Era uma tarde quente quando Daniele veio até Iris e a chamou para se banhar ou conversar na beira do rio para se distrair.

Iris não pensou duas vezes e foi de imediato com a sua mais nova melhor amiga daquela região.

— E aí, está gostando do novo lar? — Perguntou Daniele enquanto molhava os pés na água fria e límpida do grande e belo rio.

— Se eu estou gostando? — Perguntou Iris ao olhar para a bela roupa e os fofos adereços que Daniele quase sempre usa no dia a dia. — Eu estou adorando! A internet funciona bem, o ar é limpo e o clima ainda é gostoso. Ainda por cima achei uma amiga legal e interessante como você por aqui. Este lugar é maravilhoso! — Respondeu a de cabelo curto com bastante euforia.

— Interessante? — Perguntou a de cabelo longo com uma voz meio desconfiada. — Que tipo de interessante? —

Iris apenas colocou seus pés na água refrescante ao lado dos pés de sua amiga e ao alongar os seus braços com força, respondeu — Ah, interessante no sentido legal da palavra. Não tem nada a ver com outras coisas. —

Daniele então riu de nervoso e ao dar uma tossezinha falsa de leve, perguntou — Que outras coisas? —

Iris então sorriu com a curiosidade intensa de sua amiga e ao jogar um pouco de água na perna da decorada, respondeu — Outras coisas tipo: encontrar uma moça tatuada e de cabelo pintado de roxo, um casal gay entre um japonês e um homem negro, uma internet decente e... —

— Uma garota trans? — Perguntou e completou Daniele com sua voz feminina falhando um pouco.

Iris apenas sorriu novamente e ao acariciar o rosto e o cabelo castanho delicado da mais habilidosa, admitiu — Sim, uma amiga trans linda, legal, fofinha e tão habilidosa como você. —

Ao ouvir as palavras da novata um belo sorriso se abriu nos bem cuidados e brilhantes lábios de Daniele, que quase sempre usava hidratante labial e possuía uma boca linda.

— O-obrigada! — Agradeceu a trans meio sem jeito por causa dos elogios da cis. — Mas você sabe que nós que vivemos do lado de cá somos chamados de os “esquisitos” ou os “estranhos” pelas outras pessoas da vila, certo? —

Iris então balançou a cabeça em negação e ao pegar uma pequenina pedrinha e atirá-la com bastante força no rio, falou — Eles é quem são esquisitos e estranhos por serem homofóbicos, preconceituosos e retrógrados desse jeito. Pois eu prefiro mil vezes morar deste lado aqui com todos vocês do que ter gente burra, velha e chata como eles como meus vizinhos. — Finalizou a novata ao olhar para a de belos cabelos longos e sorrir.

— Puxa, muito obrigada. Ninguém de fora nunca foi tão legal assim comigo antes. — Comentou e assumiu Daniele com bastante sinceridade.  

— Por nada, Dani; você é esperta, linda e muito maravilhosa. Eu garanto que qualquer garoto que não te conheça e olhe para você, ficará encantado de imediato com a sua notável beleza. — Elogiou Iris ao apontar o quão realmente bela é Daniele.

— Ah, mas só se for garoto de fora mesmo. Os daqui me veem como uma aberração e mal sequer falam comigo. Apenas os meus primos gostam de mim. — Segredou Dani meio triste ao se lembrar daquele inconveniente fato.

Iris então se sentiu bastante mal com aquela revelação, e ao segurar na mão esquerda da trans, perguntou — Você nunca ficou com um garoto então? —

Porém Daniele apenas sorriu mais uma vez e ao rir baixinho para que a amiga não percebesse, falou — Eu nunca falei que não fiquei com nenhum garoto, apenas falei que os garotos da região não gostam de mim. —

Naquele momento um sorriso inquisidor apareceu de imediato nos lábios de Iris que logo provocou perguntando — Você então conhece garotos de fora, amiga? —

Dani então mordeu a língua sapecamente ao ouvir a pergunta de Iris, e ao disfarçar o olhar enquanto fitava uns pequenos peixinhos nadando na margem do rio, respondeu — Eu não costumo conhecer pessoas de fora pessoalmente.... Mas digamos que meu primo consegue me suprir muito bem de minhas necessidades mais básicas. — Explicou a trans com um tom da voz que deixava bastante claro que não pretendia se aprofundar mais naquele assunto.

Iris logo entendeu a situação e ao olhar para o outro lado e fingir um espirro muito do maldado, comentou — Nossa, e eu que tinha até achado ele gatinho. —

Daniele, que de repente começou a rir gostosamente contagiando até mesmo Iris no processo, e ao abraçar a sua mais nova amiga passando o braço esquerdo por trás do pescoço e por cima de seus ombros, falou — Não seja por isso, amiga. Nós duas podemos dividir o mesmo cara por um bom tempo. Hahahaha.... Eu garanto que ele tem o suficiente para nós duas. Hihihi... —

Iris então ficou extremamente vermelha e um pouco envergonhada com o comentário e a proposta de sua gentil e benevolente amiga, mas ao controlar sua pequena timidez e fraco nervosismo, falou — Não vai rolar, amiga. Eu ainda não fiz este tipo de coisa e nem sei se estou pronta para isso. —

Daniele então percebeu que sua nova amiga ainda estava um pouco longe de sua realidade, e ao acariciar a sua bochecha em um ato de carinho bastante fofo e tocante, perguntou — Então você nunca fez sexo antes e não sabe se faria, certo? —

Iris apenas balançou a cabeça e ao pegar o celular e mostrar a foto de sua melhor amiga com o namorado dela, falou — Esta é a Yennifer, ela é a minha melhor amiga de infância, um pouco mais velha do que eu e bem mais madura. Este ao lado dela é o Jorge, namorado da gostosa pernuda, que é o apelido carinhoso que eu dei a ela quando ela começou a me chamar de baixinha sem peito. —

— Hahahahaha.... — Riu Dani em voz alta — Ela tem pernas bem grandes mesmo e é muito bonita. —

— É sim. E gostosa também. — Complementou Iris com um sorriso bastante brincalhão. — Eu com um par de peito daqueles teria o mundo inteiro para mim, e não apenas um namorado que acha que é mágico. Rsrs.... —

— Bem, sobre não ter peitos acho que estamos no mesmo barco. — Comentou Daniele ao apontar para o próprio corpo e fazer uma carinha de boba triste.

— Hahahaha.... — Riu Iris em concordância — Realmente, nós devíamos formar o time das sem peito, o que achas? — Perguntou a menor a oferecer a mão para a de cabelos longos e esperar que a mesma a apertasse.

— Hahahaha.... Feito! Por que não, né? Agora nós somos literalmente amigas de peito. — Comentou Daniele ao apertar a mão da brincalhona.

— Nesse caso de “sem peito”! Hahahahaha.... — Zombou Iris gostosamente.

— Hahahaha.... Sim. As esquisitas sem peitos, a dupla! — Exclamou Daniele como se fosse um título de algum filme.

Hahahahaha... — Gargalhou Iris sem controle — Aí Dani, você é maravilhosa. — Assumiu Iris com sinceridade.

— Você é quem é, amiga do peito que eu não tenho. — Replicou e provocou Dani com bastante sarcasmo.

— Hêhehe.... Se você diz. Mas me conta Dani, como é beijar alguém e..... Fazer aquelas coisas? — Perguntou Iris corando mais forte do que nunca.

Daniele então percebeu que a de cabelo curto provavelmente nunca sequer havia beijado alguém antes, e então para não a provocar a novata com outra pergunta pessoal, a garota trans apenas respirou fundo e respondeu — Bem a sensação deve ser diferente para cada pessoa, principalmente se você for cis ou não. Porém o beijo, ao contrário do sexo, deve ser igual para todas as pessoas, eu acho. — Respondeu Dani meio sem jeito para explicar.

— Ah, entendi.... Eu acho. — Comentou Iris sem realmente ter entendido nada.

— Aí, desculpa. É que eu não sou boa com esse tipo de coisa. A única coisa que eu sei e que eu posso dizer para você é que é bastante excitante, sabe? — Tentou melhorar a resposta para Iris, Daniele.

— Hum.... Excitante do tipo que nos deixa molhada? — Perguntou Iris com um sorriso bastante sapeca nos lábios.

— Hahahaha.... — Riu Daniele antes de responder — Sim. Te deixa bastante molhadinha e comigo até muito mais do que isso. — Provocou a bela com um sorriso bastante provocante para a novata.

— Hum.... — Murmurou Iris baixinho — Me deu até vontade de provar agora. Hihihihi.... —

— Hahahaha... — Riu Daniele meio sem jeito — Você por acaso aceitaria um beijo meu? — Perguntou a trans totalmente insegura naquela situação.

— Hihihi... — Riu Iris baixinho antes de responder — Eu aceitaria sim, mas talvez não hoje. Quero está pronta e bastante excitada quando eu for fazer isso com você pela primeira vez. Não que eu não esteja agora! Mas é que eu estou muito envergonhada neste exato momento para fazer qualquer coisa deste tipo. Então ao menos que você queira que eu me atire de vergonha dentro deste rio, vamos tentar mudar de assunto senão eu morro aqui mesmo. Rsrs.... — Explicou e brincou Iris sobre toda aquela situação bastante interessante e excitante.

— Hahahaha... Riu dani novamente — Que bom que você pediu isso. Meu corpo pode se comportar muito mal em situações estranhas como essa. Então muito obrigada. Mas já que você não quer conversar sobre isso, sobre o que gostaria de falar então? — Perguntou Daniele ao olhar fixamente para o rosto jovem e um pouco marcado por pequeninas espinhas da jovem.

Iris então olhou para os lados em direção as longas margens do rio e falou — Ah, nós poderíamos falar sobre.... Ei, espera, o que é aquilo? — Perguntou a garota curiosa ao apontar para uma pessoa agarrada a um pedaço de tronco de arvore podre na beirada do rio.

Daniele então logo se pôs de pé e correu na direção da caída pessoa, e ao virá-la de boca para cima e perceber que a mesma ainda respirava, colocou a pessoa que aparentava ser do sexo feminino em seus fortes e também delicados e bem cuidados braços, e falou — Ela está viva! Eu acho que tentou nadar no rio e quase se afogou. Nós temos que pedir ajuda. —

— Ajuda, sim, mas para quem? — Perguntou Iris bastante preocupada pela saúde da pessoa que as duas acabaram de encontrar.

Daniele então pensou um pouco e ao olhar no rosto da pobre e desconhecida vítima de um suposto afogamento, respondeu — Vamos levá-la até minha casa. Lá nós resolveremos isto. — E carregou a estranha forasteira até o sitio onde vivia a trans e uma parte de sua amada família.