Ângela, nossa psicóloga disse que você pode ficar com ela e ajudar com as crianças.

—Fico mais aliviado, mas vou querer sair daqui. É tão estranho… eu não me lembro de nada. Mas me sinto… livre. Como se eu pudesse fazer qualquer coisa.

—Isso é muito bom. - Elogiei. Ficamos nos olhando de modo bobo. Minhas bochechas esquentaram outra vez, e eu tirei uma mecha de cabelo que escapava do meu rabo de cavalo e caía pelo meu rosto.

—Você é muito bonita. - Ele sussurrou.

—Hã… obrigada. Preciso cuidar de alguns pacientes… se você me… - Me desviei dele, ainda esbarrando nosso braços no processo.

—Vejo você ainda hoje? - Ele perguntou.

—Vou passar no seu quarto antes do fim do meu turno para ter certeza de que está tudo bem com você. - Afirmei. Seus olhos muitos verdes pareceram se iluminar com minha fala. 

—Vou esperar por isso. -Seu sorriso me deixou sem rumo e eu bati a lateral do corpo na parede. Sai acenando para ele, meu coração aos pulos. O que havia de errado comigo?

—Você está apaixonada! - Alice me disse no dia seguinte, no vestiário quando a contei como me sentia na presença do ‘’Príncipe’’.

—Eu nem sei quem ele é, Alice, nem mesmo ele sabe!

—E quem disso que precisa disso para se apaixonar? - Ela parou a minha frente, ainda sem terminar de colocar seu uniforme. Pelo menos estávamos apenas nós ali. - Seu coração bate mais forte quando ele está por perto?

—Sim, mas eu ando tomando muito café.

—Você sente seu estômago revirar, como se você fosse vomitar?

—Sim, mas eu posso estar enjoado por conta dos Donuts que eu tenho comido muito…

—Quando ele te toca, você sente borboletas baterem as asas no seu estômago?! - Ela se aproximou mais com os olhos arregalados.

—Sim. - Gemi cansada de arrumar desculpas.

—Você está apaixonada pelo Príncipe! -Ela bateu palmas.

—Ali, ele nem sabe quem é! Como eu posso estar apaixonada?

—O amor não se importa com nada disso, Belinha! 

—O nome dele nem é Príncipe! Se ele nunca recuperar a memória, ou nunca encontrar um parente ou amigo, ele vai ter que criar um nome.

—Bella, Rosalie acha que ele passou por um trauma, por isso a ausência de memória. Deve voltar com o tempo.

—Mas e se quando voltar ele for… sei lá um assassino? Pior se tiver duas esposas e cinco filhos?!

—Amiga, se isso acontecer lidaremos com isso na hora certa. Agora…  -Ela me puxou para o espelho, você vai lá ajudar ele a preparar as coisas para a noite de Natal, e talvez dar uns amassos com ele na sala de medicamentos.

—Alice!

—Tudo bem, a sala de medicamentos não. Talvez a radiologia quatro?

—Não vai haver sessão de amassos. - Resmunguei fechando a expressão.

—Deveria haver, mesmo que não seja com ele. Você precisa de um namorado ou namorada. Está muito sozinha amiga!

—Estou ótima! Vamos logo trabalhar.

—Eu vou trabalhar, você hoje tem que cuidar da festinha de Natal. Realmente não quer ir para o jantar na minha casa?

—Não, depois do plantão vou para minha casa.

—Nós duas sabemos que você vai ficar e passar a véspera de Natal com quem ficar no hospital.

—Algumas dessas pessoas não tem família. - Eu pensei em completar ‘’como eu’’ mas fiquei quieta. 

—O príncipe também não tem família. Pobre desmemoriado!

—Vamos trabalhar! -A puxei para fora do vestiário, ela riu me seguindo.

A véspera de Natal no hospital Geral de Seattle era um evento festivo para as pessoas que não podiam ir para casa no Natal, principalmente as crianças. Meu Natal era muito mais feliz desde que eu tinha começado a trabalhar ali, pois ficava feliz em ver meus pacientes felizes.

O Príncipe tinha se animado quando Angela o chamou para ajudar, aquele evento era particularmente triste para os pacientes dela, crianças que eram tratadas antes de serem postas em novos lares adotivos. Eles não gostavam muito do Natal, tinham lembranças ruins ou se sentia deslocados. Cheguei ao grande salão do hospital onde eles estavam trabalhando na decoração e encontrei uma cena atípica; o Príncipe estava no centro de uma grande roda, as crianças e adolescentes, pacientes de Angela em sua maioria, estavam no chão a sua volta ouvindo com atenção o que ele contava. Logo peguei o teor da conversa, ele contava sobre o menino Jesus.

—Eu imagino que alguns de vocês saibam toda a história por detrás da escolha dessa data para ser nascimento de Jesus, que ninguém sabe ao certo, mas vamos lá! Eu quero falar do porque nós comemoramos o Natal. Como eu estava dizendo, eu não me lembro do porque eu gosto do Natal. - As crianças riram com esse comentário. - Mas eu me sinto muito feliz com ele! E eu me lembro disso! Me lembro de Jesus! Me lembro tanto e tão bem que tenho certeza que sou íntimo dele. - Mais risadas.

—Mas se Jesus gosta tanto de nós, que morreu por nós, porque ele me deixou sem pais? - Uma menina pequena perguntou. 

Angela pareceu ficar agitada e querer interferir o Príncipe, mas ele não parecia abalado.

—Jesus nunca deixaria você sem pais. Ele ama você, ama muito! Ele está o tempo todo com você cuidando de você! E você pode falar com ele o tempo todo e pedir qualquer coisa a ele!

—Até um boneco do homem de ferro? -Um garoto perguntou.

—Até um boneco do homem de ferro.  -Edward assentiu solene.

—Você pediu a Jesus para recuperar sua memória? - Um adolescente perguntou.

—Não. - príncipe retorceu os lábios. De repente ele me notou a porta. - Pedi a ele que essa noite eu pudesse dançar com uma linda enfermeira.

As crianças seguiram seu olhar e me viram a porta dando risinhos  e cochichos.

Ele veio em minha direção e meu coração disparou de uma forma ridícula. Eu devia ver o doutor James da cardiologia…

—Enfermeira Bella. - Ele disse com aquele sotaque difícil de lidar. Como mais ninguém percebia? Com toda a certeza ele era britânico!

— Oi Senhor Príncipe. - Brinquei me inclinando para fazer uma reverência. 

—Poderia me dá a honra de uma dança?-Ele estendeu a mão. Pus a minha na dele, mesmo que não fosse o momento para uma dança.

—Não há música.

—Mas haverá, a noite. Me daria a honra de ser seu par? - O jeito como os olhos dele pareciam arder nos meus naquele momento me tiraram o ar.

—Vamos organizar tudo! - Angela chamou a todos, as crianças se levantaram empolgadas pegando os objetos decorativos.

—Eu sou um desastre dançando. - O alertei.

—E eu estou com a cabeça enfaixada. Mas acho que posso dançar, então não se preocupe, o que interessa é quem guia. -Ele piscou para mim, e talvez eu tenha esquecido como se respira.

Era véspera de Natal afinal, e eu fui solicitada na emergência. houveram alguns acidentes de trânsito graças a neve que tinha caído com força, nenhuma vítima fatal até o momento. Eram oito horas da noite e meu plantão já tinha acabado, mas se eu quisesse ficar para a festa de Natal não poderia ir em casa e esse ano eu queria me arrumar de forma adequada, eu tentei me convencer de que o estranho sem memória não tinha nada a ver com isso, mas era uma mentira completa.

Fui para o vestiário debatendo se tomava um banho e colocava outro uniforme, ou se apenas ia para o meu apartamento vazio, mas o saco pendurado no meu armário me deteve. Junto havia um bilhete.

‘’Considere um presente de Natal, por todos os turnos que você me cobriu este ano. Te amo, amiga! bjs de luz, Alice.’’

Abri o saco que revelou um vestido azul que chegava aos meus joelhos. era simples e lindo, e eu amei. Alice…

Eu ficaria então.

Às nove e meia eu estava com o vestido, um tênis que havia encontrado no meu armário que estava limpo - eu não colocaria os saltos de Alice, não achei apropriado para o evento -soltei meus cabelos que mesmo meio desgrenhados por terem secado de forma natural, ficaram bonitos, e caminhei para o salão do hospital de cabeça baixa sem querer ser reconhecida pelos pacientes, médicos, residentes e afins.

Parei para respirar fundo antes de abrir as portas.

—Enfermeira Bella! - Um garotinho da oncologia, Ben estava acompanhado de sua mãe parou ao meu lado. - Você está bonita!

—Obrigado Ben! Você também. - Passei uma mão por seu rostinho. -Vamos?

Tive quem e encher de coragem por eles, Ben estava passando muito tempo no hospital junto de sua mãe. Ela tinha o rosto cansado, sorri para encorajá-lá, pessoas como eles eram o motivo dessa noite aqui.

Adentramos juntos. A decoração estava impecável, muitos residentes acabavam sendo direcionados para ajudar. Eles também estavam por ali, comendo rindo, e flertando. As crianças se divertiam, o doutor Marcus estava fantasiado de Papai Noel, dando presentes e tirando fotos. 

Não via o Príncipe em lugar nenhum e me desesperei, será que ele tinha ido embora? Recuperado a memória e corrido para casa? Para sua família? 

Me aproximei da mesa de comida, eu podia comer enquanto esperava alguém comentar sobre ele. Lá fora um nevasca caia, logo deveria ter um chamado na emergência. Não é da sua conta esta noite, Bella.

 

—Vou confessar que demorei um pouco a te reconhecer sem estar de branco. - A voz veio por detrás de mim, o sotaque me atingindo e levando uma onda de...borboletas batendo suas asas em meu estômago. Me virei devagar, meus olhos se deparando com um terno perfeito. Levantei o olhar para encontrar  Príncipe, parecendo tímido e um pouco corado, os cabelos bem penteados para trás, uma mecha teimava em cair em seu rosto e ele a afastava. Os olhos verdes brilhantes.

—O doutor Jasper me emprestou, disse que eu deveria estar bem vestido, mas achei um exagero. Mas vendo como você está linda, eu estou muito grato a ele.

—Você está lindo. - Sussurrei.

—Você está mais. -Ele se afastou um passo e como mais cedo, me estendeu a mão. - Me concede essa dança?

—Agora tem música. - Aprovei sorrindo, colocando minha mão na sua, sentindo aquela familiar corrente de eletricidade passar entre nossos corpos.

—Sei que pode parecer estranho, mas quando estou com você… eu sinto que não preciso de mais nada. Tem certeza de que não nos conhecemos? -Ele disse me guiando para a pista de dança.

—Absoluta, eu não seria cruel assim. Realmente não se lembra de nada?

—Nada. Tudo é um branco. Eu sei como tomar banho, me vestir. Sei muito sobre carros, super heróis, filmes. Sei o nome de vários reis do continente europeu, fatos históricos mundiais… mas não sei nada sobre a minha vida. Não me lembro meu próprio nome e nenhum nome me dá nenhum centelha de… nada.

Ele suspirou frustrado.

—O doutor Jasper está apostando que eu sou um historiador. Qual a sua aposta?

Ele sorriu mais relaxado.

—Modelo? -Arisquei. Eu realmente não passava muito tempo pensando sobre quem  Príncipe era.

Ele riu. 

—Duvido. 

—Poderia ser. Você é alto, lindo, tem um corpo atlético. Anda com elegância, fala muito bem… faz muito mais sentido do que ser um professor de história.

—Historiador. -Ele me corrigiu divertido.

Príncipe me conduziu no ritmo lento da música de James Arthur, eu estava tão a vontade nos braços dele, que senti o impulso de colocar ainda mais nosso corpos descansando a cabeça no seu ombro.

—Sabe, talvez eu não queria me lembrar. Minha cabeça dói quando tento me forçar muito. Talvez seja melhor assim, você não acha?

—É a sua vida Príncipe. Quer ser chamado de príncipe pelo resto da sua vida? - brinquei.

—Não… eu quero arrumar um emprego, ter uma casa e te chamar para sair, te levar a um lugar legal fora desse hospital.

Ele disse tranquilo e com confiança. Não levantei a cabeça do seu peito, meu coração aumentando suas batidas.

—Mas não sinto necessidade de me lembrar de nada 

—Acho que sua mente só está fugindo. É esse o problema… ninguém é livre fugindo.

Ele ficou em silêncio, acho que absorvendo as minhas palavras. A música chegou ao fim, mas não nos afastamos. 

—Bella… -Senti sua mão em meu rosto me puxando para olhar para ele. Nossos olhos se encontraram e eu quis muito que ele fosse meu naquele momento, para que eu pudesse ficar em seus braços para sempre. - Será que eu posso…

—EDWARD! -o grito veio no exato momento em que a música foi interrompida, ele vibrou por todo o salão. Príncipe e eu olhamos juntos para as portas que foram escancaradas e vimos a responsável pelo o grito. Uma mulher ruiva, com um longo vestido verde musco brilhoso, o cabelo impecável, cercada por homens muito bem vestidos de terno que tinha gritado e nos olhava numa mistura de pavor e alívio. Ao seu lado um senhor de feições fortes, e o olhar terno parecia aliviado. Eles convergiram para nós, os homens a sua volta agindo como um escudo.

—Meu filho! -A mulher gritou e sem cerimônia se atirou para o meu companheiro fazendo com que eu me afastasse. -Eu estava tão preocupada! Eu sabia que iríamos achar você, eu não desistiria!

Príncipe olhou para mim com a expressão em choque.

—Magestade, o paciente… o príncipe Edward está sofrendo de perda de memória. Tudo isto pode ser muito traumático para ele. -Como se tivesse brotado do chão, ou apenas estava camuflado pelos homens de preto, Eleazar Santiago, nosso presidente surgiu preocupado 

 Como assim magestade? Quem era príncipe Edward?

—Bobagem, meu filho está aqui! Não é maravilhoso Carlisle?! 

—É sim meu amor. -O senhor disse ao lado dela, de forma mais contida. 

—Eu não… entendo. -Balbuciei.

—Ah Bella! Minha cara, estes são o rei e, a rainha de Cullen, Esme e Carlisle! -Eleazar me atualizou com um sorriso permanente em seus lábios. - você foi muito exata ao apelida-la de príncipe! Nosso paciente sem memória nada mais é do que o príncipe de Cullen! Edward Antony Charlie Arthur Cullen primeiro! 

Santiago parecia um desses mestres de cerimônia ao falar tão alto que todo o salão podia ouvir. Ou era porque todos estavam quietos vendo o que acontecia diante de mim.

O Príncipe… agora literalmente príncipe Edward me olhou em busca de ajuda, e por um milagre a profissional em mim despertou.

—Desculpe, senhor e senhora… magestades. -Eu nunca tinha me imaginado falando com a realeza. -O príncipe Edward sofreu uma perda de memória severa, tudo isto está sendo muito confuso para ele.

A mulher, não a rainha me olhou com pesar, então seus olhos pareceram transbordarem mais e ela chorou de forma contida.

—Meu menino. Meu pobre menino…

—Eu… não sei o que falar. -Ele disse seus olhos nunca deixando os meus.

vai ficar tudo bem.—sussurrei só para que apenas ele ouvisse.

 

***

 

Foi uma completa bagunça no hospital. Todo mundo queria saber da onde eles eram, os residentes pesquisaram na internet e de fato havia um "reino monarca" chamado Cullen no leste Europeu. O reino contava com quinhentos mil habitantes, e sua economia  girava em torno do turismo e -pasmem- petróleo. 

Ninguém por ali parecia já ter ouvido falar neles, mas no momento em que pesquisamos achamos fotos, eventos, bibliografia e toda a história deles. E outros reinos semelhantes como "Volturi" e "Danali".

—Bella você sabia que ele era um príncipe! -Mike me acusou com os olhos arregalados.

—Claro que ela sabia, olha a cara de sonhadora dela, não duvido nada ter vários pôsteres de príncipes no quarto dela. -Lauren me provocou.

—Não mesmo! Eu não fazia ideia! -Me defendi ultrajada.

—Então porque o apelidou de príncipe? -Lauren cruzou os braços ao esperar uma resposta.

—Porque...eu não sei o porquê! -Aquilo estava me deixando muito nervosa. E eu realmente não sabia o porquê. Eu apenas o vi, quase congelado, o rosto perfeito… e o adjetivo veio a minha mente. "príncipe". Ele era lindo afinal.

—Não foi de caso pensado, ok? Eu nunca o tinha visto antes, nem em fotos nem nada! 

—Não precisa ficar nervosa, Bella acreditamos em você.- Eu odiava esse tom complacente de Lauren, mas fiquei queita.

—Olha só essa foto dele com o príncipe Harry! -Outra residente gritou e eu resolvi me afastar. Era melhor.

Eu queria ficar sozinha e tentar entender a loucura que aquele hospital havia se tornada. A neve caia forte lá fora, mas só havia um lugar onde eu queria estar: na estufa no terraço, um projeto que deu muito certo, as crianças que Angela tratava que cuidavam dela. Coloquei um casaco pesado, e caminhei para lá, meus pés ficaram um pouco atolados de neve, mas não dei importância eu precisava ficar só. Welcome

 

                                                                      ***

Eu fui para casa. Era madrugada do dia vinte e cinco de dezembro, a neve era forte, contudo consegui dirigir com cuidado para casa. Abri a porta do meu apartamento pequeno, vazio e escuro a menos pela pequena árvore de natal próximo a janela para que quem passasse na rua pudesse ver. Deixei minha mochila no chão tirei o casaco pesado, ligeiramente sujo de neve, parcialmente molhado. Olhei em volta sentindo um aperto no peito se intensificar, um desespero tomar conta de mim. Ah não, crise de pânico não! Isso não acontecia já a meses! Corro para o pequeno balcão da cozinha, me apoiei nele. Não é real, Bella. Comecei a repetir meu mantra. Esse desespero por estar só não é real. Mas era uma grande mentira descarada, porque era real sim! Eu estava sozinha desde sempre! Desde que fui deixada num abrigo ainda bebê, desde que os lares adotivos me devolveram, desde que não me dei bem em alguns e eu mesma fugi. Quem era Isabella Swan? Um nome ao acaso, um sobrenome escolhido, sem valor. Não falava das minhas origens, não falava de nada! Quem eu era? Quem se importaria comigo caso eu desaparece?

Por que, por um minuto eu quis que aquele desconhecido nunca recuperasse sua memória e pudesse… ser meu. Só que ele era realmente um príncipe, príncipe Edward, com uma uma vida, família e pompa. Nunca seria de uma ninguém como eu, como estaria ao lado de uma ninguém como eu.

—Ninguém liga. -Sussurrei chorando. As lágrimas foram boas, fizeram seu trabalho em acalmar meu minha respiração, em nada ajudaram na dor em meu peito. 

Toda a minha vida eu me perguntei de onde tinha vindo. Quem eram meus pais, porque me abandonaram? Eu estava sozinha desde o início.

Lembro quando era pequena, e falava para as cuidadoras do orfanato como me sentia, e que queria saber quem eram os meus pais. Uma delas me disse: "as vezes não tem nada de mais Bella. Talvez a sua mãe estivesse sozinha e assustada, então te deixou para que alguém pudesse cuidar melhor de você".

Nada de mais, apenas uma criança na hora errada. Para a pessoa errado.

—E eu nunca vou saber. E talvez nunca tenha a minha própria família, nunca tenha ninguém que se importe. - Sussurrei as palavras, meu rosto banhado pelas lágrimas. 

A madrugada avançou e eu não tinha vontade de tirar a minha roupa, ou ir para a cama.

A campainha tocou. Achei estranho, não só pela hora. Quem poderia me procurar no meio da madrugada de qualquer forma? Algum vizinho com problemas?

Lembrei a senhora Gold no fim do corredor, uma idosa solitária que sabia que eu era enfermeira e me pedia ajuda vez ou outra. 

—Já vou. - Me levantei, minha voz saiu estranha por todo o choro. Não olhei pelo olho mágico, imaginando ser mesmo a velha senhora. Abri a porta de subido, e me espantei com meu visitante.

—Desculpe eu.. não podia esperar o dia amanhecer pra te ver. - A voz do prin… Edward. Príncipe Edward sou contida e baixa. O sorriso era envergonhado.

—Como você… como sabia onde me achar? 

—Perguntei na recepção do hospital. -Ele deu de ombros dando pouca importância. - A senhora Flores deixou bem claro que só estava me passando seu endereço porque sou um príncipe de verdade.

Ele disse aquilo com deboche.

—Mas é isso mesmo que você é.

—E você não fazia ideia…

—Não Edward. Eu não fazia ideia, nunca deixaria um paciente sem memória, sozinho sem saber quem é, sem saber de sua família… se eu pudesse ajudar. - Falei séria.

—Eu sei, é só… é tudo tão confuso. - Ele expirou.

—Quer entrar? - Dei passagem para ele. Edward entrou devagar, olhando em volta.

—Desculpe a bagunça, não deve ser nada parecido com o que você está acostumado.

—Realmente nada parecido… estou acostumada a ambientes claros com cheiro de remédios. Só me lembro do hospital. - Ele sorriu parecendo mais relaxado.

—Vou fazer um chá. - Eu precisava me manter ocupada. - COmo chegou aqui?

—O motorista dos meus pais… parece que somos amigos. Eu pedi que ele deu um jeito de despistar o rei e, a rainha.

—Príncipe Edward. - Falei.

—Isso é muito estranho. - Ele fez uma careta.

—Sabe, agora não parece tão estranho. você sempre me pareceu um príncipe, desde que apareceu no hospital congelado. - Estremeci com a lembrança dos primeiros socorros nele, onde seu coração não batia. 

Coloquei a chaleira no fogo, e me inclinei no balcão.

—Por que veio? 

—Eu… queria estar com você. Parece bobo, mas desde que abri os olhos e te vi… você parece ser a alguma coisa que faz sentido na minha vida.

Meu coração apertou com essa declaração.

—Edward… - eu precisava ser racional. - Você achou seus pais! Isso é… incrível. Logo vai se reconectar com quem era antes desse acidente, e eu serei… apenas uma lembrança.

—Não.. - Ele veio para perto de mim, a bancada entre nós. Pegou minhas mãos. A conhecida e bem vinda corrente suave de eletricidade. - Você sente não é? Essa… coisa entre nós. 

—Sim… - sussurrei.

—Você é tudo de real que há na minha vida, Bella.

—Edward… - Edward, Edward, esse nome parecia tão ele! -Você não me conhece, nem se conhece no momento. Isso entre nós…

—O que? O que entre nós? - Ele sussurrou nossos rostos muito próximos agora, seu hálito vindo de encontro a mim, quente, canela, um pingo de chocolate quente, sua bebida favorita, isto é até ele se lembrar da sua bebida favorita.

—Você é um príncipe. - Falei firme, tentando não encarar nos olhos. - Quando se lembrar de tudo, onde eu vou me encaixar em tudo isso? Não é o momento de… começarmos isso, seja lá o que isso queria dizer.

—Você parece fazer muito sentido como sempre, enfermeira Bella. - Ele disse em tom divertido. -Onde está seu celular?

Franzi a testa com a pergunta. Me afastei dele para buscar o aparelho dentro da minha bolsa.

—Precisa… ligar para alguém? - perguntei o entregando.

—Não mesmo, deixa eu… aqui. Hum… como era mesmo o nome… eu só me lembro de uma frase… deve ser essa aqui! -Ele parecia procurar algo no meu celular.

—Enfermeira Bella, eu sei que o momento é muito oportuno e eu te peço mil perdões por isso.

Ele disse todo formal, a coluna ereta o sorriso de canto. -Essa noite, nossa dança foi interrompida. Poderia me dar a honra?

Ele deu play em uma música, colocou o aparelho de volta a bancada e estendeu a mão para mim num pedido.

Coloquei minha mão na sua, ele me puxou para perto, era fácil seguir seus passos leves, ficamos rodando em círculos no pequeno espaço, a música suave entre nós. 

—Eu estava muito assustado com a vida fora do hospital, sem saber quem eu era. Por que isso poderia significar demorar me tornar alguém para você.

—Edward…

—Deixe- me falar. Tudo pode parecer muito rápido, mas desde que ouvi sua voz, vi o seu rosto… algo dentro de mim se encaixou. E eu não me importo de soar apressado e apaixonado, porque é exatamente assim que eu me sinto. Senhorita Isabella… eu não me lembro de ser o príncipe Edward, mas me lembro de ser o seu príncipe. De ajudar crianças enquanto tentava me adaptar a nova vida. Me lembro de cada palavra de incentivo dita por você, de cada noite que segurou minha mão, de cada sorriso que aquece o meu coração. Eu não me importo se um dia vou ou não me lembrar da vida antes de você, porque eu sinto que a minha só começou mesmo quando a conheci.

Edward estava com os olhos fechados, a testa encostada na minha. Ele fala tudo com muita emoção, sem perceber tínhamos parado de nos movimentar.

—Esse é o meu primeiro Natal, o único que me lembro. - Ele riu um pouco e eu o acompanhei.- Quero que seja o primeiro de muitos com você. Eu sei que você tem medo de algo, eu quero te ajudar a vencer esse medo. Quero estar ao seu lado sempre, e você nunca mais estará sozinha.

Fiz um carinho em seu rosto tão bonito. Nunca alguém havia me dito coisas tão bonitas, nem perto disso. Os muros que eu havia seguido para me proteger do abandono ou da rejeição sempre foram fáceis de administrar, nunca alguém tinha me tratado assim.

Era tudo muito rápido, muito arrependido e incerto. E eu sabia, lá no fundo que Edward podia estar se apegando a mim porque eu era a sua primeira memória quando abriu os olhos. E quando ele se lembrasse de quem era antes do acidente que o levou ao hospital, talvez eu já não fosse mais ninguém em sua vida. E voltaria para a minha solidão. 

Contudo, pela primeira vez em toda uma vida, eu quis arriscar.

Eu não conseguia dizer nada, encostei meus lábios nos seus e esperei que um beijo pudesse transmitir todos os meus sentimentos, tudo o que ele significava para mim naquele momento.

Edward me beijou de volta, me apertando em seus braços. Era madrugada de Natal e eu não estava sozinha. Estava no meio da minha pequena sala/cozinha beijando um príncipe. O meu príncipe congelado. Devia contar como milagre de Natal.

 


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Notas finais do capítulo

Então, é uma one, por enquanto. Vamos deixar em aberto, ok? bjs me digam o que acharam por favor :*