Treino Nostálgico escrita por Melody Holy


Capítulo 1
Marca da família




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— A pirralha ainda não subiu?

Sieghart parou ao entrar na sala de jantar e não encontrar Elesis lá. Aquele havia sido um dia de treino intensivo – como Lothos havia começado a chamar – e nos dias desses treinos Elesis costumava ser uma das primeiras a sair do campo ao final. Estranhamente, o treino havia terminado há quase 2 horas e a ruiva ainda não havia aparecido.

— Ela ficou no campo – Lass respondeu enquanto esperava Ryan terminar de encher o prato para poder fazer o mesmo. – Parece que estava insatisfeita com alguma coisa.

Sieghart assentiu, estreitando os olhos quando Arme olhou para si e sorriu em deboche.

— Você saberia disso se participasse dos treinos, vovozinho.

O Imortal revirou os olhos e bufou em resposta. Não estava com cabeça para responder as provocações da maga e muito menos dar trela à alguém que o julgava sem mais nem menos. Não que não desse motivos para aquele julgamento, mas... Balançou a cabeça para afastar os pensamentos. Aquele não era o momento de analisar sua personalidade, não mesmo.

Saiu a passos lentos da sala, dando de ombros quando Ronan lhe questionou se não jantaria daquela vez. Não fazia diferença, já havia se alimentado durante a tarde após treinar com os guardas mágicos da Rainha à pedido dela. Passar uma noite sem alimento não significaria nada para si.

Desceu as escadas e caminhou até o campo de treino do Quartel General do grupo em Serdin. A lua já ia alta no céu, sendo rodeada por nuvens que não cobriam completamente seu brilho, a fazendo iluminar bem o campo com pouca vegetação.

— Crítico X!

O grito lhe chamou a atenção, e suas íris prateadas encontraram com facilidade a ruiva em uma extremidade mais escondida do campo. Da área onde ficavam os quartos, seria impossível vê-la ou ouvi-la.

Por um momento sua mente ativou um alerta, pensando que a ruiva poderia estar sendo atacada, mas após ouvir alguns arfares pesados e novamente o grito de golpe ser feito, percebeu que era apenas um treino.

Se aproximou, e não soube dizer com certeza se ela havia notado sua presença ali ou se realmente estava tão focada no treino que não o percebera chegando. Cruzou os braços e estreitou os olhos enquanto a observava lutar contra o boneco de palha já surrado. Analisou a garota, e arqueou uma sobrancelha ao perceber o que acontecia ali.

— Segure a espada direito, pirralha. Quer machucar seu braço?

Elesis se assustou com a fala, e se virou para a direção da voz. Respirava com dificuldade e o suor escorria, fazendo os cabelos grudarem na testa e nuca e os músculos doerem pelo treino incessante.

Revirou os olhos e voltou a atenção para o boneco de palha, se preparando para atacar mais uma vez.

— Não me lembro de ter pedido a sua ajuda, Sieghart. Saia daqui, não preciso dela.

Atacou o boneco mais uma vez, sentindo-se perder um pouco o senso de direção quando voltou ao chão após o salto. Bufou, soltando um gemido cansado antes de escutar passos e o tilintar de metal contra metal. Seguiu a direção do som e encontrou Sieghart parado, dessa vez com uma espada em cada mão e um olhar sério.

— Me ataque – ele disse.

Elesis franziu o cenho, a voz de Sieghart soava autoritária como nunca havia presenciado, e percebeu o que ele fazia antes mesmo que ele pudesse repetir a ordem.

— Eu já disse que não preciso da sua ajuda, seu idiota. – Revirou os olhos.

“Você ainda não é tão boa assim, Elesis.”

— Então me prove. – Sieghart provocou, e Elesis estreitou os olhos ante o desafio. – Me ataque, anda.

Ele já havia a visto lutar, já tinha até treinado com ela vez ou outra, qual era a razão de cismar com aquilo agora? Viu a maneira relaxada como ele segurava as espadas e só então notou a força exagerada com que segurava a sua própria. Não precisava de tudo aquilo.

Ia retrucar mais uma vez quando viu o Imortal dar um sorriso debochado para si. Sorriu de canto e decidiu que ceder àquela provocação não ia ser de todo mal. Todo treino era útil.

Avançou para cima do Imortal, que arqueou uma sobrancelha antes de desviar da cotovelada que tentou dar, sem sequer mover os braços. As espadas continuavam baixadas e seu objetivo se tornou fazê-lo usar as armas.

Ergueu a espada que usava e se preparou para dar o ataque com mana, concentrando uma quantidade mínima na arma. Deu o salto e posicionou a espada, voltando ao chão na direção do General que sequer esboçou reação ao saltar para trás no mesmo momento, desviando do seu golpe.

Gemeu de frustração e encarou o Imortal. Sieghart lhe sorriu de lado e ela percebeu que ele começaria a falar.

— De novo, pirralha.

Arqueou uma sobrancelha com o tom autoritário e assentiu, obedecendo a ordem sem nem mesmo perceber a sensação familiar que aquilo lhe trazia.

“De novo, garota”

Saltou, e o grito que escapou de sua garganta foi involuntário. Sieghart continuava sem erguer as espadas, mas sorriu ao ver como ele estava sério e centrado como nunca havia visto, fosse em treino ou em batalha.

— Você tá apoiando no pé errado e segurando a espada com muita força. – ele instruiu. – Francamente, você não sabe o básico?

— Claro que sei! E você sabe disso!

— Não é o que tá parecendo! De novo, direito dessa vez!

“Não te ensinaram o básico, garota? Mais uma vez, vamos!”

Repetiu o golpe, prestando atenção na própria postura e posição de ataque. Sieghart desviou mais uma vez, mas viu o sorriso de lado que ele exibiu por alguns momento antes de gritar de novo.

— Mais rápido! – Pensou em retrucar que estava cansada, pois coordenar um treino para quase 20 pessoas era cansativo, mas o Imortal a antecipou – Soldados não cansam! Não te ensinaram isso? Cazeaje não vai querer saber se você tá cansada na hora da luta!

“Demonstre cansaço e você morre! Vamos, Elesis, ataca direito”

Atacou, emendando o golpe em outro, seguido de uma rasteira e um corte simultâneos, sorrindo quando Sieghart ergueu uma das espadas para parar seu golpe. Ele sorriu, mas balançou a cabeça, ainda insatisfeito.

— Mais forte! Você não mata nem um Goblin desse jeito, pirralha!

“Você quer matar uma Slime como desse jeito, hein?!”

— De novo! – Sieghart gritou assim que pousou no chão. – Essa é uma Cavaleira Vermelha?

“Quer entrar pro exército desse jeito?”

— Mais uma vez! – A sequência de golpes ainda era executada quando ele gritou a ordem. Elesis ofegou, mal tendo tempo de saltar quando ele avançou, girando com as espadas e desviando dos ataques que tentava fazer.

“De novo!”

— Você era a Capitão dos Cavaleiros Vermelhos? Lutando desse jeito?

“Você vai me provar que merece o posto, Elesis?”

— Esse é o poder da líder da Grand Chase? Só isso? Mais uma vez, pirralha! Me ataca pra valer!

“Vai ficar mais forte ou vai ser carregada pelas vontades do pai o resto da vida, garota?”

Ficava difícil raciocinar com Sieghart gritando e atacando ao mesmo tempo, ainda mais com os músculos doloridos depois de tantas horas de treino seguidas. Apesar disso, entendia exatamente o que o Imortal queria com aquilo.

— Eu não pedi pra você me treinar! – Gritou de volta ao descer pelo ar com um golpe.

— Eu não tô vendo você me provar que não precisa ser treinada! Mais uma vez, mais forte!

— Para de mandar em mim! – Apesar disso, obedeceu ao comando, sentindo o suor respingar em suas roupas quando nem teve tempo de chegar ao chão antes de ter que pular mais uma vez para desviar dos golpes dele.

“Você precisa me obedecer se quiser ser uma boa cavaleira vermelha”

— Você precisa ser mandada!

— Não, eu não preciso!

Suas pernas doíam de pegar impulso para pular, mas ver Sieghart tão centrado em algo era uma novidade surpreendente demais para que deixasse a chance passar. Ele estava a ajudando, no final das contas.

“Você vai ser o orgulho da família, Elesis”

— Parece que precisa! Me prova, Elesis! Me prova que você é uma Sieghart!

— Eu sou!

— Então me mostra quem é Elesis Sieghart, criança!

“Você sabe quem Elesis Sieghart vai ser?”

Sorriu com as lembranças dos treinos da época em que era uma mera soldado. Juntou mais mana, respirando fundo ao decidir dar o golpe pela terra e sorrindo triunfal ao ver Sieghart franzir as sobrancelhas em confusão. Deu uma rasteira, e, quando o Imortal pulou para desviar, subiu a espada contra a dele, causando um impacto forte o suficiente para fazê-lo soltar a arma. A sua voou com a dele para o chão, mas se aproveitou da distração para subir uma joelhada contra a caixa torácica dele.

Girou o corpo, e, no momento em que o Imortal impulsionou o corpo para trás, segurou o braço dele que ainda segurava uma espada. Torceu o pulso dele, vendo quando ele arfou e deixou a espada cair. Se impulsionou contra a terra, ainda se segurando no General, e jogou o corpo para trás do dele, trazendo o braço que segurava e o prendendo entre seu corpo e o dele ao envolver o próprio braço no pescoço dele e apertar.

Foram ao chão, e embora soubesse que Sieghart conseguiria se soltar dali sem muitos problemas – já havia presenciado a Imortalidade dele curar um braço ou uma perna quebrada em alguns minutos, a torção resultante do modo como o segurava seria menos que nada para o Imortal -, foi gratificante ver como ele a olhou satisfeito por cima do ombro.

Deram a luta por encerrada, e se permitiu cair na terra ao lado do guerreiro. Sieghart riu enquanto a observava respirar fundo e normalizar a respiração. Estava exausta, mas aquele treino era tudo o que precisava para colocar as coisas no lugar. Olhou para ele e riu junto.

— Ah, cara, fazia tempo que eu não dava um treino assim! – ele comentou e piscou para si.

— Eu não faço um treino desses desde que deixei os Cavaleiros Vermelhos. – Respondeu e fechou os olhos. Ter um momento de paz como aquele era raro, principalmente tendo Sieghart como companhia. – Eu nem me lembrava mais o que era ter um chefe gritando pra eu repetir tudo.

— Ora, essa é uma das marcas da família, Elesis. Você deve ter crescido com isso. Não fiz mais do que ajudar uma parente – ele riu fraco, cansado.

— Então você sabe dar um treino desses... – sorriu de canto ao abrir os olhos e fitar diretamente as íris prateadas, que a analisavam com igual intensidade. – Você já foi o chefe da família, então?

Ele revirou os olhos, o que a fez rir.

— Esqueça disso, não tem valor nenhum pra mim – ele respondeu, e embora os olhos dele não tenham se desviado dos seus, ela sentiu que tinha algo mais escondido ali. – Mas e então, você já sabe quem é Elesis Sieghart?

Concordou com um aceno, se sentando para esticar a coluna e olhar para a lua, que estava bem mais alta do que quando começaram o treino.

— Eu sou Elesis Sieghart, a Capitão dos Cavaleiros Vermelhos e líder da Grand Chase.

E descendente do Espadachim Lendário, Ercnard Sieghart.


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